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ROTA DE OURO E PRATA
Navios: o Asturias (1)

1907-1930 - depois Arcadian

Os 15 navios da armadora britânica Royal Mail que compunham a chamada série A surgiram nos estaleiros da célebre Harland & Wolff (H&W), em Belfast, exceção feita ao Araguaya e do primeiro Alcantara, o qual, embora construído pela H&W, saiu dos estaleiros de Glasgow dessa empresa. Sem entrar em detalhes sobre a longa colaboração entre H&W e a Royal Mail Steam Packet (RMSP), assunto já tratado nesta obra, destacamos o fato de que o Asturias do título teve sua quilha posta no início de 1906, sendo necessários 18 meses para seu lançamento ao mar.

Sua construção foi particularmente longa, já que o Asturias representava uma evolução marcante em relação aos precedentes transatlânticos dessa série. Possuía uma superestrutura mais compacta do que os anteriores, com os bordos laterais chapeados, do piso do convés principal (main deck) até o teto do convés de passeio (promenade deck). Inovação de relevo para a época, havia sido equipado com dois elevadores, um social e outro de serviço. Ao entrar em serviço, o Asturias era o maior navio em absoluto na rota sul-americana, seja em comprimento ou em tonelagem.

O Asturias (1) atracando em Santos
O Asturias (1) atracando em Santos

Denominação - O nome que lhe fora dado tinha duplo objetivo: constituía homenagem da Royal Mail à casa monárquica espanhola (cujo herdeiro ao trono tradicionalmente leva o título de príncipe de Astúrias) e, sendo também o nome de um rio que atravessa a província da Espanha no Norte assim chamada, permitia preservar a tradição que a armadora havia criado ao dar, aos primeiros navios da série, nomes de cursos d’água que se iniciavam com a primeira letra do alfabeto.

Entregue à empresa proprietária em janeiro de 1908, o transatlântico, sob o comando do capitão I. Spooner, saiu do Porto de Londres no dia 24 desse mês com destino à Austrália, via Canal de Suez, com sua capacidade de acomodação lotada.
Ao retornar desta viagem inaugural, o Asturias partiu, logo em seguida e pela primeira vez, para a América do Sul, saindo de Southampton para Buenos Aires em 15 de maio e escalando em Lisboa, Madeira, Rio de Janeiro, Santos e Montevidéu.
Nessa rota permaneceria durante seis anos seguidos, realizando dezenas de viagens, com exceção de uma outra única para a Austrália no decorrer de 1909.

Hospital - Em julho de 1914, poucos dias antes da declaração de hostilidades na Europa, o Asturias realizou uma viagem regular para o Brasil e o Prata, ao término da qual atracou em Southampton no dia 1º de agosto, desembarcando passageiros e malas de correio. Ainda nesse mesmo dia, seu comandante, A. Dix, recebeu mensagem de Londres, informando que o navio fora requisitado pelo almirantado para servir como navio-hospital.

Como o próprio nome indica, navios-hospitais nada mais são do que hospitais flutuantes equipados com salas cirúrgicas, de quarentena e material médico-hospitalar suficiente, conforme o caso e o tipo do navio, para o tratamento de centenas de feridos ou doentes.

A utilização deste tipo de navio surgiu no início do século XIX, mas foi no decorrer da Primeira Conferência Internacional da Cruz Vermelha, realizada em Genebra, em agosto de 1864, que se tratou de oficializar a função de um navio-hospital.

Em outubro de 1868, uma conferência diplomática entre as principais nações da época, realizada – sempre – em Genebra, ratificou os princípios relativos à regulamentação da guerra no mar, dentre os quais a proteção a ser observada pelos beligerantes aos navios-hospital.

Outras conferências internacionais acontecidas em 1899, 1906 e 1907 trataram do assunto dos conflitos marítimos e na de 1907 ficou definida a imunidade dos navios-hospital em caso de guerra, assim como a qualificação dos mesmos, os regulamentos a serem observados no seu uso e as identificações necessárias.

Cores - Dessa convenção, assinada em Haia, resultou que os navios-hospital militares seriam pintados totalmente de branco, tendo uma banda horizontal de 1,5 metro de altura em cor verde por toda a volta do casco. Por sua vez, os navios-hospital controlados por organizações de assistência ou caritativas (tipo Cruz Vermelha), além de terem também o casco e superestrutura inteiramente em branco, levariam faixa vermelha em torno do mesmo.

Em ambos os casos, estes navios-hospital viajariam de noite sempre com as luzes acesas, fileiras de lâmpadas verde ou vermelha, conforme o caso, brilhando por cima das faixas pintadas nos cascos.

Assim identificados, de dia ou de noite, estes navios gozariam de total imunidade em tempos de conflito, ficando expressamente proibido qualquer tipo de ataque e qualquer outra utilização do navio em função que não fosse a de hospital.

Transformação - Logo no início do conflito, em agosto de 1914, a Grã-Bretanha converteu cinco embarcações de porte em navios-hospital, dentre os quais o Asturias. Sua conversão foi realizada em pouquíssimo tempo (quatro dias), representando enorme esforço por parte dos envolvidos.

Alguns exemplos dessa transformação: o salão de fumar da primeira classe foi transformado em sala de operações cirúrgicas; o salão de jantar, adaptado para alojamento de enfermos, com 85 camas. No total, o navio podia acomodar cerca de 900 pessoas internadas.

Já no dia 5 de agosto o Asturias largou amarras de Southampton para a base naval de Scapa Flow, sendo oficialmente incorporado à frota com o título oficial de H.M.M.H.S. Nº 2, ou seja Her Majesty Military Hospital Ship. No fim desse mês, terminados o período de treinamento do pessoal e os exercícios simulados de assistência e salvamento, o Asturias retornou a Southampton, iniciando seu servico nessa nova função. Em apenas uma semana, foram feitas três viagens de evacuação de Le Havre, Saint Nazaire e Rouen para Southampton.

Ataques - Nos meses subseqüentes, o navio prestou serviço no Mediterrâneo e em 1º de fevereiro de 1915, apesar de claramente identificado como navio-hospital, sofreu o ataque de um submarino desconhecido, que lhe despachou um torpedo - que, porém, não o atingiu.

Outro ataque ocorreria dois anos mais tarde, em março de 1917, após retorno à Inglaterra de um período de quatro meses no Mediterrâneo. Viajando de Avonmouth a Southampton, a poucas milhas do farol de Star Light, o navio sofreu uma explosão à ré, de bombordo, que lhe danificou parte do casco e dois hélices, provocando adernamento.

O capitão C. Laws deu ordens para que o navio fosse levado em direção da costa, na tentativa de encalhá-lo propositalmente. Uma hora mais tarde, dada a disposição de evacuar alguns membros da equipe médica, um dos botes salva-vidas que estavam sendo abaixados virou completamente, jogando seus ocupantes na água, o que provocou a morte de uma enfermeira, de um médico e de 12 assistentes.

O Asturias acabou sendo encalhado nas proximidades de Bolt Head, já adernado em mais de 15 graus. No dia 20 de abril foi tirado dessa posição e levado para doca seca em Plymouth, onde se constatou que os danos eram importantes e que seriam necessários meses de trabalho para consertá-lo. Terminaria dessa maneira a carreira como navio-hospital, permanecendo em Plymouth até o fim da guerra.

Após o término do conflito, o Asturias retornou à propriedade da Royal Mail e, após alguns reparos, foi levado para os estaleiros de Harland & Wolff em Belfast, onde fora construído. Aí permaneceu durante um longo período de três anos, sendo reconstruído quase totalmente.

Novo nome - Ressurgiu em junho de 1923, com o novo nome de Arcadian, visto que a Royal Mail havia decidido transformá-lo em navio de cruzeiros. Nesta nova função, o ex-Asturias realizou uma longa série de cruzeiros marítimos para a Noruega, para o Mediterrâneo, para o Caribe, além de uma temporada de viagem entre Nova Iorque e as Ilhas Bermudas, durante os quais os cidadãos norte-americanos podiam escapar dos rigores do clima e da Proibição de Consumo de Bebidas Alcoólicas, que vigorava nos Estados Unidos por lei federal.

A grave crise financeira que se espalhou pelo mundo, após a quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque, em finais de 1929, colocou a palavra fim na carreira do Arcadian, o navio sendo desarmado e vendido em 1930 para demolição na Inglaterra.

Asturias:

Outros nomes: Arcadian
Bandeira: britânica
Armador: Royal Mail Steampship Lines
País construtor: Inglaterra
Estaleiro construtor: Harland & Wolff (porto: Belfast)
Ano da viagem inaugural: 1907

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