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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - BIOGRAFIAS
Vultos santistas

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O texto a seguir foi publicado originalmente no Almanaque de Santos - 1971, editado pelo falecido jornalista Olao Rodrigues naquele ano, e publicado pela Ariel Editora e Publicidade, de Santos/SP - páginas 40 a 46:
 
Vultos que dignificaram Santos pelo saber, honradez e filantropia

João Otávio dos Santos - Natural de Santos, onde nasceu em 8 de janeiro de 1830, filho natural de d. Escolástica Rosa de Oliveira, aprendeu as primeiras letras com seu padrinho, João Otávio Nébias. De origem pobre, muito jovem começou a luta pela vida, fazendo escritas por partidas simples em pequenos negócios.

Em 1848, contando apenas 18 anos de idade, iniciou a carreira comercial, transacionando com compra e venda de mercadorias nacionais. Inteligente, operoso e morigerado, reuniu recursos econômicos e ampliou sua atividade de comércio, tornando-se consignatário de outros gêneros, notadamente fumo de Minas Gerais, chegando a viajar em simples veleiro para Buenos Aires, a fim de vender e permutar mercadorias. Econômico sem ser avaro, acumulou fortuna e deixou de comerciar em 1892, depois de fecundo trabalho, passando a adquirir prédios e terrenos.

Colaborador devotado da Santa Casa da Misericórdia de Santos, a que chamava de "filha dileta", fez-lhe por diversas vezes empréstimos, sem juros, além de legar-lhe o primeiro prédio que adquirira em 1855, na Rua Santo Antônio, de n. 27, com mais 80:000$000 (Cr$ 80,00) em dinheiro, bem assim um donativo de 110 ações do Teatro Guarani, de cuja comissão organizadora participara. Foi provedor do quadrissecular hospital de 1875 a 1878 e de 1883 a 1896.

Político influente, pertenceu ao Partido Liberal, e em diversas legislaturas exerceu o mandato de vereador e também a presidência da Câmara Municipal, como em 1886, quando autorizou a instalação da primeira linha de bondes puxados a muares, e foi homenageado, no ano seguinte, na inauguração do serviço, que era considerado melhoramento ímpar na Cidade.

Com a queda da Monarquia, abandonou a política. Homem de bom senso, conselheiral, prestigioso e acatado, granjeou sólidas amizades, mesmo entre os adversários políticos - os Conservadores -, que o respeitavam por suas virtudes morais. Foi um dos diretores do Banco Mercantil de Santos, como Júlio Conceição e Afonso de Vergueiro, a nenhum deles, aliás, cabendo qualquer parcela de responsabilidade pelo colapso financeiro sofrido por esse estabelecimento bancário. É oportuno sublinhar que os golpes que determinaram a prostração do Banco Mercantil de Santos foram aplicados pelos gerentes das filiais do Rio de Janeiro e São Paulo.

A grande obra de João Otávio dos Santos, aquela que o elevou na admiração dos santistas depois de sua morte, foi a fundação do Instituto D. Escolástica Rosa, em homenagem à memória da genitora. Ele criou o educandário, mas não criou problemas para ninguém. Em testamento legou recursos pecuniários não apenas para a edificação da casa de ensino profissional, senão também para sua administração e manutenção, confiadas, segundo desejo expresso, à Santa Casa da Misericórdia.

Júlio Conceição foi seu testamenteiro e único inventariante; houve-se com dignidade na delicada missão, chegando a editar uma monografia, em que alinhou contas exatas de todo o dinheiro aplicado, com excesso até de detalhes, não se tratasse de cidadão de mãos limpas, correto e de comportamento moral irreprochável.

O Escolástica Rosa aí está, agora transformado em escola secundária mista e sob a tutela do Estado, como afirmação inconcussa do espírito benfazejo desse grande santista que foi João Otávio dos Santos. No jardim fronteiro à tradicional casa de ensino está a estátua do fundador, mandada construir pela Municipalidade.

João Otávio dos Santos, o grande benfeitor da Cidade, morreu no dia 9 de julho de 1900.


Imagem: Almanaque de Santos - 1971, editado pelo falecido jornalista Olao Rodrigues
e publicado por Ariel Editora e Publicidade, Santos/SP, 1971

Raimundo Sóter de Araújo - Esse apóstolo do Bem nasceu na cidade de Santo Amaro da Purificação, no Estado da Bahia, no dia 22 de abril de 1853. Muito cedo seus pais, compreendendo-lhe a vocação pelas letras, matricularam-no num dos principais colégios daquele Estado, onde os estudos finais se fizeram com distinção. Terminados os preparativos, Raimundo Sóter de Araújo ingressou na Faculdade de Medicina da capital baiana; em dezembro de 1872 obteve o diploma de farmacêutico e cinco anos após, em 15 de novembro de 1877, o grau de doutor de Medicina, depois de haver defendido tese.

Nomeado em 1880, pelo Governo do Império, 2º cirurgião da Armada, em cujo cargo prestou relevantes serviços ao País, empreendeu diferentes viagens a bordo de navios de guerra. Em 4 de fevereiro de 1882 foi nomeado médico-cirurgião da Escola de Aprendizes Marinheiros de Santos, em cujo posto deu sobejas provas de capacidade profissional, as quais lhe valeram as honras de 1º-tenente da Armada Nacional, em 31 de outubro de 1890, já no regime republicano.

Exonerando-se desse cargo, passou a ocupar o de 1º delegado da Higiene, ainda em Santos, muito se distinguindo pela abnegação como se houve na melhoria do estado sanitário da Cidade, periodicamente batida por epidemias de febre amarela. Graças à dedicada iniciativa, foi construído um hospital de isolamento, cabendo-lhe a presidência da comissão para tal fim designada.

Intendente da Higiene, por nomeação em 1891 do governo do Estado, coube-lhe a honra de empossar a primeira Câmara Municipal eleita por sufrágio popular. Pertenceu também à Guarda Nacional, em Santos, como cirurgião-mor, nomeado por decreto de 3 de agosto de 1893.

Exerceu a vereança e, como professor, lecionou no Liceu Feminino Santista e Escola de Comércio José Bonifácio, entre outras Casas.

Militou ainda na imprensa santista, fundando e redigindo em 1892 A Questão Social, em companhia do sr. Francisco Escobar e dr. Silvério Fontes. Esse jornal, que circulou durante 2 anos, propugnava por idéias socialistas, muito avançadas para a época. Médico efetivo da Sociedade Portuguesa de Beneficência e médico-adjunto da Santa Casa, também prestou serviços profissionais à Sociedade União Operária e à Sociedade Protetora da Infância Desvalida, da qual foi sócio fundador, além de presidente da Sociedade Auxiliadora da Instrução.

Na Santa Casa, de que foi Irmão em 1881 e Benemérito em 1902, fundou o Pavilhão para Tuberculosos, que teve seu nome. Antes de médico, era filantropo. As criaturas pobres, sem quaisquer recursos, a ele recorriam e jamais deixaram de ser atendidas. Foi um bom. Distribuiu a mancheias a Caridade, sempre predisposto a servir aos que tinham fome e padeciam de males físicos. Foi considerável a folha de serviços que tributou às casas hospitalares e de assistência aos pobres e inválidos.

O dr. Raimundo Sóter de Araújo, que deixou distinta descendência, morreu no dia 7 de junho de 1924, em pleno exercício da Inspetoria Sanitária Municipal. Santos eterniza sua memória, dando-lhe o honrado nome a uma via pública.


Imagem: Almanaque de Santos - 1971, editado pelo falecido jornalista Olao Rodrigues
e publicado por Ariel Editora e Publicidade, Santos/SP, 1971

José Cesário da Silva Bastos - O dr. José Cesário da Silva Bastos foi dos maiores chefes políticos do Município ou o maior deles, segundo a opinião insuspeita de observadores de ontem e de hoje. Segundo comprova Costa e Silva Sobrinho, em Santos Noutros Temos, nasceu ele em São Vicente (N.E.: notada a discrepância de local em relação ao texto publicado por A Tribuna, edição de 26 de janeiro de 1939, que cita Santos como local de nascimento) em 16 de setembro de 1849 e [foi] batizado nesse município em 17 de novembro do mesmo ano, sendo seus padrinhos o padre Manoel de Ascensão Costa, que ministrou o batismo, e d. Mariana Benedita de Faria Albuquerque, sogra do Marquês de São Vicente.

Filho de Antônio José da Silva Bastos e d. Maria Plácida da Silva Bastos, fez os primeiros estudos em Santos e formou-se em 1872 pela Faculdade de Direito de São Paulo. Começou vida pública como promotor público em Araraquara, cargo que deixou para ingressar na corrente republicana, fundando o Partido Republicano de Araraquara, do qual foi chefe até a proclamação da República.

Daquela cidade interiorana veio para Santos, onde exerceu a advocacia e tomou parte no Conselho de Intendência, em 1891, ao lado de Júlio Conceição, Ricardo Pinto de Oliveira, Narciso de Andrade, José Augusto Pereira e outros. No mesmo ano foi eleito deputado à Assembléia Constituinte do Estado, de cuja bancada fazia parte Vicente de Carvalho. Como deputado estadual, integrou a Comissão da Fazenda, cabendo-lhe, como aos outros membros, elaborar e apresentar o primeiro Orçamento do Estado. Na Comissão de Legislação, que depois também integrou, concluiu importantes reformas nas esferas judiciárias do Estado, em companhia de outros membros desse órgão legislativo.

Em 10 de setembro de 1892, viu-se eleito para a Câmara Municipal de Santos, na legislatura de 1892-96, da qual se tornou presidente nos anos de 1892 e 1893. No exercício do mandato popular neste município, deixou seu nome ligado a importantes serviços e obras públicas, como a criação do bairro de Vila Nova e abertura das avenidas Ana Costa e Conselheiro Nébias.

No campo da Instrução Pública, obteve a criação do grupo escolar que recebeu seu nome, bem como a criação definitiva da Escola Barnabé, com a fiel observância das cláusulas do legado de Barnabé Vaz de Carvalhais. Deve-se-lhe também a instalação do Grupo Escolar do Macuco. Foi chefe do Diretório Republicano, fundando a famosa corrente "cesarista", que invariavelmente se tornava vitoriosa nos pleitos que se feriam no Município.

Em 1894, foi eleito senador do Estado na 3ª legislatura republicana, servindo à alta Câmara paulista de 1894 a 1897, para a qual foi reeleito por mais duas vezes, exercendo, portanto, o alto cargo de 1900 a 1910. Após a reforma constitucional, o dr. Cesário Bastos ainda voltou ao Senado estadual, na primeira legislatura, que se desdobrou de 1922 a 1925, figurando ao lado de Reinaldo Porchat, Galeão Carvalhal, Antônio Carlos da Silva Teles e outros.

Jornalista, orador consagrado, chefe político de talento e integérrimo defensor das causas justas, o ilustre homem público foi coadjuvador de instituições assistenciais, culturais e sociais, com inestimáveis serviços prestados à Santa Casa e à Beneficência Portuguesa. Desta última, foi orador em várias solenidades e dedicado defensor de interesses econômicos junto aos governos da União e do Estado, sendo sócio honorário em 1906 e sócio benemérito em 1910.

O dr. José Cesário da Silva Bastos faleceu em São Paulo aos 88 anos de idade, no dia 8 de outubro de 1927.


José Cesário da Silva Bastos
Imagem: bico-de-pena de Ribs, publicado com o texto

Joaquim Otávio Nébias - Foi dos mais notáveis santistas, com seu nome fundamente vinculado às esferas políticas e administrativas do País.

Nascido em 1º de junho de 1811, filho de João Otávio Nébias, também influente figura santista, e d. Emerenciana Júlia Pizarro, fez os primeiros estudos na terra natal, bacharelando-se em 1834 pela Faculdade de Direito de São Paulo.

Iniciou em Santos a vida pública, exercendo em 1834 o cargo de juiz municipal. Em 1835, foi eleito pela primeira vez deputado provincial, pelo Partido Liberal, em companhia de Nicolau Vergueiro, sendo reeleito nas legislaturas seguintes, em cujo mandato muito se destacou, servido que era por palavra fácil, persuasiva e rica de recursos.

Abandonando o Partido Liberal, agastado por atitudes de seus chefes, ingressou no Partido Conservador, pelo qual se viu novamente eleito deputado provincial e reeleito em seguidas legislaturas, chegando a exercer a presidência da Assembléia Provincial. Tentou também o Senado do Estado e comodamente obteve cadeira. Foi membro, outrossim, da Câmara Geral, em 1859-60. No intervalo de 1841 a 1843, foi nomeado juiz de Direito em Paranaguá, cargo que exerceu, ao contrário de sua designação para igual cargo no Maranhão.

Na Câmara Geral, de que foi figura de influência e prestígio, ocupou os cargos de vice-presidente e presidente. Juiz do Tesouro em Itu e em Sorocaba, foi em 1852 nomeado presidente da Província do Rio Grande do Sul, de onde regressou no mesmo ano por ter sido nomeado presidente da Província de São Paulo, cargo que assumiu em 30 de setembro de 1852, desenvolvendo obra segura e altiva, apesar das asperezas da política dominante.

Em 1854, o imperador entregou-lhe o Hábito de Cristo, e em 1856 foi eleito senador federal, em lista tríplice. Exerceu ainda o cargo de ministro da Justiça, em substituição a José de Alencar, e o de Juiz de Feitos da Fazenda. Eleito conselheiro imperial de D. Pedro II, transferiu-se após para a Oposição, com o retorno ao antigo partido. O conselheiro Joaquim Otávio Nébias faleceu no Rio de Janeiro em 16 de julho de 1872, solteiro, aos 61 anos de idade, deixando trabalhos jurídicos.

Pela integração na vida pública, tornou-se figura de grande influência no Brasil Império, dignificando e elevando a terra natal pelos elevados cargos que ocupara nos domínios judiciário, legislativo e executivo do País.

Uma das principais artérias de Santos - a Conselheiro Nébias - consagra a memória do ilustre filho.


Imagem: Almanaque de Santos - 1971, editado pelo falecido jornalista Olao Rodrigues
e publicado por Ariel Editora e Publicidade, Santos/SP, 1971