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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - ENSINO
A educação... e as antigas escolas (1-A)

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Tradicionais colégios, que muito santista recorda com saudade, independentemente de serem públicos ou particulares, marcados por professores que se destacaram na Cidade, e por eventos que também fizeram história. Na obra conjunta História de Santos/Poliantéia Santista (volume III, 1996, São Vicente/SP), os autores Francisco Martins dos Santos e Fernando Martins Lichti resumem o tema:
 

Classe do Grupo Escolar Fraternidade, mantido pela Maçonaria na Av. Afonso Pena, cerca de 1940. Nesse local foi construído depois o Parque Infantil Olívia Fernandes
Foto: acervo de Alzira dos Santos Oliveira

O Ensino em Santos

Ao que nos consta, não existe nenhuma publicação específica a respeito da história do ensino em Santos. Este trabalho não tem o objetivo de ser essa "história", mas, sim, contribuir com alguns subsídios, que possam ser de utilidade para melhor conhecimento desse importante campo de atividade cultural e por conseguinte para a preservação de sua memória.

O primeiro estabelecimento santista de ensino, de que temos notícia, foi o Colégio dos Jesuítas iniciado pelo Padre José de Anchieta. Depois da expulsão dos jesuítas, com o conseqüente fechamento do seu Colégio, o ensino em Santos teria deixado muito a desejar, a ponto de os pais preferirem ensinar, aos seus filhos, as primeiras noções. Os três Andradas receberam do seu pai, o coronel José Bonifácio, a instrução primária.

Do final do século XVIII e boa parte do século XIX, recolhemos alguns dados que indicariam que o ensino santista, em sua maior parte, consistia em aulas particulares ou, em alguns casos, coletivas, na casa dos professores, constituindo-se assim nas "escolas" da época em Santos.

Segundo a maioria dos historiadores, a situação do ensino santista, na primeira metade do século XIX, era bastante precária, tendo os estudantes de Santos que abandonar a cidade para continuar seus estudos em São Paulo (capital), Rio de Janeiro, Lisboa ou Coimbra, enfim, noutras cidades.

Os primeiros estabelecimentos de ensino, dignos desse nome, teriam surgido já na segunda metade do século XIX. Do período compreendido entre o final do século XVIII e o século XIX, recolhemos os nomes de alguns dos professores que atuaram em Santos, tais como: Mestre João Floriano, que ministrava aulas particulares de latim; padre carmelita Manoel Francisco Vilela; José Luís de Morais e Castro, natural da cidade do Porto (Portugal), enviado pela Mesa Censória de Lisboa para lecionar em Santos; Padre Dickercheid; Padre Joaquim José de Santana; Padre José Xavier de Toledo; Frei D. Manoel da Ressurreição; José Luiz de Mello; Augusto Freire da Silva; Júlio Ribeiro; Silva Jardim; Henrique Braga e Benedito Calixto que lecionava desenho e história. Alguns deles ministravam aulas particulares e ou engajados nos estabelecimentos de ensino da época.

Assim como estes que aqui registramos, existiram muitos outros que escaparam à nossa pesquisa. Da segunda metade do século XIX, recolhemos a notícia de vários estabelecimentos de ensino primário e secundário como: Colégio Alemão, que foi encampado durante a Segunda Guerra Mundial; Escola do Povo, fundada a 9 de setembro de 1878, no Largo da Coroação nº 11 (hoje Praça Mauá), instalada na residência do prof. Antônio Manoel Fernandes; Colégio "Juvenato Santista", do prof. Tiburtino Mondin Pestana; Colégio do prof. João Anta; Escola do prof. Francisco Gonçalves Barroso, instalada na Rua do Rosário esquina da Rua Itororó; Escola de D. Leopoldina Thomaz Coelho; Escola de Eugênio Porchat de Assis; Escola do prof. Tarquínio Silva; Grupo Escolar Olavo Bilac, localizado na Rua D. Pedro II, onde hoje está a Caixa Econômica Estadual; o Instituto Santista e o Colégio Rentscheller - os melhores da cidade, na época; Convento Santo Antônio e, no final do século, a Escola Barnabé, criada por Decreto Estadual, a 5 de maio de 1902, nos termos da doação testamentária de Francisco Vaz de Carvalho, de 1894.

Das escolas ainda existentes, a mais antiga (e possivelmente a primeira juridicamente construída em Santos) é a Escola da Sociedade União Operária, instalada a 25 de maio de 1890, na Praça José Bonifácio - onde hoje está o Edifício do Fórum - funcionando com curso primário de dia e cursos especiais para estrangeiros, à noite.

Já no começo do século XX, era fundado a 5 de agosto de 1902, por D. Eunice Peregrino Caldas, o Liceu Feminino Santista (hoje Liceu Santista), bem como a Escola Maternal "Anália Franco", ambas mantidas pela Associação Feminina Beneficente e Instrutiva. Essa associação encerrou suas atividades em 1977, transferindo o seu patrimônio à Mitra Diocesana, que entregou à Sociedade Visconde de São Leopoldo a direção e manutenção do Liceu e da Escola (N.E.: na verdade, continua existindo no século XXI, apenas o Liceu Santista passou à Sociedade Visconde de São Leopoldo). Também o Grupo Escolar Dr. Cesário Bastos era fundado na passagem do século.

O Colégio Coração de Maria foi fundado em 1904, pela Congregação das Irmãs do Imaculado Coração de Maria, na Rua da Constituição, cujas futuras e amplas instalações foram vendidas em 1971 para ampliações das Faculdades Ceuban, transferindo-se o Colégio Coração de Maria para a Ponta da Praia, onde permanece em pleno funcionamento. Ainda em 1904, a Ordem dos Irmãos Maristas fundava, em Santos, o Colégio Santista, na Rua da Constituição, esquina com a Rua 7 de Setembro, ao lado da Igreja Coração de Jesus.

A 24 de abril de 1907, pela Lei Municipal nº 258, era instituída a Academia Municipal de Comércio de Santos - a primeira escola de contabilidade do Brasil - que, em 1917, pela Lei Municipal nº 587, de 12 de janeiro, foi transformada na Escola de Comércio José Bonifácio. Essa lei preconizava que esta escola deveria ser prontamente absorvida por uma entidade particular, à qual a municipalidade daria todo o seu acervo mobiliário. A 4 de agosto de 1917 o corpo docente da escola instituía a Associação Instrutiva José Bonifácio, que absorveu a Escola de Comércio José Bonifácio, em sucessão à primeira Academia Municipal de Comércio de Santos, da qual o santista Valentim Fernandes Bouças foi seu primeiro formando e veio a ser, mais tarde, o precursor na instalação do Sistema Hollerith no país, e como tal deve ser considerado o patrono da informática no Brasil.

Entre os estabelecimentos de ensino mais antigos de Santos, encontramos, ainda, o Colégio do Carmo, fundado pelos frades da Província Carmelita de Santo Elias, em 1917, na Rua Augusto Severo, atrás do Panteão dos Andradas e transferido para suas novas instalações, na Ponta da Praia, em 1973, onde o estabelecimento foi vendido ao Instituto Santista de Empreendimentos Culturais, em 1975, que a partir de 1979 instituía suas Faculdades, inicialmente a de Ciências e a seguir a de Pedagogia e de Música, cujo curso básico, fundado em 1918 e transformado em Curso Superior em 1965, pelo Maestro Tabarin, foi adquirido pelo Colégio do Carmo, que nesse ano instalou sua Faculdade de Artes Cênicas. Hoje o velho Colégio do Carmo funciona com a denominação de Carmo - Complexo Educacional, com grande diversificação de cursos de todos os graus.

Em 1922 foi fundado o Colégio Tarquínio Silva. O Colégio São José, fundado pela Congregação das Irmãs de São José de Chamberlly, na Av. Ana Costa, entrou em funcionamento a 1º de fevereiro de 1924. O Colégio Stella Maris foi fundado a 28 de março de 1924, pela Congregação das Cônegas de Santo Agostinho, na Av. Conselheiro Nébias, onde permanece. O Externato Santa Rita foi fundado a 13 de outubro de 1926; o Liceu São Paulo, em fevereiro de 1927; o Grupo Escolar Azevedo Júnior, a 23 de junho de 1927.

O Colégio Catunda, na Av. Ana Costa (quase em frente ao Colégio São José), fundado em 1930, dirigido pela Profª. Renira Catunda. A Escola Primária Santa Cecília (hoje Colégio e Universidade Unisanta) foi fundada a 16 de maio de 1932. A Escola de Educação Infantil, Primária e Ginasial Independência foi fundada a 10 de setembro de 1932. O Colégio Coelho Neto foi fundado a 6 de junho de 1933. O Ginásio do Estado (atual E.E.S.G. Canadá) foi fundado a 11 de agosto de 1934. A Escola Adventista de Educação Infantil e 1º Grau Marechal Rondon foi fundada a 24 de maio de 1938. O Colégio Anglo-Americano foi fundado a 15 de outubro de 1941.

Em 1952 era fundado o Colégio Ateneu Santista e em 1957 o Colégio Cruzeiro do Sul. O Liceu Luso-Brasileiro, fundado em 1933, funcionou cerca de 25 anos na Av. Conselheiro Nébias, encerrando suas atividades para a construção das instalações do Sesc-Senac.

No decorrer deste relato histórico do ensino, em Santos, ficou evidenciado que muitas escolas santistas, ainda em funcionamento, advêm do século passado e do início deste século (N.E.: século XIX e início do século XX), o que, por si só, as credencia plenamente. Hoje, Santos dispõe de uma vasta rede de estabelecimentos de ensino, municipal, estadual e particular, de todos os níveis - do maternal às universidades - além de muitas escolas profissionalizantes, de grande valor didático, formando uma magnífica teia de aprimoramento cultural à comunidade santista.

Os seus estabelecimentos de ensino - modernos e atualizados - são procurados por estudantes, não apenas santistas, mas também de outros municípios. A sua rede de ensino estadual conta com as seguintes escolas de 1º e 2º graus: Profª. Alzira Martins Lichti, Andradas, Dr. Antônio Ablas Filho, Aristóteles Ferreira, Prof. Armando Bellegarde, Prof. Avelino Paz Vieira, Azevedo Júnior, Barnabé, Padre Bartolomeu de Gusmão, Benevenuto Madureira, Braz Cubas, Canadá, Dr. Cesário Bastos, Cidades Irmãs, Prof. Cleóbulo Amazonas Duarte, Dona Escolástica Rosa, Prof. Fernando de Azevedo, Prof. Francisco Meira, João Otávio dos Santos, Dr. José Carlos de Azevedo Jr., Dr. José Costa e Silva Sobrinho, Dona Luísa Macuco, Marquês de S. Vicente, Olga Coury, Dr. Paulo Filgueiras Jr., Prof. Pedro Crescenti, Prof. Primo Ferreira, Dr. Ruy Ribeiro Couto, Prof. Suetônio Bittencourt Jr. e William Aureli.

Na sua grande e diversificada rede de ensino municipal, conta com as seguintes escolas, a nível de pré-infância, parques infantis e 1º e 2º graus: Alcides Lobo Viana, Prof. Antônio Oliveira Passos Sobrinho, Auxiliadora da Instrução, Barão do Rio Branco, Prof. Cely Moura Negrini, Cidade de Santos, Cyro de Athayde Carneiro, Prof. Delphino Stockler de Lima, Dino Bueno, Profª. Eunice Caldas, Dr. Fernando Costa, General Bandeira Brasil, Irmão José Genésio, Profª. Ivete Martins Nogueira, Prof. José Costa Barbosa, Dona Leonor Mendes de Barros, Maria Patrícia, Olívia Fernandes, Padre Leonardo Nunes, Dr. Porchat de Assis, Dona Lourdes Ortiz, Prof. Mário de Almeida Alcântara, Martins Fontes, Olavo Bilac, D. Pedro II, Dr. Samuel Augusto Leão de Moura, Prof. Sebastião Julião e a Escola de Ensino Especializado a Excepcionais Profª. Maria Carmelita Proost Villaça.


Estudantes, no dia do desfile pela Independência, em 1948
Imagem: acervo de Alzira dos Santos Oliveira

No ensino particular, também de excelente qualidade, desde o maternal ao universitário, inclusive de línguas e profissionalizantes, citamos muitos dos seus estabelecimentos instituídos nos últimos 60 anos e dos quais alguns já encerraram suas atividades: Educandário Santista, Educandário Anália Franco, Educandário Bom Pastor, Educandário Ismênia de Jesus, Externato Santa Rita, Colégio Canadense, Colégio Universitas, Colégio Objetivo, Colégio Ramos Lopez, Escola Americana de Santos, Escola Marza, Escola O Executivo, Liceu S. Paulo, Ginásio e Escola Normal José Bonifácio, Instituto Luís de Camões, Ginásio Afonso Pena, Curso Decisão e Anglo-Vestibulares, e muitos outros, maternais, jardins, primários (1º e 2º graus).

Na área de línguas citamos, entre cerca de quarenta cursos, as Escolas Fisk, o Instituto Anglo-Germânico, o Centro de Cultura Anglo-Americano (C.C.A.A.), as Escolas Yazigi, a Associação Cultural Franco-Brasileira, o Centro Cultural Brasil-Estados Unidos, a Cultura Inglesa, a British and American, Societá Italiana de Santos, Instituto Britânico Ltda., Wizard Idiomas e a Opel - Ogranização Particular de Estudos Lingüísticos.

No ensino profissionalizante, além de numerosos cursos de magistério e de contabilidade, mantidos por diversos estabelecimentos de ensino já mencionados, citamos o Colégio Comercial Municipal Acácio de Paula Leite Sampaio, o Instituto Educacional D. Escolástica Rosa, a Escola Técnica Treinasse, a Escola Fortec, o Cades - Centro de Arte e Decoração de Santos, o Senac, o Sesi, além de numerosas escolas de datilografia, de motoristas, de corte e costura e os diversificados cursos de informática.

Mencionamos as escolas de arte - pintura, desenho, escultura, instrumentos e balé - lembrando apenas as mais antigas: Conservatório Heitor Villa Lobos, Conservatório Guiomar Novaes, Conservatório Beethoven, Conservatório Lavignac e Escola Musical Henrique Oswald.


Professoras do Parque Infantil Maria Patrícia, dirigido em 1958 pela professora Alzira
Foto: acervo de Alzira dos Santos Oliveira

Além dos professores e professoras que têm seus nomes lembrados à posteridade, pelas denominações de tantas escolas santistas e daqueles já mencionados neste capítulo, lembramos, ainda, alguns outros valorosos mestres do passado, à guisa de subsídio à história do ensino santista: Adolfo Porchat de Assis, Vahia de Abreu, Sotter de Araújo, Alfaia Rodrigues, Waldomiro Silveira, Manoel Hipólito do Rego, Correa da Silva, Agenor Silveira, João Carvalhal, Aristóteles de Menezes, Walter do Amaral, César Augusto Castro Rios, Dagoberto Gasgon, Astolfo de Assis Correia, Carolina Dantas, Luiz Penna, Alcides Luiz Alves, Olga Melchert, Nyssia Martins Vianna, Odila Bittencourt, Diva Fialho, Zina de Castro Bicudo, Ludovina Garcia, Arminda Braga, Lourdes Lyra, Delfina Scheffauer, Josefina Azevedo, Nélson Espínola Lobato, Eberle dos Santos, Rafael de Lóssio, André Freire, Nicanor Ortiz, Vital de Mello, Álvaro Parente, Enéias Alcover, Olímpio Azevedo, Antônio Pedro, Antônio de Melo Cotrim, Rachel de Castro Ferreira, Paulo Pires, Luiz D'Áurea, Theotônio de Santana Espinhel Júnior, Lúcio Martins Rodrigues, Delfino Stockler de Lima, Armando Bellegard, Olga Ribeiro Gomes, Renira Catunda, João Papa Sobrinho, Artur Rivau, Antonio Navarro de Andrade, Urbano F. da Silva, Luiz F. Carranca, Domingos Aulicino, Helena Marieta Santos Garcia, Dirce Bicudo, Júlia de Almeida Pires, Iveta Mesquita Nogueira, Zulmira Campos, Maria do Carmo Filgueiras, Maria Luiza Melchert, Dilia Porchat, Deoclides Amaral, João Guido Negrelli, Lara Filho, Gil Stockler de Lima, Domingos Fuschini, Benedicto Calixto de Jesus, Anuar Frayha Renê Cabral - deixando de mencionar muitos outros, que escaparam à nossa pesquisa, mas que, tal como estes, fizeram do ensino um sacerdócio e da escola, o altar de devoção de suas vidas.

Finalizamos este capítulo focalizando o ensino superior em Santos, o qual teve extraordinária expansão nos últimos trinta anos.

A primeira faculdade de Santos - e por muito tempo a única - foi a Faculdade de Ciências Econômicas e Comerciais instituída a 21 de fevereiro de 1934 pela Associação Instrutiva José Bonifácio e por ela mantida até 1958, quando interrompeu seu funcionamento, por injustificada pressão política do Ministério da Educação, que acabou cassando sua licença de funcionamento, para reabri-la em 1959, tendo, então, como entidade mantenedora, a Sociedade Visconde de São Leopoldo, à qual a Associação Instrutiva José Bonifácio renunciou, sem ônus, todos os seus eventuais direitos, para não prejudicar seus alunos.


Liga Paulista contra o Analfabetismo queria, em 1917, a obrigatoriedade do ensino primário
Imagem: reprodução, publicada no jornal santista A Tribuna, em 24 de julho de 1917, página 3

(exemplar no acervo do historiador Waldir Rueda)

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