HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS -
ENSINO
A educação... e as antigas escolas (23-A)
Tradicionais colégios, que muito santista recorda com
saudade, independentemente de serem públicos ou particulares, marcados por professores que se destacaram na Cidade, e por eventos que também fizeram
história. Mas, no caso da escola Acácio de Paula Leite Sampaio, o que marcou foram as linhas arquitetônicas do prédio, como registrou o jornal santista
A Tribuna, em 15 de maio de 2007:
ARTE E ESPAÇO - A Escola Municipal Acácio de Paula Leite Sampaio, na Rua Sete de
Setembro, é um dos projetos que saíram da cabeça de Décio Tozzi, para quem a Arquitetura é uma arte
Foto: Alex Almeida, publicada com a matéria
Terça-feira, 15 de Maio de 2007, 06:56
"A Arquitetura é uma arte"
Fernanda Mello
Da Redação
Entrevista:
Décio Tozzi, Arquiteto, responsável pelo projeto da Escola Municipal de Ensino
Profissionalizante Acácio de Paula Leite Sampaio, em 1967
Foi da cabeça e das mãos do arquiteto Décio Tozzi, de
São Paulo, que saiu o premiado projeto da Escola Municipal Acácio de Paula Leite Sampaio, construída na Rua Sete de Setembro, 14, em 1967.
Representante da chamada Escola de Arquitetura Paulista, movimento que surgiu na Capital na década de 60, na forma de construções que respeitam as
características nacionais, como a luz e o calor, Tozzi volta a Santos 40 anos depois, para discutir com a Secretaria de Educação adaptações para o
acesso de portadores de deficiência ao prédio e a possibilidade de tombamento do edifício, cuja principal característica é o vão livre e o concreto
aparente.
No que consistiu o movimento da Escola Paulista de Arquitetura?
Queríamos fazer uma arquitetura que entrasse na idéia de respeitar nossa cultura, sem que
ela fosse violada por mercadorias ou coisas dos países desenvolvidos, nem sempre interessantes para a nossa maneira de ser.
Hoje, a Arquitetura feita pelos brasileiros é nacional?
Não é feita dentro de uma visão xenófoba, pois absorve as teses boas e oportunas. Depois
do movimento da Escola Paulista de Arquitetura ou Pós-Brasília, e com o fim da ditadura, houve importação do pós-modernismo europeu. Agora, a nova
geração já está retomando o caminho da produção Pós-Brasília, reconhecida na Europa e nos EUA.
Você considera que a Arquitetura é uma arte popular?
Ela é uma arte que interage com o público, mas é uma das mais eruditas e complexas. Além
de procurar entender os significados do homem e da sociedade, o arquiteto tem que compreender o desejo do indivíduo e da sociedade, o que está
emergente, para interpretar em espaço. Por outro lado, ele se defronta com a tecnologia condizente com o seu tempo, para expressar essa nova forma e
desenho.
Seus projetos têm uma relação estreita com a arte e a escultura?
A escola Acácio de Paula Leite encantou, na época, por essa característica e pelo
desenho, que vem diretamente da tese da luz - o grande ideário de todas as artes plásticas, escultura e pintura. Um outro exemplar santista do
movimento da Escola Paulista de Arquitetura, que virou a Escola Brasileira de Arquitetura, é o prédio da Prodesan.
O que você diria sobre a preservação da arquitetura santista?
O Centro Histórico de Santos é um patrimônio da humanidade. Aliás, os centros históricos
são o que há de mais significativo na história de vida de uma Cidade. Desde 1980, todos eles estão sendo revitalizados, é um fenômeno mundial.
Arquiteto Décio Tozzi: "Um bom profissional deve entender o desejo do homem e da
sociedade, e conhecer a tecnologia do seu tempo, para expressá-la no espaço"
Foto: Alex Almeida, publicada com a matéria
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alunos freqüentam diariamente o edifício projetado pelo arquiteto Décio Tozzi, nos
anos 60, na Rua Sete de Setembro, 14
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Escola Municipal Acácio de Paula Leite Sampaio
Foto: Carlos Pimentel Mendes, em 17 de junho de 2007
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As linhas arquitetônicas do prédio, já eram registradas na época de sua construção, como nesta matéria do jornal
santista A Tribuna, em 11 de abril de 1969 (exemplar no acervo de António Mendes, de Praia Grande/SP):
Dentro em breve, os jovens terão mais um estabelecimento de ensino
Foto publicada com a matéria
É um colégio novo que vale a pena ser visto
Não há quem deixe de fazer comentário ou arriscar um
palpite ao passar pela Avenida Senador Feijó, esquina de Sete de Setembro. Aí um prédio esquisito, de formas arrojadas, está em fase final de
construção. Parece tudo, menos colégio. Décio Tozzi e Luiz Carlos Ramos são os arquitetos responsáveis pelo projeto que dotará a Cidade da mais
moderna escola do Estado.
Segunda-feira próxima será inaugurada pelo prefeito Sílvio
Fernandes Lopes. Talvez não entre em funcionamento este ano, mas vale a pena ser vista.
O professor Alencastro Guimarães, secretário da Educação, é o diretor a escola que
ocupará o moderno prédio quase construído: o Instituto Municipal de Comércio Prof. Acácio de Paula Leite Sampaio.
É difícil imaginar, de fora, a quantidade de salas que existem nesse prédio e o espaço
livre para circulação dos alunos. Composto de três andares, da rua só se vêem dois, pois foi construído abaixo do nível da calçada. Assim, para
entrar na escola pela porta principal, é necessário descer escada de uns 10 degraus. Existem mais dois portões, que levam diretamente ao pátio, e
nesse caso tem de ser feita uma subida (10 degraus também).
No andar térreo (subsolo) estão localizadas as dependências da parte administrativa,
além da biblioteca e do anfiteatro, mais uma inovação do projeto. Aliás, tudo aí é diferente. Até as 15 salas de aula, com capacidade para 40 alunos
cada uma, foram projetadas no estilo dos anfiteatros usados nas faculdades de Medicina (em degraus), com um quadro-negro (verde) que ocupa toda a
extensão da parede (altura e largura).
Os laboratórios de Física, Química e Merceologia estão em três amplos salões com uma
composição de concreto no centro, onde foram adaptados bicos de gás, pias e armários para os produtos químicos. Os outros salões, destinados à sala
de Desenho e ao Escritório-Modelo, também são especiais. Tudo isso fica localizado no 2º andar, enquanto as classes estão no pavimento superior.
No 1º pavimento está situado o pátio, imenso, onde no futuro poderá ser adaptado um
alambrado e determinadas quadras para basquete e voleibol, sem prejuízo de espaço para os alunos. Espaço não falta.
O sistema de iluminação e ventilação de todo o colégio é bastante original. Através de
clarabóias a luz penetra iluminando do 3º ao andar térreo, num processo especial. Para a circulação de ar nas classes também foi elaborado sistema
inédito e de grande eficácia.
Arrojo arquitetônico, a principal característica da nova escola
Foto publicada com a matéria
Convite para a inauguração, publicado na imprensa
Imagem: jornal santista A Tribuna, de 13 de abril de 1969 (acervo de António
Mendes)
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