Justiça, da cadeia ao palácio
Os primeiros passos da Justiça doméstica de Santos, quando se criou a Sexta
Comarca - em 1832 - foram dados no prédio da antiga cadeia. Ali, onde agora é a Praça da República
e naquele tempo havia o pelourinho. Depois, o Fórum passou para outra cadeia, a velha, na
Praça dos Andradas. Agora, a Justiça de Santos está num Palácio. É a segunda do Estado, em atividade.
O último de fora - O primeiro juiz de Direito foi José Antonio Pimenta Bueno,
que assim mudou de título. Era juiz de fora, até a criação da Comarca.
O historiador Costa e Silva Sobrinho sabe o passado da Justiça santista na ponta da
língua. Conta o lado bom: "Foi um Fórum feliz pela qualidade de seus juízes e advogados, repetindo o mérito do tempo do Brasil-Colônia". Mas lembra
também o aspecto melancólico, o esquecimento em que foi realizada a Comarca de Santos no conjunto da história da Justiça. Muitos juízes ilustres, e
alguns que foram até o Supremo Tribunal, passaram por aqui. Ninguém se lembra disso, ninguém liga Santos às suas biografias.
Por exemplo - Costa e Silva Sobrinho cita, como exemplos, nomes que brilharam
nos meios jurídicos e cujo fulgor também a Sexta Comarca de Santos pôde conhecer de perto. Um é Manuel de Araújo Cunha, maranhense de nascimento
(nascido em São Luís) e paulista no bacharelado (formou-se em Direito nas Arcadas). Não foi o único grande valor de sua turma. Com ele também
colaram grau Francisco da Costa Carvalho e José Bonifácio, o moço.
Outro bem lembrado pelo historiador é Alexandre Martins Rodrigues. Foi juiz da
Provedoria de Órfãos, cargo da época. Inteligente - um dos mais, na ocasião - e dono de rica oratória, seu valor não se conteve nas esferas
jurídicas, embora grandes. Foi vereador - e presidente da Câmara - de 1877 a 1880. Foi também jornalista, redator do Comércio de Santos, em
1871. Só que não pôde dar à comunidade tudo o que podia e que queria: morreu em 1882, com 40 anos de idade.
A memória de Costa e Silva Sobrinho é vasta, não se limita a uns poucos nomes. Ele
fala também de Antonio Carlos Ribeiro de Andrada e Silva, Manuel Antonio Duarte de Azevedo e Joaquim Vieira de Carvalho, todos advogados de
brilhante palavra. E lembra também que o maior testemunho de todos esses valores é o consistório da Venerável Ordem Terceira de São Francisco, onde
há um século funcionava o Tribunal do Júri.
Depois vieram outros que viram a Sexta Comarca de Santos crescer e tornar-se uma das
mais movimentadas do Estado: Juvenal Malheiro Menezes, Francisco de Paula e Silva, Flávio Augusto de Oliveira Queirós e Benedito de Oliveira
Noronha, todos juízes.
O palácio necessário - Todos esses foram sentindo que o espaço faltava.
Transitoriamente, o Fórum passou da cadeia velha para o prédio 10 da Rua 15 de Novembro, não para todo o prédio, apenas algumas salas. Tudo muito
acanhado, muito insuficiente. A sala do júri era minúscula, não acomodava quase ninguém. As varas foram sendo criadas, sem que houvesse onde pô-las.
O prédio próprio, só para a Justiça, não podia esperar mais.
A grande certeza do problema solucionado foi dada em 2 de abril de 1950, com a pedra
fundamental do Palácio, na Praça José Bonifácio. Solução demorada, que se arrastou por 12 longos anos, acompanhando uma
construção lerda e enervante. Finalmente, tudo acabou. Foi a 22 de outubro de 1962, data da inauguração do Palácio da Justiça de Santos.
Júri na base - É o Palácio J. X. Carvalho de Mendonça, com sete andares. No
mais baixo, o térreo, funciona o ponto alto da Justiça santista: a sala do júri, batizada "Ademar de Figueiredo Lira". Fica à direita do saguão de
entrada. É imponente, toda revestida de madeira de lei. Comporta mais de 300 pessoas.
O Palácio tem esmerado estilo romano. Abriga quatro varas cíveis, quatro criminais e
nove cartórios. Das varas em geral, a mais nova é a Privativa dos Feitos da Fazenda Pública e Acidentes do Trabalho, que dentro em pouco perderá os
mimos de caçula: a 5ª Vara Criminal e a Privativa de Menores já foram criadas por lei, falta apenas a instalação. Mas, caçula ou não, a dos Feitos e
Acidentes tem um privilégio que não perde mais: é a primeira fora da Capital do Estado.
Na frente só um - O Fórum de Santos é o segundo do Estado em movimento. Só lhe
toma a frente, é natural, o paulistano. Quem diz isso é o diretor há quatro anos, juiz de Direito Rocha de Siqueira. Diz com orgulho e lembra que o
Palácio se deve ao empenho de muitos juízes e diretores antes dele. Especialmente Ademar de Figueiredo Lira.
Na parte administrativa, 30 anos de experiência presidem todo o controle do
expediente, da contabilidade, do pessoal, e muitas outras coisas: é o trabalho de da. Mercedes Moreira, uma das antigas funcionárias do Fórum de
Santos, que citar na notícia é simplesmente fazer justiça. |