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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - SEU BAIRRO/mapa
Aparecida, bairro de três mundos distintos (3)

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Publicado em 2/9/1982 no jornal A Tribuna de Santos

 Leda Mondin (texto) e equipe de A Tribuna (fotos)


A escola começou numa sala de jantar e carrega consigo parte da história do bairro

A velha escola de dona Alice

Qual morador antigo não se lembra, morto de saudade, da escolinha de Dona Alice? Ela foi nada menos que a primeira escola do bairro. "Seu" João Figueira, vendo toda aquela criançada com dificuldade para estudar, decidiu abrir uma escolinha em casa. As professoras seriam suas filhas Odila, Alice, Nalza e Nair e aluno nenhum pagaria qualquer tostão para receber os ensinamentos.

Assim, durante o dia inteiro a sala de jantar da pequena casa se transformava em sala de aula. Odila e Alice, sempre incansáveis, logo precisaram da ajuda das duas outras irmãs porque o número de alunos crescia sempre. Vinha gente de tudo quanto é bairro para freqüentar as aulas, coisa que certamente "seu" João Figueira não imaginou quando se propôs a improvisar a unidade.

Durante anos e anos ela funcionou sem registro, até que a fiscalização aconselhou a fundar oficialmente a escola e cobrar uma pequena mensalidade para ajudar nas despesas. E assim surgiu o Externato Afonso Pena, na época já com 300 alunos.

Até hoje as irmãs Figueira andam às voltas com a escola, que firmou um bom nome. Pais e avós, que estudaram nela em outras épocas, fazem questão de matricular os filhos e netos nela, apesar de Aparecida abrigar cinco escolas estaduais (EEPSG dos Andradas, EEPG Antônio Ablas Filho, EESG Aristóteles Ferreira, EEPSG Escolástica Rosa e EEPSG Olga Coury) e uma municipal (EMPG Lourdes Ortiz).

A Andradas se distingue como a maior unidade estadual de Santos e tem capacidade para quatro mil estudantes. O número de alunos é bem maior que o da Escolástica Rosa, cujo prédio impressiona pela beleza e tamanho. em estilo colonial puro: foi fundada em 1908 e se destacou em outras épocas, quando se voltava exclusivamente para o ensino profissional, como uma das mais eficientes e pedagogicamente aparelhadas.

No mais, resta dizer que a Lourdes Ortiz também é muito querida, pois desde 1928 vem garantindo a aprendizagem para milhares de crianças. Se incorpora, pois, ao patrimônio desse bairro que abriga o INPS e sediará o Centro Cultural e Desportivo do Sesc - que está em construção no quadrilátero que engloba a maior parte dos terrenos entre as ruas Vergueiro Steidel e Alexandre Martins e avenidas Epitácio Pessoa e Almirante Cócrane. Um conjunto que promete ser muito imponente e garantir lazer, não só para o pessoal de Aparecida, mas de toda Santos.


Trecho da Vergueiro Steidel não foi asfaltado e o pessoal do Martins Fontes reclama

Os campos e o fim de uma época

Muita gente até hoje não se conforma com o fim dos tradicionais campos de várzea que existiam entre as avenidas Pedro Lessa e Epitácio Pessoa. Para os antigos, a eliminação deles marcou o fim de uma época, o fim do futebol varzeano de Santos.

Dava gosto ver a moçada se arrebentar no campo e lutar até o último minuto pela vitória do time. Ninguém se importava com tombos ou de sair meio torto do campo, nariz doendo e sangrando. Ganhar representava a recompensa por todo o esforço.

Quantos times de futebol não surgiram em função dos campos de Aparecida? Numa listagem preliminar podem ser incluídos nada menos que 14: XI Santista, União Brasil, São Paulo, Flórida, Botafogo, Toca da Onça, Vasco da Gama, 5ª Seção, Cruz de Malta, Vila Santista, Jaú, Entreposto, Esporte Clube Marinheiros e Ipiranga.

Os clubes proliferavam, apesar do dinheiro sempre curto e da dificuldade para se comprar jogos de camisa ou pares de chuteira. Futebol sofrido, não resta dúvida, mas que revelou muitos craques, como Gilmar, Pepe, Baltazar, Cláudio e Clodoaldo.

Sempre que o Esporte Clube XI Santista enfrentava o Flórida Futebol Clube podia contar que a casa ficava cheia. Não dava menos de três mil pessoas dispostas a assistir e torcer para valer. Mas, justamente onde ficava o campo do XI Santista foi edificado o Conjunto Martins Fontes, com seus 33 prédios e 1.180 apartamentos. Aliás, o conjunto ocupou o espaço daquele e de outros sete campos, sempre muito concorridos aos sábados e domingos, quando havia disputas entre times infantis, aspirantes e principais. Eram ao todo umas duas mil pessoas praticando futebol nos fins de semana. E muitas mil assistindo.

Futebol era coisa sagrada para o pessoal de Aparecida, obrigado agora a se conformar com os três únicos campos de várzea remanescentes no amplo terreno do INPS, existente ao lado do Conjunto Castelo Branco. E a ameaça de extinção desses últimos vem deixando os futebolistas muito chateados: todos sabem que, mais cedo ou mais tarde, o INPS requisitará a área para ampliar instalações, pondo um fim à alegria de muita gente.

Brasil e Santa Cecília, tradição que restou - Dos famosos times de futebol de outros tempos, restou em Aparecida o Brasil Futebol Clube, que foi fundado em 1913 e há anos está instalado na Rua Jurubatuba, 80. Esse conseguiu se firmar, mantém o campo, mas procurou diversificar atividades e oferece como opção para os associados a prática de judô, atletismo e natação, sem contar as aulas de balé e a possibilidade de integração em equipes de pontobol, dominó, buraco e futebol de salão.

O Clube Atlético Santa Cecília também é tradicional no bairro. Em outros tempos, seus jogadores emocionaram a torcida com jogadas próprias de grandes craques. Mas, sem campo desde 1969, o Santa Cecília desligou-se do futebol.

Mesmo sem oferecer esse esporte que cativa tanta gente, o Santa Cecília se destaca como um dos maiores clubes pequenos de Santos. Os bailes que promove são dos mais concorridos, e aos sábados o espaço fica pequeno demais para tanta gente.

O presidente Lorival da Silva Ornelas, o Lori, não esconde o orgulho quando fala sobre as obras de expansão e os planos da diretoria. O novo prédio da Rua Alfaia Rodrigues, 279, terá capacidade para umas quatro ou cinco mil pessoas, e lá serão realizados shows, sambão e outras promoções do tipo. Há planos até de se fundar um bloco para desfilar na "Dona Dorotéia". Pois é: o Santa Cecília quer se firmar como um clube para ninguém botar defeito.

Veja as partes [1], [2] e [4] desta matéria
Veja Bairros/Aparecida

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