A escola começou numa sala de jantar e carrega consigo parte da história do bairro
A velha escola de dona Alice
Qual morador antigo não se lembra, morto de saudade, da
escolinha de Dona Alice? Ela foi nada menos que a primeira escola do bairro. "Seu" João Figueira, vendo toda aquela criançada com dificuldade para
estudar, decidiu abrir uma escolinha em casa. As professoras seriam suas filhas Odila, Alice, Nalza e Nair e aluno nenhum pagaria qualquer tostão
para receber os ensinamentos.
Assim, durante o dia inteiro a sala de jantar da pequena casa se transformava em sala de aula. Odila e Alice,
sempre incansáveis, logo precisaram da ajuda das duas outras irmãs porque o número de alunos crescia sempre. Vinha gente de tudo quanto é bairro
para freqüentar as aulas, coisa que certamente "seu" João Figueira não imaginou quando se propôs a improvisar a unidade.
Durante anos e anos ela funcionou sem registro, até que a fiscalização aconselhou a fundar oficialmente a escola
e cobrar uma pequena mensalidade para ajudar nas despesas. E assim surgiu o Externato Afonso Pena, na época já com 300 alunos.
Até hoje as irmãs Figueira andam às voltas com a escola, que firmou um bom nome. Pais e avós, que estudaram nela
em outras épocas, fazem questão de matricular os filhos e netos nela, apesar de Aparecida abrigar cinco escolas estaduais (EEPSG dos Andradas,
EEPG Antônio Ablas Filho, EESG Aristóteles Ferreira, EEPSG Escolástica Rosa e EEPSG Olga Coury) e uma municipal (EMPG Lourdes Ortiz).
A Andradas se distingue como a maior unidade estadual de Santos e tem capacidade para quatro mil estudantes. O
número de alunos é bem maior que o da Escolástica Rosa, cujo prédio impressiona pela beleza e tamanho. em estilo colonial puro: foi fundada em
1908 e se destacou em outras épocas, quando se voltava exclusivamente para o ensino profissional, como uma das mais eficientes e pedagogicamente
aparelhadas.
No mais, resta dizer que a Lourdes Ortiz também é muito querida, pois desde 1928 vem garantindo a aprendizagem
para milhares de crianças. Se incorpora, pois, ao patrimônio desse bairro que abriga o INPS e sediará o Centro Cultural e Desportivo do Sesc - que
está em construção no quadrilátero que engloba a maior parte dos terrenos entre as ruas Vergueiro Steidel e Alexandre Martins e avenidas Epitácio
Pessoa e Almirante Cócrane. Um conjunto que promete ser muito imponente e garantir lazer, não só para o pessoal de Aparecida, mas de toda Santos.
Trecho da Vergueiro Steidel não foi asfaltado e o pessoal do Martins Fontes reclama
Os campos e o fim de uma época
Muita gente até hoje não se conforma com o fim dos
tradicionais campos de várzea que existiam entre as avenidas Pedro Lessa e Epitácio Pessoa. Para os antigos, a eliminação deles marcou o fim de
uma época, o fim do futebol varzeano de Santos.
Dava gosto ver a moçada se arrebentar no campo e lutar até o último minuto pela vitória do time. Ninguém se
importava com tombos ou de sair meio torto do campo, nariz doendo e sangrando. Ganhar representava a recompensa por todo o esforço.
Quantos times de futebol não surgiram em função dos campos de Aparecida? Numa listagem preliminar podem ser
incluídos nada menos que 14: XI Santista, União Brasil, São Paulo, Flórida, Botafogo, Toca da Onça, Vasco da Gama, 5ª Seção, Cruz de Malta, Vila
Santista, Jaú, Entreposto, Esporte Clube Marinheiros e Ipiranga.
Os clubes proliferavam, apesar do dinheiro sempre curto e da dificuldade para se comprar jogos de camisa ou
pares de chuteira. Futebol sofrido, não resta dúvida, mas que revelou muitos craques, como Gilmar, Pepe, Baltazar, Cláudio e Clodoaldo.
Sempre que o Esporte Clube XI Santista enfrentava o Flórida Futebol Clube podia contar que a casa ficava
cheia. Não dava menos de três mil pessoas dispostas a assistir e torcer para valer. Mas, justamente onde ficava o campo do XI Santista foi
edificado o Conjunto Martins Fontes, com seus 33 prédios e 1.180 apartamentos. Aliás, o conjunto ocupou o espaço daquele e de outros sete campos,
sempre muito concorridos aos sábados e domingos, quando havia disputas entre times infantis, aspirantes e principais. Eram ao todo umas duas mil
pessoas praticando futebol nos fins de semana. E muitas mil assistindo.
Futebol era coisa sagrada para o pessoal de Aparecida, obrigado agora a se conformar com os três únicos campos
de várzea remanescentes no amplo terreno do INPS, existente ao lado do Conjunto Castelo Branco. E a ameaça de extinção desses últimos vem deixando
os futebolistas muito chateados: todos sabem que, mais cedo ou mais tarde, o INPS requisitará a área para ampliar instalações, pondo um fim à
alegria de muita gente.
Brasil e Santa Cecília, tradição que restou - Dos famosos times de futebol de
outros tempos, restou em Aparecida o Brasil Futebol Clube, que foi fundado em 1913 e há anos está instalado na Rua Jurubatuba, 80. Esse conseguiu
se firmar, mantém o campo, mas procurou diversificar atividades e oferece como opção para os associados a prática de judô, atletismo e natação,
sem contar as aulas de balé e a possibilidade de integração em equipes de pontobol, dominó, buraco e futebol de salão.
O Clube Atlético Santa Cecília também é tradicional no bairro. Em outros tempos, seus jogadores emocionaram a
torcida com jogadas próprias de grandes craques. Mas, sem campo desde 1969, o Santa Cecília desligou-se do futebol.
Mesmo sem oferecer esse esporte que cativa tanta gente, o Santa Cecília se destaca como um dos maiores clubes
pequenos de Santos. Os bailes que promove são dos mais concorridos, e aos sábados o espaço fica pequeno demais para tanta gente.
O presidente Lorival da Silva Ornelas, o Lori, não esconde o orgulho quando fala sobre as obras de
expansão e os planos da diretoria. O novo prédio da Rua Alfaia Rodrigues, 279, terá capacidade para umas quatro ou cinco mil pessoas, e lá serão
realizados shows, sambão e outras promoções do tipo. Há planos até de se fundar um bloco para desfilar na "Dona Dorotéia". Pois é: o Santa
Cecília quer se firmar como um clube para ninguém botar defeito. |