Imagem: reprodução da página 20 do álbum de
2000
Um porto com quase 500 anos
O Porto de Santos começou bem antes dos primeiros 260 metros inaugurados pela
Companhia Docas de Santos, em 1892. Surgiu como Porto de São Vicente, atendendo aos interesses do degredado judeu Mestre Cosme Fernandes, também
conhecido como Bacharel, um personagem pouco conhecido da história brasileira. Abandonado à sua própria sorte em Cananéia, possivelmente meses antes
do "descobrimento" do Brasil por Cabral, o Bacharel escolheu São Vicente para viver nos primeiros anos do século 16.
Lá, criou o seu Porto dos Escravos, como a vila era conhecida na Europa,
comercializando índios e mercadorias com portugueses e espanhóis. Isso até a chegada de Martim Afonso de Souza, em
1532, responsável pela fundação oficial de São Vicente. Atrás daquele primeiro porto, iam surgindo povoados que, mais
tarde, se transformariam em cidade.
Já transferido para a pequena vila de Santos, o porto refletiu o período de estagnação
da região, que não podia concorrer com a riqueza que a cana-de-açúcar fornecia ao Nordeste do Brasil. A falta de perspectivas fez muitos habitantes
procurarem outros locais para viver. Alguns foram atrás de novas terras para plantio, outros seguiram os bandeirantes na busca de metais preciosos e
escravos índios.
Com a descoberta de jazidas no interior da colônia, o porto ganhou sua fatia de
prosperidade, melhorando a economia da região. Mas, quando foi aberto um caminho ligando Minas Gerais diretamente ao Rio de Janeiro, a capitania
voltou a ficar pobre.
No século 18, com a decadência da economia paulista, os navios europeus não viam razão
para aparecer por aqui. A situação em Santos só não foi pior graças ao sal. Proibido de ser explorado no Brasil, o produto era trazido pelos
portugueses. Os paulistas precisavam, então, buscá-lo no porto e, com isso, ajudavam a sustentar o comércio da região.
A sorte só voltou com o sucesso do café. A primeira
exportação do produto foi tímida, em 1792. Setenta e cinco anos depois, Santos recebia o primeiro dos grandes investimentos obtidos pelo poder dos
barões do café: a inauguração do trecho da ferrovia ligando Santos a São Paulo. Toda a riqueza gerada exigia uma infraestrutura adequada àqueles
tempos. O porto ganhou os famosos 260 metros de cais de pedra, atraiu trabalhadores imigrantes e provocou a expansão da pequena cidade de Santos. A
região não parou mais de crescer.
Novos bairros foram surgindo, agravando problemas antigos, como a falta de saneamento
básico e áreas de mangue sujeitas a inundações, prato cheio para as epidemias. A construção dos canais trouxe uma melhora
significativa nas condições de vida da população. As belas praias, antes inexploradas, passaram a atrair turistas, fazendo da cidade um ótimo
balneário. Surgiram hotéis, cassinos e áreas de lazer para atender este público. Mas a fase de ouro do café não suportou
a quebra da Bolsa de Nova York, em 1929.
A partir dos anos 50, novos tempos vieram com a inauguração do
polo industrial em Cubatão, mudando o perfil da região. O porto teve que se
adaptar novamente. Migrantes chegaram, atraídos pelo trabalho nas indústrias.
Hoje, o novo século encontra a Baixada Santista lutando contra a miséria, o desemprego
e a violência, à procura de alternativas para a volta do crescimento econômico. O porto, neste processo, busca uma nova identidade.
Desde a chegada do Bacharel a São Vicente, há quase 500 anos,
o porto viveu momentos de riqueza e decadência. As imagens deste livro fascinante convidam o leitor para um olhar sobre um pedaço deste passado. um
passado que sempre traz lições para o presente e, principalmente, para o futuro. Um futuro que precisa reservar um espaço especial para a Baixada
Santista e seu porto dentro deste mundo globalizado.
Viviane Pereira e Helena Maria Gomes
Jornalistas do jornal A Tribuna e
autoras de Memórias da Hotelaria Santista e responsáveis por A Tribuninha
Imagem: reprodução da página 21 do álbum de
2000 |