Tinham se passado apenas 12 anos do
início das operações do porto
organizado de Santos, quando a concessionária Companhia Docas de Santos (CDS)
publicou em 1904 o álbum Santos e a Cia. das Docas, com as fotos das primeiras etapas da construção desse porto. Em abril de 2000, o
cartofilista Laire José Giraud preparou uma nova edição desse álbum, dentro das comemorações dos 500 anos do Descobrimento do Brasil, impressa pela
Gráfica Guarani, de Santos/SP: |
Imagem: capa da publicação do ano 2000 -
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Imagem: sumário, na obra de 2000
Imagem: capa original do álbum de 1904 -
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Imagem: frontispício e dedicatória, no álbum
de 2000
Imagem: registro da obra de 2000
Imagem: orelhas do álbum de 2000
É um privilégio ter esta obra em mãos
Certos livros, preciosíssimos, ficam anos no fundo de gavetas, como os diamantes jazem
séculos na escuridão fria das montanhas. o tesouro não existe, até que um garimpeiro, ousado e persistente, remova as pedras, rompa a escuridão e
exponha ao sol a joia rutilante e rara.
Já vi este texto antes, alhures, expressão de um alquimista deslumbrado com a
descoberta de uma obra clássica. Descoberta incomum e maravilhosa, como este livro (de 1904, encontrado em Paris) que Laire José Giraud recebeu do
Velho Mundo.
Pois, nestes tempos de astronautas e internautas, esta obra é uma vertigem ao passado,
viagem em que Laire é mestre-timoneiro, condutor de emoções perpétuas. Quem não conhece a fama de seus milhares de cartões-postais?
Ano 1901. Que tal começar o passeio pelo velho prédio da Alfândega, as ruas centrais,
o Centro Português e os antigos armazéns do cais? A Cidade exala maresia, café, bananas, estrume de cavalo, azeite e bacalhau.
No meio do estuário, início do século, os veleiros se casam com o navio-vapor. E, mais
adiante, inédito, veja como era o monte Jabaquara, que hoje não existe mais. São pedras do cais.
Estas fotos, do acervo de Laire, despertam a vida que lateja no porto, dia e noite sem
parar. É água que bate na muralha, trem no trilho, apitos. É pedra sobre o mangue e carga sobre o cais.
O trabalhador verga sob a saca, verga sob as injustiças, ódio reprimido, doença e
mal-estar. E lá estão os pioneiros, engravatados e impávidos, orgulhosos de domar trambolhos tecnológicos, "a ciência mais avançada do mundo".
Imortalizados nesta homenagem de Laire, todos afinal exibem sensações fáceis de
explicar. É o orgulho que estufa o peito, de quem estendeu sobre o mangue uma Cidade moderna e o maior porto do País.
Santos, abril de 2000.
Hélio Schiavon
Jornalista de A Tribuna |