SANTOS DE ANTIGAMENTE
Queima de café em 1931
Uma gigantesca fogueira, iniciada em junho de 1931, durante as festas juninas, continuou ardendo na Baixada Santista até o final do ano,
destruindo milhares de sacas de café e espalhando no ar de toda a região o característico e intenso aroma do café torrado. A decisão do governo de destruir os estoques de café
excedentes, para forçar a elevação dos preços do produto no mercado internacional (que tinham caído a um terço do valor em que eram cotadas pouco antes da crise econômica mundial de 1929) foi bastante criticada na época, provocando a demissão do
então ministro da Fazenda, José Maria Whitaker, em novembro de 1931, por não concordar com a queima do café.
Ele foi sucedido por Oswaldo Aranha, que decidiu prosseguir na queima de mais 9 milhões de sacas de café, além dos 3 milhões de sacas já queimadas nos meses anteriores. No total, foi
contabilizada a queima de 71.068.581 sacas de café, suficientes para garantir o consumo mundial do produto durante três anos.
Foto: 100 Anos de República - Volume IV - 1931-1940, Ed. Nova Cultural, São Paulo/SP, 1989.
Acervo do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo
A imagem anterior foi reproduzida deste cartão postal divulgado na época da queima do café
Imagem enviada pelo professor e pesquisador de História Francisco Carballa, de Santos/SP
A ideia da queima do café, entretanto, já existia no começo do século, defendida pelo
poeta e político santista Vicente de Carvalho, como solução para o problema da exagerada oferta de café no mercado internacional. Para Vicente de
Carvalho, deveriam ser queimados os grãos de café de baixa qualidade, como forma de elevar o padrão, o que não ocorreu em 1931.
Movido a café - Existiram também propostas de aproveitamento do produto excedente, como esta, registrada pelo jornal paulistano Folha da Manhã de 3 de janeiro de 1932, sobre
experiências do emprego de café como combustível nas locomotivas da Estrada de Ferro Central do Brasil: "Partiu um trem de carga com 610 toneladas de peso, utilizando a locomotiva café como combustível. O percurso foi
vencido em duas horas e dez minutos, sem quebra de pressão, gastando 2.912 quilos de café." |
Um dos vários cartões postais divulgados na época da queima do café
Imagem enviada pelo professor e pesquisador de História Francisco Carballa, de Santos/SP
Cartão postal em alemão mostra uma cena da queima de café em Santos
"Kaffeeverbrennung in Brasilien"
Imagem disponível no site Mercado Livre (acesso: 2/2/2016)
A mesma foto integrou um cartão postal santista editado pela casa Preising (nº 1.343)
Imagem: cartão postal no acervo do cartofilista paulistano Giacomo Albanese,
publicada no site JuicySantos (acesso: 2/2/2016)
Foto publicada em 31/12/2008 pela revista Época (Ed. Globo/Rio de Janeiro-RJ), com a matéria 'Do café à industrialização'
Imagem: versão digital da revista Época
(acesso: 2/2/2016)
A imagem também foi transformada em cartão postal da série Preising (nº 1.341)
Imagem: acervo Lilia Alonso, publicada em seu blogue Chavantes/SP em (acesso:
2/2/2016)
O café não foi destruído apenas em Santos, mas também no Rio de Janeiro e no interior. Estas fotos não apresentam referência de local, embora sejam do mesmo período:
Queima de café em cidade interiorana, em 1938
Foto: Getúlio Teixeira de Aguiar, publicada em 22/11/2014 no
blogue do professor Marciano Dantas (tema: Getúlio Vargas: o presidente que governou por mais tempo o Brasil) e no site
Algo Sobre Vestibular (tema: Transformações Econômicas e o Desenvolvimento Industrial pós Golpe 1937), ambos
acessados em 2/2/2016
Queima de estoques de café em local não identificado
Foto incluída em apresentação de slides de Nicole Lopes em 2010, com o tema 'A decadência das
oligarquias e a Revolução de 1930' (acesso: 2/2/2016)
Queima de café no Estado de São Paulo
Foto publicada em Calendário CNT, do Almanaque Pridie Kalendas, sob o tema: Café Um Esboço Histórico
(acesso: 2/2/2016)
Queima de café no Estado de São Paulo
Foto publicada em Calendário CNT, do Almanaque Pridie Kalendas, sob o tema: Café Um Esboço Histórico
(acesso: 2/2/2016)
Café sendo embarcado para ser jogado no mar
Foto publicada em Calendário CNT, do Almanaque Pridie Kalendas, sob o tema: Café Um Esboço Histórico
(acesso: 2/2/2016)
Café sendo jogado ao mar
Foto publicada em Calendário CNT, do Almanaque Pridie Kalendas, sob o tema: Café Um Esboço Histórico
(acesso: 2/2/2016)
Blocos de café para uso como combustível
Foto publicada em Calendário CNT, do Almanaque Pridie Kalendas, sob o tema: Café Um Esboço Histórico
(acesso: 2/2/2016)
Estoques de café supérfluos, para outros fins
Foto publicada em Calendário CNT, do Almanaque Pridie Kalendas, sob o tema: Café Um Esboço Histórico (acesso: 2/2/2016)
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Mesmo o café inutilizado, que ia sendo depositado na Alemoa para a posterior incineração, era alvo de negociatas, como registrou o jornal santista A Tribuna, na página 6 da edição de 24 de outubro
de 1930 (ortografia atualizada nesta transcrição):
Indivíduos inescrupulosos estão se apoderando dos cafés jogados na Alemoa, para os negociar Um vigia da Inglesa, ontem, apreendeu cinco
sacas desse produto
Os indivíduos falhos de escrúpulos, esses que só visam um lucro fácil, sem olhar para os meios a que recorrem, visando aquele fim, lançam mão de todos os
recursos, muito embora, com isso, não poucas vezes, atentem seriamente contra a saúde pública.
É o que agora se está passando, mas, felizmente, o manejo já foi descoberto e, por certo, providências serão postas em prática, evitando prossiga a ação de alguns indivíduos.
Como toda a cidade sabe, o governo, por intermédio do Instituto de Café, determinou fossem jogados, na Alemoa, para a devida inutilização, quantidades de café.
Como, nestes últimos dias, deixasse de haver, naquele local, a fiscalização que vinha sendo feita, vários indivíduos viram, no caso, ocasião favorável para agir e, assim, durante a noite,
às ocultas, retiravam da Alemoa toda quantidade de café que podiam, para vender e, necessariamente, esse café, já estragado, seria dado a consumo, ou mesmo já foi, visto como desde há dias a manobra vem sendo posta em prática, segundo agora ficou
descoberto.
Ainda ontem, o rondante dos vigias da S. Paulo Railway, à noitinha, conseguiu apreender cinco sacas daquele café, que já iam sendo transportadas para um auto-caminhão, fugindo, à presença daquele vigia, os indivíduos que foram à Alemoa "negociar"
aquele café.
Segundo fomos informados, algumas sacas desse café já teriam sido vendidas.
Trata-se, como se vê, de um sério atentado à saúde pública, caso o café, clandestinamente retirado da Alemoa, seja dado a consumo público, o que sem dúvida será evitado.
Imagem: reprodução parcial da página do jornal
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