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HISTÓRIAS E LENDAS DE CUBATÃO - PADROEIRA
Padroeira é Nossa Senhora da Lapa (2)

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A comprovação de autenticidade da imagem venerada na matriz de Nossa Senhora da Lapa, objeto de controvérsia por muitos anos, veio em trabalho desenvolvido pela arquiteta, designer e urbanista Virgínia Martins de Souza Caram, especialista em preservação de patrimônio arquitetônico, histórico e cultural, que enviou a Novo Milênio em outubro de 2012 este resumo de sua pesquisa:


Imagem de Nossa Senhora da Lapa, na Igreja Matriz de Nossa Senhora da Lapa, em Cubatão
Foto: Virgínia Martins de Souza Caram, em 14/10/2012, publicada com o texto

A devoção a Nossa Senhora da Lapa, chega a São Paulo através do padre Ângelo Siqueira Ribeiro do Prado.

Em 1733 foi ordenado sacerdote. De Santos, embarca para a Europa e se fixa em Roma onde se forma como missionário apostólico, pregando missões nos reinos de Castela e Portugal.

Em Lisboa, o padre Ângelo se apega ao orago de Nossa Senhora da Lapa, e no retorno ao Brasil é responsável pela sua disseminação, construindo oratórios e capelas na cidade de São Paulo.

Logo após o retorno, entra em contato com o padre José de Moura, reitor do Colégio de Santo Inácio para a doação de uma posse de terras na Emboaçava "com a condição de se cantar u’a missa a cada ano à Virgem Santíssima com o título da Lapa", onde é construída uma ermida e colocada a imagem da santa.
Posteriormente vai para o Rio de Janeiro, onde constrói mais três obras consagradas a esse culto, de 1748 a 1751.

Pelo texto anexo deduz-se que a aquisição das terras chamadas de Fazendinha da Lapa pelos jesuítas tenha ocorrido por volta de 1740, pois: "por dois ou três anos, celebraram naquela ermida as missas com a dádiva da Senhora da Lapa, porém em 1743, trocam-na pelo Sítio dos Cardosos em Cubatão".

Mudam-se logo em seguida para aquelas terras e levam consigo todos os seus haveres, inclusive a imagem de Nossa Senhora da Lapa, sua devoção, sua dádiva e comprometimento em continuar com as missas cantadas a Virgem Santíssima.

Os jesuítas já haviam se estabelecido em extensa área, aos poucos empossada na margem esquerda, benfeitorias e Ermida de São Lourenço deixados por Francisco Pinto, onde se estabelecera o Porto Geral próximo às construções e depois o Sítio dos Cardosos veio completar a totalidade das terras na margem direita do Cubatão: "Para esta localidade levaram a Imagem de Nossa Senhora da Lapa, embora ficassem alguns sítios em suas vizinhanças aos jesuítas", tempo suficiente para que o córrego nas adjacências da Ermidinha de São Lourenço viesse a se chamar Córrego da Lapa.

As terras da Sesmaria de Francisco Pinto haviam sido adquiridas pelos Jesuítas em 1664, ou seja, há 79 anos que estes utilizavam a Ermida de São Lourenço para as manifestações religiosas locais. Com a aquisição das terras de Domingos Leite de Carvalho, no lado oposto de onde estava instalado o Porto Geral no Rio Cubatão, os jesuítas construíram, após a sua aquisição em 1687, um grande sobrado feito em pedras.

Vale a pena lembrar que os jesuítas do Colégio de Santo Inácio, devido à perseguição dos bandeirantes e descontentamento dos moradores da Vila de São Paulo (graças ao impedimento na aquisição de índios como escravos), haviam se mudado para Santos, onde a partir do ano de 1592, construíram o Colégio de São Miguel: "Por volta de 1598, foram concluídas a igreja e uma residência com oito cubículos, ambas executadas com paredes de pedra e cal (retiradas dos sambaquis), e decoradas no interior com pinturas do irmão Belchior Paulo".

Portanto a proximidade permitiu u’a maior gama de informações quanto às técnicas construtivas, bem como familiaridade entre os ocupantes do Colégio e o Sobrado. Desde 1643 os jesuítas vinham se instalando à margem esquerda do Cubatão, portanto já há cem anos que desenvolviam atividades, e construíam benfeitorias naquelas terras, quando os irmãos de ordem da Fazendinha da Lapa se mudaram para Cubatão. A margem oposta, onde foi construído o sobrado, vinha sendo utilizada há 54 anos.

Os jesuítas se fixaram em várias construções onde mantiveram residência e suas atividades, como o sobrado, que pelas suas dimensões fora construído a guisa de mosteiro.

Nas proximidades, como a casa que veio a pertencer a Seu Henriquinho, avô de Afonso Schmidt, a qual era a sede mais próxima do Engenho e da Ermida de São Lourenço, bem como, ao Pouso de Tropeiros no Porto Geral, e que mantinha as mesmas características construtivas na cerca de pedras que precedia a entrada da casa, assim como as paredes do Sobrado e da Alfândega, esta também circundada por uma cerca de pedras com argamassa a base de cal das caieiras de sambaquis.

Haja vista a preocupação em relatar, no próprio documento em que se efetuou a permuta e ao relato enaltecido de Belchior Mendes, reitor dos jesuítas, em 30 de setembro de 1745: "e as do Cubatão são terras em que esteve um engenho d’água, e a vista fará a quem disser o contrário: e com este sítio dado ao Colégio com a condição de se cantar u’a missa cada ano à Virgem Santíssima com o título da Lapa essa missa se lhe canta na capelinha do Cubatão em que se colocou a imagem da Senhora com o mesmo título".

Daí o documento comprobatório de que se as terras na Emboaçava, como matéria, foram trocadas por terras consideradas mais proveitosas, ainda assim permanecia o apreço e não esquecimento do compromisso adquirido no ato de sua doação.

Portanto, os jesuítas que viveram na Fazendinha da Lapa por, aproximadamente três anos, mantiveram a fé e devoção levando por onde andaram seu legado espiritual junto à Imagem de Nossa Senhora da Lapa. E tanto conseguiram seu intento, que a cidade de Cubatão jamais a poderia separar de sua história, sob a qual cresceu.

A imagem foi doada aos jesuítas e não à terra vazia, matéria inerte. Pelo espírito pensante destes se manteve latente a ideia e o orago à Santa, tanto que a Ermida da Lapa na Emboaçava, onde hoje é o Bairro da Lapa em São Paulo, permaneceu abandonada por mais de cem anos. Por volta de três anos, ela permaneceu lá, mas foi devido à constante manutenção da ideia e do compromisso em levar a missão de difundir a sua história, que veio a ter a sua efetiva florescência. Nos 267 anos seguidos de manifestação da missa "cantada à Virgem" em Cubatão, tornou-se, com o passar dos anos, Patrimônio Imaterial dessa cidade.

Como relata em artigo existente no Arquivo Municipal: ..."A Imagem de Nossa Senhora da Lapa da primeira Capela dos Jesuítas é conservada na Igreja Matriz Local. Os brincos que a ornamentavam, cravejados de diamantes, avarentamente guardados por Joaquim Couto Sobrinho, que os devolveu quando a Imagem foi recolhida a nossa Capela edificada em 1907, foram desviados por mãos sacrílegas"...

O registro iconográfico anexo mostra a existência de arcos localizados na parte lateral logo abaixo da cabeça da Imagem, no limite entre o manto e o pescoço, atestando a veracidade da peça utilizada para prender os brincos, e a autenticidade da mesma com relação à data de transição da velha Capela existente na Rua Treze de Março e a construída na Av. Nove de Abril, já demolida e onde hoje se encontra a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Lapa em Cubatão, ou seja, de 1883 a 1907.

O laudo da restauradora Regina Cardoso, responsável pela última intervenção feita há quase dez anos, atesta a originalidade da peça como de escultura em madeira escura, que se encontrava bastante danificada. A imagem do menino na ocasião precisou de reparos em massa nos dedos para recomposição das peças faltantes.

Suas palavras a identificaram como "uma peça muito boa", traduzida por ela mesma como "uma relíquia de grande importância para o Patrimônio Histórico, que deve receber tratamento adequado para sua conservação e exposição ao público".

Bibliografia
Romagem pela terra dos Andradas, Costa e Silva Sobrinho
Cubatão – História de uma Cidade Industrial, Celma de Souza Pinto
A Grande Barreira Da Serra do Mar – Da Trilha dos Tupiniquins À Rodovia dos Imigrantes, Álvaro Rodrigues dos Santos
Documentos Avulsos da Capitania de São Paulo
Apontamentos Históricos, Geográficos e Noticiosos da Província de São Paulo até 1876, Manuel Eufrásio de Azevedo Marques.
Cubatão e sua área industrial, Lea Goldenstein.
Antologia Cubatense – Seleção e Organização, Wilma Therezinha
O Brasil do Primeiro Reinado
Cubatão Caminhos da História, Cesar C. Ferreira, Francisco Torres e Wellington Borges
Cubatão a Rainha das Serras, Cesar C. Ferreira e Marildo Passerani
Obras de Afonso Shmidt: O Menino Felipe, A Marcha, Zanzalá
Livro do Tombo da Capella de Nossa Sra. da Lapa

Monografias:
Casa Branca A Povoação dos Ilhéus, São Paulo 1979 Ângela Franzolin Trevisan
A Fazenda Geral dos Jesuítas e o Monopólio da Passagem do Cubatão - 1553-1748, Francisco Rodrigues Torres
A Igreja e o Colégio de São Miguel da Vila De Santos 1585 -1759, Gino Caldato Barbosa
Lapa, Wanderlei dos Santos
Processo Verdades Contra Mentiras, Cincinato Braga

Obras de Arte
Aguada Burchel: A Ponte de Cubatão
Cangalhas & Bags of Salt

Telas Benedito Calixto: O Colégio dos Jesuítas em Santos,
O Porto Geral de Cubatão e o Pouso de Tropeiros

Kidder and Fletcher 1866 - A Ponte de Madeira – Brazil and Brazilians
Hercules Florence – Largo do Sapo, Expedição Langsdorf, Viagem Fluvial do Tietê ao Amazonas de 1825 à 1829
Ilustração Ayres e Gouveia - Largo do Sapo

Mapas
Ribeiro, Ribs – O Cubatão em 1852
Francisco Martins dos Santos
As Primeiras Sesmarias do Brasil e os Antigos Caminhos de Transposição da Serra do Mar, Cesar C. Ferreira

Site www.novomilenio.inf.br

Orientação: Francisco Torres - Arquivo Municipal de Cubatão
Pesquisas: Wellington Borges, Francisco Torres, prof. Joaquim Miguel Couto, Dona Albertina (Nenê) in memoriam
Memorialistas: sr. Ayres de Araújo Coutinho, sr. Arlindo Ferreira

A pesquisadora enviou a Novo Milênio o trecho do texto Lapa, de Wanderley dos Santos, em que se baseou:

* A ERMIDA E A FAZENDINHA JESUÍTICA

Predominou então da mencionada Ermida de Nossa Senhora da Lapa o nascimento do "lugarejo da Lapa", permanecendo, entretanto, a denominação genérica, que era Emboaçava.

Por dois ou três anos consecutivos os jesuítas celebraram naquela Ermida solenes missas acompanhadas dos rituais comuns, conforme a condição da dádiva da "fazendinha da Lapa", assim chamada para distinguir-se da vasta fazenda de Santana (atual bairro homônimo, também propriedade dos jesuítas). Tal acontecimento se dava sempre em 21 de outubro, data esta consagrada a todas as Santas Virgens.

A "fazendinha da Lapa", onde se cultivava a vinha e o açúcar, era circundada por diversas propriedades jesuíticas, a saber: Água Branca, Mandi, Emboaçava, Tabatinguá e Itaperepú.

A sede da fazendinha localizava-se no caminho de Jundiaí, junto de um valo onde havia um engenho, casas de taipas e outras benfeitorias, ponto este atualmente designado pela Avenida Brigadeiro Gavião Peixoto, aproximadamente nos arredores da Avenida Mercedes e Rua Guararapes e suas plantações se estendiam pela várzea tieteana, onde existiam algumas olarias.

Embora tudo fosse feito para transformar a Lapa em uma fazenda rica, os jesuítas não conseguiram atingir tal intento por "não ter serventia ao Colégio, falto de gente para arrumar tantos buracos" e "era um sítio ridículo exposto a gado e de pouco proveito", cuja decadência foi tanta, que o Padre José de Moura, desde que a recebera do Padre Ângelo de Siqueira, estudava meios de vendê-la ou trocá-la por outra mais proveitosa.

Em 1743 os jesuítas a trocaram, com o Mestre de Campo Coronel Diogo Pinto do Rego, por outra, localizada em Cubatão, na Baixada Santista. Para esta localidade, levaram a imagem de Nossa Senhora da Lapa, muito embora ficassem alguns sítios em suas vizinhanças aos jesuítas. Transferiram-se de vez em 25 de janeiro daquele ano e, referindo-se a este fato, o Padre Belchior Mendes, Reitor dos jesuítas em 30 de setembro de 1745, assim se manifestou:

"A fazendinha chamada Lapa, porque o meu antecessor a quis vender a não ter serventia ao Colégio, falto de gente para arrumar tantos buracos se trocou por umas terras no Cubatão com o Mestre de Campo, Diogo Pinto do Rego, que forão de seus avós parece-me melhorou o Colégio com a troca, pois a Lapa era um sítio ridículo exposto aguado e de pouco proveito, e as do Cubatão são terras em que esteve um engenho de água, e a vista fará a quem disser o contrário: e com este sítio dado ao Colégio com a condição de se cantar u'a missa cada ano a Virgem Santíssima com o título da Lapa essa mesma missa se lhe canta na Capelinha do Cubatão em que se colocou a imagem da Senhora com o mesmo título".

Daí ficou a Ermida local temporariamente vazia e abandonada, permanecendo assim por mais de um século. (localização da atual Igreja Matriz, na Lapa - São Paulo).

* dos Santos, Wanderley: Texto reproduzido intitulado Lapa, segundo prêmio do XII Concurso de Monografias Sobre a História dos Bairros de São Paulo.

Virginia Caram também enviou a Novo Milênio um relato especial sobre como se desenvolveram suas pesquisas:

Viagem da Lapa ao Cubatão

Chegando em Cubatão em 1997, passei a trabalhar no OTA, Órgão Técnico de Apoio do CONDEPAC de Cubatão (N. E.: Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico e Arquitetônico de Cubatão), em 2006. Para que pudesse ser de alguma utilidade para essa entidade, passei a pesquisar nas Antologias Cubatenses de Wilma Therezinha, entre outros livros e monografias, sobre os primórdios de Cubatão, bem como mapas dos primeiros caminhos e outros documentos que pudessem elucidar sobre a história dessa cidade existentes na Biblioteca e Arquivo Municipal de Cubatão, sendo que o CONDEPAC é sediado no mesmo prédio.

Senti-me intrigada com a configuração dos caminhos desde as primeiras vezes que vi os registros de Burchell, e a tela A Ponte de Cubatão pintada por Benedito Calixto, retratando o Rancho dos Tropeiros existente ao lado da Alfândega, no Porto Geral e, como caminhos deixam suas marcas na configuração urbanística, procurei pelos mapas do início do século XX, registrados no trabalho Cubatão e Sua Área Industrial de Lea Goldenstein.

Em 2007 fui convidada a elaborar os estudos de restauro da fachada da Igreja Matriz Nossa Senhora da Lapa, que é a Padroeira de Cubatão, apresentada pela sra. Maria Albertina Pinheiro da Silva Mesquita, a Nenê, a qual auxiliara a organizar os painéis numa exposição que a SAB - Sociedade dos Amigos da Biblioteca montara, com fotos sobre a história da Igreja Matriz.

Depois, devido à demanda que levaria o projeto de Restauro, convidei uma colega, Áthea Palladino, para trabalhar na coautoria do projeto. Participaram da Prospecção Pictórica as especialistas Márcia Nicolau e Eni Feijó Pinheiro.

Durante a obra iniciei alguns estudos enquanto elaborava o projeto seguido do acompanhamento, que durou nove meses, tendo por entregue a obra em outubro de 2007. Nessa época pude fazer apontamentos sobre os textos contidos no Livro do Tombo da Igreja Matriz de Cubatão.

Finalizado o acompanhamento, vi-me com mais tempo para as pesquisas históricas e foi em janeiro de 2008, em excursão pela Biblioteca da FAU-USP, que encontrei casualmente um material que daria sentido a uma pesquisa mais aprofundada, no trabalho Lapa, premiado no XII Concurso de Monografias Sobre a História dos Bairros de São Paulo.

Daí em diante foi um salto para a elaboração do trabalho, defendendo principalmente a tese da chegada da imagem na antiga Ermidinha de São Lourenço, nas terras que foram de Francisco Pinto, devido ao achado de antigo mapa que demonstrava um córrego que ás vezes se encontrava intitulado Córrego do Cafezal e noutras, Córrego da Lapa. Porque um córrego receberia esse nome se não houvesse alguma referência nas proximidades?

Em minhas pesquisas, procurei o Instituto Histórico e Geográfico de Cubatão, e fiquei conhecendo, lá por 2009, o senhor Aires Coutinho, um dos responsáveis pela criação da instituição, que fez questão de levar-me pela Rua José Vicente, onde testemunhara a presença das ruínas da antiga Ermidinha, enquanto menino, antes que o tempo e a chegada das indústrias as apagassem de vez.

Segundo ele, as ruínas ficavam exatamente às margens desse córrego. Mostrou-me também a localização das ruínas do sobrado e que a antiga capelinha conhecida de Nossa Senhora da Lapa e que entrara em ruínas em fins do século XIX, ficava ao lado desse Sobrado construído pelos jesuítas. Mais uma vez ingressei nas pesquisas sobre a cidade sondando tudo que pudesse dar alguma pista da localização. Para tanto, vali-me do Google Earth, fotos do acervo do CONDEPAC e do Arquivo Histórico de Cubatão, do acervo do memorialista Arlindo Ferreira, também responsável pela criação do Instituto Histórico, e fotos da cidade contidas no site Novo Milênio.

Procurei nos livros de Afonso Schmidt, se por ventura ele descrevia algo sobre a conformação da cidade. Foi realmente uma emoção muito grande penetrar em suas memórias onde se podia às vezes ouvir o estrondo das boiadas descendo pela Calçada do Lorena, outras vezes arrepiar com o murmurejar das águas das cachoeiras e o agradável eflúvio do vento nas árvores e bambuzais. E foi assim, que mesmo sem ter nascido na cidade de Cubatão, me apaixonei pelos livros de Afonso Schmidt, onde cada frase é um poema a acalentar o seio do leitor.

Depois de pronta a montagem do trabalho, encaminhei uma cópia à Igreja Matriz Nossa Senhora da Lapa de Cubatão, e outra levei ao sr. Francisco Torres do Arquivo Histórico de Cubatão, que havia apresentado a sua tese de doutorado A Fazenda Geral dos Jesuítas e o Monopólio da Passagem do Cubatão e na ocasião havia lançado em conjunto com Cesar Cunha Ferreira e Wellington Ribeiro Borges o livro Cubatão - Caminhos da História, na esperança de uma leitura crítica do trabalho.

Relatei-lhe minhas descobertas e, por conseguinte, pude tirar algumas dúvidas sobre a localização exata do Sítio dos Cardosos e do Sitio de Domingos Leite de Carvalho, pois me orientou a estudar os mapas de Cincinato Braga, no Processo Verdades e Mentiras, podendo assim, me situar corretamente nos documentos estudados quanto à localização da região onde o Sobrado havia sido construído.

Logo depois dessa visita levei o texto ao sr. Arlindo Ferreira para perguntar sobre as personagens nas fotos de seu acervo, e ainda de quebra levei uma dura por acrescentar às fotos de grupos anuais de Primeira Comunhão, as fotos de sua formatura do colégio. Seria impossível não receber a crítica com bom humor!

Depois de estudar a tese de doutorado de Francisco Torres, acrescentei a planta do Sobrado, que ele havia conseguido no Arquivo do Estado, e pela análise de sua composição pude reconstituir a sua volumetria.

Depois de analisado o terreno reconstituído em confrontação com as fotos via aérea antigas e de documentos que o sr. Francisco Torres e o prof. Wellington Borges haviam conseguido na Igreja do Valongo, em conexão com a pesquisa realizada até então, foi possível clarear ainda mais as datas de utilização das capelas em cada etapa de sua história.

E assim surgiu a ideia de criação de uma cartilha de educação patrimonial direcionada aos cidadãos e à rede de ensino com o intuito de, por meio do estudo da passagem da Imagem de Nossa Senhora da Lapa por Cubatão até a localização atual à Av. Nove de Abril, levar ao conhecimento os hábitos e costumes, bem como a malha viária original que resultou na configuração atual do Largo do Sapo, suas modificações e alterações com o passar do tempo, suas construções da época dos jesuítas, a riqueza de detalhes na vida cotidiana e como isso se configurou na moradias de então. Esse trabalho está pronto, corrigido e em vias de organização e montagem do mapeamento.

Essa cartilha será acompanhada de um projeto direcionado à cidade vindo de encontro às atuações do CONDEPAC que trabalha na criação de meios efetivos de revitalização e conscientização patrimonial do seu Centro Histórico. Em novembro de 2010, em acompanhamento ao Arqueólogo Manuel Gonzalez ao Largo do Sapo, em início de prospecção encomendada pelo CONDEPAC, tive a oportunidade de referenciar algumas das descobertas relatadas no trabalho orientando-o e direcionando-o para a prospecção do sítio arqueológico ainda existente na Sede da Melhor Idade, na Praça Joaquim Montenegro.

A muralha de pedras que circundava a antiga Alfândega, anteriormente citada por Guilherme Wendell, na época da construção da Estrada Caminho do Mar, em 1922, ainda se encontra lá escondida pelo nivelamento do terreno depois da retificação do Rio Cubatão. Ela foi completada, pois se encontrava bastante danificada em meados de 1950, e separa o jardim plantado após o nivelamento, do piso em paralelepípedo que circunda a nova Sede da Terceira Idade, construção esta que foi feita sobre os restos do alicerce da antiga Alfândega demolida na década de 1950. Ainda é possível detectar a elevação da cabeça de ponte da antiga ponte de madeira registrada por Burchell em sua aguada A Ponte de Cubatão, em 1827. Esta se encontra aos fundos do terreno entre a sede e a Travessa José Vicente.

A apresentação da proposta foi feita ao Secretário de Cultura de Cubatão, Prof. Wellington Rodrigues Torres, que há anos vinha estudando projetos em conjunto com a saudosa Nenê para o Largo do Sapo. Na oportunidade do início de estudos para Tombamento da Imagem Original de Nossa Senhora da Lapa, foi convidado o sr. Francisco Rodrigues Torres para a coordenação Geral dos trabalhos, bem como a requisição ao prof. Augusto Muniz Campos, presidente do CONDEPAC de Cubatão, na época, fosse estudado um convênio para realização do projeto. Agregam ao trabalho as pesquisas de Manuel Gonzalez, convidado para participar do projeto.

Os registros da obra de Restauro da Igreja Matriz Nossa Senhora da Lapa de Cubatão estão em início de montagem para publicação, em conjunto com a arquiteta Áthea Palladino.

Quanto ao sr. Aires Coutinho, depois de uma caminhada em passos largos pelo centro velho da cidade, calçado de botinas, no seu jeito entusiasmado de contador daquilo que viu, passada uma hora depois de terminada a excursão, retornei ao Instituto Histórico, em busca de meu caderno de apontamentos, e qual a minha impressão quando o vejo de chinelas com os pés avermelhados e inchados pelo exercício.

Não tenho palavras para agradecer à simplicidade e sabedoria cheia de amor pela cidade que o acolheu desde menino.

Santos, abril de 2011

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