TERROR NOS EUA
Ciberterrorismo... Será?
Paulo Perez (*)
Colaborador
A Internet,
em inúmeras circunstâncias, põe as superpotências
em igualdade de condições com os países mais pobres,
motivo pelo qual existe a grande preocupação com o aumento
de atividades terroristas no mundo virtual
Na década de 60, no auge da
guerra fria, o Departamento de Defesa estadunidense (DoD) estava muito
preocupado com o fato de que redes telefônicas eram consideradas
muito vulneráveis, disto surgiu o projeto de construir uma rede
de telecomunicações capaz de sobreviver a uma guerra nuclear.
O resultado deste esforço foi conhecido como Arpanet, uma malha
de comunicação que tinha como grande vantagem a redundância,
permitindo que falhas em alguns pontos intermediários não
significassem o fim de todas as comunicações.
Arpanet - Nos anos 70, surgiu
o protocolo TCP/IP, cujo objetivo era permitir a interconexão de
diferentes tecnologias de rede que seriam usadas pela Arpanet, que na época
ainda era uma rede pequena com alguns poucos computadores militares e alguns
outros em universidades americanas engajadas no projeto. Em virtude das
limitações tecnológicas da época, o TCP/IP
nasceu com poucos mecanismos de segurança, mas isso não era
problema para a Arpanet, visto que todas as máquinas na rede eram
conhecidas e confiáveis. Porém, graças às facilidades
de interconexão trazidas pelo TCP/IP e, ao fim da guerra fria, diversas
outras redes menores (inclusive não militares) começaram
a fazer parte da Arpanet, num crescimento geométrico que deu origem
ao que hoje é a Internet.
O rápido crescimento e a popularização
da Internet trouxeram a exploração comercial da rede e o
surgimento de vários outros protocolos e serviços, além
do TCP/IP original. Estes novos serviços nem sempre levavam em consideração
a segurança das informações transmitidas pela rede,
fato que era agravado pela ausência de mecanismos de proteção
no próprio TCP/IP. Como qualquer computador conectado à rede
podia comunicar-se com todos os demais, muitos usuários utilizaram-se
desta facilidade para vasculhar a rede em busca de vulnerabilidades, e outros
iam além, disparando ataques contra os sistemas dos computadores
participantes.
Nos anos 80, a grande maioria dos
incidentes de segurança estava relacionada ao meio acadêmico,
onde universitários invadiam sistemas com o objetivo de ganhar fama
na comunidade da Internet. Estes foram os primeiros hackers. A década
de 90 pontuou a proliferação da Internet pelos lares, escolas,
serviços públicos e comércio em geral. A partir disto,
a segurança das informações da rede passou a ter significativa
importância pois os ataques poderiam representar grandes perdas
financeiras.
A possibilidade de ocorrência
de ataques terroristas na Internet começou a ser fortemente defendida
no final do ano 1999. Acreditava-se que uma verdadeira onda de ataques
ocorreria, acompanhando os possíveis problemas causados pelo famoso
Bug do Milênio. Estas “profecias” apocalípticas, relacionadas
à Internet, não se concretizaram.
Ataques - Entretanto, pouco
tempo depois, no primeiro semestre do ano 2000, grandes portais da Internet
foram vítimas, por vários dias seguidos, de ataques denominados
Distributed Denial of Service (DDoS – onde diversas máquinas atacam
simultaneamente o mesmo servidor, visando sua indisponibilidade), revelando,
principalmente àqueles mais crédulos, que a Internet não
é um ambiente totalmente seguro.
Os prejuízos resultantes destes
ataques foram enormes e muitos administradores de rede ficaram em estado
de alerta. As ações destas empresas e de outras similares
caíram nas bolsas de valores. Viu-se que as vulnerabilidades existentes
na Internet poderiam ser exploradas com o intuito de abalar a estrutura
econômica de um país ou do mundo inteiro. O FBI foi acionado
e efetuou inúmeras diligências pela Internet, encontrando
várias ferramentas de DDoS em diferentes sistemas comprometidos.
Paz e amor? - Atualmente,
percebe-se que grupos, dos mais variados tipos e interesses, estão
se formando e usando a Internet como veículo de comunicação
para defender e expandir o número de adeptos às suas “causas”.
Este fato abre espaço para que organizações terroristas,
de qualquer parte do mundo, passem a atuar também na área
virtual proporcionada pela Internet.
De fato, alguns vermes (vírus
que se propagam de forma independente) e outras tipos de vírus já
foram disseminados pela Internet tendo como justificativa alguma motivação
política, histórica e até mesmo religiosa. A grande
diferença é que a Internet não respeita divisão
política ou geográfica e qualquer máquina, ou sistema
conectado à rede, pode ser alvo de ataques ou usado como origem
para novos ataques. Isto pôde ser verificado pela rápida disseminação,
nas diversas partes do mundo, de alguns vírus recentes como o “I
Love You”, desenvolvido por um jovem no Paquistão, que teve seus
efeitos sentidos por todo o mundo.
Um outro exemplo expressivo aconteceu
durante o conflito do Kosovo. Diversos sites do governo americano, e da
Otan, foram diversas vezes atacados por hackers, localizados em
países que se posicionaram contra a realização dos
constantes bombardeios aéreos da Otan à região (sobretudo
chineses).
A Internet, em inúmeras circunstâncias,
põe as superpotências em igualdade de condições
com os países mais pobres, motivo pelo qual existe a grande preocupação
com o aumento de atividades terroristas no mundo virtual. Um grupo ciberterrorista
poderia ganhar acesso a grandes servidores e máquinas de banda larga,
espalhados em diferentes lugares do mundo, e usá-los em ataques
coordenados como os que aconteceram no primeiro semestre do ano 2000. Os
alvos poderiam ser a economia de um país ou até mesmo vidas
humanas, uma vez que serviços essenciais como luz, água e
sistemas hospitalares são potencialmente vulneráveis.
Terrorismo - Desde o último
dia 11/9/2001, o mundo ainda está sob o impacto dos ataques terroristas
às cidades de Nova York e de Washington, que vitimaram centenas
de americanos e pessoas de outros países. Coincidentemente, diversos
novos vermes e ataques estão ocorrendo na Internet, levando o FBI
a desconfiar de possíveis ofensivas terroristas também na
Internet.
De fato, o National Infrastructure
Protecion Center (NIPC), órgão do FBI criado para entre outros
investigar crimes na Internet, espera um crescente número de ataques
de DDoS, tendo importantes sites americanos como alvos. No último
dia 12 de setembro, um grupo hacker, denominado Dispatchers, alegou
que havia iniciado operações contra componentes de infra-estrutura
da informação, como roteadores. O grupo alega que o alvo
das suas investidas serão instituições financeiras
e de telecomunicações, o que poderia resultar em significativos
efeitos colaterais. Para realização destes ataques, o Dispatchers
alega já contar com mais de 1000 máquinas, certamente já
comprometidas pelo grupo.
O grande número e criticidade
dos sistemas conectados à Internet, em conjunção com
motivações políticas ou ideológicas, é
o terreno apropriado para a proliferação de atividades terroristas
na Internet. Vários países já estão adotando
um controle rígido de todo o tráfego digital entrando e saindo
do seu território. Entretanto, isto é muito pouco, uma vez
que o controle é feito somente dentro do país e nem sempre
os ataques são passíveis de identificação.
Os alertas emitidos pelas organizações de defesa americana
são um forte indício de que podemos estar a beira da era
do ciberterrorismo.
(*) Paulo Perez
é mestre em redes de computadores pela Universidade de São
Paulo (USP), doutorando na área de redes de computadores com ênfase
em segurança pela (Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e
gerente de Engenharia da Open Communications Security, empresa especializada
em segurança para redes de comunicação.
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