Terror e videogame
Sérgio Buaiz (*)
Colaborador
CHAMADA:
Os ataques terroristas sofridos
pelos Estados Unidos nesta terça-feira
vão mudar o rumo da Internet, dos negócios e da história
humana.
ARTIGO:
Em pouco mais de três horas,
a humanidade entrou em colapso. Os principais sites da Internet não
funcionam, aviões de todo o mundo retornam aos seus países
de origem ou mudam suas rotas, com tripulações apavoradas
diante do risco iminente de atentado.
São 12:17h em São Paulo
e eu assisto, atônito, o desenrolar dos últimos acontecimentos:
mais um avião cai em Pittsburgh, outro é seqüestrado
e vai em direção a Washington...
Na lista de discussão, já
falam em guerra e fim do mundo. No trabalho, há um misto de apreensão
e alienação, em que alguns parecem inquietos com uma das
mais graves ameaças à paz mundial de todos os tempos, enquanto
outros, como se não enxergassem um palmo adiante, mantêm-se
concentrados em seu trabalho diário e inútil, considerando
o mundo interligado e interdependente em que vivemos.
Se as tais borboletas da Austrália
batem suas asas e interferem no universo, o que dizer, então, de
aviões caindo e matando milhares de autoridades e executivos importantes
na capital mundial?
Hoje é um dia histórico
e uma página negra na história da humanidade. Não
é mais um filme de Spielberg, nem o videogame da próxima
estação! É, muito provavelmente, a maior provação
da espécie humana!
Se as conseqüências desse
dia 11 de setembro de 2001 não forem levadas ao limite da guerra
e da auto-destruição em nosso planeta, teremos superado o
maior desafio de todos os tempos. Afinal, é a primeira vez que a
nação mais poderosa do mundo é realmente atacada em
seu território.
Todas as guerras já transmitidas
pelo olho eletrônico da TV aconteciam do outro lado do mundo, no
oriente, com efeitos pirotécnicos dignos de uma superprodução
hollywoodiana. Os americanos sempre armados e educados em uma cultura de
violência simulada, se acostumaram a ver aviões caindo nas
telas de cinema e nos parques temáticos de Orlando, mas é
a primeira vez que isso pode ser visto pela janela!
Hoje, não são os homens
mais importantes do mundo que estão sendo atacados, mas seguramente
são os homens que "se acham os mais importantes do mundo" (e isso
faz uma enorme diferença).
Os norte-americanos desta geração
não são homens acostumados a levar desaforo pra casa. Na
verdade, são homens que jamais conviveram em situação
tão crítica e ameaçadora, pois sempre tiveram sua
auto-estima inflada pelo sonho americano. Ou seja, os homens que decidem
os nossos destinos estão, hoje, sob a maior pressão jamais
sentida em todos os tempos. E tomarão decisões seríssimas
sob essa forte emoção!
Muitos dos seus amigos e familiares
foram atingidos direta ou indiretamente pelos ataques terroristas, seja
pela morte ou pelo simples trauma imposto pelo medo. E ter medo não
é um sentimento americano! Algo deu errado e imprevistos não
são aceitos por aquele povo. A segurança e a auto-estima
foram abaladas profundamente, e o que há, na prática, é
uma mudança completa de paradigmas.
Americanos não sabem perder.
Foram treinados para ganhar sempre! Foram educados para serem os melhores
e os mais fortes... não vão deixar isso barato! Por isso,
se não fizerem pelo menos o dobro de estragos no oriente, dos que
sofreram nessa terça-feira negra, jamais serão os mesmos.
Por outro lado, se fizerem algo tão grave, o mundo é que
não será mais o mesmo!
Os ataques aos Estados Unidos são
ataques à humanidade. Não por eles serem melhores do que
os outros, e sim por terem o poder e o comando.
Para onde vamos? Sinceramente, não
sei...
A Internet vai parar. A economia
também... algo muito sério aconteceu.
Agora, são 13:04h em São
Paulo. Antes de concluir esse artigo, dei mais uma passada nas últimas
notícias. Aquele avião de Pittsburgh foi derrubado. Outros
cinco estão seqüestrados e vários shoppings americanos
foram incendiados...
Se isso não é guerra,
é o quê? Com uma ação tão coordenada
e bem-sucedida, como estarão os líderes do movimento? Os
terroristas roubaram a cena e a auto-estima americana.
Façamos nossas provisões.
(*) Sérgio
Buaiz é publicitário
e escritor.
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