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Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 09/17/01 22:54:40
TERROR NOS EUA
Atentado é comentado via correio eletrônico 

Montagens fotográficas que revelam o sonho dos oposicionistas, críticas à política externa dos Estados Unidos e até "fotos" do milionário terrorista saudita Osama Bin 'Por quê o avião não acertou a Estátua da Liberdade'Laden uniformizado com camisetas de times de futebol do Rio de Janeiro e São Paulo são alguns dos temas abordados em mensagens que circulam pelo correio eletrônico no Brasil. Na lista de debates Novo Milênio, o internauta J. Carlos Santana Cardoso postou no dia 17/9/2001 uma mensagem com imagem animada que explica o motivo de os aviões sequestrados não atingirem a Estátua da Liberdade, em New York.

Mantido na Alemanha pelo brasileiro Antonio Bulhões, o boletim eletrônico ABKNet destacou ter criado em 17/9/2001 uma página especial com detalhes sobre o desdobramento na Internet da guerra anti-terrorista:
 

O site extra-oficial do Taleban possui versões em diversos países do mundo. Um hacker invadiu a versão alemã do mesmo e copiou a lista de e-mails, divulgando-a em seguida. A lista contém entre outros o e-mail de um estudante árabe na Alemanha, que está envolvido no atentado aos EUA e encontra-se foragido. Os e-mails são na maioria da Alemanha, e muitos com domínio de universidades.

Mohammed Atta, um dos pilotos suicidas, reservou sua passagem on-line, pelo programa de milhas da companhia aérea American Airlines.

Um dos textos transcritos em listas de correio eletrônico nos dias seguintes ao atentado em New York é "Até tu, Arafat?", de Héctor Luis Saint-Pierre:
 

Até tu, Arafat? 
Héctor Luis Saint-Pierre
Captura de tela da transmissão da TV CNN, dos EUA: Arafat doa sangue para as vítimas do atentado nos Estados Unidos

Alguns analistas consideraram a Guerra do Golfo a primeira da nova ordem. Mas também pode considerar-se a última das guerras clássicas. Ela deixou claro que nenhum Exército convencional poderia resistir à força da emergente Guardia da nova ordem mundial. Depois daquela, observou Eric de La Maisonneuve, a superpotência só se preocuparia pelo poder igualizante do átomo e pelas guerras infraclássicas (guerrilha, terrorismo), acessíveis aos povos pobres, e contra as quais aquela não tem escudo. 

Os recentes atentados, simbolicamente assestados ao coração financeiro e à cabeça da maquinaria militar da potência hegemônica do mundo, reforçam a pavorosa percepção de que, contra o acionar do terrorismo, nenhuma defesa é suficiente. Nem a maior fortaleza do mundo, com o seu poderio militar e os severíssimos cuidados nos aeroportos, consegue deter o golpe audaz do terror. Ante essa evidência, o cidadão, que sustenta com seus impostos aquele Estado cujo único compromisso é garantir a sua segurança, sente-se exposto e vulnerável ante um inimigo invisível que, sem brandir poderosos mísseis nem fantásticos escudos nucleares, rouba um avião de linha para acertar em cheio a segurança nacional do guardião do mundo. 

Essa situação leva o cidadão ao desamparo, afrouxando o tecido social. Por isso o presidente Bush irrompe ao grito de ''Guerra!''. Precisa recuperar rapidamente a coesão social e o controle político do país. Necessita mostrar ao votante que o Estado pode protegê-lo e que não há proteção fora dele. Convoca à grande Guerra do Bem contra o Mal: quem não está com o Bem e a resguardo do Estado norte-americano, estará contra e será aniquilado. A idéia é levantar o sentimento patriótico e de proteção gregária. 

Mas, contra quem é essa guerra? O terrorismo não tem cara, não tem território, não tem campo de batalha nem frente de combate. ''Guerra contra o terrorismo'' não passa de eufemismo: o terrorismo não se combate com guerra, é invulnerável a grandes Exércitos. Por isso é necessário determinar um território onde aplicar a fúria punitiva e mostrar o poderio bélico de grande potência, definir uma frente política de combate, determinar um inimigo. Daí que as ameaças recaiam sobre nações suspeitas: os Estados que protegerem o terrorismo serão aniquilados, e mais ainda, aqueles que tendo alguma informação e a omitirem também serão considerados inimigos e combatidos. Ante a possibilidade de dissolução social, o presidente Bush crispa a epiderme política do mundo com a radicalidade ''amigo'' ou ''inimigo'', separando ambos pela luta ou a morte. 

Com essa ameaça pairando sobre os continentes, o terror não apenas atingiu a capital do mundo, mas se projetou pelo orbe. O terror ante a possibilidade de ser considerado inimigo pelo governo norte-americano não parece menor do que o medo infundido pelo terrorismo. Talvez esse terror explique a patética expressão facial de Yasser Arafat quando, trêmulo ante as câmeras de televisão, prometeu apoio ao povo americano. Quiçá narcotizado pelas quotidianas punições militares, Sadat disse o que muitos pensam mas temem explicitar: quem planta ódio, violência colhe. Mas foi o único no mundo árabe que confirmou a regra do alinhamento antiterror. Nem Fidel Castro, de verbo fácil contra seu gigantesco vizinho, animou-se a tanto desde sua redundante ilha. Mas Arafat, máxima autoridade palestina, talvez a maior vítima da intransigência diplomática norte-americana no Médio Oriente, foi muito mais longe e, aproveitando o festival de símbolos, ofereceu seu sangue árabe para socorrer aqueles cuja bandeira é queimada pelos enfurecidos palestinos. Nisto não há qualquer paradoxo: há muito medo. 

Lamentados os mortos e condenada a violência, que esse fato leve à reflexão aqueles que têm capacidade e liderança para interceder nos muitos conflitos que açoitam o mundo. Que compreendam que ninguém está fora da lógica da violência e que o ódio oculto debaixo do tapete pode irromper como um vulcão em qualquer parte com a face oculta do terrorismo. Que a forma de deslegitimar essa violência é com justiça internacional. Que todos, como Arafat simbolicamente, doem seu sangue no hospital e não nos altares de Marte. 

Héctor Luis Saint-Pierre é professor de Filosofia da Unicamp e autor de A Política Armada, Fundamentos da Guerrilha Revolucionária

Com o título "Sonho Meu" - e dispensando outros comentários para quem conhece os prédios do Congresso Nacional, em Brasília - circula pelas listas de mensagens eletrônicas a sugestiva imagem, recebida em 14/9/2001 na lista Novo Milênio:

Também está circulando pela Internet o texto atribuído ao jornalista e político Seastião Nery, que Novo Milênio recebeu em 17/9/2001:

Subject: Sebastião Nery

Quem mata mais, Bush ou Bin Laden?

SÃO PAULO - Naquela manhã, bem cedo, 8 de maio de 45, a primeira aula do seminário da Bahia era de latim. Pelas janelas abertas, chegou a gritaria do povo cantando nas ruas: "Hitler morreu, o urubu comeu, o couro é teu". O padre Correia, cearense de Sobral, sacerdote do mundo, colega do cardeal Dom Sebastião Leme em Roma, professor de filosofia e teologia em Paris, vermelhão com sua cabeleira branca esvoaçando nos quase oitenta anos, aposentado mas dando aulas até morrer aos noventa, olhou a rua e chorou: 

- Acabou a aula. Hoje vai ser feriado. O mundo se livrou dos assassinos. Meses depois, a aula era de grego. O padre Correia entrou na sala com os olhos molhados de lágrimas:

- Os americanos jogaram uma bomba atômica em cima de uma inocente cidade japonesa, apesar de o Japão já ter se rendido. São uns assassinos. E disse um palavrão. Era o primeiro palavrão que eu ouvia saído da boca de um padre. E muito pior, de um venerando e santo padre.

A perna branca e a sirene - Em 57, na porta do hotel francês na Argélia, ouvi um estrondo e uma perna branca veio voando, voando, em cambalhotas no céu, e caiu amassada, ensangüentada, esmagada, como um bife malpassado, quase em cima de mim e dos que estavam nos empurrando para conseguir proteger-nos no hotel.

Era a perna branca de um branco oficial francês, que, com outros, voou de dentro de um jipe detonado por uma bomba poderosa enfiada embaixo do asfalto. Era a perna do colonialismo francês que tentava manter eternamente escravizada a Argélia, árabe e parda. Tiveram que chamar De Gaulle e sua incontestada autoridade e sabedoria para acabar com o vôo das pernas brancas.

Em 63, em Hanoi, a cama do hotel estremecia com as sirenes alucinadas berrando para acordar a cidade em pânico, avisando que as bombas americanas poderiam começar a cair. Logo depois começaram. Eu não estava mais lá.

Era o branco colonialismo americano tentando substituir o branquíssimo colonialismo francês, que também não tinha conseguido manter subjugada, esmagada, a miserável pátria amarela de Ho Chi Min, um bambu de gênio. O racismo sempre foi o verdadeiro nome do colonialismo.

O cuspe no árabe - Em 90, a fila da bilheteria do trem de Roma para Nápolis (e de lá para Positano e Chipre) estava longa e lerda naquele fim de semana. Eu e meu filho já estávamos perto do guichê, onde uma jovem francesa, pulôver vermelho, comprava seu bilhete. À nossa frente, um velho árabe, alquebrado e triste.

Chega uma italiana espavanada, bem vestida, grã-fina, toda perua nos seus mais de cinqüenta anos, pega no braço do velho árabe, dá-lhe um puxão, tira-o da fila e toma o lugar. O árabe tenta resistir, reclama, a mulher empurra: - Vá lá para trás, seu árabe imundo. E deu-lhe uma cusparada na cara. O homem limpou o rosto com a manga do casaco, baixou a cabeça, foi saindo. A fila toda viu e ouviu, ninguém disse nada. Meu filho não agüentou: - Meu pai, se você não tomar uma providência, vou tirar essa mulher daqui no tapa.

A francesinha linda já havia saído do guichê e o homem da bilheteria olhava atônito, mas calado. Peguei meu passaporte diplomático vermelho (de adido cultural em Roma), mostrei-lhe e falei alto: - Isto é um crime de racismo diante da lei italiana. Falo em nome da ONU.

Ou o senhor tira esta mulher e põe o velho aqui, ou chame a polícia. O pobre bilheteiro ficou perplexo, a mulher puxou-me pelas costas. Dei-lhe um empurrão e a arrastei até lá fora, no começo da fila, ela aos berros, eu aos gritos, chamando-a de racista. Pensei que ela ia me cuspir, não cuspiu. Meu filho já pegava o árabe, que chorava na calçada encostado na parede, e trazia para a bilheteria. Ninguém disse absolutamente nada. São ambos assassinos

Em 91, em Madri, na Conferência Ibero-Americana, vi o primeiro-ministro Felipe Gonzalez dizer ao presidente Fernando Collor: - A tragédia do século XX foram os conflitos ideológicos. A tragédia do século XXI vão ser os conflitos raciais.

O nosso mundo rico está, aos poucos, fazendo de nossos países novas cidades medievais, cercadas de muros, para os imigrantes, sempre mais numerosos e miseráveis, não entrarem. Eles vão reagir.

A Europa, durante séculos, chupou a África e outros pedaços do mundo, até os ossos das crianças de Biafra, em nome de interesses econômicos mas também por achar que os povos inferiores têm que servir aos superiores.

Os Estados Unidos jogam bomba em Hiroshima, Nagasaki, Coréia, Vietnã, Iraque, Belgrado, Kosovo, negam-se a assinar a ata de Kyoto contra a poluição, em nome de "nossos interesses". O resto do mundo que se dane.

Quem é pior? Quem mata mais? Bush ou Bin Laden?

São ambos assassinos.

Outra mensagem distribuída em diferentes listas de debates (e que Novo Milênio recebeu com diferentes origens nos dias 15 e 16/9/2001) relata uma suposta conversa entre Deus e o Diabo:
 

Quando o demônio soube da tragédia que atingiu os Estados Unidos solicitou um encontro com Deus. O Senhor estranhou o pedido, mas atendeu o chefe do inferno. Deus estava muito triste e encarou o demônio perguntando:

- O que você quer depois de tudo o que aprontou contra milhares de pessoas inocentes?

O diabo não deu bola para a dureza da pergunta e declarou com voz cheia de raiva:

- Eu vim aqui para protestar, pois sou acusado de um crime que não cometi. Não tenho nada a ver com tudo aquilo que aconteceu nestes dias. Eu sou mau, mas nunca causei uma morte sequer. Tenho vergonha e sinto-me revoltado pelo que alguns fanáticos fizeram. Os homens são piores do que eu, e isso me revolta. Eu  nunca causei a morte de ninguém e não quero levar uma culpa que não tenho. Quem inventou a morte foi Caím, uma sua criatura feita à imagem e semelhança sua. Sempre são os homens que repetem a bobagem de Caím. Eu não tenho nada a ver com esta horrível tragédia. Quero, sim, que os homens pequem, mas não que matem desse jeito. Uma tragédia como esta leva todo mundo a rezar. Isso me revolta, pois só o cheiro da oração me enlouquece. 

Deus perguntou:

- Então, o que você quer?

O diabo não perdeu tempo e disse num fôlego:

- Quero que o Senhor aceite o meu pedido de demissão. Diante de tanta maldade não tem mais sentido o trabalho que nós diabos fazíamos, e eu perdi o gosto por tudo o que, há séculos eu vinha inventando para induzir na tentação os seus filhos. Basta-me a alegria de poder dizer que o seu Cristo é um fracassado e morreu em vão. Não sou eu quem o derrubou, mas a humanidade que ele tentou salvar.

Deus encarou com severidade o desabafo do demônio, mas permaneceu calado por um bocado de tempo. Finalmente, apesar de evidentemente abalado, disse com um grande soluço:

- Mesmo assim, a misericórdia há de vencer. 

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