TERROR NOS EUA
Segurança x liberdade: nova
briga na Internet
Enquanto,
na esteira dos atentados que abalaram os Estados Unidos no dia 11/9/2001,
as autoridades estadunidenses e de outros países aproveitam para requerer
maiores poderes de vigilância sobre as telecomunicações,
inclusive restringindo fortemente o direito de privacidade dos cidadãos
em nome da segurança nacional, grupos de protesto estão se
articulando para defender o direito do cidadão de não ter
suas mensagens e conversas bisbilhotadas por outras pessoas. Já
está marcado para 21/10/2001 novo Dia Internacional Contra a Invasão
de Privacidade. É um protesto contra o Echelon, nome codificado
do projeto secreto do governo dos Estados Unidos, que permite à
sua Agência Nacional de Segurança (NSA) interceptar e monitorar
todo tipo de comunicação eletrônica. Nessa data, ocorrerão
várias manifestações em todo o mundo.
Na raiz desses protestos está
o fato de que as informações obtidas através dessa
violação de privacidade podem ser usadas para outros fins
que não apenas o de vigilância e segurança: por exemplo,
autoridades podem usar informações comerciais sigilosas de
uma empresa para beneficiar sua concorrente, como se suspeita que ocorreu,
por exemplo, no caso da venda ao Brasil de equipamentos eletrônicos
uados no Sistema de Vigilância Aérea da Amazônia (Sivam).
Um relatório do Parlamento
Europeu afirma que o "Echelon é um sistema global de vigilância,
que se espalha por todo o mundo e tem como alvo todos os principais satélites
Intelsat usados para a maioria das comunicações mundiais
com telefones, Internet, correio eletrônico e faxes, que são
rotineiramente interceptados pela NSA". E que "o Echelon foi concebido
sobretudo para espionar governos, organizações e empresas
em todos os países do mundo".
O Ministério da Defesa da
França denunciou que agentes da NSA ajudaram a instalar sistemas
de espionagem nos programas da Microsoft. Isto significa controle das comunicações
na Internet e a transformação dos computadores, sejam eles brasileiros,
americanos ou iraquianos, em linha auxiliar do governo dos Estados Unidos.
Entidades de defesa dos direitos humanos afirmam que a Microsoft conta
com o apoio da NSA, inclusive financeiro. Em fins de 2000, foi também
noticiado o encontro entre o criador do sistema operacional Linux e representantes
da NSA, que por sua vez também teria feito pressões sobre
a IBM no sentido de aceitar determinadas condições para operar
com a administração norte-americana.
Uso impróprio - O grande
temor das nações européias é quanto ao desvio
das informações sigilosas obtidas pelo Echelon e programas
assemelhados para finalidades não relacionadas à segurança
nacional. Em janeiro de 1994, o primeiro-ministro francês Edouard
Balladur acertou com a Arábia Saudita a assinatura de um megacontrato
de fornecimento de aviões Airbus e de armamentos. Além do
dinheiro oficial, haveria o barani (um ajuste extra-contrato). Segundo
as denúncias, o Echelon interceptou a oferta, Washington protestou
e calibrou melhor o ajuste extra-contrato, conseguindo que o contrato ficasse
com a empresa estadunidense McDonnell-Douglas.
O Brasil também não
escapou da vigilância do Echelon - e novamente os franceses foram
prejudicados. Quando já davam como certo o fornecimento de radares
para o Sistema de Vigilância da Amazônia (Sivam), novo protesto
de Washington, tão substancial que estremeceu as relações
entre o Brasil e a França, e os franceses viram a sua Thomson-CSF
ser superada pela americana Raytheon.
Devido ao sigilo, é difícil
separar o folclore da realidade, em tudo o que se refere ao Echelon - que
aliás não é o único projeto do gênero,
embora seja o mais completo (calcula-se que abranja 95% de todas as telecomunicações
de voz, som e imagem do mundo). Além da sede central em Fort Meade,
nos EUA, o Echelon possui bases em Yakima (200 quilômetros a Sudoeste
de Seattle) e Sugar Grove (250 quilômetros a Sudoeste de Washington).
Fora dos Estados Unidos, opera no Canadá, em Morwenstow (Cornualha
Britânica), Waihopai (Nova Zelândia) e Geraldton, no Oeste
da Austrália.
O Echelon possui a capacidade de
decodificar e gravar mais de dois milhões de conversas políticas,
industriais e pessoais por hora em qualquer lugar do planeta. Existem palavras-chave
que, ao ser captadas, são encaminhadas a computadores de decodificação,
denominados "dicionários Echelon". Conforme a análise preliminar
feita pelos super-computadores, certos textos são encaminhados a
uma grande equipe de especialistas em análise de conteúdo.
E são palavras como as que
seguem abaixo que os defensores da privacidade pedem que se utilize no
dia 21/10/2001 para congestionar o Echelon: Anistia Internacional, OLP,
Greenpeace, revolução, terrorismo, carta-bomba, carro-bomba,
revolução, ETA, Hamas, Hizbullah, IRA. O texto não
precisa ser coerente. Existem também inúmeras palavras na
área econômica, mas aí cada país precisa especificar
a sua. No Brasil, por exemplo, são consignados nesse dicionário
termos como caixa-dois, propina, molhar a mão, Cayman
e Amazônia.
Veja mais:
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paralisam centro de Washington e NY
Terror
e videogame - artigo de Sérgio Buaiz
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Todos os americanos foram esfaqueados - artigo de Sérgio Buaiz
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apresenta especial sobre o atentado
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eAgora
cobre o ataque terrorista
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Místicos
e golpistas ampliam presença na Web
Microsoft
auxilia na recuperação de Nova York
Atentado
é comentado via correio eletrônico
Sobre o Echelon, na Internet:
National
Security Agency (NSA) e sua estranha
venda
de tecnologia.
Vínculos
do projeto Echelon
A
patente US-5.418.951 do sistema de vigilância
Dossiê
do jornal Le Monde (em francês)
Sobre o Echelon e outros projetos
do gênero, em Novo Milênio:
Segurança
na Net: paranóia? |