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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - IMPRENSA
A imprensa santista (15-B)

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No acervo da Sociedade Humanitária dos Empregados no Comércio (SHEC) restam diversos exemplares da revista A Fita, que circulou em Santos a partir de 1911. Na edição número 4, de 12/6/1911, a publicação registrava (ortografia atualizada nesta transcrição):
 

Página de A Fita nº 4, de 12 de junho de 1911, no acervo da Humanitária

Saguão d'A Fita

Focalizando

Com o bom intento de espancar a monotonia atrofiante do meio, A Fita foi criada, pretendendo projetar na tela da publicidade os fatos mais em evidência, as observações interessantes, desenrolando-os em maiores ou menores quadros, conforme a importância deles no cenário local.

A Fita, fita nova, cuja metragem vai aumentando sempre, graças ao favor deste público generoso, esforça-se em melhorar os seus quadros, em renová-los, fazendo a Fita-Jornal agradável e variada em sua leitura.

Hoje a nova revista inicia esta seção, dedicada especialmente ao elemento feminino, metade do gênero humano cognominada de fraca, quando, em verdade, é a soberana de todos os tempos, a imperante em todos os povos, a dominadora em todo urbe.

O humilde operador focalizará esses vultos multicolores, elegantes em suas silhuetas, que onde se apresentam dão realce distinto ao cenário e o tornam aspecto ridente, encantador.

Se, nas ruas, passam por alas, deixando após, entre ondas de delicados perfumes que se evolam de seus vestuários, a impressão do belo, que se respeita.

Se, nas salas, porfiam de graça, de donaire e o tempo se escoa célere, ficando dessas palestras a recordação suave que nos traz o bem-estar ao imo.

Se, nos teatros, são os mais belos adornos, a merecer o preconício, pela beleza, pela graciosidade, pelo riso ou pelo olhar.

Sempre cortejada por legião de vassalos, a Mulher tem o nosso culto, o nosso respeito, culto e respeito que aumentam quando à sua fronte fulgura o diadema de mãe, maior que o de Rainha, na expressão do poeta.

Sem vislumbrar igualdade com o Souvenir, que outrora deliciava as leitoras da Gazeta de Notícias; sem julgar se impor como o autor do Binóculo, do mesmo jornal carioca, o festejado Figueiredo Pimentel, diremos rapidamente das damas e dos seus vestuários, que passam ante a nossa objetiva em foco.


A senhorita Mathilde Martins, à espera do bonde no Largo do Rosário

Reprodução parcial de página de A Fita nº 4, de 12 de junho de 1911, no acervo da Humanitária

- Mademoiselle Zilda Pereira - Trajando de merinó róseo, uma toalete leve, suave no tom, própria destes dias de Primavera. Blouse aberta de gola ampla e o peito em valenciennes brancas de artísticos desenhos; brodés a soutache branco. A cabeça, emoldurada por uma cabeleira onixada e bipartida ao lado, vistoso chapéu róseo, à Napoleon, ornado de fita branca e grande pluma também alva, a oscilar no brando favônio.

- Mlles. Freitas Guimarães - Elegantemente vestindo de lilás, toaletes iguais, simples e bonitas. Traziam chapéus de palha de arroz, aeroplanos, enfeitados de flores lilazes, em bela combinação com os vestidos.

- Madame Fontes Geribello - Acompanhada de uma amiga, não pudemos focar o seu vestuário. Apenas lobrigamos que trajava de roxo, escondida a cabeça sob as abas de vistoso chapéu. A distinta senhora entrou na casa de modas de mme. Cecotti, à Rua Quinze.

- Mme. Hilda G. Nery - Num grupo de risonhas e formosas senhoritas, vimo-la trajando de branco; vestido de corte impecável e gosto de confecção, acompanhava o branco do chapéu chic, cor do vestuário das senhoritas que a seguiam. A nossa objetiva alcançou-a saindo da Chapelaria Pinheiro.

- Mlle. Sara Silveira - Numa das mais belas manhãs, na quarta-feira última, a distribuir o seu sorriso bom, a fazer suas despedidas por ter de partir para Iguapé, passou à Rua Frei Gaspar, vindo da Casa Alemã, seguindo ao lado de uma sua irmã. Um vestido singelo, de tom verde-mar, contrastava lindamente com um abrigo a lhe cair em graciosos amarfanhados aos ombros. A gentil Iguapense vinha em cabelo, penteado simples, em dois bandós laterais.

- Mlle. Deolinda Teixeira - A boa amiga, em cuja companhia se achava, impediu boa focalização. Pudemos observar que com garbo se mirava ante um espelho, experimentando um toc, azul-marinho, novidade recente, numa casa de modas à Rua 15 de Novembro. Mlle., se adquiriu aquele adorno de toaletes mais uma vez revelou o seu apurado gosto.

- Mme. Olívia Mello - Um vestido todo creme, dava realce à distinção com que essa senhora se nos apresentava, ao porte de elegante inconteste. Um chapéu dernier modele, lindamente enfeitado, completava o conjunto chic ao qual ora nos referimos.

- Mlles. Ayres - Revelavam o gosto aprimorado de suas portadoras, os vestidos. Quisemos que a objetiva conservasse, para contar-nos depois, os delicados detalhes da confecção. Mas surpreendemo-las por entre o grande movimento que se observa próximo do Bazar de Paris e o positivo na chapa patenteou aos nossos olhos a impossibilidade de dizer, como desejávamos, dessas graciosas jovens.

Um defeito súbito, no obturador, não consentiu que nos utilizássemos de mais quatro chapas, que com as oito hoje reveladas, compunham a carga da nossa máquina portátil, uma Kodak tetéia e... discreta.

Nova carga preparada, consenti, leitoras, que ela vos tire instantâneos, registrando o bem cuidado da confecção de vossas toilettes, a graça do vosso andar.

Goerz-Anschutz.


Capa e frontispício de A Fita nº 4, de 12 de junho de 1911, no acervo da Humanitária

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