Imagem: reprodução da nota original em A Fita nº 35
Exemplar no acervo da Sociedade Humanitária dos
Empregados no Comércio de Santos (SHEC)
Santos é, sem dúvida, a terra
por excelência dos mordedores de níqueis. Depois das 6 horas da tarde não se pode andar por onde quer que seja, no Largo do
Rosário e em frente ao cais principalmente, ou mesmo pelos arrabaldes mais afastados, que não surja logo pela nossa frente um pobre diabo
miserável que há três dias não come e que não tem onde repousar o corpo doente e cansado.
Qualquer inexperiente deixa-se
facilmente levar pela choradeira estudada desses salteadores pacatos, cujo sistema de pedir e lamuriar é um só, sem diferença nem de gestos e nem de
expressão. Sempre eles vêm chegando de uma viagem longa e a pé, sempre eles têm fome de dois ou três dias, sempre não têm onde dormir e estão
sempre, sempre e sempre cheirando à cachaça!
Bem andaria a polícia se tomasse
uma enérgica providência para acabar de vez com esses tipos, conterrâneos a maior parte de John Bull, que os navios mercantes que por aqui passam
emprestam-nos por todo o tempo em que estão ancorados em nosso porto, quando não os deixam de presente para sempre...
John Bull, em um cartaz de recrutamento
britânico de cerca
de 1915, para
a Primeira Guerra
Mundial
Imagem:
Wikipedia
(N.E.: John Bull é a personificação
nacional do Reino da Grã Bretanha e da Inglaterra em particular, criada pelo dr. John Arbuthnot em 1712, sendo o eqüivalente nas ilhas inglesas do
estadunidense Tio Sam, personificação do governo dos EUA. Robusto, classe média, John Bull inicialmente era mais identificado com os integrantes de
um partido político que John Arbuthnot pretendia ridicularizar.
A figura foi popularizada
inicialmente pelos impressores britânicos e depois por ilustradores e escritores como o americano Thomas Nast e o irlandês George Bernard Shaw. Tal
personagem não é bem aceita na Escócia ou em Gales, por ser considerado mais inglês que britânico.
Como figura literária, John Bull é
bem intencionado, frustrado, cheio de senso comum, mas a figura também foi usada largamente em caricaturas no início do século XX, segundo a
Wikipedia.
Portanto, a nota acima transcrita
se refere a casos de embarcadiços ingleses deixados pelos navios que escalavam no porto santista.) |