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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - II GUERRA
Santos na II Guerra Mundial (10)

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A Segunda Guerra Mundial foi traumática para os santistas, que temiam ataques por submarinos alemães ao porto e pela aviação nazista à Usina Henry Borden ou à própria cidade. Japoneses, italianos e alemães tiveram de deixar a região às pressas, pelo receio que colaborassem com seus países de origem, então inimigos do Brasil. Décadas depois, algumas revelações indicam que existiam bons fundamentos para esses temores. O artigo a seguir foi publicado no jornal santista A Tribuna em 17 de fevereiro de 2006, na seção Ponto de Vista, e também em página Web do site PortoGente, dez dias antes:
 
Nazistas em Santos e São Vicente
Texto publicado em 07 de Fevereiro de 2006

por Adelto Gonçalves (*)

Em Crônica de uma guerra secreta (Record, 2005), o embaixador Sérgio Correa da Costa (1919-2005) conta a história de um espião nazista, Josef Jacob Johannes Starziczny, doutor em engenharia eletrônica, cujas atividades estenderam-se até Santos e São Vicente. A história também pode ser lida em A guerra secreta de Hitler (Nova Fronteira, 1983), do historiador norte-americano Stanley Hilton.

Como se sabe, o Estado Novo, de Getúlio Vargas, flertou durante um bom tempo com o nazismo, permitindo o livre trânsito de espiões nazistas pelo território brasileiro. Na Capital da República, por exemplo, o trânsito de espiões não era dificultado. E, assim, Starziczny estabeleceu-se na cidade em 1941 e logo encontrou apoio da filial da empresa Theodor Wille, que destacou um funcionário para lhe servir de intérprete. Afinal, o engenheiro chegara com uma carta de recomendação da Theodor Wille, de Hamburgo.

Três dias depois, conta o diplomata, Starziczny veio a Santos para ver o cônsul Otto Uebele, que seria seu chefe imediato. Embora nascido no Brasil, Uebele sempre estivera ligado a Alemanha, tendo colaborado com o império alemão durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918). E, assim, facilitou contatos para o engenheiro eletrônico estabelecer uma rede de espiões em Santos e São Vicente.

Starziczny, segundo Correa da Costa, era um espião um tanto trapalhão, tendo se envolvido com mulheres brasileiras, mas não é isto o que interessa aqui. Não seria mesmo uma pessoa muito arguta, a ponto de ter deixado incompleto o trabalho que pretendia desenvolver, o que provocou muitos desentendimentos com seus superiores.

Em dezembro de 1941, o serviço de Starziczny chegava ao fim, pouco depois de ter deixado um transmissor na casa de Gerard Schroeder, um simpatizante nazista que morava na Rua Ipiranga, 13, em São Vicente. O serviço de Starziczny era fornecer informações sobre a entrada e saída de navios nos portos do Rio de Janeiro e de Santos. Com base em suas informações, muitos navios aliados podem ter sido bombardeados por submarinos alemães.

Enquanto a polícia carioca, praticamente, ignorava as atividades dos agentes do Eixo, o mesmo não acontecia em São Paulo, graças à atuação do delegado adjunto na Delegacia de Ordem Pública e Social, Elpídio Reali, pai do jornalista Reali Júnior, correspondente de O Estado de S.Paulo em Paris, e avô da atriz Cristiana Reali.

Logo, Reali chegaria a Starziczny, que, um tanto desajeitado, facilitaria a ação da polícia. Ao tentar comprar na firma Sayão & Sayão, na rua Dom Bosco, em São Paulo, um ondômetro para o transmissor que deixara em São Vicente, o alemão, falando em inglês, iria apresentar-se como O. Mendes, deixando como endereço o Hotel Santos, em Santos. Tudo isso iria despertar suspeitas no comerciante, que sabia muito bem que a peça que o estrangeiro queria era usada em transmissores potentes. E achou melhor avisar a polícia.

Logo, a polícia chegou a Odélio Garcia, que, mais tarde, iria telefonar para a loja, perguntando pelo ondômetro. Detido, Garcia não negou que havia adquirido não só a peça como uma estação radiotransmissora, fazendo-o por encomenda de Ulrich Uebele, gerente da exportadora de café Theodor Wille e filho do cônsul alemão em Santos. Detido, Uebele entregou seu patrício Gerard Schroeder, da seção de navegação da Theodor Wille, que confirmou que a estação havia sido passada a um funcionário do consulado alemão.

O delegado Reali não levou em conta imunidades diplomáticas e colocou em cana todos os envolvidos, inclusive, um brasileiro, na casa de quem fora localizada a estação retransmissora. Só faltava o principal elo, o espião Starziczny. Com o pai de Uebele, Oto, o delegado ainda iria encontrar filmes de navios ingleses e americanos e de pontos estratégicos do litoral de São Paulo e ainda uma pista que o levaria ao Rio de Janeiro, mais especificamente a um sobrado no Leblon.

Lá, finalmente, iria encontrar Niels Christensen, engenheiro civil, nome atrás do qual se escondia Starziczny. Na casa, a polícia iria descobrir muitos equipamentos e, dentro de uma caixa de madeira, informações que partiam diretamente do Leblon para o almirantado alemão, em Hamburgo.

A ação rápida de Reali permitiu que o navio britânico Queen Mary, que deixara havia poucos dias o Rio de Janeiro levando a bordo oito mil soldados canadenses, mudasse de rota e escapasse de um ataque. Eis aqui uma história de nossa polícia pouco lembrada, mas que merece ser conhecida pelas novas gerações.
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(*) Adelto Gonçalves é doutor em Literatura Portuguesa pela Universidade de São Paulo e autor de Bocage - o Perfil Perdido (Lisboa, Caminho, 2003).

A matéria repercutiu, nos dias seguintes, entre os leitores do jornal A Tribuna, que no dia 22/2/2006 publicou, em Tribuna do Leitor:

Nazistas em Santos
 Com referência ao artigo publicado na coluna Ponto de Vista, em 17 de fevereiro, de autoria de Adelto Gonçalves, venho informar que aqui, no Morro dos Barbosas - atual Hotel Chácara do Mosteiro, encontrei indícios da presença de alemães (padres) durante o período da Segunda Guerra Mundial.

Entrevistei, também, um português qe na época tinha um box no Mercado de São Vicente, que disse-me ter vendido suprimentos para navios e submarinos alemães, que estavam atracados nas imediações da Ilha Porchat.

Estas compras eram acompanhadas pelos moradores do casarão do mosteiro, sendo este na época propriedade dos padres Beneditinos do Mosteiro de São Bento - São Paulo.

Um outro visitante que freqüentou a chácara na década de 1940 a 1950 informou-me também ter visto em um dos quartos do Mosteiro uma estação retransmissora de rádio. Além disso, tivemos a visita, em 19/10/1934, do camerlengo cardeal D. Eugênio Pachelli, que era núncio apostólico em Berlim (Alemanha), que tornou-se o Papa Pio XII, em 1939. Esta visita ficou documentada aqui, no nosso casarão, através de uma placa de mármore carrara, escrita em latim, que está afixada na varanda.

Possuímos, na entrada, ladrilhos hidráulicos com desenhos da suástica nazista.

Nery Ambrozio

Esta outra carta foi publicada na mesma seção, em 26/2/2006:

Nazistas em Santos
 Esta coluna abordou, com detalhes, o tema "Nazistas em Santos". Os fatos abaixo descritos, inéditos e genuínos, me foram relatados por meu pai.

Com a eclosão da Segunda Guerra Mundial, decidiu-se pela construção do Forte dos Andradas, em Guarujá. Para a defesa do Porto de Santos já havia a Fortaleza de Itaipu, em Praia Grande. Roberto Vieira, meu pai, servia como terceiro sargento na Fortaleza do Itaipu quando foi destacado para liderar os soldados que iam participar da construção do Forte dos Andradas.

O comandante da bateria, superior hierárquico de meu pai, recomendou aos soldados que se defendessem com foices, facões de mato, paus ou qualquer objeto. O armamento pesado e adequado somente chegaria muitos meses depois.

A praia do Forte dos Andradas foi visitada inúmeras vezes por submarinos alemães que ostentavam, acintosamente, a famigerada bandeira com a cruz suástica.

Os germânicos jamais desceram em terra firme durante a construção do forte. Só pararam de freqüentar o local quando os obuses foram instalados.

Gilberto Sidney Vieira.

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