Operários de obra cuidam da torre do futuro prédio da Atento que ainda
conta com nome de Theodor Wille
Foto: Vanessa Rodrigues
Theodor Wille, o imigrante alemão que fundou seu império em Santos
Ele fundou a TWI, ganhou dinheiro e
voltou para o seu país para erguer uma gigante do mundo dos negócios
Marcelo Santos
Da Redação
De
sua sede em Frankfurt e filiais em Dubai e Suíça, a multinacional TWI administra seus negócios de logística e commodities na Europa, Ásia e
Oriente Médio. Entre as várias atividades, a empresa alemã é uma das companhias que faturam com a invasão americana no Iraque, fornecendo alimentos
para as tropas no país. Mas a TWI, há muito tempo, teve um pé em Santos. Aliás, ela nasceu por aqui.
Em seu site, a TWI informa discretamente que
ela surgiu em 1844 na América do Sul como exportadora de alimentos. E só. Na verdade, a multinacional surgiu em Santos há exatos 167 anos.
Por aqui cresceu e deu tanto dinheiro ao
fundador Theodor Wille que o mesmo voltou para sua terra de origem, Hamburgo. Lá ele criou seu império no setor de comércio exterior, de alimentos e
de imóveis, que resultaram na atual TWI (Theodor Wille Intertrade).
Desde seu começo em Santos, a TWI tem uma
história de sucesso. Theodor Wille era um imigrante alemão de apenas 20 anos quando começou a comercializar café em 1938
(N.E.: correto é 1838).
Ele percebeu que as fazendas estavam se espalhando pelo Estado (na época a produção se concentrava no interior do Rio e depois Vale do Paraíba) e
entrou para a história do grão: foi o primeiro a exportar uma saca de café paulista.
Em 1844 fundou sua exportadora de café em
Santos, que 100 anos depois construiria na Rua Visconde São Leopoldo, no Centro, o prédio que abrigará a operadora de call center Atento. No
alto do imóvel, permanece o nome Armazéns Gerais Theodor Wille – funcionários da obra não souberam informar se ele será apagado.
Mas Theodor, bem sucedido, e que rapidamente se
tornou vice-cônsul da Prússia (antigo reino alemão) em São Paulo, ficou com saudade da terra natal e voltou para Hamburgo em 1847. Segundo matérias
antigas de A Tribuna e documentos levantados pelo site Novo Milênio, que resgata a história de Santos,
ele ficou tão rico que freqüentemente fazia doações para construção de escolas, museus, praças e cursos para trabalhadores de indústrias. Também
ajudou a Universidade de Kiel, fundada em 1665 como Academia Christiana Albertina, e patrocinou no Brasil o terreno do campus da USP em Ribeirão
Preto.
Profissionais do setor de café não sabem quando
a empresa parou de trabalhar no setor em Santos – provavelmente isso ocorreu após a Segunda Guerra. Atualmente, o negócio com as tropas americanas
adquiriu tal aproximação que ela apóia a Fundação Adm Snyder, um soldado norte-americano que morreu aos 26 anos em Bayji, no Iraque.
Valorizada
A restauração do antigo prédio da Theodor Wille,
que será ocupado pela Atento, e a movimentação de até 2 mil funcionários, trouxe uma expectativa de aquecimento na região logo após a Praça dos
Andradas com Rua João Pessoa. O m² da área, que antes do investimento era de R$ 2 mil, já é exigido a R$ 3.500 por quem tem imóveis próximos, alguns
deles mal conservados.
O prédio, antes da reforma, foi utilizado pela
antiga rede de eletrodomésticos Domus e por uma empresa para armazenamento de cargas não-tóxicas. Segundo um empresário vizinho, a reforma é
bem-vinda não só pela valorização da área, mas pela eliminação de ratos. "Você não imagina quantos ratos saíram de lá quando começou a reforma".
Parceira e algoz do Rei do Café
Enquanto Theodor Wille exportava café, outro
imigrante alemão, Franz Schmidt, enriquecia plantando o grão no Interior. Ficou tão rico que virou o Rei do Café.
Schmidt conheceu o café aos 8 anos, em 1858, na
fazenda do senador Nicolau Vergueiro (o filho José Vergueiro foi vereador em Santos) próxima a Limeira. Aos 23 se casou com Albertine, uma cubatense
de origem alemã, e aos 29 se tornou corretor de café da Theodor Wille – em 1879 uma grande companhia com prédios imponentes em Santos, Rio e
Hamburgo.
Após a abolição, Schmidt,um escravocrata
convicto segundo relatos históricos, tomou posse da Fazenda Monte Alegre (atual campus da USP de Ribeirão Preto) – o dono não pagou a dívida.
O fazendeiro ficou mais poderoso, mas a Theodor
Wille ainda dava as cartas. No início do século 20 foi ela quem fez o projeto de financiamento do Convênio de Taubaté, com o qual o governo comprava
o excedente de café para equilibrar os preços.
Schmidt morreu em 1924, mas não viu o fim de seu império. Logo
veio a quebra da Bolsa de Nova Iorque e a Theodor Wille cruzou com os negócios dos Schmidt. Os herdeiros entregaram terras no interior para pagar
dívidas. A Theodor decidiu lotear essas fazendas, vendendo-as em pequenas propriedades. Surgia então a atual Votuporanga. |