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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - ZEZINHO
As atribulações do fotógrafo Zezinho (3)

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Presidentes antes de assumir e após a deposição, ou que ficaram apenas na candidatura; prédios no apogeu e em ruínas; artistas em diferentes momentos de suas carreiras; manifestações de todos os tipos e por todos os motivos; ou o mero "buraco de rua", que também faz parte da profissão de fotógrafo registrar imagens de sarjetas para ilustrar matérias do cotidiano. Essas e outras imagens fazem parte do acervo do fotógrafo José Dias Herrera, que em 2004 foi entregue à Fundação Arquivo e Memória de Santos (FAMS). No dia seguinte ao de seu falecimento, o jornal santista A Tribuna registrou, nas páginas primeira, A-6 e A-7 da edição de 18 de janeiro de 2010:


LUTO - MORRE JOSÉ DIAS HERRERA, 72 ANOS DE FOTOJORNALISMO - Mais antigo repórter-fotográfico do Brasil, José Dias Herrera faleceu ontem, aos 89 anos. Principal fotógrafo de Pelé, totalizou 72 anos de profissão, 22 deles em A Tribuna. Ele foi sepultado à noite, em Santos
Foto: Irandy Ribas, em 17/402007, publicada com a matéria, na primeira página


O maior acervo de fotos de Pelé (aqui com Garrincha) é de Herrera
Foto: José Dias Herrera, publicada com a matéria


Ilustres como o ex-presidente Jânio Quadros também foram clicados
Foto: José Dias Herrera, publicada com a matéria

LUTO

Jornalismo perde José Herrera

O repórter-fotográfico mais antigo do Brasil se despede aos 89 anos, deixando um acervo de 72 anos de fotos memoráveis

Da redação

O flash do seo Zezinho não vai mais disparar. O jornalismo brasileiro perdeu ontem seu mais antigo repórter-fotográfico: José Dias Herrera. Ele acumulava invejáveis 72 anos de profissão, 22 dos quais dedicados a A Tribuna.

Aos 89 anos, Zezinho, como era conhecido pelos colegas de trabalho, estava com câncer no estômago e morreu em razão de falência múltipla de órgãos, às 3 horas. O sepultamento ocorreu ontem à noite, na Memorial Necrópole Ecumênica.

Herrera estava morando em Campinas desde o ano passado, após ter vivido em Santos desde a infância. A troca de endereço ocorreu a pedido das filhas, Ilka e Lais, pouco depois da doença ter sido diagnosticada. Por telefone, Ilka revelou que o pai se mudou a contragosto. "Relutou muito para ir. Não queria sair. Tinha uma história de amor com essa Cidade. Falava em Santos, queria andar pela Avenida Ana Costa, pedia a máquina fotográfica para sair e trabalhar", contou. "Até o fim, ele permaneceu falando e se comportando como se estivesse na ativa".

Herrera era casado com Ilza Queiroz Herrera e, além das duas filhas, tinha cinco netos.

Foi o último remanescente dos fundadores da sede regional do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo, em Santos - inaugurada em 1942. Antes dele, a entidade perdera outro fundador, Hamleto Rosato, em outubro de 2008. Em 2007, recebeu da entidade a última homenagem em vida.

No ano passado, suas imagens serviram para ilustrar o calendário da Fundação Arquivo e Memória de Santos (Fams), entidade para a qual ele doou seu acervo, em 2004. Entre as 19 mil fotos, constam registros históricos da Praça da República em 1950, do Hotel Internacional (parcialmente demolido em 1953) e o desembarque de um bonde estrangeiro no cais santista, na década de 40.

DEDICAÇÃO 

22 ANOS

foi o tempo que José Herrera trabalhou em A Tribuna

 


Apaixonado pela máquina fotográfica, José Herrera estava sempre a serviço da informação, sem nunca se deixar abater, apesar da idade
Foto: Luigi Bongiovanni, publicada com a matéria

Entusiasmo - José Dias Herrera nasceu no bairro do Brás, na Capital, em 15 de abril de 1920. Chegou em Santos aos 7 anos e começou a trabalhar com fotografia aos 14, no laboratório de uma loja. Três anos depois, iniciou a carreira de repórter-fotográfico do extinto jornal O Diário, no qual atuou por 20 anos.

Em 1937, a pedido do então prefeito Cyro de Athaíde Carneiro, fotografou a inauguração do atual Paço Municipal, que substituiu a antiga sede do Executivo, no Valongo. Desde então, trabalhou para todas as administrações municipais, inclusive para a atual, de onde pediu afastamento no ano passado. "A gente conversava logo pela manhã, às vezes ele ia tomar chá comigo", lembra o prefeito João Paulo Papa, que tinha no velho fotógrafo uma fonte de informações. "Ele conhecia muito da nossa história, acompanhou momentos muito importantes. Falava e trabalhava com um entusiasmo que a gente não vê nos mais jovens".

LEGADO

"Era de uma dedicação ímpar ao trabalho. Mesmo com a idade avançada, não perdia a vitalidade, a paixão pelo que fazia. Foi uma das figuras que mais inspirou os profissionais da imprensa nos últimos anos"

João Paulo Papa, prefeito de Santos

"Zezinho atravessou, com grande brilho, várias fases do Jornalismo e sempre se manteve atualizado. Nunca perdeu o pique e a paixão do repórter fotográfico principiante. É dele a maio coleção de fotos exclusivas do Pelé. Ele estava presente quando o Rei chegou ao Santos, há mais de 60 anos, e acompanhou toda a sua carreira. A Tribuna, onde ele foi um baluarte, se associa à dor da sua família e dos seus inúmeros amigos"

Carlos Conde, editor-chefe de A Tribuna

"Sem formação acadêmica, Zezinho Herrera foi no entanto um excepcional repórter-fotográfico, com graduação, mestrado e doutorado na grande escola de jornalismo da vida. Na sua especialidade, destacou-se pela criatividade, coragem , seriedade e dedicação ao trabalho, além de ter um apurado senso da notícia"

Clóvis Galvão, editor de Opinião de A Tribuna

"Era um remanescente da História de Santos. A gente falava com ele quando fotografava a pedra fundamental de uma obra, e ele dizia: 'Isso aí era um bananal'. Se a gente ia numa instalação da Cosipa (hoje, Usiminas), ele comentava: 'Ah, eu acompanhei a obra'"

Luigi Bongiovanni, subeditor de Fotografia de A Tribuna

"Foi um apaixonado pelo Jornalismo e sempre fazia tudo com intensidade. Mesmo já com uma certa idade, sempre o via correndo, subindo escadas, para pegar o melhor ângulo"

José Rodrigues, correspondente do Valor Econômico

"Ele tinha sempre história para contar. De quando começou na A Tribuna, dos amigos"

Ilza Queiroz Herrera, viúva

"São histórias que não se separam, a dele e a de Santos. Tem um enraizamento forte. Ele amava Santos"

Ilka Queiroz Herrera, filha

"Era referência de profissionalismo, integridade, ética e paixão pela fotografia e pelo jornalismo. Quem de nós não aprendeu com ele?"

Francisco La Scala Júnior, jornalista e ouvidor municipal

"O Sindicato está de luto. Seo Zezinho sempre foi um expoente do jornalismo na região, o profissional que mais retratou Pelé. A categoria perde mais uma de suas referências"

Carlos Ratton, diretor da Regional de Santos do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo

"Eu, como fotógrafo, imagino tudo que ele viu em vida. Ele passou pela pólvora e pelo magnésio e chegou ao cartão digital. Foi de uma ponta à outra da história da Fotografia"

Vagner Dantas, repórter-fotográfico e ex-colega de trabalho

"Eu tive dois mestres na Fotografia. Zezinho foi um deles"

Antonio Vargas, repórter-fotográfico e amigo

Amigos enaltecem aprendizado

Em 1953, Herrera passou a trabalhar em A Tribuna, onde tornou-se o principal fotógrafo de Pelé - fez, inclusive, a primeira foto do Rei do Futebol uniformizado, na Vila Belmiro. Posteriormente, acompanhou o Santos Futebol Clube em várias excursões pelo mundo.

Ainda em A Tribuna, suas lentes registraram momentos históricos, como a explosão do Gasômetro em Santos, no ano de 1967. Fez trabalhos também para a Gazeta Esportiva, Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo e revista O Cruzeiro.

Para os colegas de redação, tornou-se referência de profissionalismo, mas também de ótimas histórias. O hoje subeditor de Fotografia de A Tribuna, Luigi Bongiovanni, lembra com saudade do relato de seo Zezinho sobre o dia em que interpelou o então presidente da França, Charles de Gaulle, durante a inauguração de uma aciaria na Cosipa. "Na hora que o de Gaulle ia apertar o botão para acionar a aciaria, deu um problema na câmera dele. Aí, ele furou a segurança, chegou até o de Gaulle e pediu, em francês, para apertar o botão de novo", diverte-se.

Bongiovanni revela que tentou escrever um livro contando essa e outras histórias, mas o protagonista não concordou. "Ele sempre resistiu, mesmo quando eu dizia: Zezinho, não é para te bajular".

Editor de Opinião de A Tribuna, Clóvis Galvão diz que a competência de Herrera extrapolava os limites do jornalismo. "Junto com seus irmãos Rafael e Paco, era um profissional admirado não apenas no nosso meio da imprensa, mas em toda a Cidade. Trabalhamos juntos por vários anos e muito me orgulhou manter com ele uma estreita amizade pessoal".

Para quem iniciava na profissão, Herrera era a voz a ser consultada. Subeditor de Baixada Santista de A Tribuna, Reynaldo Salgado recorda da "oportunidade" que teve, em 1976, de viajar com o experiente fotógrafo para Brasília, acompanhando o então prefeito Antônio Manoel de Carvalho. Do aprendizado surgiu a amizade - tão intensa que, quatro anos mais tarde, Herrera faria as fotos de casamento do amigo. "Não cobrou nada. Disse que era um presente".

A jornalista Cleide Quintas, que trabalhou por mais de 20 anos com seo Zezinho na Prefeitura de Santos, ressalta a paciência do companheiro. "Ele me ensinou muitos lances de imagens, o que se devia e não devia fazer".

COMPANHEIRO

"Um excelente profissional. Alegre, brincalhão, sempre esbanjando otimismo e, acima de tudo, uma pessoa simples, um companheiro que dava dicas para focas como eu. Aprendi muito com ele"

Reynaldo Salgado, subeditor de Baixada Santista de A Tribuna

Qualquer um - Seo Zezinho só não era amigo das câmeras digitais. Companheiro de trabalho de mais de uma década, José Rodrigues, hoje no Valor Econômico, conta que, apesar da vontade de seguir fotografando, Herrera não aceitava bem a nova tecnologia. "Dizia que, com os recursos das máquinas digitais, qualquer um podia ser fotógrafo".


Em 2007, Herrera foi homenageado pela regional do Sindicato dos Jornalistas, pelas mãos de Bongiovanni
Foto: Paulo Freitas, em 25/7/2007, publicada com a matéria

LUTO

Familiares, amigos e autoridades prestam última homenagem

Despedida ao repórter-fotográfico José Herrera ocorreu na Memorial Necrópole Ecumênica de Santos

Da redação

Um sentimento misto de consternação e resignação deu o tom das despedidas ao repórter-fotográfico José Dias Herrera, o Zezinho. Familiares, amigos e ex-colegas de profissão velaram o corpo do jornalista ontem, na Memorial Necrópole Ecumênica, em Santos, onde ele foi sepultado.

A cada chegada, alguém lembrava uma nova passagem da vida e da carreira daquele que viveu para registrar fatos. "Ele era apaixonado por aquilo que fazia. Acho que a paixão dele pelo trabalho é uma das razões dessa longevidade. Ele se dispôs a trabalhar até o fim de suas forças e a fotografia deu a ele essa possibilidade", disse o fotógrafo Vagner Dantas, ex-colega de Zezinho na Prefeitura de Santos.

Muitos amigos jornalistas passaram pelo velório para prestar uma última homenagem, entre eles diretores do sindicato que ele ajudou a fundar, e o também fotógrafo Antonio Vargas. "Ele foi meu primeiro chefe em A Tribuna. Conheço ele há 50 anos. Era um homem de um coração generoso, um coração espetacular. Aprendi com ele sobre ética, sobre a importância da fotografia como meio de comunicação. E não falo isso porque ele está partindo. Ele era assim mesmo".

Vargas diz que Zezinho "era um profissional exemplar, alguém em quem os futuros foto-jornalistas devem sempre se mirar". E acrescentou: "Santos é a casa dele. Ele adotou essa cidade para viver e, por meio dele, as imagens da Cidade e do Santos (Futebol Clube) correram o mundo".

PAIXÃO

"Acho que a paixão dele pelo trabalho é uma das razões dessa longevidade"

Vagner Dantas, ex-colega da Prefeitura de Santos

Visivelmente emocionada, a viúva de José Herrera, Ilza Queiroz Herrera, contou que ele era "uma pessoa muito boa. Era muito respeitador e trabalhador". Apesar de toda a paixão que ele sempre sentiu pela fotografia, Ilza disse que sempre gostou da relação de Zezinho com as câmeras fotográficas. "Quando fotografava, ele estava satisfeito. E eu gostava de vê-lo feliz". Para ela, Zezinho deixa, é claro, muitas saudades. "Mas eu reconheço que ele já sofreu bastante com a doença", comentou, resignada.

Ilka Queiroz Ferreira, uma das três filhas de Zezinho, destacou que ele tinha personalidade forte e primava pela educação de seus herdeiros. "Ele priorizou muito o lado intelectual da família. Só tinha o primário, mas lia muito e tinha uma cultura muito grande. Tanto que incentivava e pagava todos os cursos que a gente queria fazer". Seu neto, João Paulo Herrera, definiu em uma frase o aprendizado que o avô lhe passou: "Sucesso só vem com esforço".

Também estiveram no enterro o prefeito de Santos, João Paulo Papa, o vereador Manoel Constantino (PMDB-Santos) e o diretor de Marketing do Santos Futebol Clube, Paulo Schiff.


Herrera faleceu em Campinas, onde morava nos últimos meses, mas seu corpo foi sepultado em Santos, cidade coma  qual tinha forte ligação
Foto: Alberto Marques, publicada com a matéria


Para a viúva Ilza, seu marido "era muito respeitador e trabalhador"
Foto: Alberto Marques, publicada com a matéria


Familiares e amigos deram o último adeus ontem, na Memorial
Foto: Alberto Marques, publicada com a matéria

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