"Nunca imitei ninguém..."
ENTREVISTA: Sua família te apoiou quando o senhor escolheu ser fotógrafo?
JOSÉ HERRERA: Os meus pais nunca deram palpite em minha profissão, sempre fui muito
independente.
ENT.: Alguém da sua família também seguiu a profissão de fotógrafo?
JH: Ensinei aos meus dois irmãos minha profissão. Eu sou o mais fraquinho de todos
eles, mas estou aqui até hoje. Quando meu irmão estava completando 50 anos de A Tribuna, foi para casa, teve um enfarte, e morreu.
ENT.: Herrera, como começou a trabalhar como fotógrafo?
JH: Foi no Diário. Um dia o secretário do Diário viu que eu não deixei
um avião decolar para poder fotografá-lo. Então ele disse: "esse garoto tem talento".
ENT.: Como o senhor começou a trabalhar em A Tribuna?
JH: Depois de muita insistência dos diretores. A princípio eu escapei indicando o meu
irmão Rafael, mas quem eles queriam mesmo era eu. Foi quando eu fiz algumas exigências para ir para lá e eles aceitaram.
ENT.: Quais foram essas exigências?
JH: No Diário eu tinha meu próprio laboratório e em A Tribuna não
tinha. Então, eles construíram um para o meu irmão e outro para mim. Outra coisa era que todos os fotógrafos ganhavam por semana e eu queria ser
contratado; foi outra exigência que eu fiz e eles aceitaram.
ENT.: Quais as pessoas mais importantes que você já fotografou?
JH: Muitas, fotografei diversos presidentes como Café Filho,
Jânio Quadros, Washington Luiz, dentre outros.
ENT.: Durante os 65 anos dedicados à fotografia, qual foi a imagem que mais te
marcou?
JH: Eu nunca tive isso, todos os trabalhos que eu fiz foram com muito gosto. No
momento da fotografia a gente não pára para pensar; só sabe o que saiu quando a foto fica pronta.
ENT.: Conte um caso interessante que o senhor viveu durante a carreira.
JH: A cobertura da inauguração da primeira aciaria da Cosipa, que foi feita pelo
presidente da França. No momento em que ia ser inaugurada, eu percebi que a imprensa tinha sido colocada muito longe, e antigamente não existiam
alguns recursos que hoje as máquinas fotográficas oferecem. Eu saí correndo do palanque e fui na direção do presidente. A polícia queria me prender
achando que eu fosse dar um tiro nele. Foi quando eu consegui chegar perto e, em francês, pedi que ele repetisse tudo novamente; ele fez.
ENT.: Durante toda a sua carreira, o que aprendeu de mais importante?
JH: Quem gosta do que faz não precisa de ninguém para ensinar; aprende sozinho. Tanto
que, quando eu comecei, ninguém queria me ensinar para não ter concorrência. Então eu aprendi tudo sozinho, comprava livros, lia e ia me
aperfeiçoando pouco a pouco.
ENT.: Ainda tem algum sonho que não realizou?
JH: Ganhar na megasena (gargalhadas). Eu já estou com 82 anos e ainda estou
trabalhando na Prefeitura, faço meus trabalhos particulares... Acredito que já estou realizado.
ENT.: E quanto à fotografia atualmente?
JH: Ela está acabando. O fotógrafo não manda mais na sua obra. Atualmente toda
fotografia pode ser modificada, principalmente se a máquina usada é a digital.
ENT.: E como foi a sua experiência durante a ditadura militar?
JH: Não houve nada dramático, eles me tratavam muito bem. Inclusive quando queriam
tirar alguma foto mandavam me chamar. Não posso me queixar.
ENT.: O que o senhor acha da foto por dinheiro?
JH: Eu acho uma safadeza. Sempre que eu tirava uma foto e achava que pudesse
prejudicar alguém, eu destruía a foto e o negativo.
ENT.: Você faria tudo por uma foto?
JH: Para escândalo não, eu jamais faria.
ENT.: Como é o seu relacionamento com o Pelé?
JH: Quando ele chegou a Santos eu fui o primeiro a fotografá-lo, e durante muito
tempo eu acompanhei os treinos e as viagens do time. A convivência nos aproximou. Também tirava fotos particulares para ele.
ENT.: Você já foi processado ou tirou uma foto que alguém não gostou?
JH: Nos meus 4 anos de carreira isso nunca aconteceu.
ENT.: O que o senhor acha dos paparazzis?
JH: Eles não são fotógrafos, são picaretas. E o jornal que publica esse tipo de foto
também não é sério.
ENT.: Qual é um jornal sério na sua opinião?
JH: A Folha de São Paulo.
ENT.: O senhor se considera um homem-família?
JH: Sim, pois tudo o que eu fiz até hoje foi pela minha família.
ENT.: Como o senhor vê todas essas homenagens que estão sendo feitas?
JH: É só porque eu estou ficando velho (muitas risadas); acho que é um pouco de
exagero. Prefiro fotografar o homenageado a ser ele. Mas, mesmo assim, fico muito contente.
Na hora de ser fotografado, Zezinho também dá um show de simpatia e simplicidade,
ficando totalmente à vontade diante da câmera
Fotos: Luciana Bari Mancini, publicadas com a matéria
Luciana Bari Mancini, Erika Aritibano, Omar Bermedo,
Thaís Simões
|