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HISTÓRIAS E LENDAS DE CUBATÃO
As origens da siderúrgica (1)

Por volta de 1973, um dos fundadores da Companhia Siderúrgica Paulista, Martinho Prado Uchôa, produziu um livrete contando A História da Cosipa, com fotos antigas e seu depoimento, como protagonista que foi desses episódios.

Com 72 páginas, projeto gráfico de Vicente Gil/Assessoria Visual Ltda. e impressão Linova Editora Artes e Serviços Gráficos Ltda., a obra não contém mais dados sobre o livrete em si (que teria sido apoiado pela Cosipa) e nem legendas para as fotos, aqui reproduzidas junto com parte do texto (que no original é complementado pela descrição das assembléias gerais da empresa entre 1953 e 1966):

A história da Cosipa

Martinho Prado Uchôa

PREFÁCIO

A Cosipa costuma festejar todos anos a data de sua constituição, ocorrida em 23 de novembro de 1953, convidando, assim, para essa cerimônia, seus acionistas, amigos e algumas autoridades. A festa consiste, geralmente, de um breve discurso do presidente a respeito dos fatos mais relevantes ocorridos durante o ano, seguido de uma visita às instalações da usina, e terminando com um almoço descontraído.

Numa dessas comemorações, aconteceu de eu estar na primeira fila dos presentes e o então presidente e amigo, Plínio Assmann, em seu discurso, terminou por me fazer uma saudação, identificando-me como um dos fundadores da Cosipa. Imediatamente após, fui cercado por um grupo de engenheiros admitidos depois do meu desligamento da empresa, dizendo-me:

- Dr. Martinho, quando fomos admitidos, o senhor já tinha se afastado, mas, postos a par de sua atuação, aqui ficamos interessados em conhecê-lo e dar-lhe um abraço. Não o fizemos antes porque imaginávamos que o senhor deveria estar com bastante idade e não queríamos importuná-lo. Vendo-o agora entre nós, e já que a imagem que fazíamos é muito diferente da realidade, resolvemos nos achegar.

Um deles me perguntou:

- Dr. Martinho, como é que o senhor bolou tudo isto?

Como não havia mais tempo nem ambiente para uma demorada exposição, pois os convidados já se dirigiam aos ônibus, não pude responder a questão de imediato, mas prometi escrever sobre o assunto. Esta foi uma das razões que me levaram a escrever este trabalho.

A outra, e também a mais importante para mim, foi a de cultuar a memória de duas pessoas: a do meu pai, Flávio de Mendonça Uchôa, já falecido, que nunca mediu sacrifícios para que eu cursasse a escola de Engenharia Metalúrgica de Teschniche Hochshule de Berlin-Charlotenburg - na época, a melhor escola da Alemanha neste ramo da Engenharia - e também de me proporcionar meios para que pudesse aproveitar as férias, estagiando em usinas siderúrgicas da Alemanha e Suécia, que empregavam o mesmo equipamento da Usina da Companhia Eletrometalúrgica Brasileira, fundada por ele em 1922, e que eu devia mais tarde administrar. A outra pessoa que desejo homenagear é o engenheiro Plínio de Queiroz, também falecido, meu amigo e companheiro de 20 anos de lutas pela Cosipa.

In Memoriam
de Flávio de Mendonça Uchôa
e de Plínio de Queiroz


A fim de proporcionar ao leitor um panorama sobre a siderurgia brasileira até a instalação da Cosipa, julguei interessante fazer um resumo de sua história, servindo-me de dados contidos no Manual da Siderurgia, do Instituto Brasileiro de Siderurgia, de um trabalho de Marcos Carneiro de Mendonça, do livro de Walter Emmerich, Grundlagen und Probleme des Eisenindustrie Brasiliens, e da revista Stahlundeisen.

A história da siderurgia no Brasil pode ser dividida em duas partes distintas. A primeira, iniciada com forjas catalãs primitivas, com a chegada a São Vicente (SP) de Martim Afonso de Souza, em 1532, e a segunda, com a implantação de altos-fornos a carvão vegetal.

1532 - A expedição de Martim Afonso de Souza trouxe como ferreiro contratado por dois anos, para prover as necessidades de ferro da expedição e da colônia, o mestre Bartolomeu Fernandes, também conhecido como Bartolomeu Gonçalves e Bartolomeu Carrasco. Terminado o contrato, mestre Bartolomeu fixou-se em solo paulista, tornando-se proprietário do sítio dos Jeribás e instalando, nas margens do Jurubatuba, afluente do rio Pinheiros, em Santo Amaro (SP), a primeira forja do Brasil para produção de aço - fato mencionado por Anchieta, em 1554. Com quatro operários conseguiu-se produzir e forjar 100 kg de ferro em seis ou sete horas, consumindo 450 kg de carvão vegetal.

1589 - Os Afonso Sardinha (pai e filho), versados em mineração e empenhados na procura de metais, descobriram, em uma de suas excursões, minério de ferro no sopé do Morro Araçoiaba (próximo à atual cidade de Sorocaba).

1591 - Naquele local instalou-se a primeira usina siderúrgica brasileira, constituída por dois fornos rústicos e uma forja para produção de ferro. Considerando-se que São Paulo estava a mais de 100 km e tinha menos de dois mil habitantes, o empreendimento de Sardinha representou grande proeza mas, sem prosperar, encerrou suas atividades por volta de 1628, terminando assim o primeiro ciclo da exploração de Ipanema (Sorocaba). Este fato conferiu a Afonso Sardinha o título de Fundador da Siderurgia Brasileira.

1597 - Mais duas pequenas forjarias foram construídas nas cercanias de Ipanema.

1629 - Morre Afonso Sardinha. Pelo tratado de Metuthen, de 1703, entre Inglaterra e Portugal, este último país foi obrigado a destruir todas as suas manufaturas na Europa e na Colônia, desestimulando qualquer empreendimento com forjas.

1765 a 1775 - Diversos empreendimentos foram instalados em São Paulo.

1785 - Dona Maria I, a Louca, proíbe a indústria de ferro no Brasil.

1795 - Luís Pinto de Souza revoga a portaria de Dona Maria I.

1800 - Manuel Ferreira da Câmara Bittencourt é nomeado Intendente Geral das Minas.

1801 - Manuel Ferreira da Câmara Bittencourt é nomeado Intendente das Minas de Ferro Frio. E com um alvará, mandando estabelecer uma fábrica em Ipanema, Manso Pereira e um irmão de José Bonifácio construíram, sem sucesso, o primeiro Alto-Forno no Brasil.

1807 - Logo após ter tomado posse do cargo, o Intendente Câmara dirige-se ao Príncipe Regente, solicitando autorização para fabricar ferro.

1808 - Chegada de D. João VI ao Brasil, acompanhado de Frederico Luiz Guilherme de Varnhagen e o barão Wilhelm von Eschwege, especialistas em siderurgia. Nesse ano, forjas catalãs foram instaladas no Vale do Rio Doce e instituiu-se alvará, permitindo livre estabelecimento de fábricas e manufaturas no Brasil.

1809 - Intendente Manoel Ferreira da Câmara Bittencourt lança os fundamentos da fábrica Patriótica, em Gaspar Soares (MG), hoje Morro do Pilar.

1810 - Autorizada a instalação de uma fábrica de ferro em Sorocaba (SP) - a Real Fábrica de Ferro de São João de Ipanema.

1811 - Construído o primeiro alto-forno do Brasil, em Caeté (MG), implantando as forjas catalãs no Vale do Rio Doce.

1812 - Eschwege coloca em funcionamento a usina de ferro de propriedade da Sociedade Patriótica, em Congonhas do Campo (MG), promovendo a primeira corrida de gusa do País e consegue laminar aço em Itabira do Mato Dentro.

1814 - Demissão de Hedberg que, desde 1811, tentava fazer aço sem sucesso em Ipanema, assumindo Varnhagen.

1815 -  Ipanema começa a produzir ferro laminado. Gaspar Soares passa a produzir ferro, graças à ajuda de técnicos alemães mandados por Varnhagen. Chega ao Brasil o engenheiro francês Jean Antoine de Monlevade, fixando-se em Caeté. Concluídos os trabalhos da construção da usina Patriótica, confiados ao Intendente Câmara. Surge o primeiro alto-forno, com 8,5 m de altura, construído no Brasil. A fábrica possuíia também diversos fornos de refino e três forjas catalãs. Foi fechada em 1831, depois de produzir 135 t de ferro - destinadas, sobretudo, à mineração de diamantes.

1817 - Depois de ter trabalhado com Eschwege na instalação de forjas catalãs em Congonhas do Campo, Monlevade constrói um alto-forno perto de Caeté, mas o empreendimento não obteve êxito.

1818 - O Intendente Câmara inicia a produção de gusa da fábrica do Morro do Pilar. Varnhagen acente o primeiro alto-forno de Ipanema. Novembro - primeira corrida de gusa no Brasil.

1819 - Janeiro - Monlevade e o capitão Luís Soares de Gouveia fazem a primeira corrida de gusa em Minas. Maio - Varnhagen põe em funcionamento o segundo alto-forrno de Ipanema. O Intendente Câmara cogita construir uma estrada margeando o rio Doce e tornar navegável o rio Santo Antonio para exportar o excesso de ferro aos países estrangeiros, o que, certamente, não aconteceria nesse século, segundo Eschwege.

1821 - D. João VI regressa a Portugal. Varnhagen demite-se da fábrica de Ipanema e volta à Europa. Rufino José Felizardo e Costa assume a direção daquela usina, permanecendo até 1824. Nesta época já existiam, em Minas, mais de 30 forjas com produção diária de 100 a 400 arrobas.

1825 - Voltando da Europa, Monlevade interessa-se pela montagem de uma forja para a produção de ferro em Itabira, usando o processo de redução direta.

1827 - Monlevade transporta mais de 7 t de máquinas que mandou vir da Europa, pelo rio Doce até São Miguel, em expedição dirigida por Achiles de Noir e organizada pelo coronel Guilherme Monlieu. Constrói a usina de São Miguel de Piracicaba, que assim funcionou até sua morte. Depois, com a volta de Eschwege para a Europa, desaparecem de Minas Gerais os processos para produção direta de ferro.

1828 - Gongo Seco - Cia. Inglesa - fracassa.

1829 - Monlevade consegue erguer, em São Miguel de Piracicaba (MG), uma forja considerada moderna para produção de aço e ferramentas e para a agricultura e mineração de diamantes.

1846 - Barão de Mauá (Irineu Evangelista de Souza) instala uma grande oficina na Ponta da Areia (Niterói), onde foram construídos também numerosos navios, além de fundir ferro e bronze.

1864 - Decadência de Ipanema: fechamento da fábrica (120 forjas em Minas produzindo 1.550 t).

1865 - Restauração de Ipanema, sob o comando do capitão Joaquim Souza Mursa, até 1878, data em que passa para o Ministério da Agricultura.

1879 - Fundada a Escola de Minas, em Ouro Preto, dirigida pelos engenheiros franceses Henri Gorceix Armand de Bovet, Victor Langlet e Artur Thiré.

1888 - Joseph Gerspacker, Amaro da Silveira, Carlos da Costa Wigg constróem, em Itabira do Campo (MG), a Usina Esperança.

1889 - 15 de novembro - Proclamação da República - falência da Cia. Forjas e Estaleiros que adquirira as usinas Esperança e Monlevade.

1893 - 14 de dezembro - fundadores de Esperança inauguram um segundo alto-forno em Miguel Burnier (MG). O engenheiro Queiroz Júnior adquire, mais tarde, a Usina Esperança, começando de fato a siderurgia mineira de hoje.

1910 - O Congresso de Geologia, em Estocolmo, revela ao mundo as reservas de minério de ferro do Brasil e, em seguida, várias firmas estrangeiras começam a adquirir jazidas em Minas Gerais.

1911 - Itabira Iron Ore adquire diversas reservas em Minas Gerais. Na mesma época, os engenheiros Carlos Wigg e Trajano de Medeiros tentam, mas não conseguem, obter capitais para a instalação de uma usina integrada a coque nas proximidades de Juiz de Fora (MG), com capacidade para 150 mil t/ano. Segundo o relatório do engenheiro Pandiá Calógeras, em 1905, as usinas em funcionamento consistiam de dois altos-fornos, um dos quais em atividade, produzindo 2.100 t/ano de gusa e mais ou menos 100 fábricas produzindo 2 mil t de barras de aço.

Em plena guerra mundial são montados os primeiros laminadores: em Niterói, São Caetano e Juiz de Fora, e o primeiro forno Siemens Martin, em São Caetano. Os engenheiros Cristiano França Teixeira Guimarães, Amaro Lanari e Gil Guatemosin montam a Companhia Siderúrgica Mineira, em Sabará, dotada de um forno de aço de 25 t e, mais tarde, com a entrada de capital belgo-luxemburguês, a atual Companhia Siderúrgica Belgo-Mineira, constituída em 11 de dezembro de 1921.

Após o término da Primeira Guerra Mundial, o engenheiro Flávio de Mendonça Uchôa funda e implanta, com capital próprio e de amigos, uma usina integrada em Ribeirão Preto (SP) - a Companhia Eletrometalúrgica Brasileira, com fornos elétricos de redução, inaugurada em 1922 pelo então presidente Epitácio Pessoa. A usina destina-se ao aproveitamento de sobras de energia elétrica na entressafra de café e do minério de ferro da região de São Sebastião do Paraíso (Sul de Minas Gerais), transportando de Ribeirão Preto (SP) pela Estrada de Ferro São Paulo e Minas, até Bento Quirino e, deste, até Ribeirão Preto pela Companhia Mogiana de Estradas de Ferro.

Em função da crise do café dos anos 20, que acarretou a insuficiência dos transportes com a retenção de vagões carregados e sem compradores; a prolongada seca dessa época, que levou a um racionamento de energia; a necessidade de adquirir a Estrada de Ferro São Paulo e Minas, bem como material rodante em libras esterlinas; o prolongamento de Bento Quirino até Ribeirão Preto, evitando a baldeação e - last but not least -, a falta do governo do Estado de só pagar uma parte do empréstimo concedido, leva a companhia à falência, decretada em setembro de 1929.

Por estes vários motivos, a usina não chegou a atingir a produção projetada, mas mesmo assim, consegue fazer jus a um prêmio de Cr$ 150 mil, instituído pelo governo federal, para a primeira usina brasileira que atingisse uma produção de 5 mil t de aço em um ano. A metalúrgica operava com engenheiros brasileiros, treinados pelos assistentes estrangeiros que já haviam retornado a seus países.

1925 - Implantam-se altos-fornos em Morro Grande, hoje Barão de Cocais (MG), com capital de Hime & Cia., associado a Luís Ribeiro Pinto, e uma laminação de pequenos perfis em São Gonçalo (RJ).

1930 - A produção de gusa atinge 35 mil t para uma importação de 2 mil t. A produção de laminados é de apenas 25 mil t contra uma importação de 234 mil t, aproximadamente 90% do consumo. O índice de consumo de aço per capita é de 10 kg, um dos mais baixos do mundo. Com as restrições à importação, a década de 1930 acusa um grande aumento da produção. Até 1940 a produção de ferro gusa aumenta cinco vezes, atingindo mais de 185 mil t, eliminando praticamente a importação. A produção de lingotes de aço passa de 21 mil t em 1930 para 141.201 t em 1940, geradas na maior parte pelas usinas de Sabará e Monlevade, da Companhia Siderúrgica Belgo-Mineira.

1931 - Capitais franceses e brasileiros fundam a Cia. Ferro Brasileira, em Caeté (MG).

1937 - Na região de Barra Mansa (RJ), a Companhia Metalúrgica Barbará, que já dispõe de uma fábrica de tubos de ferro fundido centrifugados (uma invenção brasileira hoje universalmente adotada sob o nome de Artens e De Lavaud), monta um alto-forno. Diante da escassez do aço, o governo federal atribui prioridades paa aumentar sua produção: institui grupos de estudos (a Comissão de Estudos e a Comissão Executiva do Plano Siderúrgico Nacional) e autoriza a Companhia Siderúrgica Nacional a obter empréstimos no valor de US$ 45 milhões junto ao Eximbank, Banco de Exportação e Importação, visando à construção da usina no município de Volta Redonda, a 100 km do Rio de Janeiro e 350 km de São Paulo.

A Segunda Guerra Mundial atrasa a construção da usina, que é inaugurada somente em 1946 com um alto-forno, obtendo o coque a partir da mistura do carvão nacional (Santa Catarina) e importado (americano). A construção termina em 1948.

Outras usinas são fundadas na década de 1950. A Mannesmann, a maior delas, foi inaugurada em 1953, com capital alemão, mas entrando em operação somente na década seguinte. A Companhia Siderúrgica Paulista (Cosipa) e a Usina Siderúrgica de Minas Gerais (Usiminas) destacam-se ainda entre os principais empreendimentos dessa época, bem como a recuperação da Aços Especiais Itabira (Acesita) pelo governo federal. Neste período registra-se grande expansão de alto-fornos a carvão vegetal, atingindo 89 unidades em 1960.

Estatística de produção de ferro e gusa em arrobas a partir de 1913:

Material produzido em arrobas

Fábrica de ferro de
Prata Echwege

Morro de 
Pilar Câmara

Ipanema Varnhagem

1813 ferro em barras
966
--
--
1814 ferro em barras
997
--
--
1815 ferro em barras
1.278
395
2.354 ar. 15.3/4
1816 ferro em barras
1.134
1.156
2.086 ar. 21.3/4
1817 ferro em barras
917
796-17
2.570 ar. 12.1/2
1818 ferro em barras
--
936-11
1.809 ar. 21
1818 gusa
--
--
2.470 ar. 24
1818 gusa fundido
--
--
642 ar. 12
1819 ferro em barras
--
701-3
2.183 31.1/2
1819 gusa
--
--
7.406 13
1819 obras fundidas
--
--
5.460 4
1820 ferro em barras
--
2.536-31
2.244 6
1820 gusa
--
--
5.841
1820 obras fundidas
--
--
5.999 12
1821 ferro em barras
--
343
2.896 18
1821 gusa
--
--
2.359
1821 obras fundidas
--
--
487 9
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