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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - SFC - 1
Guerra parou para verem futebol do Santos

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Nos tempos de Pelé, o Santos Futebol Clube registrou um tento especial: interromper uma guerra para que o time bicampeão do mundo jogasse com as seleções locais. Aconteceu em 1969, como contou o jornalista Dejair dos Santos na edição de 26/1/1990 do jornal A Tribuna:

A cidade e Pelé, em cartão postal distribuído pela Secretaria de Turismo em 1970/80

O atleta do século, o divino, o maravilhoso: é Pelé

Dejair dos Santos

Magistral, soberbo, fantástico, fenomenal. Um único adjetivo ou mesmo uma série deles não serviria para defini-lo com a exatidão necessária. Só quem o viu jogar pode dizer o quanto ele representou. O Atleta do Século, a Maravilha Negra, a Máquina de Fazer Gols.

Édson Arantes do Nascimento, o Pelé, o homem a quem os franceses, estupefatos, chamaram de o Rei do Futebol, por toda a sua magia e talento. Uma lenda viva, que parou guerras e encantou a todos, de um simples operário ao mais poderoso estadista.

A história deste goleador começou no dia 7 de julho de 1956, em Santo André, quando o Santos venceu o Coríntians local por 7 a 1. Pelé, que ainda atendia pelo apelido de Gasolina, entrou no meio tempo e marcou um gol, o seu primeiro gol. Naquele tempo ele, também, não vestia a camisa 10.

De lá para cá, foram mais de 1.200 gols. Transformou-se no maior artilheiro do Santos FC, da seleção brasileira e do futebol mundial. Além disso, participou de quatro Copas do Mundo e sagrou-se campeão em três delas.

Criador da tabela com as pernas dos adversários, aperfeiçoador da paradinha na cobrança de pênaltis, de cabeçadas, dribles de efeito, catimbeiro incorrigível e algoz do maior inimigo do Santos FC, o Coríntians, Pelé se transformou no grande embaixador da Cidade pelo planeta.

Além de abraçar presidentes de vários países, de ser recebido por Papas, Pelé levou a paz, ainda que temporariamente, a localidades convulsionadas por guerras. Em 1969, o conflito no ex-Congo Belga, entre forças de Kinshasa e de Brazaville, foi suspenso para que o Santos pudesse cumprir um compromisso assumido antes da deflagração das hostilidades.

Para chegar a Brazaville, a delegação foi obrigada a passar antes por Kinshasa, onde foi escoltada por soldados locais até a fronteira guarnecida por militares de Brazaville, que fizeram o mesmo até o local da partida. O Santos jogou e, ao retornar, foi avisado pelas forças de Kinshasa que, se quisesse deixar a região, também deveria atuar contra uma equipe do lugar. Não houve recusa, é evidente, e o Santos jogou. Pelé recebeu inúmeras homenagens e, quando a delegação deixou Kinshasa, a guerra recomeçou.

Outros lances inusitados marcaram a vida do Rei do Futebol, mas anos após ter abandonado de vez os campos de futebol, Pelé ainda representa muito não apenas para a modalidade em si como, e principalmente, para a Cidade que o viu se transformar no Atleta do Século. Pelé ainda é marca registrada da cidade de Santos. Em todas as partes, a simples menção da palavra Santos, seja em referência ao clube ou ao município, evoca sempre a lembrança de Pelé. Houve uma simbiose entre Santos comunidade e Pelé jogador, que nem mesmo o inclemente tempo jamais conseguirá apagar.

Pelé ganhou fama e, com ela, ganhou o mundo. Fez nascer o futebol na Terra do Tio Sam, onde acontecerá o Mundial de 1994. Ele, por certo, não estará em campo, mas não há como negar que, mesmo sem tocar na bola, uma vez que seja, ele será a maior atração do evento. E, mais uma vez, o Santos e a Santos serão lembrados.

O jogo contra a Seleção do Congo (vencido por 3 a 2 pelo Santos) ocorreu em Brazzaville em 19/1/1969, quando Pelé fez os gols 938 e 939 de sua carreira. Com a intimação para jogar em Kinshasa, o Santos enfrentou a seleção B do Congo, vencendo por 2 a 0 (gols de Pelé, no dia 21/1/1969) mas perdeu por 3 a 2 do time Leopardos, dois dias depois, na mesma cidade (onde Pelé marcou os dois gols do Santos).

A matéria de Dejair continua:

O gol mais bonito da carreira de Pelé aconteceu em 1959, durante uma partida entre Santos e Juventus. o time da Vila Belmiro ganhava a partida por 3 a 0 quando, nos instantes finais do jogo, Pelé dribla vários jogadores (dois beques e o goleiro), sem deixar a bola cair no chão, para marcar (de cabeça) o último gol, por ele e pela imprensa especializada considerado o seu mais bonito tento. E assim o Santos venceu o Juventus por 4 a 0.
Foto: Rafael Dias Herrera, em A Tribuna, 26/1/1990 e caderno especial de 20/10/1990

A Vila Belmiro é sinônimo de futebol

Quem entra pela primeira vez no Estádio Urbano Caldeira, na Vila Belmiro, tem a estranha sensação de estar pisando em solo sagrado. Aquela praça esportiva mudou bastante, ganhou novas acomodações e um ar um pouco mais sofisticado. A tradição e a história lavradas em cada centímetro de suas paredes, porém, falam mais alto.

"Santos, Santos, Santos, sempre Santos. Dentro ou fora do alçapão", diz a letra da música que acabou transformada em hino. E foi assim e, provavelmente, ainda o seja, apesar dos tempos não serem mais os mesmos.

Em 1912, em meio a uma acesa discussão sobre qual seria o nome mais adequado ao time de futebol que estava sendo criado e, depois que denominações como África Foot-Ball Club, Associação Esportiva Brasil, Concórdia Futebol Clube foram descartadas, Antônio de Araújo Cunha sugeriu: "que tal nosso clube chamar-se Santos Futebol Clube? É a nossa Cidade, iremos divulgá-la por aí afora".

E foi assim que no salão do Clube Concórdia, no dia 14 de abril daquele ano, nascia um clube de futebol que anos mais tarde viria a se constituir "no orgulho de uma Cidade e honra de uma Nação".

"Sou alvinegro da Vila Belmiro, o Santos vive no meu Coração", letra de outro hino, que provoca arrepios e até faz chorar. A saudade mata a gente, segundo o poeta. Mas o Santos não é só saudades. É presente querendo ser futuro, segundo seus novos dirigentes, há poucos dias empossados.

Antônio Aguiar Filho, o novo presidente do Santos FC, sabe que as dificuldades são muitas, mas que não há motivo para desesperança. Até o final deste mês, o clube deve estar de posse da escritura definitiva do terreno onde está edificando o Conjunto Poliesportivo que empresta o nome de um de seus ex-presidentes falecidos, Modesto Roma.

Por enquanto, no terreno localizado na entrada da Cidade, existe um campo de treinamento com medidas mínimas oficiais - 45 m x 90 m -, mas o projeto prevê a construção de um conjunto aquático, quadra de tênis, ginásio, ginásio poliesportivo e quadras poliesportivas. Isso tudo, em três etapas de construção. As idéias devem, definitivamente, deixar o papel e ganhar a realidade, permitindo que o clube de Urbano Caldeira possa acompanhar o crescimento da Cidade e resgatar a condição de um grande clube, bem mais que um simples time de futebol.

As conquistas - As primeiras conquistas demoraram para acontecer. Somente em 1935, foi que o Santos conseguiu o seu primeiro título de campeão paulista. Já o segundo Campeonato Paulista só foi conquistado 20 anos mais tarde, um ano antes do aparecimento do fenômeno Pelé.

Os títulos então se sucederam em espantosa velocidade. A sala de troféus da Vila Belmiro abriga os símbolos de grandes conquistas: 15 títulos paulistas (35, 55, 56, 58, 60, 61, 62, 64, 65, 67, 68, 69, 73, 78 e 84); cinco vezes campeão do Torneiro Roberto Gomes Pedrosa (59, 63, 64, 66 e 68); pentacampeão brasileiro (de 61 a 65), bicampeão sul-americano (Taça Libertadores da América), em 62/63; campeão da Recopa, em 68; e bicampeão mundial interclubes 62/63, além de também ter sido campeão da Recopa dos campeões do mundo, em 68.

O time do Santos, o time de Pelé, encantou o mundo e ganhou torneios por todas as partes: do México ao Chile; de Madrid a Milão; enfim, em toda parte onde houvesse uma bola rolando, o grande Santos lá esteve.

O jogador Pelé foi homenageado em Santos com a criação de uma data em sua homenagem, como registrou o jornal paulistano O Estado de São Paulo na edição de 15 de dezembro de 1995, página 8 do Clipping/Esportes:


Imagem: reprodução parcial da página 8 do jornal O Estado de São Paulo de 15 de dezembro de 1995 (Acervo Digital Estadão - acesso em 23/6/2012)

Um dia para o rei

O ex-craque Pelé, agora Edson Arantes do Nascimento, ministro dos Esportes, já tem o seu dia. O Dia Pelé, criado pela Câmara Municipal de Santos (SP), será comemorado todo dia 19 de novembro, data em que, em 1969, o Atleta do Século marcou o milésimo gol. Gravando seus pés no cimento, Pelé também inaugurou a calçada da fama, no Estádio Urbano Caldeira, do Santos. Nesse dia, o seu clube venceu o Corinthians por 3 a 0.

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