Histórico do futebol santista
De Vaney
S. Paulo, capital, pioneiro no Brasil, já tinha futebol
desde 1894. O Rio, desde 1896. Campinas, desde 1897. Sorocaba e Rio Grande (R. G. do Sul) desde 1900.
Em Santos, e já se estava em 1902, nada.
Foi quando Henrique Porchat de Assis (Dick Martins), um dos baluartes do
ciclismo, reuniu, certa noite, à porta do Teatro Variedades, um grupo de rapazes, seus amigos, freqüentadores, todos os
dias, daquela casa de diversões, instalada na confluência da Praça dos Andradas com a Rua Quinze de Novembro.
- "Depois do espetáculo - avisou Dick Martins - todos no Tivoli, que eu
lhes vou fazer uma comunicação muito importante".
Tivoli - O Tivoli era um bar que ficava a poucos metros do
Variedades, no local, precisamente, onde se ergue, hoje, o Edifício Rubiácia, Andradas-São Leopoldo.
Era ali, no Tivoli, então cheirando a chopp gelado e a pão de forma
quentinho que fazia esborrachar, gostosamente, as fatias de presunto, era ali que se reunia a nata da mocidade santista daquela época.
Todos - E quando La Soberana acabou de cantar a última copla espanhola,
encerrando o programa do Variedades, o André Miller lembrou aos rapazes que o Dick Martins já estava no Tivoli à espera de
todos.
Os todos: Quintino Ratto, Eduardo Machado, Raul Schmidt, Teodorico de Almeida,
Henrique Tross, João Mourão, Gil Rodrigues, Harold Cross, Vitor Cross, Valter Grimaditch e André Miller.
- "Não falta ninguém?", perguntou Dick Martins ao vê-los entrar no Tivoli.
- "Não. Os que estão faltando, são apenas os que não vieram hoje, ao Variedades".
Motivo - E enquanto a rodada de duplos ia sendo servida, Dick Martins
começou a explicar o motivo daquela reunião:
- "Precisamos tornar realidade aquilo que, até agora, não passou de um sonho de todos
nós".
- "Influir junto aos proprietários do Variedades para que contratem a
Sarah Bernhardt?", indagou Gil Rodrigues.
- "Não. O assunto debatido não será este. É sobre futebol que lhes quero falar.
Afinal, meus amigos, esse esporte, em S. Paulo, no Rio, em Sorocaba, em Campinas, já começa a ficar de cabelos brancos, e nós, por aqui, como se
vivêssemos nos cafundós do Saara, não sabemos, sequer, como é a cor de uma bola de futebol".
Fez uma parada. Olhou as fisionomias dos amigos, para poder aquilatar os pró e os
contra.
Os rostos se lhe pareceram denotar unanimidade de prós. Animou-se Dick Martins.
E prosseguiu:
- "Que tal se fizéssemos uma tentativa? Chega, parece, de ficar de braços cruzados,
ou, melhor, de pernas cruzadas, já que se trata de futebol".
Votos
- "Ponhamos o assunto no banco dos julgados - sugeriu Harold Cross - Quem concordar com a
idéia do Dick Martins, braço para cima. Quem discordar, que fique quieto".
Ninguém ficou quieto.
Dez braços estendidos, em vertical, fizeram com que 10 mãos espetassem o espaço.
- "Aceita a sugestão do Dick Martins, por unanimidade", sentenciou Harold Cross.
E foi conferida a Dick Martins a incumbência de tratar de tudo.
Bola - Dick Martins agradeceu. Depois, acrescentou:
- "Claro que o primeiro que se tem a fazer é comprar duas bolas".
- "Compra-se!"
- "Mas olhem que custa caro. É material importado da Inglaterra".
- "Quanto?"
- "Quinze mil réis cada uma!"
- "Bem. Caro, é. Mas abre-se uma lista para rateio".
- "Então, que se abra já", gritaram todos.
E a lista foi aberta.
Diferente - Assina aqui, assina ali, assina acolá, em 10 minutos de giro da
lista, a quantia apurada ultrapassava ao preço das duas bolas.
A alegria tomou conta do ambiente:
- "Pois vamos comemorar o acontecimento com uma segunda rodada de chopp!"
E foi comemorado.
- "Que tal uma terceira rodada?"
E veio a terceira rodada.
Madrugada botando a cabeça de fora, lá em cima do céu, e o Tivoli ficando cada
vez mais sonoro de hurras, mas de hurras diferentes dos comuns, espantando os que passavam pela praça deserta:
- "Futebol!... Futebol!... Futebol!..."
E o transeunte, intrigado, perguntava para seus botões:
- "Futebol?... Que artista será este que estreou esta noite no Variedades?...
Ou será um político do Rio?... Ou será um poeta do Norte?"
Outubro - Outubro de 1902 ia findando. Henrique Porchat de Assis, o infatigável
Dick Martins, terminara a sua missão da compra das bolas. Levou-as, embrulhadas, ao Variedades.
Todos querendo vê-las.
- "Apalpar, podem. Ver, não - comandava Dick Martins -. Ver e jogar, só no
domingo".
- "Então, é domingo o nosso primeiro contato com o futebol?"
- "Sim. É no domingo, dia 1º de novembro, na Praia da Barra, que pela primeira vez em
Santos saltitará uma bola de futebol!"
Na véspera, no sábado, 31 de outubro, o Variedades contratara em S. Paulo três
cançonetistas francesas, para reforçar o show. Mas a rapaziada nem se deu conta da presença das três chanteuses gomeuses, porque a
idéia fixa era a bola de futebol:
- "Não se esqueça! É amanhã, na Praia da Barra!"
- "A que horas?"
- "Às oito!"
E nem eram ainda 11 horas daquele sábado tão promissor de sucessos de cançonetistas e
de números internacionais, e o Variedades já estava vazio da moçada que ali comparecia habitualmente.
Barra - Praia da Barra, hoje, é a Praia do Boqueirão. O
local escolhido por Dick Martins foi - 100 metros por 70, tal como mandam as leis do Association - o areial fronteiro à
capelinha do Embaré, onde, agora, se encontra a igreja.
Henrique Porchat de Assis, morador junto à capela, foi o primeiro a chegar à praia,
vindo pelo "Cano Grande", hoje "Canal 4".
Os dois arcos, Dick Martins já os armara, na véspera, e se compunham de varas
de bambus, com cordão esticado, papel colorido colado no cordão, para que se o divisasse melhor.
Foram chegando os pioneiros: André Peixoto Miller, Luiz Nery de Souza Jr., Roberto
Muller, Francisco Salgado César, Raul Schmidt, Gil de Souza Rodrigues, Vitor Cross, Manoel Baraúna Nery, Teodoro Joyce, Quintino Ratto, Walter
Grimsditch, Teodureto Faria Souto, Jonas da Costa Soares, Teodorico de Almeida, Eduardo Cunha Machado, Leão Peixoto de Mello, Lucas Fortunato,
Francisco Martins dos Santos Filho, A. Werneck, Harold Cross, Agenor da Cunha Machado e João Mourão.
- "Justamente 22! A conta certa para dois teams", gritou Dick Martins ao
chegar o último.
Alguns - Dos 22, apenas conheciam o futebol 6: - Harold Cross, Vitor Cross,
Teodoro Joyce, Walter Grimsditch e Francisco Martins dos Santos Filho. Os outros 16 iam começar naquele instante.
E faziam perguntas a Henrique Porchat de Assis:
- "É preciso tirar a gravata?"
- "Não. Basta afrouxar o laço".
- "Tenho que levantar a barra da calça?"
- "Se você quiser levantar, levante, mas não é obrigatório".
Hora - Era precisamente 8 horas e 25 minutos do dia 1º de novembro de 1902
quando rolou, para ser disputada por duas equipes, na cidade de Santos, a primeira bola de futebol aqui chegada.
E o jogo começou - Dick Martins ensinando como era a falta, como era o toque, o
escanteio, o penal, o impedimento, tudo enfim - o jogo começou com a quase totalidade da rapaziada vestindo roupas de todos os dias, de gravata, de
colete, de suspensório, e uns, até, de paletó, colarinho duro, e de chapéu côco na cabeça.
Sucesso - Como era a primeira vez, disputou-se apenas um tempo. Da contagem
ninguém se recorda, porque ninguém fez grande caso dela. Do que se conhece por inteiro, é do sucesso que o futebol obteve no conceito daqueles
primeiros praticantes:
- "Que jogo eletrizante! Bole com os nervos! E como é rápido, santo Deus!"
E crivaram Dick Martins de indagações:
- "Domingo que vem, tem mais?"
- "Tem! Todos aqui, à mesma hora".
Plantio - Noticiando o fato, A Tribuna publicava: "Por iniciativa de um
grupo de rapazes, tendo à frente o jovem Henrique Porchat de Assis (Dick Martins), teve lugar na Praia da Barra um training de
football que foi o primeiro a ser realizado não só nesta cidade como em todo o litoral paulista. A tentativa aprovou em cheio. É um divertimento
que, em se o amparando, dar-nos-á em glórias, tudo". Foi esta a primeira notícia surgida em jornal, em todo o litoral Sul do Brasil.
Era A Tribuna o órgão pioneiro.
Estava plantado o arbusto que, um dia, já árvore frondosa, daria frutos denominados
"Tricampeonato do Brasil", "Bicampeonato das Américas" e "Bicampeonato do Mundo".
Valer - Os jogos-treinos foram-se amiudando. E, de tanto repetidos, acabariam
por enfarar. Foi, ainda, por iniciativa de Dick Martins que, ali mesmo, na areia da Praia da Barra, realizou-se um "jogo para valer".
O adversário dos santistas - primeiro, na história do futebol praiano - foi um combinado vindo de S. Paulo, com jogadores do Mackenzie, do
Paulistano, do Germânia.
- "Surra de quanto nos santistas?"
- "Que surra, qual nada. Vitória! Vitória do Santos, por 3 x 1!"
Como se vê, fiel à sua tradição, ao seu destino, a cidade de Santos, na primeira vez
em que se bateu, também em futebol, venceu o duelo, graças à sua bravura, por 3 estocadas contra uma.
Inter - A semente plantada nas areias da Praia da Barra germinou logo. Dezembro
estava findando, alegria da vitória sobre o combinado de S. Paulo ainda fazendo sorrir aos moços que a conquistaram, e já se articulavam, eles, para
a fundação de um grêmio. E a 6 de janeiro de 1903, por iniciativa, ainda, de Henrique Porchat de Assis, que recrutou aderentes no
Clube XV, e tendo a cercá-lo alguns daqueles que haviam participado do primeiro movimento de bola na Praia da Barra, era
fundado no Miramar (Boqueirão com Conselheiro Nébias, lado esquerdo de quem olha para o mar) o Clube
Atlético Internacional.
Campo - O campo do C.A. Internacional - o 1º a surgir em Santos e em todo o
litoral Sul do Brasil - foi construído pelo engenheiro Alexandre Rodrigues, à Avenida Ana Costa, no local onde se
encontra, hoje, a Igreja do Coração de Maria, na Vila Mathias.
Foi ali que se efetuaram as primeiras partidas de futebol junto ao Atlântico Sul - do
Rio de Janeiro à fronteira do Rio Grande com o Uruguai - e que reuniam o Internacional e equipes formadas pelas guarnições dos navios de guerra
estrangeiros fundeados no Valongo.
Também ali se realizaram os jogos "Internacional x Americano", o 1º derby do
futebol local. Foi ali, outrossim, que pela 1ª vez se apresentou um quadro da capital, o Ipiranga, enfrentando o Internacional, para quem perdeu por
1 x 2.
Estímulo - A todas essas iniciativas pioneiras, jamais faltou o apoio efetivo
de A Tribuna, primeiro jornal - entre a Baía da Guanabara e a cidade extremo-Sul do Brasil, Santa Vitória dos Palmares, numa distância de
1.873 quilômetros - a noticiar o 1º movimento de bola de futebol, a fundação do 1º clube, a realização do 1º jogo regional, a efetuação do 1º prélio
intermunicipal, a concretização do 1º cotejo internacional. Não há um só empreendimento, uma só campanha, uma só articulação coletiva visando o
progresso e a dinamização do futebol em Santos, em S. Vicente, no Guarujá, enfim, na
hoje chamada "Baixada Santista" - de maneira impressionante, e de uma expressão de singular devotamento - se constatam ao simples manusear de suas
páginas, através dos anos.
Quadro - Naquela vitória da cidade de Santos (C.A. Internacional) por 2 x 1,
sobre S. Paulo (C.A. Ipiranga), a equipe internacionalista, cuja constituição aqui vai como homenagem ao marco de ouro que soube erguer logo
no começo da estrada gloriosa do futebol de nossa terra, foi a seguinte: J. Thompson, Walter e Trail; André Miller, Joyce e Cox; Charles Murray,
Cross, Marsland, Lloyd e Harold Cross.
Realce - O grande acontecimento, ao início do futebol santista, foi a vinda do
famoso selecionado da Argentina (1906), o mesmo que batera, dias antes, as seleções paulista (6 x 0), brasileira (4 x 0) e carioca (3 x 0).
Os argentinos viajaram do Rio para Santos no Araguaia, e foram tão
carinhosamente tratados, que o Internacional e a Prefeitura receberam ofícios pessoais do presidente da Argentina, agradecendo-lhes a recepção e a
hospedagem.
Perderam, os santistas, por 6 x1, mas aquele "um" do Internacional, de autoria do
meia-direita Argemiro, queria dizer que o único tento sofrido pelos argentinos, no Brasil, fora de autoria de um clube santista, já que os
brasileiros, os paulistas e os cariocas haviam perdido a zero.
E isso mereceu - e não era para merecer? - o estalejar de foguetes e o ronquejar de
bombardas.
Campeonato - Foi o C.A. Internacional o 1º clube de Santos (e do Interior) a
participar do Campeonato Paulista de Futebol. Isso aconteceu em 1907. A estréia, no Velódromo (capital), ocorreu contra o S. Paulo Athletic Club, um
legítimo campeoníssimo no pebol paulista e brasileiro. As apostas davam ao Internacional uma vantagem esmagadora, e os gols de lambugem
ultrapassavam a casa dos 6.
Pois bem: - Internacional, 1 x 0! Gol de Cross.
E nos dois campeonatos de que participou (1907 e 1908), até começar o seu esmaecer
(1910), o C.A. Internacional teve sempre atuação digna de aplausos.
Americano - O E. C. Americano, idealização de Sizino Patusca, Américo Martins,
Antônio Pinto, Manuel Paixão, A. Munhoz e Armando Paixão, foi fundado em Santos 4 meses e meio (21 de maio de 1903) após o C.A. Internacional. Sua
praça de esportes localizava-se na confluência da Rua Visconde de Embaré com a Praça dos Andradas.
Uma glória nacional imorredoura, o E. C. Americano. Foi ele quem obteve para o Brasil
a primeira vitória internacional, ao derrotar - após os mais famosos clubes brasileiros o haverem inutilmente tentado - aos uruguaios, por 3 x 0, na
Floresta (capital), no dia 13 de agosto de 1911, e isso, depois de 14 derrotas sofridas - desde o início das atividades - pelos clubes e seleções
brasileiras.
Foi, ainda, o E.C. Americano quem conquistou para o Brasil a sua 1ª vitória fora do
País, fato que sucedeu em Buenos Aires no dia 10 de agosto de 1913, campo do Racing, cabendo o triunfo ao Americano por 2 x 0, ante o selecionado da
Argentina.
O E.C. Americano, que foi campeão paulista no ano de 1912 e 1913 (quando já possuía
sede em S. Paulo), representou condignamente o futebol de Santos, de S. Paulo e do Brasil, sendo apontado como uma das forças vivas do desporto
nacional, à época de seu fastígio.
Surto - O futebol litorâneo, cujo surto de progresso se iniciara em 1903, com
as fundações do Internacional e do Americano, ganhava em 1906 mais um soldado destemido a guarnecer suas trincheiras - o S. Vicente A.C., que surgia
a 11 de julho daquele ano, em plagas calungas, onde pontificou, também, o imortal Chantecler.
No José Menino, aparece o Campo dos Ingleses (Santos
Athletic Club, na Rua Santa Catarina, esquina com Rio Grande do Sul, tomando todo o quarteirão). É ali que se realizam prélios com
representações de navios de guerra ou vapores mercantes. O futebol já pode andar sem amparos. Ganha independência.
Funda-se (14-4-1912) o Santos F.C. Um ano depois (7-9-1913) é
o Clube Atlético Santista quem desponta. Vêm, a seguir, o Brasil F.C. (21-8-1913), o América F.C.
(1-9-1913), o Escolástica Rosa (7-9-1913).
Já dá para fundar uma liga. Fundam-na, em 1913. É a 1ª Liga Santista de Futebol.
Apenas o Brasil F.C., ainda não de todo organizado, deixa de participar. O Santos F.C. é o campeão, tendo como concorrentes o Atlético, o América e
o Escolástica Rosa. O Santos assinala 31 pontos e sofre apenas 1. Neste mesmo ano (1913), o Santos F.C., que disputara o Campeonato Paulista de
Futebol, obtém o 2º lugar. Licencia-se do certame em 1914. E, em 1915, com o nome de União - porque a entidade paulista não permitia que seus
filiados disputassem por outras associações - o Santos F.C. vence o campeonato da 2ª Liga Santista de Futebol, ganhando no turno e returno, da A.A.
Americana (fundado em 14-7-1914) , do Chantecler (18-8-1914), S.P.R. - hoje Nacional - (27-7-1914) e Brasil.
Prossegue - O crescimento do futebol santista, já reforçado com a fundação do
C.A. Edu Chaves (15-11-1913), prossegue, com o nascimento de outros grêmios: A.A. Aliança (24-4-1914), Atlas-Flamengo (11-7-1914), Espanha F.C.,
hoje Jabaquara (15-11-1914), Vera Cruz F.C. (1-14-1915), Síria F.C. (1-5-1915), C. A. Luzitano (4-7-1915), Libertário F.C.
(1-1-1916), São Bento F.C. (13-5-1916), Quinze de Novembro F.C. (15-11-1916), A.A. Internacional (7-1-1917), A.A. Portuguesa
(20-11-1917), União Fluminense (1-1-1918), Tecelagem F.C. (18-1-1918), Palestra Itália (15-11-1919).
A.S.E.A. - A 21 de abril de 1917, à Praça da República, 24, era fundada a
Associação Santista de Esportes Atléticos, constituída pelos seguintes clubes: América, Brasil, S.P.R., Aliança, Espanha, Atlético, Portuguesa,
Luzitano, Palestra Itália, Internacional e Atlas Flamengo.
Da A.S.E.A. foram campeões: 1917, Atlético; 1918, Brasil; 1919, Atlético; 1920,
Atlético; 1921, S.P.R.; 1922, Brasil; 1923, Portuguesa; 1924, Portuguesa; 1925, Americana; 1926, Portuguesa; 1927, Portuguesa; 1928, Atlas-Flamengo;
1929, Santos; 1930, Espanha; 1931, Portuguesa; 1932, Portuguesa; 1933, Portuguesa; 1934, Portuguesa; e 1935, S.P.R.
Em 1924 foi fundada, paralela à A.S.E.A., a Associação Santista de Amadores de
Futebol, da qual participaram S.P.R. (campeão), Atlético (vice), Brasil, América e Palestra Itália. Essa entidade desaparecia em 1925, retornando à
A.S.E.A. os clubes S.P.R., Brasil e América, ao passo que o Palestra Itália extinguia a sua seção de futebol, e o Atlético ingressava na Liga de
Futebol Amador (LAP), com sede em São Paulo).
Cisão - Eclodida em 1925 - com a criação da LAF -, a crise que se fez sentir no
futebol paulista durou 5 anos (1925-1929). A luta entre a entidade lafeana e a APEA constituiu-se em uma das páginas mais tristes e, paradoxalmente,
mais brilhantes, do futebol bandeirante. As duas facções contavam, cada qual, com homens de cultura, inteligência e, sobretudo, de fino tato
político e de incontestável agudeza na habilidade de tecer tramas em busca das supremacias para suas entidades.
Em Santos, o Santos F.C. liderava a APEA, e o Atlético a LAF.
Sem tomar partido, mantendo uma linha de equilíbrio que jamais deixou de existir, A
Tribuna manteve-se eqüidistante, ao centro ou ao derredor dos acontecimentos, pugnando, tão somente, acima dos interesses clubísticos e
pessoais, por uma posição de relevo para o futebol santista.
Às vezes, no vale tudo em que se transformara a luta entre LAF e APEA, os
próceres se desmandavam, ao sabor da ardorosidade que os empolgava. E era de A Tribuna que partia o sinal de advertência, chamando ao bom
senso os que o perdiam, temporariamente.
Ao final da batalha, em que pese o desaparecimento da LAF, não houve vencedores em
Santos, eis que tanto o Santos F.C. quanto o Clube Atlético Santista mereceram os aplausos gerais, pela firmeza com que se haviam batido, em campos
opostos, é verdade, mas com um mesmo ideal em mira: o engrandecimento dos nossos desportos.
Pujança - Serviu, a cisão, para demonstrar, de forma eloqüente, o valor do
futebol santista, e isso porque o espetáculo da existência de duas ligas, em Santos, ambas bem nutridas de aspirações, ambas vigorosas pela rigidez
de suas contexturas, ambas destemerosas, férteis em suas elevadas realizações, permitiram a exemplificação de uma pujança que, além daquela exibida
durante 5 anos por Santos, não teve similar, nem parecença, Brasil afora.
Foi uma época, aquela, em que Santos deu o primeiro passo decisivo a caminho do título
máximo constante em seus anais: "Município mais Esportivo do Brasil".
Brasil - Demonstrações de civismo, ninguém as deu mais que Santos, sempre que
se objetivou a grandeza do futebol brasileiro.
Em 1920, por exemplo, a entidade paulista (paulistana), sempre às rixas com a entidade
carioca, resolveu negar seus jogadores (95% da nata do futebol nacional) ao selecionado brasileiro que, no Chile, iria disputar o Sul-Americano.
Pois o Santos F.C., interpretando o sentir de sua cidade, pôs à disposição do Brasil os seus elementos. E dois deles - Constantino e Castelhano - lá
se foram rumo a Viña del Mar, integrando a delegação brasileira.
Em 1925, quando o Paulistano careceu de um dianteiro para a sua ida à Europa, eis o
Santos F.C. a se privar do concurso temporário, mas danoso, de seu meia-esquerda, Araken Patusca, para que o Paulistano pudesse brilhar, como de
fato sucedeu, no Velho Mundo, repetindo-se, assim, a mesma atitude tomada pelo Santos F.C. em 1914, quando cedeu seus dianteiros, Adolfo Millon e
Arnaldo Silveira, ao selecionado brasileiro - via C.A. Paulistano - que trouxe para o Brasil a 1ª (e a única autêntica) "Taça Roca", ganha em Buenos
Aires, com o 1 x 0 favorável aos brasileiros, ante a Argentina.
No sul-americano de 1916 (Buenos Aires), lá estavam Millon e Arnaldo, ambos do Santos,
a formar no selecionado de nossa pátria, fato esse que se repetiu, com os mesmos jogadores, em 1917 (continental de Montevidéu).
Em 1930, quando nova cisão enegreceu o futebol brasileiro, o único paulista a formar
no selecionado do Brasil que participou do 1º Campeonato Mundial de Futebol, na capital uruguaia, foi o santista Araken Patusca.
Antes, em 1929, quando o Brasil enfrentou o famoso Motherwell, campeão profissional da
Escócia, a vitória do Brasil - estádio do Fluminense - foi por 5 x 0. Pois bem: 4 gols da equipe nacional foram de autoria do jogador de um clube
santista, o Santos F.C., chamado Luiz Matoso e apelidado Feitiço.
Em 1936, é Santos, pela Portuguesa, quem dá Tim e Argemiro ao selecionado brasileiro
no sul-americano de Buenos Aires.
E as contribuições de Santos ao Brasil se perdem na imensidão dos fatos. Ainda agora
há pouco, Mauro, Zito, Gilmar, Pepe, Pelé, Mengálvio, Coutinho, davam ao Brasil o título de campeão do mundo e, alguns deles, o de bi-mundial.
Capitães - Vale relembrar que os dois maiores títulos até hoje obtidos pelo
Brasil, ambos de grande repercussão, tiveram como capitães das equipes que nos dignificaram elementos pertencentes ao pebol santista.
A primeira vez ocorreu em 1919, quando o selecionado brasileiro vencedor daquele
sul-americano que serviu de início à arrancada internacional de nosso País, através os caminhos do globo, teve a capitaneá-lo o santista Arnaldo
Silveira.
A segunda vez, em 1962, quando o Brasil, reafirmando o seu poderio, apôs pela segunda
vez o seu nome na taça "Jules Rimet", quem capitaneou o conjunto nacional foi outro elemento radicado a Santos: Mauro Ramos de Oliveira.
Esses detalhes, assaz expressivos pelos seus significados, demonstram, de forma
cristalina, que poucas terras no mundo têm dado tanto, em glórias, à sua pátria, como o fez e faz a cidade de Santos.
S. Paulo - Por São Paulo muito tem se batido, e muito tem contribuído, a cidade
de Santos, através dos tempos. O futebol paulista ainda estava engatinhando e já Santos, pelo Santos F.C., fornecia à seleção bandeirante as figuras
sempre destacadas de seus dianteiros Adolfo Millon e Arnaldo Silveira.
Depois, ao longo da caminhada de São Paulo, eis Santos a contribuir para os
selecionados paulistas, quer em disputa de taças com cariocas, mineiros, gaúchos, paranaenses etc., quer em jogos válidos para campeonatos
brasileiros, servindo a São Paulo em bandeja de ouro as figuras inesquecíveis de Haroldo, Camarão, Siriri, Omar, Athié, Evangelista, Tuffy, Araken,
Alfredo, Feitiço, Constantino, Ciro Portieri, Neves, Agostinho, Tuffy (da Portuguesa), Tim, Armandinho, Raul, Argemiro, Saci, Gradim, Mendes,
Cláudio e Rui.
E tempos houve, ainda bem próximos, em que a F.P.F. requisitava para uma mesma seleção
nada menos de 9 jogadores de Santos: Hélvio, Ivã, Ramiro, Formiga, Zito Del Vecchio, Vasconcelos, Jair e Tite.
Pensou-se que esse recorde brasileiro de requisições jamais fosse ultrapassado. Pois
bem, um ano mais tarde, a marca era superada porque a F.P.F. convocava Manga, Hélvio, Ivã, Ramiro, Formiga, Zito, Tite, Pagão (Álvaro), Del Vecchio,
Vasconcelos e Pepe. Um time todo e mais um reserva, num total de 12 elementos convocados, fato virgem no mundo inteiro.
Campeões - Jogadores de Santos, campeões brasileiros por São Paulo, existem em
impressionante quantidade: Feitiço, Athié, Cláudio, Rui, Camarão, Neves, Armandinho, Raul, Rui, Tuffy, Argemiro, Tim, Tite, Hélvio, Zito, Formiga,
Pepe, Antoninho, Jair, Ramiro, Del Vecchio, Pelé, Getúlio, Dorval e Coutinho, muitos deles bi, tri e tetra-campeões.
Páginas - Magníficas páginas escreveram os clubes santistas no histórico do
futebol brasileiro. Em Vila Belmiro, por exemplo, no triênio 1929-1931, tombaram, ante o Santos F.C., os mais famosos esquadrões do mundo àquela
época. A seleção francesa, que retornava do campeonato mundial de Montevidéu (1930), onde obtivera um brilhante 3º lugar, foi fragorosamente
derrotada (6 x 1) pelo Santos F.C. E os gauleses só se convenceram de que haviam enfrentado o Santos, mesmo, e não o selecionado brasileiro, quando,
conduzidos à sede da Rua Itororó, pelo presidente Guilherme Gonçalves, este lhes mostrou a fotografia da equipe do Santos, a mesma que ganhara,
havia poucos minutos, no campo da Vila Belmiro.
Em 1931, o selecionado uruguaio, tricampeão do mundo, atuando sob a denominação de
Bella Vista, e que ganhara por 3 x 1, três dias antes, do até então invicto selecionado paulista, conhecia na Vila a sua primeira derrota em
8 anos seguidos de andanças internacionais, por 2 x 1.
Huracan, Rampla Juniors, Tucuman, Barracas, Sud-America, clubes todos eles de renome
mundial, encontravam - após campanhas magistrais por outras plagas - o seus implacável Waterloo no retângulo da Vila, que jamais deixou de ser
famosa.
A A.A. Portuguesa, que em 1929 lograva uma façanha das mais cintilantes ao bater o
vitorioso Vitória, de Setúbal, por 4 x 0, retornava, de maneira ainda mais sensacional, ao palco do teatro mundial de futebol, ao assinalar 15
vitórias sem uma só derrota, sem um só empate, nos 15 jogos por ela disputados em 1950, ao longo da África, sendo, por isso, em direito de
conquista, a verdadeira "Fita Azul" do futebol brasileiro.
Façanhas - Na área nacional, não é menor nem menos bela a trajetória do futebol
santista. O Santos, convidado pelo Vasco da Gama para ir inaugurar o estádio de S. Januário em 1927, levou e vencida ao formidável esquadrão
vascaíno por 5 x 3, roendo, assim, a corda ao Vasco, que convidara o Santos certo, certíssimo, de que inauguraria a sua majestosa praça de esportes
com um triunfo não menos espetacular.
Pois o Vasco, não se conformando, pediu revancha. O Santos concedeu.
4 x 1.
- "Para o Vasco?"
- "Não. Para o Santos".
Mas o Vasco queria desforrar-se, fosse de que maneira fosse. E convidou a Portuguesa,
que, por ser de Santos, estava a calhar.
A Portuguesa foi a São Januário. E quando de lá voltou, trazia consigo também um 5 x
3.
- "Para o Vasco?"
- "Não. Para a Portuguesa".
Estádios
- Quando havia um estádio a ser inaugurado, e que era preciso chamar uma equipe de renome, ninguém, no Brasil, se lembrava do Palestra, do Flamengo,
do Coríntians, do Fluminense, do São Paulo, do Botafogo, da Portuguesa de Desportos ou do Vasco da Gama, mas sim, sempre, do Santos F.C.
E o Santos ia, via, vencia e voltava cada vez mais envolto em glórias para ele e para
a sua terra.
A Portuguesa volta e meia era convidada a excursionar ao Rio e ao Norte do país, o
mesmo sucedendo em relação ao Espanha, que também sempre honrou o seu torrão natal em outras terras daqui distantes.
Atlas-Flamengo e S.P.R. excursionaram ao Paraná e ao Rio, respectivamente provando que
a fama de Santos não se resumia à epiderme dos grandes clubes, mas, sim, também, à profundidade dos grêmios de aparente menor ressonância.
Disciplina - Um ponto de referência sempre prodigalizou orgulho à gente
santista: a disciplina de seus clubes, quando a iam representar.
Estivessem onde estivessem, e quando as injustiças recebidas estavam a exigir uma
reação mais pronta, mais eloqüente, eis que um grito de comando chamava tudo e todos à realidade:
- "Não quebrem a distinção! Olhem que estamos representando Santos!"
E tanto bastava para que não houvesse o desvio de um milímetro na elegância da atitude
dos santistas.
O Santos F.C. trouxe do Rio, para ofertar à sua cidade, o título mais nobre de que se
tem conhecimento: "Campeão da Técnica e da Disciplina".
Dignidade - Quer nos momentos de tranqüilidade, quer nos instantes de vacilação
em que as cisões ameaçaram a estrutura do futebol brasileiro, jamais a cidade de Santos - pelos seus clubes, pelos seus próceres - perderam a
serenidade ou baixaram ao terreno da vingança a todo o preço.
A dignidade foi sempre uma constante na existência do futebol santista. E esse
conceito de tal forma se arraigou, que basta ser de Santos para que, clube ou dirigentes, já tenham, de antemão, um crédito de confiança ao seu
dispor.
Esse privilégio não nasceu da noite para o dia. Ele foi, isso sim, o fruto de uma
conduta impecável de muitos em muitos anos, em que o gesto firme e correto jamais deixou de ser a tônica nas atitudes santistas.
Patrimônio - Além de seu acervo de glória, que se traduz pelas vitrinas
repletas de taças conquistadas pelo Santos F.C., A.A. Portuguesa, Jabaquara A. C., Clube Atlético Santista, A.A. Americana, Brasil, S.P.R.
(Nacional), Libertário, Senador Feijó, Afonso Pena e muitos outros que formam no panteon dos nossos esportes, também o patrimônio do futebol
santista é dos mais ricos, eis que a Portuguesa possui uma praça de esportes de grande envergadura e o Santos um dos mais amplos estádios do Brasil,
luxuosamente recheado com a sua sede, uma das mais lindas dentre quantos clubes existem na América do Sul e no mundo.
L.F.A.S. - A Liga de Futebol Amador de Santos, fundada a 18 de maio de 1941, na
sede da Liga Santista de Basketball, à Praça Mauá, foi, durante muito tempo, um dos motivos de orgulho do nosso esporte.
Tendo a dirigi-la a dedicação, a honestidade, o espírito bem-avisado dessa figura de
escol, rara sob todos os aspectos, que é a do devotado Aníbal Souza, a Liga de Futebol Amador de Santos recebeu, por parte do major Sílvio de
Magalhães Padilha, a denominação que, partida dos lábios de quem a pronunciou, constitui-se no mais refulgente crachá que se poderia por no peito de
alguém ou de alguma coisa: "Liga modelo de todas as outras ligas e entidades".
Sempre honrou esse título, a L.F.A.S., durante a gestão de Aníbal Souza, que soube
como conduzi-la a local de relevo através da segurança e da clareza nas linhas mestras de seu arcabouço.
Contendo em sua diversificação várias divisões - desde a que reúne a petizada, até
aquela que enfeixa os pertencentes à Divisão Principal - a L.F.A.S. constituiu-se, desde o seu advento, num autêntico celeiro de craques. Vários
jogadores, hoje de excelsa nomeada, foram plasmados pela mão amiga, vigilante, sábia, da Liga de Futebol Amador de Santos.
Sua organização servia-lhe de base, sua correção era-lhe a estrutura, e a firmeza em
sua direção era como o leme de barco a singrar com velas abertas ao vento.
Foi um trabalho constante, de comprovado rendimento, o que a L.F.A.S. realizou em prol
do desenvolvimento do futebol em plagas santistas. E o conceito que dela ainda hoje se infere é conseqüência do labor profícuo que a ela se
imprimiu.
Semente e forja, a um só tempo, a Liga de Futebol Amador de Santos é toda uma síntese
magnífica da riqueza de qualidades, inatas ou buriladas, que faz do menino e do moço santistas ou aqui viventes, o melhor praticante do futebol, que
se conhece.
Várzea - Não só ao futebol oficial deve, Santos, a sua projeção na tela alta do
futebol brasileiro, mas, também, e muito, a essa várzea heróica, quase sempre omissa, quase sempre anônima, mas de onde promanam, aos jorros, o
sangue novo de que se nutrem e vivem os que conseguiram atingir posição de relevo.
A Várzea Santista - em cada canto um campo, como acontecia outrora - foi uma das
alavancas principais para a ascensão do nosso futebol. Clubes modestos, ignorados por todos, produziram muito ouro que luziu, luz e luzirá, pelos
tempos a dentro.
Pena que os poderes públicos - sentindo, como todos, o problema, cada vez mais sério,
cada vez mais grave, da falta de local para campos de pebol - não se movimentem no sentido de dar a Santos os "Estádios distritais" (para o que
existe projeto, de autoria do então vereador Rubens Ulhôa Cintra), capazes de desviar para as praças de esportes os que, sem a sua prática, poderiam
- ou podem - se encaminhar para os botequins.
Jamais foi tão heróica, como o é agora, a nossa várzea. Mas dias melhores hão de vir,
e então, se premiará com justiça a quem, como ela o tem feito há mais de meio século, sempre se bateu de peito aberto pelo progresso do futebol de
nossa terra.
Assessora - Nenhum acontecimento relativo ao futebol, quer em Santos, quer nos
municípios e cidades circunvizinhas, deixou de contar com o amparo - se para o bem - ou a repulsa - se para o mal - de A Tribuna.
Desde aquela manhã de 1º de novembro de 1902, quando se movimentou pela primeira vez
uma bola de futebol em chão santista, até os dias que correm, quando, agora, todos os títulos possíveis, no Brasil, nas Américas e no Mundo,
pertencem a esta cidade, jamais deixou A Tribuna de estar presente, com o seu noticiário, com a sua orientação, com o seu conselho de irmão
mais velho, com o seu comentário surgido no momento oportuno, e, sobretudo - pena em riste - para defender, a todo o risco o que era de nossa terra,
e que outrem, de algures, queriam arrebatar.
Campanhas, movimentos cívico-esportivos, torneios, certames de diferentes naturezas,
pretensões e aspirações para a consecução de idéias de longo alcance, tudo, enfim, tocante ao futebol santista, jamais deixou, dia por dia, hora por
hora, instante por instante, de ter o apoio desinteressado incondicional desta folha, que seguiu, assim, os ditames da imposição que a si mesmo
cominou: "Ser a arauta dos desportos de Santos".
Em todas as iniciativas, sem se tornar omissa em uma vez sequer, A Tribuna
participou de maneira decidida, de todas as fases, boas ou más, marcando por vezes autênticos recordes em primazias julgadas inatingíveis, como
daquela feita em que, no ano de 1929, quando a radiofonia ainda não saíra do berço, conseguiu irradiar - telefone, telégrafo, máquinas de
escrever, microfones internos e auto-falantes externos, tudo entrosado, tudo conjugado para o mesmo fim - conseguiu
irradiar, pela primeira vez no mundo, uma partida de futebol disputada entre o Santos e a seleção da Bahia, diretamente do estádio da Graça, na
capital da "boa terra".
Empreendimentos como esse, em prol do futebol, A Tribuna se honra - já agora
aos 70 anos de existência - de haver realizado em tão enorme quantidade, que a descrição dos fatos e dos feitos não caberia numa edição inteira
deste matutino.
Vaticínio - A Tribuna, ao noticiar o primeiro jogo de futebol em Santos,
reviveu Pero Vaz Caminha ao anunciar a el-rei de Portugal a descoberta de novos chãos.
Pero Vaz Caminha escreveu: "A terra é de tal forma graciosa que, em se querendo,
dar-se-á nela tudo".
A Tribuna, ao comentar o primeiro jogo, escreveu: "É um divertimento que, em se
o amparando, dar-nos-á em glórias, tudo".
E antes que outros se olvidassem de ampará-lo, ela o principiou a fazê-lo.
E nunca mais interrompeu o seu trabalho de estímulo, já lá se vão 62 anos que a
primeira bola de futebol saltitou pela vez primeira na areia da Praia da Barra, hoje do Boqueirão. |