O TEFFI - Teatro Escola da Faculdade de Filosofia
Começou em 62, reunindo inicialmente universitários da Faculdade de Letras de
Santos, depois aceitou estudantes de todas as faculdades. Foi fundado e dirigido até 1963 por Raimundo Campos, que encenou a peça Quem Casa, Quer Casa, de Martins Pena. Depois, Nossa Cidade, de Thornton Wilde, sob direção de Greghi
Filho.
Em 64 passou para a direção de Carlos Alberto Soffredini, que montou Vestido de Noiva, de Nelson Rodrigues. O grupo foi dirigido
por Jandira Martini em 65, com a peça O Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente. Neste ano fora convidado a participar do Festival de Teatro de Nancy, mas não conseguiram dinheiro para passagens. Foram contemplados com duas bolsas de
estudos na França, dadas à Ilza Novita e Nélio Mendes, que estavam no último ano da faculdade. Esta movimentação serviu de incentivo para o surgimento do autor Soffredini, que escreveu suas primeiras peças, O Cristo Nu e Crômica,
encenadas no TEFFi em 1965.
No ano seguinte, o Teatro Escola realizou um curso com professores da EAD, e a partir dele, Celso Nunes – diretor recém-formado na EAD – selecionou atores para a
montagem da A Falecida, de Nelson Rodrigues.
Para a integrante e diretora do grupo, Jandira Martini – entrevista dada ao jornal A Tribuna, em 29/8/83: "Foi um processo podado pela revolução. Mais
provocado pelo modo de vida e os valores que a revolução estabeleceu que propriamente pela censura".
Deste grupo saíram profissionais hoje de fama nacional: Jandira Martini, Ney Latorraca, Eliana Rocha, Carlos Alberto Soffredini, Carlinhos Silveira, Jonas Mello. Alguns
continuaram em Santos, como Neyde Veneziano – hoje diretora em São Paulo -, Perito Monteiro, Elisa Monteiro, Elisa Corrêa, entre outros.
Carmelinda – O Teatro Escola da Faculdade de Filosofia faz parte da minha juventude.
Estou falando do meu passado, da minha geração e de uma época que foi muito importante em Santos e no Brasil todo; os anos 60, que nós vivemos de uma maneira muito intensa aqui no TEFFI que tem, como característica muito particular, o fato de terem
todos os seus integrantes atingido seus objetivos de profissionalização.
Era a minha turma: o Rubinho, um estudante fanático por cinema, eu fanática por teatro, Celso Nunes um menino recém-saído da EAD e que
veio dirigir aqui em Santos seu primeiro trabalho profissional, A Falecida, que ele já tinha feito na EAD como ator, como aluno, sob a direção de Antunes Filho. Para nós, naquela época, Celso Nunes já era uma pessoa importante e
reverenciada. Ele vinha com uma formação de teatro que nós estávamos muito longe de pensar. A EAD era uma escola, como é até hoje, de uma formação responsável pelo alto nível do teatro brasileiro.
Hoje vamos ouvir os integrantes da primeira fase do TEFFI como Laudo Vasques e Ieda Ferreira Chiaratti. Também Rubinho Ewald, que fez uma pontinha no TEFFI no
Auto da Barca do Inferno, escondido dos pais. Tinha que ter uma maquiagem pesada para não ser reconhecido. Depois, Jandira Martini, que hoje é uma grande dramaturga, com duas peças em cartaz em São Paulo: Porca Miséria e Sua
Excelência o Candidato. Naquela época, Jandira não tinha nenhuma veleidade de dramaturgia, mas já era uma aluna da Faculdade de Letras e escrevia muito bem.
Ney Latorraca, que dispensa apresentação; Carlos Alberto Soffredini, Neyde Veneziano e Perito Monteiro, Nélio Mendes, Ilza Novita.
Comecei a trabalhar em rádio aos seis anos de idade na Rádio Record. Trabalhei até os 10 anos, depois vim para Santos, para o Colégio Canadá. E lá
formei um grupo de músicos, o conjunto Eldorado, que tocava nas festas do Colégio. Eu não queria ser ator, queria ser cantor. No Canadá tinha um grupo chamado TEVEC – Teatro Estudantil Vicente de Carvalho, que trouxera um diretor que era de Santos
e estava voltando depois de ter feito muito sucesso com a Maria Della Costa, que era o Serafim Gonzalez. Ele inclusive fez sucesso fora do país, na Europa e nos Estados Unidos.
Serafim foi chamado para dirigir uma peça com os alunos do Canadá. Fui fazer o teste porque havia um personagem que cantava no espetáculo, que era o Cara de Pau. Passei no
teste, entrei, fiz o Pluft e virou um sucesso. Começamos a apresentar nos clubes, no Ginásio do Santos, lotado. Foi uma loucura. Me deu um susto.
Saiu uma foto minha na A Tribuna, então achei que era o máximo, estava consagrado e fui embora para São Paulo. Vi que havia uma inscrição no Teatro de Arena para uma
peça de Plínio Marcos chamada Reportagem de Um Tempo Mau. Isso era 1965. Montamos a peça e fomos todos presos no dia da estréia. Tinha a Valderez no elenco e o Plínio na direção.
Fiquei meio desencantado e voltei para Santos. Eu morava na Afonso Pena e aconteceu um caso marcante na minha vida. Estava sozinho no meu quarto.
Era um apartamento no terceiro andar e tive vontade de me matar. Queria me suicidar. Mas se me jogasse dali não ia acontecer nada. Mas, tentei mesmo. Quando cheguei na janela, o telefone tocou e era a Jandira me chamando para participar do TEFFI,
onde eu fui pessimamente recebido porque eu não era da faculdade. Eu era do Canadá.
(Em tom irônico, brincando) Fui tratado friamente por eles e me puseram para fazer figuração na Crômica e Cristo Nu. E da figuração passei para os papéis
melhores, roubei tudo para mim. Dei um golpe porque me trataram friamente. Era a elite.
(Alguém falou: a Neyde chegou) Ela tá aí? Agora que eu vi! Antipática. Tá bonita! O casal não envelhece. O teatro conserva a gente.
Aí havia aquele problema de viajar para fora, passaporte. (Com ironia) Tem uma pessoa muito simpática chamada Bárbara Heliodora, que continua simpática, que cortou os
sonhos desse grupo e acabamos não viajando.
Nos reunimos e acabamos fazendo um curso, trazendo os professores da EAD, dr. Alfredo Mesquita veio fazer a aula inaugural e, para mim, é a pessoa mais importante do teatro
brasileiro, que trouxe Sartre, Ionesco, Genet, Tennessee Williams, todos montados pela primeira vez na EAD. Escola puxada, violenta, grande escola que depois passou para a USP e agora já é outra história.
Em todo lugar que eu vou... no meu elenco tem um santista, o Fernando Neves. Toda mesa que eu me sento tem um santista. Vou fazer comercial... tem santista. Vou ao
restaurante... tem santista. É uma invasão do pessoal de Santos que formou uma mentalidade e eu acredito, até um jeito de representar.
É uma cidade do litoral que tem um jogo de cintura diferente, próxima de São Paulo, sem os vícios do Rio e que acaba trazendo, sem falta de modéstia, um gênero. Esse gênero
influencia as pessoas, atinge até o trabalho na televisão. Quando fui fazer meu último trabalho na Globo, o Vlad da novela Vamp, a minha maneira de representar era a mesma coisa que eu fazia aqui em Santos, o elenco inteiro representava do
mesmo jeito, usava as mesmas frases, tinha a mesma batida, as mesmas cadências. Isso é um fenômeno positivo que eu não sei como acontece cientificamente, eu não sei explicar. Só no palco.
No TEFFI eu fiz O Cristo Nu, Crômica e A Falecida, que ganhou todos os prêmios na época. Era a primeira vez na minha vida que eu estava fazendo um
personagem principal, que era o Toninho, foi uma montagem linda do Celso com a Jandira, Neyde, Perito, Eliana Rocha.
(Irônico) Teve uma briga que eu acho uma delícia. Quebrei um pau de vassoura na cabeça do Celso porque eu achei que ele estava me enchendo demais, me enlouquecendo. Fiquei com
raiva e bati com a vassoura na cabeça dele.
Mas a sociedade santista não via com bons olhos nem o grupo, nem o teatro, porque era uma coisa que causava um certo perigo. Era a época áurea do café e da banana. Eu não era
boa companhia. Agora eu sou o filho ilustre da terra.
Subir ou não a serra, deixar as raízes, ir embora para São Paulo e Rio, é necessário. O teatro ficou no Rio e em São Paulo porque abandonaram completamente os grupos locais.
Começam a aparecer nos colégios e nas faculdades e acabam indo para São Paulo. Esse foi o assunto de minha conversa com o presidente Fernando Henrique Cardoso, sobre os incentivos aos grupos de teatro amador,
universitário, nas cidades, porque aí é que nascem os grandes atores e, de repente, se perdem.
Subir a serra e não esquecer as origens, senão você sempre acaba no lugar em que nasceu.
Ney Latorraca
A Neyde e eu sempre tivemos mania de teatro. Já tínhamos tentado fazer no Colégio São José, mas era complicado porque só tinha mulher e as mulheres
tinham que fazer papel de homem, como faziam no Stella Maris, mas era horrível. Fizemos Os Jograis, que teve razoável sucesso, sendo convidado para apresentações fora do colégio.
Quando entramos na faculdade e vimos que existia um grupo de teatro, tentamos nos integrar e deu certo, porque os grupos de teatro estão sempre precisando de gente, porque as
pessoas que se interessam da fato sabem que muda a vida. Fim de semana acaba, tem que ensaiar,não pode ir à praia.
Na época, a proposta do grupo era Vestido de Noiva, dirigida pelo Soffredini. Era um espetáculo muito bonito, muito avançado para a época. No ano seguinte me meti a
dirigir o Auto da Barca do Inferno porque o Soffredini não queria dirigir e, para não parar o grupo, assumi a direção.
Como o grupo dava certo, não que fosse sucesso de público, era pessoal, a gente se entendia bem, gostava do que fazia, pensamos em fazer um curso de teatro. Procuramos o dr.
Alfredo Mesquita na Escola de Arte Dramática (EAD), para que ele nos indicasse professores que pudessem vir dar aulas em Santos. Pegamos então uma professora de dicção, Milene Pacheco, um de história de teatro, Eudinir Fraga, um de expressão
corporal, Sérgio Rovito e um de interpretação que era o Celso.
A finalidade do curso, que era aberto a qualquer pessoa, era escolher um elenco para A Falecida. Muita gente participou, em número maior que o elenco, é lógico. No
final, o Celso fez uma seleção, montamos o espetáculo e chegamos a apresentar em São Paulo, em festivais.
Os outros espetáculos também tinham sido apresentados. Era uma época de muitos festivais, uma ebulição cultural no Brasil inteiro. O fato desses grupos terem surgido em Santos
não é uma característica local. É uma coisa que acontecia no país. O teatro era muito bem visto, era revolucionário. Todo estudante se interessava. Era bonito fazer teatro, como hoje é bonito fazer televisão.
O TEFFI foi convidado para ir à França num festival muito importante, de Nancy, mas não conseguimos o dinheiro. Fizemos livro de ouro,
vendemos flâmula na balsa do Guarujá, um dos maiores vexames de minha vida, não vendi nenhuma. Ninguém se mexeu e nada aconteceu, como nada acontece. A memória está se perdendo, ninguém valoriza o teatro. Sempre foi igual.
Acho que nós tínhamos é muita vontade de fazer teatro.
Jandira Martini.
Comecei em teatro com o TEFFI em 62, quando ele foi criado, como ator numa peça dirigida por Raimundo Campos, Quem Casa, Quer Casa, de Martins Pena. Depois passei a
dirigir. Fiz um curso de arte dramática na Europa, em Nancy. Voltei em 65. Santos fervia, não só nas artes cênicas como na música, com os festivais em que o Atlético lotava. Era uma beleza. Tínhamos as escolas de samba, a "boca do lixo", que naquela época era um luxo, um programa.
Precisei trabalhar e fui dar aula no Primo Ferreira junto com a Neyde Veneziano. E queríamos montar Sonhos de Uma Noite de Verão, de Shakespeare. Não era muito a minha,
mas concordei. Montamos pelo grupo TEAR – Teatro Aída Ritcher, que era o nome do centro acadêmico do Primo Ferreira. Convidamos Serafim Gonzalez para fazer o figurino, levamos no Coliseu.
Em 69 fiz Pic Nic no Front, também com o Ademir. Era Arrabal. Cheguei para a Neyde e pedi que ela me ajudasse. Ela topou e resolvi montar como se fosse uma história de
televisão, dublada. Todo o espetáculo era gravado e as pessoas se moviam como bonecos, fazendo os gestos sem falar. Muita gente não entendeu. É que eu gosto de levar as coisas para o lado cômico. Acho que o trágico é muito cômico.
Porque acho muito esquisito duas pessoas inimigas estarem numa guerra, chegam os pais de um deles e vão fazer um pic-nic? Pra mim era tragicômico. Então, um dos soldados
começava a cena tricotando um tricô cor-de-rosa e todos estavam de macacão rosa. O carrinho em que vinham as pessoas era uma privada. No fim todos morriam. E aí entrava uma escola de samba. E é isso mesmo. Enquanto uns estão morrendo os outros não
estão nem aí.
Em 70 fizemos Traído Imaginário, de Molière. Era uma peça curta e eu quis encompridar, porque quando dirijo eu sempre adapto. Troco uma cena pela outra só para poder
dar certo o que quero ou o que o Ademir quer.
Pelo figurino dele eu mudo a cena sem a menor preocupação. Naquela ocasião o Roberto Peres foi lá porque o Cidade de Santos dava o maior apoio
às artes. Quando acabou o jornal foi um pé. Eles cobriam, faziam fotos. O Roberto, uma semana antes da estreia, foi lá, e, como eu, não gostou, resolvi "amadurecer". Uma atriz que não sabia falar, coloquei como boneca. A Ângela que era muito boa,
fazia a mãe. Tinha um rapaz que fazia o cantor e o traído era o Batman. Só que não tinha Robin.
Aí o espetáculo ficou uma coisa muito engraçada e muito bonita. O que me interessa quando faço teatro é eu e os atores estarmos contentes. Se a platéia não está, o problema é
dela.
Então parei. Voltei em 75 com A Noite do Imortal. Era um texto de Lauro Cézar Muniz, pelo Teatro de Momento Tempo, onde ele constrói uma santa, imagem e
semelhança da mulher que ele gosta, e coloca a santa num altar. Eu não tinha ninguém parecida com a santa. Coloquei uma atriz diferente e pronto. A trilha musical era muito boa, do Jairo do TEVEC. Usei pela primeira vez os quadros vivos. Fiz as
molduras e um rapaz e uma moça vestidos à moda antiga da cintura para cima acompanhavam a cena.
Depois parei muito tempo. Fiz várias coisas, entre elas, fui da comissão julgadora de peça de teatro, de poesia, no Guarujá, na época de Carlos Pinto e, quer queiram ou não,
Carlos Pinto foi um marco no teatro santista.
Quando fizemos Pic-Nic no Front, tínhamos nove grupos batendo: Sofredini com Eletra, Wilson Geraldo com um espetáculo do qual não lembro o nome, a Ilza com
Voulez-vous Jouer Avec Moi? Dos nove, pelo menos seis eram de alto nível.
Voltei só em 84 com Rebuliço de Arte, fiz Inês de Castro aqui na Cadeia Velha. E o público andava atrás. Teve gente até de cadeira de
praia. Foi um espetáculo com gente nova, muito gratificante. Terminava na Praça dos Andradas.
Fiz um papelzinho numa novela que foi uma coisa atroz. Aquilo é uma loucura. Depois fui chefe do Departamento de Cultura, com o Tanah
de secretário. Quando ele se candidatou a vereador eu fiquei como secretário de Cultura.
Nélio Mendes.
Eu dividiria o TEFFI em três momentos: nascimento, desenvolvimento e apogeu. Os integrantes desta mesa fazem parte do apogeu. É o resultado de todo aquele empenho e amizade.
Quando entrei na faculdade jamais pensaria em ser ator. Em 63, o ano em que comecei, me convidaram para trabalhar. Um grupo de alunos, Soffredini e Nélio, entraram em minha classe e perguntaram quem queria trabalhar na peça que eles estavam
trabalhando, que era Nossa Cidade.
Eu me aventurei e fiz um papel bem feito, graças ao Greghi, que foi o diretor, ao Soffredini e a todos aqueles que já tinham pelo menos alguma noção de teatro. Fiz um
leiteiro, no início do século, em 1912, e como Thornton Wider é um vanguardista, não há cenários em seu teatro, ou é o menor possível, e os atores vão surgindo e expondo seu papel.
Depois fiz Vestido de Noiva. A mim coube três participações: repórter, médico e o homem inatual. O homem inatual é aquela cena congelada, como se tivesse realmente
alguém morto e nós tínhamos que dar a entender ao público que ali estava sendo velada uma pessoa. O importante nessa peça foi a iluminação, porque as nuances da fantasia e o branco e preto deram condições à vida real, tal qual ela é.
Na terceira peça a diretora era a Jandira e coube a mim o papel de judeu errante. O meu castigo era não entrar nem na barca do inferno, o diabo aqui está do meu lado, e nem
muito menos na barca do céu. O interessante é que minha deixa serviu para ela fazer um tipo de marchinha durante nossos ensaios.
E não podemos esquecer das pessoas que não estão presentes e que, a meu ver, tiveram uma participação importante, como Gilberta von Pfuhl, que era nossa figurinista, cedia
seus spotlights sempre que preciso e sempre esteve ao nosso lado. Quando nos reuníamos em sua casa, nos passava detalhes e problemas do teatro.
Uma parte importante do TEFFI foram os bastidores. No teatro profissional há toda uma estrutura, quem fabrica o cenário, quem carrega. No TEFFI eram todos idealistas. Nós
tínhamos que construir e carregar os cenários. E havia a amizade. Eu diria que a palavra TEFFI é mágica, porque o TEFFI funcionou como um elemento catalisador que fabricou tantas amizades.
Me considero hoje um rosto na platéia para aplaudir os que hoje respondem por esse apogeu: Ney, Jandira, Soffredini, Rubens, Celso, Neyde.
Todos nós temos o TEFFI como uma parte do próprio corpo, parte da alma, parte do coração.
Laudo Vasques.
Participei do primeiro momento do TEFFI. Eu nunca havia imaginado pisar num palco. Quando você resolve fazer teatro tão jovem é um desafio para você mesma. Na juventude você
quer romper barreiras e uma delas é a da arte dramática. Você se interiorizar e conseguir transmitir o sentimento, isso é muito importante. Fiz Nossa Cidade de Thornton Wider em 63. Era meio tímida, provavelmente, e o Greghi, que era o
diretor, me deu uma ponta, um figurante. Fiz aquilo com tanto amor que quando a atriz principal teve problemas de saúde ele me convidou para substituí-la. Foi um trabalho muito gratificante em termos interiores meus e me deu a satisfação de ter
obtido uma menção honrosa no Primeiro Festival de Teatro Amador.
Fiz Vestido de Noiva em 64, com direção de Soffredini, grande amigo meu. Morávamos perto e íamos e voltávamos juntos. Por isso tenho um carinho muito especial por ele.
Discutíamos muito as ideias. Eu alugava o Soffredini e por isso havia brigas. Em 63 éramos estreantes. Em 64 estávamos lutando para apresentar um espetáculo tão bom como o de 63. Eu não tinha essa visão que o Ney tinha, de esnobação. Havia pessoas
que não eram estudantes da Fafi como o Fernando Fortes, João Carlos e tantos outros.
Com a Alaíde de Vestido de Noiva ganhei o prêmio Governador do Estado, uma bolsa para a EAD, uma quantia simbólica em dinheiro e um diploma. Mas na minha época era meio
difícil fazer teatro. Eu tinha prometido a meus pais que era apenas teatro universitário e não fui fazer a EAD. Hoje meus filhos me cobram: "Por que você não foi, mãe?"
Porque o teatro para mim não é só o palco. Eu quis ser professora, fiz do magistério o meu palco. Hoje me realizo dando oportunidade pra meus alunos. É uma escola do Estado,
que eu adoro. Dezessete alunos já estão no teatro amador. Só que os grupos aqui em Santos lutam com muitas dificuldades. Temos um palco no pátio da escola e sempre levo um grupo de teatro por bimestre. E tenho um aluno que já fez EAD.
Isso ainda é o TEFFI. Ainda agradeço aquela época. Se eu como professora consegui alguma coisa, não foram só os quatro da faculdade de filosofia na parte didática, mas foram
os dois anos do TEFFI. Eu aprendi com todas as pessoas e espero ter influenciado de uma forma positiva como eles fizeram comigo. Foram dois anos que me revelaram para mim mesma.
E eu agradeço esses dois anos como mãe, como cifadã. Tudo aquilo que sou, o pouco que sou, devo ao TEFFI, então sou muito agradecida a esses rostinhos que, como eu tem 50, 51
anos e quando olho para eles olho como se tivessem 20, 24. Fica marcado. É uma pessoa.
O Laudo é meu padrinho de casamento. A Ilsa é minha melhor amiga. Como é bom virar para trás e dizer tenho um amigo há 30 anos. A
pessoa é rica quando consegue dizer isso. E eu tenho 12 ou 15 pessoas que há 30 anos dedico uma grande amizade. O grupo TEFFI.
Ieda Ferreira Chiaram
O grande desenvolvimento do teatro brasileiro moderno se deu por aglutinação e diáspora. Pessoas se juntavam ou se aglutinavam em torno de um grupo, trabalhavam durante certo
tempo e, depois, a equipe explodia, fragmentava-se, formando vários outros grupos ou companhias que se tornariam, também, importantes.
Assim se deu com o TBC, de onde saíram as companhias de Cacilda, Walmor, Ziembinsky, Cleide Yáconis, Tônia, Célia, Autran, Nídia e Sérgio Cardoso, o Teatro do 7, Maria Della
Costa e Sandro Polônio.
Também foi assim com o Arena, o Oficina (que hoje se restabelece na pessoa de seu líder), com o Asdrúbal e até com o Pessoal do Vitor, que iniciou o Curso de Artes Cênicas da
Unicamp.
E assim também foi com o TEFFI. Um grupo de princípios estéticos definidos, que perseguia a ousadia cênica e que cultivava um grande respeito pela literatura e pela palavra.
Que sabia que teatro universitário tem missão diferenciada da do teatro comercial e que, portanto, poderia se arriscar em obras clássicas e de vanguarda.
Hoje, a maioria das pessoas que formaram o TEFFI continua a atuar no campo teatral. Ney Latorraca, Soffredini, Jandira Martini, Eliana Rocha, Perito Monteiro e Rubens Ewald,
são exemplos de que a diáspora se deu de forma produtiva. São atores, diretores e autores que continuam fiéis aos seus ideais da juventude. Separados pelo espaço físico, atuando em pontos diferentes, continuam juntos na forma de pensar o teatro e a
sociedade brasileira.
Sobre esta história, muito já se disse e pouco se escreveu. Disposta a reconstituir este passado que também é dela, Carmelinda
conseguiu o que se considerava impossível: trouxe, de volta a Santos, de uma só vez, todos os artistas que hoje estão atuando no cenário nacional e que, um dia, fizeram parte do teatro santista. Para que a nossa tradição não se perca. Para que os
jovens saibam que aqui sempre houve um movimento rico e expressivo na área teatral. Pois é da dialética incessante entre a tradição e a novidade, da continuidade e da ruptura, que a criação cultural se processa e progride.
Neyde Veneziano.
Sempre gostei de teatro e tive a oportunidade, desde muito cedo, de assistir os espetáculos trazidos pelo Centro de Expansão Cultural, no Coliseu,
que era o único em atividade na cidade.
Quando eu estava na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras em 62, conheci pessoas que faziam teatro aqui em Santos: minha professora de francês Teresa Arco e Flexa, que
acabou se profissionalizando, Paulo Lara, Patrícia Galvão e o pessoal do Clube de Cinema. Era sempre o mesmo grupo que se interessava pelas mesmas formas de arte.
Em 62, fui diretora social do Diretório Acadêmico da Faculdade e vi aí a possibilidade de fundar um grupo de teatro amador na Faculdade de Filosofia. Antes disso, quando
estudei no Canadá, fazia parte de shows do colégio nos quais também participava Ney Latorraca. Eu fazia a apresentação e o Ney geralmente fazia os quadros cômicos.
Quando conheci Greghi Filho, ele tinha trabalhado em Fando e Liz, dirigido por Pagu. Consegui convencê-lo a dirigir. Ele não queria porque era ator e eu achava que não
dava para atriz. Então fizemos um pacto: ele dirigia e eu atuava. Gilberta Von Pfuhl fez os figurinos e montamos Nossa Cidade, de Thornton Wilder. Era uma peça grande, todos os artistas eram iniciantes. Era a primeira peça do TEFFI – Teatro
Escola da Faculdade de Filosofia.
Naquela época havia um grande movimento de teatro em Santos, com muitos grupos como Os Independentes, do Evêncio, o grupo do Faraco no Atlético, o grupo do Clube de Arte, do
qual fez parte Plínio Marcos, o grupo da Faculdade de Direito, além de muitos festivais municipais e estaduais.
Nossa Cidade concorreu e ganhou alguns prêmios. Nessa peça, na minha primeira cena eu tinha que vir ao procênio e simular que estava jogando milho para as galinhas. E as
primeiras pessoas que vi na primeira fila foram o bispo d. Idílio José Soares e o padre Pestana. Foi difícil segurar o riso.
Tentamos depois montar outra peça do mesmo autor, Pela Pele dos Nossos Dentes, dirigida pelo Soffredini, mas não completamos a montagem por causa dos direitos autorais.
Montamos então Vestido de Noiva. Nessa montagem entraram, entre outros, Jandira Martini, Neyde Veneziano e Perito Sampaio. Quando acabou o Vestido de Noiva, eu acabara de me formar e surgiram duas bolsas para o teatro universitário de
Nancy.Nélio Mendes e eu nos inscrevemos e fomos aceitos para fazer um curso de um ano, de setembro de 65 a julho de 66.
Esse curso era com gente muito importante do teatro internacional. Fomos alunos de dois ex-alunos do Stanislavski e o especialista em Brecht foi Jack Lang, que depois veio a
ser ministro da Cultura do Governo Miterrand. O curso consistia de aulas práticas, teóricas, conferências e fins de semana de pesquisa. Lembro que a palestra de uma especialista russa demorou seis horas, três em cada dia.
Nos fins de semana de pesquisa, tínhamos aulas com um especialista em arquitetura teatral, Dennnis Babelet, numa antiga abadia dos padres Prémontrès. Era um centro de pesquisa
muito bem montado. A igreja estava meio em ruínas e a turma do TUCA, que foi representando o Brasil no Festival Mundial de Teatro universitário, onde ganhou o primeiro lugar com Vida e Morte Severina, fez uma apresentação maravilhosa ao ar
livre, tendo como fundo a igreja da abadia.
Esse curso era o promotor desse festival, que era patrocinado pelo governo da França, pela cidade de Nancy e pelos empresários. O TEFFI foi o único grupo brasileiro convidado
a participar desse festival porque a UniSantos, na época Sociedade Visconde de São Leopoldo, era inscrita num programa cultural da ONU.
Para participar do festival, tínhamos que apresentar uma peça de uma hora de duração e um texto imposto por eles, de 15 minutos. Então, o Soffredini escreveu uma peça – O
Cristo Nu – e o texto Crômica, que foi considerado o melhor texto enviado. Aí a faculdade, que era católica, começou a boicotar o teatro e virou uma guerra. Para angariar fundos para a viagem a Nancy o TEFFI montou o Auto da Barca do
Inferno, de Gil Vicente, e o Serafim Gonzalez fez os cenários. Foi um pouco antes de eu ir. Cheguei a fazer uma substituição do anjo.
Convidamos o Sábato Magaldi para fazer uma conferência sobre teatro medieval e do qual fazia parte Gil Vicente. Sábato veio, contamos que tínhamos tido o convite para
participar do festival. Ele se interessou pelos detalhes e na semana seguinte publicou tudo no Estadão em sua coluna que terminava assim: "Grupos Amadores inscrevam-se. O TUCA se inscreveu e como conseguiu o dinheiro das passagens, viajou e
o TEFFI, não.
Devido à censura, a peça do Soffredini O Cristo Nu não pode ser apresentada, depois de tudo pronto, inclusive figurino e cenário. O dinheiro que seria arrecadado com a
peça serviria para a viagem. Com isso o TEFFI ficou parado um ano. O Ney e a Jandira foram para o EAD e no ano seguinte, Soffredini e Eliana. No Auto da Barca do Inferno trabalhava o Rubens Ewald Filho.
O pessoal da direita do TEFFI montou um curso de teatro e convidou o Celso Nunes para uma montagem. Montaram A Falecida. Nessa época a namorada do Celso era a Regina
Braga.
O TEFFI foi muito importante porque dele saíram muitos artistas que foram para o teatro profissional ou passaram a viver da arte como o Rubens Ewald e Carmelinda, que se
tornaram críticos de cinema e teatro.
O Nélio voltou da França e montou um grupo. Eu ajudava na iluminação e na sonoplastia. Ele montou Sonho de Uma Noite de Verão e Pic-Nic no Front. Esta última já
era inovadora porque era toda gravada e os atores só faziam a mímica das falas. Eu dava aulas de francês no curso Clássico do Canadá e formei um grupo de teatro com os alunos do noturno, chamado Tecla – Teatro do Clássico.
Com o Tecla montamos Voulez-vouz Jouer Avec Moi? (Você Quer Representar Comigo?), de Marcel Achad. Os alunos saíam da classe às 23h15 e aí começavam os ensaios,
que iam até uma ou duas horas da manhã. Um aluno da quinta série, o Batatinha, escreveu uma peça que nós encenamos para incentivá-lo, a pedido do diretor Edésio del Santoro, com os próprios coleguinhas e minha direção.
Tive um convite de Paulo Autran e Silney Siqueira para fazer teatro profissional em Vida e Morte Severina, o personagem da mulher na janela. Gosto muito de teatro, mas
nunca pensei em fazer teatro profissional.
O TEFFI foi um disseminador de teatro sério aqui em Santos. Pode-se dizer que o teatro amador em Santos modificou-se após o TEFFI, que
conseguia sucesso de público. Ieda Ferreira, do TEFFI, ganhou prêmio de melhor atriz do Festival de Teatro Amador do Estado de São Paulo.
Ilza Verena Allen Novita Garcia.
É super interessante, gostoso, lisonjeiro, ter sido convidado para esse depoimento, principalmente porque eu não sou nascido em Santos. Mas Santos tem o significado de ser o
início de uma carreira profissional que eu considero que deu certo, que foi a minha como diretor e professor de teatro.
Meus pais, no começo da década de 40 se casaram e vieram passar a lua-de-mel aqui, no fim do ano, começo de 41. Nove meses depois eu nasci. As fotografias na
praia do José Menino são muito bonitas, com os dois sentados na praia deserta com os nomes e a data do casamento escritos na areia. Eu estava sendo sonhado. Eles estavam querendo ter um bebê, eu fui o primeiro filho,
nasci logo depois. Acho que eu já tinha começado aqui em Santos, em alguma praia.
Vinte e quatro anos depois, vim para cá para começar uma vida profissional da qual pude tirar sustento da família. Não é difícil vocês imaginarem, olhando para esta mesa, a
sorte que eu tive. Chegar numa cidade onde eu praticamente não conhecia ninguém e cair num núcleo de trabalho de pessoas, como eles mesmos se autodenominam, que são uma elite cultural, todos eles universitários, com uma sólida formação. Mesmo
pensando no teatro que se faz hoje em dia, a gente já tinha a Jandira,uma especialista no idioma português, em Camões, em literatura, que não deixava acontecer desvios em análise de textos. Tudo isso norteou muito. Considero muita sorte ter vindo
para Santos e ter feito aquele trabalho.
Fiquei hospedado em casa de amigos e durante quase um ano eu trabalhava com Antunes Filho em São Paulo como assistente de direção e ator em Júlio Cesar, de Shakespeare,
e depois vinha para cá fazer as aulas de teatro. Eu tentava conciliar as coisas até porque estava começando uma vida, tinha compromissos financeiros a cumprir a cada mês.
Quando formei o elenco de A Falecida, eu estava entre pessoas muito talentosas. A peça deu certo também porque a direção já tinha sido previamente assinada por Antunes
Filho, que sempre gostou muito de Nelson Rodrigues. Antunes tinha montado essa peça conosco pela primeira vez na carreira dele na EAD em 1964 ou 65. Eu trabalhava com ator e tinha começado um trabalho de direção dentro da escola. Mas o contato com
o Antunes me trouxe técnica de direção que eu não tinha aprendido na escola porque fazia um curso de ator.
Quando vim para cá, pude testar um pouco o que eu gostava de fazer como diretor e em cima de um caminho bem sólido, do que era a encenação do Antunes, as marcações. A plástica
da cena nascia de um espetáculo onde eu atuara como ator, mas a interação, a energia, o que desprendia para o público, isso tinha sido trabalhado aqui em Santos. E isso foi um acerto, porque o público entendia e gostava muito. A peça depois foi
para São Paulo e também foi bem recebida nas poucas apresentações que fez no Maria Della Costa.
O começo desse trabalho em Santos para mim foi fundamental. E é bom hoje estar vendo as pessoas querendo resgatar um pouco da memória. Acho uma judiação essa fachada do
teatro Guarani aqui ao lado sendo vendida para virar pastelaria, estacionamento, supermercado. Tudo isso é lamentável.
Assim como nós que nos conhecemos há mais de 30 anos, nós só não somos esta fachada porque tem uma memória dentro, porque tem a vida, a alma, a noção do que está feito. Tenho
certeza que, assim como nós de cabelos brancos, esta casa tem a mesma alma, a mesma memória, a mesma vida dentro dela. No entender de um grande teórico do teatro francês, Georges Banu, trata-se dos instantes vividos o que na verdade faz a história
do homem.
A humanidade só existe pela somatória dos instantes vividos. Esta casa deslumbrante está cheia de instantes vividos. E acho que deveria
haver um grande movimento comunitário para que esse espaço, que já foi da arte e que, portanto, está cheio de alma, fosse resgatado para a arte, ficasse definitivamente como um local onde a alma do artista possa estar dentro dele.
Celso Nunes.
Quando entrei na faculdade havia um grupo fazendo Martins Pena, Quem Casa, Quer Casa. Entrei como diretor do grupo. Na sequência veio o Greghi e fez Nossa Cidade.
Eu fui assistente de direção nessa montagem e vendo o Greghi dirigir eu pensava: isto eu faria diferente, mas não sabia como fazer. Tentamos montar outro Thornton Wyder, Pela Pele dos Nossos Dentes, que não deu certo.
A Neyde e a Jandira estavam chegando na faculdade e no grupo, muito entusiasmadas, e me entusiasmaram. Eu tinha lido algumas coisas como "teatro universitário tem que ter
características de experimentação ou resgates de textos importantes do país".
Só a minha inexperiência e a minha falta absoluta de noção de dificuldade que me fizeram escolher Vestido de Noiva, que são um texto e uma montagem difíceis. Todo mundo
ajudou um pouco. Na estreia deu tudo errado, a iluminação foi errada... Depois o Paulo Lara deu uma força para a gente. Eu trazia mapa de marcação de casa, dos três planos. O pessoal que trabalhava no palco da alucinação tinha uma marcação
completamente ilógica. Eu não sabia que era isso que eu estava fazendo. Não tinha lógica. Eu sabia que devia ser mais ou menos por aí. Era muito da intuição. Mas foi a partir daí que o Teffi começou a se consolidar.
Depois teve a história do Festival de Nancy, que acho deu grande impulso. O Cristo Nu foi um dos meus primeiros textos, já com vistas ao Festival e também A Crômica
que foi considerado o melhor texto do festival e me incentivou muito. A verdade é que depois do TEFFI o Ney e a Jandira foram para São Paulo fazer EAD, depois do trabalho com o Celso. Após a saída deles o TEFFI não continuou, terminada A
Falecida que foi uma coisa forte, importante.
Fiquei sem fazer teatro e fiz o teatro que dá para fazer sozinho: escrever. E escrevi O Caso Dessa Tal Mafalda. O Ney e a Jandira trouxeram a notícia da EAD de que
tinha um concurso do SNT – Serviço Nacional de Teatro e insistiram para que eu escrevesse. Não havia xerox nem computador e tinha que mandar seis cópias. Eu trabalhava na Cia. Docas de Santos, tinha duas filhas para criar e não tinha muito tempo. O
Perito, a Neyde, o Ney e a Jandira datilografaram o texto para mim (rindo). Quando fui olhar as cópias, eles tinham modificado tudo.
Ney (brincando): Ficou melhor.
Soffredini (rindo): Foi por isso que eu ganhei o prêmio.
Era o prêmio mais importante da dramaturgia no Brasil. As pessoas que tinham ganho eram: Oduvaldo Viana Filho, Jorge Andrade... Foi a partir desse prêmio, que sem eles talvez
eu não tivesse ganho porque não datilografaria as cópias, que eu decidi, que eu tive a oportunidade de me encontrar com uma porção de dramaturgos e críticos de teatro como, por exemplo, Miroel Silveira que era daqui de Santos mas já estava em São
Paulo há muito tempo.
Eu era um ilustre desconhecido e ganhei o primeiro prêmio. Então isso virou notícia. Nunca mais vi outro ganhador, até do Molière, hoje em dia ter uma notinha no pé da página
em qualquer jornal. Eu fui capa do jornal O Globo, não porque o teatro era importante, mas porque era inusitado: um desconhecido que ganhou o grande prêmio, meio a história da Cinderela.
Ney: A Cacilda, a Maria Della Costa e a Ruth Escobar quiseram montar O Caso Dessa Tal de Mafalda.
Soffredini: O texto tem um pequeno probleminha: 40 e poucos personagens. Eu escrevia no TEFFI, para nós fazermos. Tinha uma mulherada
na peça porque na Fafi eram só alunas. Os atores vinham do Jornalismo, do Canadá. Então não havia a preocupação de não poder escrever para muita gente senão não poderia montar. Maria Della Costa quis, John Herbert e Eva Wilma, que tinham uma
companhia, também, e Cacilda, Ruth Escobar, Ademar Guerra. E nunca consegui vê-la encenada, a não ser recentemente. Eu não tinha noção de que fazia teatro popular, de que estava a fim de pesquisar teatro popular.
Carlos Alberto Soffredini.
Na história do TEFFi eu sou um coadjuvante. Nunca quis ser ator. Sempre fui tímido, até hoje. Tenho enorme dificuldade para falar em público, o que pode parecer estranho para
quem faz TV.
Mas eu era parte integrante do grupo, nem que fosse por estar presente nas festas ou na bilheteria dos espetáculos. Tudo começou para mim numa viagem aos Estados Unidos, onde
conheci a Neyde. Foi um encontro divisor de águas. Ele me abriu um mundo desconhecido.
Minha família era muito castradora e naquele momento não podiam nem ouvir falar em teatro. Por isso, quando participei do Auto da Barca do Inferno, foi escondido, com o
pseudônimo de De Azevedo. Comecei a acompanhar a Neyde e a Jandira, que eram inseparáveis. Não sei qual das duas me influenciou mais.
Na verdade, o TEFFi como grupo era todo de gente amiga. Somos todos amigos, de verdade, até hoje. Não sei se seria crítico de cinema ou pelo menos se seria a mesma pessoa sem
a influência deles. É difícil dizer quem influenciou quem. De qualquer forma, eram pessoas que falavam a mesma linguagem, tinham a mesma preocupação. Retoma-se o diálogo no mesmo ponto, há uma identidade muito grande.
Eu não estou dando um depoimento de teatro. Às vezes a Neyde diz que eu não gosto de teatro. Não é verdade, gosto muito. Mas meu amor é
o cinema.
Rubens Ewald Filho. |