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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS
A praça (que não é mais) dos fotógrafos (3)

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Conhecidos como lambe-lambes, em função de sua técnica de reaproveitamento das chapas fotográficas nas máquinas tipo caixão, os fotógrafos de rua de Santos acabaram se concentrando na Praça dos Andradas, até desaparecerem na década final do século XX. A situação da praça foi o tema desta matéria, publicada em 2 de abril de 1979 no jornal santista A Tribuna (exemplar no acervo do historiador Waldir Rueda):
 


Maior espaço na praça: desapareceram as ruas e o lago artificial
Imagem publicada com a matéria

Palco de movimentos abolicionistas e de campanhas republicanas, as Praça dos Andradas foi, durante quase um século, a área cultural de Santos e ponto de encontro da elite da época. Agora, 100 anos depois de cimentada e ajardinada pela primeira vez, a praça sofre nova reurbanização e deverá ser entregue dentro de 90 dias, com uma antiga reivindicação dos historiadores santistas: a sua unificação, como um amplo calçadão e sem as vias que a cortavam em três partes.

Se de um lado a modernização que está sendo feita - sob orientação do IPHAN - puder de alguma forma alterar as características históricas da área, de outro, contribuirá para que o local, bastante desgastado e abandonado pelos poderes públicos, retome sua função de praça, reorganizando ali os grupos para os bate-papos de fins de tarde e, principalmente, trazendo ao Centro um pouco mais de humanização, embora o tráfego intenso e os edifícios cinzas das proximidades quebrem o ritmo de tranqüilidade exigido no lazer.

Os comerciantes estão ansiosos à espera da modernização, embora nenhum deles conheça o projeto e o que será feito na praça. Resta agora ver concretizada uma outra aspiração dos santistas: a instalação do Museu dos Andradas, na Casa de Câmara e Cadeia, em total dependência de aprovação pelo IPHAN.


Do lado de fora do velho teatro, o show dos milagreiros
Foto: Ademir Henrique, publicada com a matéria

A nova praça de velhas tradições

José Carlos Silvares
Fotos de Ademir Henrique

As preguiças, os fotógrafos lambe-lambe e os engraxates - fiéis companheiros da velha praça - continuarão ali. Também permanecerão os desocupados, que formam círculos em torno dos vendedores de remédios milagrosos e os apressados usuários da Estação Rodoviária que cruzam velozmente a praça. Os curiosos personagens que desaparecem com a mesma constância com que aparecem por ali e os mendigos, que fazem dos bancos moradia, devem manter a tradição.

As mudanças serão apenas materiais: a praça ganhará piso novo, todo branco, em mosaico tipo português; os velhos bancos circulares serão substituídos por outros, maiores; toda a área será iluminada por 28 globos; e dez luminárias a vapor de sódio, amarelas, darão realce à Casa de Câmara e Cadeia, que será circundada por jardim gramado. As calçadas serão alargadas, tanto na praça como no lado onde está o Teatro Guarani.

Tudo isso deverá estar pronto dentro de 90 dias, no máximo, consumindo Cr$ 5 milhões de recursos que a Prefeitura obteve junto à Caixa Econômica Estadual.

Há 20 anos - A Praça dos Andradas não recebia novas remodelações desde 1959: no dia 26 de março, quando Santos completava o 120º aniversário de elevação à categoria de Cidade (N.E.: essa comemoração é no dia 26 de janeiro), o então prefeito, Sílvio Fernandes Lopes, inaugurava as novas modificações na praça.

No dia 12 de maio desse mesmo ano, entretanto, a Cadeia Velha e as árvores da Praça dos Andradas foram tombadas pelo IPHAN. E foi somente com a aprovação do órgão e orientação detalhada para preservação do aspecto histórico do local que a atual administração municipal pôde executar o projeto de reurbanização da praça.

Assim, partindo de um projeto de autoria de Jorge Wilheim (ex-secretário do Planejamento do Estado), de 1968, a equipe do Departamento de Planejamento Urbano da Prodesan traçou os planos de reurbanização da Praça dos Andradas, dentro do programa de humanização do Centro, que começou com o fechamento da Rua Riachuelo, a reurbanização da Praça Rui Barbosa e o projeto de remodelações do Valongo.

O projeto para a praça prevê a colocação de 28 luminárias tipo globo, como forma de aproximação modernizada dos antigos globos em postes; os bancos serão mantidos na forma circular, mas de diâmetro maior e em concreto; nos canteiros ajardinados vão ser instalados refletores para iluminação das velhas árvores; e o chão de cimento, substituído pelo de mosaico branco, uniforme.

A grande modificação ocorrerá na unificação da praça, como um amplo calçadão, mantendo a característica inicial do local. As três vias que cortavam a praça (duas defronte da Cadeia Velha, onde existia estacionamento e ponto de táxis, e outra mais central, que servia de contorno) foram eliminadas e os táxis passaram a fazer ponto em torno da própria praça. O estacionamento regulamentado que existia ali foi eliminado.

Outra grande modificação vai ser feita na calçada do lado do Teatro Guarani, que será aumentada a partir a esquina com a Avenida São Francisco, até o lado oposto, com a Rua Visconde de São Leopoldo. O alargamento começa com menos de um metro e, em alguns pontos, passa de 2,20 para 4 metros.

As áreas onde existiam as três vias cortando a praça serão destinadas às feiras e promoções do Programa de Animação Urbana da Baixada Santista (Prourb), que também ocuparão, quando necessário, o prédio da Cadeia Velha.

Foi cercada - Exatamente onde se situa a Praça dos Andradas, havia um rio, o Ribeiro de São Jerônimo, que serviu aos primeiros povoadores da região em fins do século XVI, Domingos Pires e Pascoal Fernandes Genovês, conforme relata o monge beneditino Frei Gaspar da Madre de Deus, em Memórias para a História da Capitania de São Vicente. O ribeiro, que recebeu o nome de São Jerônimo mais tarde, quando havia no sopé do atual Monte Serrate uma estátua desse santo, cruzava a praça e desaguava no canal do estuário. São Jerônimo deu nome também à região: Outeiro de São Jerônimo (atual Monte Serrate), Largo de São Jerônimo, Travessa de São Jerônimo e Campo de São Jerônimo. Mas a área onde hoje está situada a Praça dos Andradas recebeu também o nome de Campo da Chácara, porque lá existia a chácara de Antônio José Vianna, professor de Gramática Latina.

Com o início da construção da Casa de Câmara e Cadeia, a área passou a ser chamada de Largo da Cadeia Nova e, por volta de 1865, quando o Visconde de Embaré assumiu a presidência da Câmara (antes de esta mudar-se para o novo prédio), deu ao largo o nome de Praça do Andrada, em homenagem aos irmãos Andrada. O povo encarregou-se de mudar o nome para a Praça dos Andradas, conforme o historiador Costa e Silva Sobrinho.

Dez anos após a Câmara, o Fórum e a Cadeia estarem funcionando no prédio, em 1879, a área foi cimentada e calçada em volta do imenso jardim que havia ali; em janeiro de 1880, a Câmara cogitou da primeira arborização, o que foi realizado; em novembro do mesmo ano, foram instaladas torneiras públicas e um banheiro completo; em dezembro de 1882 foi inaugurado o jardim público, com grades em volta. Essas mesmas grades cercam hoje o Colégio Cesário Bastos. Mas só em fevereiro de 1887 ocorreu o ajardinamento do local e, em outubro, foi construído um coreto onde tocava a Banda Musical do Corpo de Bombeiros.

Vistoria - As obras foram vistoriadas pelo prefeito Antônio Manoel de Carvalho e pelo presidente da Prodesan, José Lopes dos Santos Filho, acompanhados de arquitetos e de representantes da empreiteira Franco, que faz os serviços para a Prodesan.


Em volta da cadeia, apenas grama
Imagem publicada com a matéria

Os dois prédios antigos, à espera de melhores dias

Os dois velhos prédios da Praça dos Andradas - Casa de Câmara e Cadeia e o Teatro Guarani - foram tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional em maio de 1959. Desde essa época, nada foi feito para o aproveitamento de um deles como cenário de ensino da História de Santos: o prédio da Cadeia Velha, onde deveria estar instalado há alguns anos o Museu dos Andradas.

Na última visita que fez ao Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado (Condephaat), em São Paulo, o secretário de Turismo de Santos, Carlos Lamberti, trouxe a novidade aos santistas: o projeto de instalação do museu na Cadeia Velha seria submetido ao IPHAN e sua aprovação só depende do órgão governamental. O projeto prevê também o aproveitamento do Mosteiro de São Bento e da Casa do Trem, que formariam o Museu da Baixada Santista.

A construção da cadeia começou em 1839, quando Santos foi elevada à categoria de Cidade. Mas as obras foram interrompidas várias vezes, por falta de verba e também de entrosamento, sendo concluídas 28 anos após o início, em janeiro de 1867. Consta que dois anos antes da inauguração, em 1865, o prédio já era ocupado pelo Fórum, que ficou ali até 1945, quando foi transferido para instalações na Rua do Comércio, esquina da Rua XV de Novembro.

A Cadeia Pública ocupou o prédio somente em 1869, ficando lá durante 88 anos, até 1957, quando foi inaugurado o Palácio da Polícia, na Praça Correia de Mello, onde está atualmente. A cadeia ocupou as dependências térreas do prédio da Praça dos Andradas.

A Câmara Municipal teria sido a última a ocupar a nova casa, mudando-se para lé em 1869, mas instalando-se definitivamente em 1870. Permaneceu ali até 1897, quando se transferiu para um prédio no Largo Marquês de Monte Alegre, defronte da estação da Santos a Jundiaí. Consta que quando o prédio era ocupado pela Câmara, Fórum e Cadeia, entre 1874 e 1875, recebeu a visita de dom Pedro II, da princesa Isabel (que dá nome ao salão da Câmara) e seu marido, o Conde d'Eu. No final da década de 40 (1940), serviu a várias delegacias de polícia e, durante várias oportunidades, o salão das sessões do Fórum foi cedido para concertos e conferências, por ser o melhor de Santos.

Guarani será pintado - O único teatro de Santos, no Largo da Coroação (atual Praça Visconde de Mauá), oferecia muita insegurança aos usuários. Por isso, em 1876, os santistas organizaram um movimento com objetivo de se construir um novo teatro. Uma comissão da sociedade local reuniu-se em 1879, iniciando coleta de dinheiro para as obras. Em 1881, a Câmara Municipal adquiriu um terreno na Rua das Flores (atual Amador Bueno, que terminava antes da atual Vasconcelos Tavares) para prolongá-la até a Praça dos Andradas. Com a ligação, em fins de janeiro desse mesmo ano, a área da esquina ficou reservada para o novo teatro.

O Teatro Guarani foi finalmente inaugurado em 7 de dezembro de 1882, três dias antes da inauguração do ajardinamento da nova praça. A primeira apresentação foi o drama em cinco atos Mário, extraído do romance Marthe de Kerven, de Eduardo Capendu, com adaptação feita pela Empresa do Recreio Dramático da Corte. Antes da peça, foi executada a sinfonia da ópera Guarani, de Carlos Gomes.

Consta que o interior do teatro foi decorado com pinturas de Benedito Calixto, que também pintou o pano de boca do palco, a pedido do arrendatário do teatro, Raimundo Corvelo. Todos os gêneros teatrais foram apresentados ali, e, em 30 de junho de 1886, o teatro recebeu a famosa atriz Sarah Bernhardt, no papel de Margarida Gautier, no drama A Dama das Camélias, de Alexandre Dumas.

A partir de 1910 e até hoje, o teatro passou a pertencer à Santa Casa da Misericórdia de Santos. Hoje é arrendado pela empresa Exifilmes, do grupo Freixo, e sobrevive graças aos filmes eróticos lá exibidos. Segundo Sérgio Freixo, a parte externa do teatro será totalmente pintada e o interior não sofrerá modificações, já que o prédio é tombado.


E o museu, quando ocupará a Cadeia Velha?
Foto: Ademir Henrique, publicada com a matéria