HOMENAGEM - O caixão foi colocado em um caminhão do Corpo de Bombeiros
e levado até o Paço Municipal
Foto: Rogério Soares, publicada com a matéria
Morre ex-prefeito Sílvio Fernandes Lopes
O ex-prefeito de Santos Sílvio Fernandes Lopes morreu na manhã de ontem, aos 80
anos, de parada cardíaca, em sua casa, na Capital. Ele foi trazido para a Cidade no início da noite. O velório está sendo realizado no Salão Nobre
Esmeraldo Tarquínio, na Prefeitura. O enterro está marcado para o meio-dia, no Cemitério do Paquetá. Fernandes Lopes governou a Cidade entre os anos
de 1957 e 1961 e 1965 e 1969.
Corpo do ex-prefeito chegou a Santos no final da tarde e seguiu para o Salão Nobre da
Prefeitura
Foto: Rogério Soares, publicada com a matéria
SÍLVIO FERNANDES LOPES
Adeus
O ex-prefeito morreu ontem em sua casa na Capital, aos 80 anos. Seu corpo está
sendo velado na Prefeitura e será sepultado no Cemitério do Paquetá
Da Reportagem
O ex-prefeito Sílvio Fernandes Lopes, que governou
Santos entre os anos de 1957 e 1961 e 1965 e 1969, morreu na manhã de ontem, em São Paulo, aos 80 anos. O velório está sendo realizado no Salão
Nobre Esmeraldo Tarquínio da Prefeitura desde as 19 horas de ontem. O enterro está marcado para o meio-dia, no Cemitério do Paquetá.
Sílvio Fernandes Lopes estava em sua casa, na Capital, por volta das 9h30, e se
preparava para ir trabalhar na empresa de engenharia onde era presidente, a Constran, quando se sentiu mal, com falta de ar, e teve uma parada
cardíaca.
Ele foi socorrido pela mulher, Arlete Telles Lopes, de 80 anos, e pelo filho Sílvio
Fernandes Lopes Júnior, de 57. Os dois chamaram a ambulância, mas o ex-prefeito não resistiu e morreu em casa. Segundo outro filho, Sérgio Telles
Fernandes, de 55, o pai havia superado no início do ano um câncer de próstata, mas continuava sua luta contra o cigarro. O ex-prefeito também deixou
quatro netos e cinco bisnetos.
O corpo de Sílvio Fernandes Lopes chegou a Santos por volta das 18 horas. Na Avenida
Martins Fontes, entrada da Cidade, o caixão foi colocado em um caminhão do Corpo de Bombeiros e levado até o Paço Municipal, onde chegou por volta
das 18h30. Políticos, antigos companheiros de administração, amigos e jornalistas o aguardavam para a última homenagem.
Como na época de vida pública, o ex-prefeito, que completaria 81 anos no próximo
sábado, foi recebido com palmas. Sobre o caixão, as bandeiras da Cidade de Santos e do Santos Futebol Clube.
No Salão Nobre Esmeraldo Tarquínio, perto da porta principal, há um busto de bronze do
ex-prefeito, uma homenagem prestada pelos servidores públicos municipais. "Com a Lei 2232-60, Sílvio Fernandes Lopes amparou a família do servidor
municipal. Este bronze simboliza nossa gratidão. 2 de janeiro de 1960".
"Na política, as pessoas geralmente fazem amigos e inimigos, mas ele fez amigos e
adversários", afirmou o filho Sérgio.
A mulher do ex-prefeito lembrou emocionada dos 57 anos de casamento e da atenção
dispensada por ele à família.
"Conheci o Sílvio quando tínhamos 12 anos. Aos 22 anos já estávamos casados. Ele
sempre teve esse espírito de liderança. Foi um prazer conviver com esse homem que, mesmo diante de todas as responsabilidades da vida pública, nunca
deixou a família em segundo plano. Sempre fez questão de estar presente na educação dos filhos, netos e bisnetos".
Dedicação |
"Foi um prazer conviver com esse homem que, mesmo diante de todas as responsabilidades da vida pública,
nunca deixou a família em segundo plano"
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Arlete Telles Lopes
Mulher do ex-prefeito
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Juscelino - Para o prefeito João Paulo Tavares Papa,
que decretou luto oficial de três dias a contar de ontem, Sílvio Fernandes Lopes era uma referência como político. "Um dos prefeitos que deixaram
uma marca mais forte em termos de estilo e trabalhos executados. Ele tinha uma filosofia desenvolvimentista, era o JK (ex-presidente
Juscelino Kubitschek) de Santos".
Com políticos e sindicalistas, o ex-prefeito chegou a se encontrar com o então
presidente Juscelino Kubitschek, para que ele ajudasse a solucionar um impasse que motivou uma greve geral na Cidade. O jornalista de A Tribuna
Hamleto Rosato, de 91 anos, conta que acompanhou a comitiva como repórter. "Ele é o único prefeito de quem eu não ouço falar mal".
O advogado do Santos FC Mário Mello Soares, ex-assessor do ex-prefeito, acompanhou-o
durante 25 anos e coordenou suas duas últimas campanhas. Ele lembrou do início da carreira política do ex-prefeito, aos 23 anos, como vereador. E
comentou ainda que foi o prefeito mais jovem da história da Cidade, aos 32 anos. "Ele foi um fenômeno na política e realizou obras espetaculares".
O então secretário de Educação João Carlos de Alencastro Guimarães, de 82 anos,
lembrou: "Ele construiu várias escolas, como a Primo Ferreira, a Azevedo Júnior e a Acácio de Paula Leite Sampaio". O ex-assessor Waldemar de
Andrade destacou as obras do ex-prefeito nos morros, como pavimentação e saneamento.
Sílvio Fernandes Lopes encontrou-se com o presidente JK
Foto: Paulo Freitas, em 13/9/2000, publicada com a matéria
Câmara - Foi através de uma indicação de Sílvio Fernandes Lopes que o hoje
presidente da Câmara e também ex-prefeito, Paulo Gomes Barbosa, iniciou sua vida pública. Ele o chamou para presidir a
Bolsa Oficial de Café de Santos.
Na avaliação de Barbosa, o ex-prefeito "foi um dos melhores administradores do
Município. Era trabalhador, cobrador de resultados, objetivo e sabia comandar". Barbosa suspendeu a sessão da Câmara de ontem.
A audiência pública da Comissão Especial de Vereadores (CEV) da Habitação, marcada
para a noite de ontem, foi transferida para amanhã, também em virtude da morte do ex-prefeito.
O atual secretário municipal de Cultura, Carlos Pinto, também credita sua estréia na
política a Sílvio Fernandes Lopes. "Um de seus grandes feitos foi ter conseguido criar o Centro de Cultura Patrícia Galvão. A ideia foi levada a ele
pelo pessoal da Cultura e ele rapidamente me surpreendeu com o projeto. O centro acabou sendo entregue pelo Carvalhinho (prefeito que o sucedeu,
Antônio Manoel de Carvalho)".
O secretário-adjunto de Estado da Educação Paulo Alexandre Barbosa representou o
governador Geraldo Alckmin e prestou solidariedade à família do ex-prefeito durante o velório.
Perfil de Sílvio Fernandes Lopes |
10 de dezembro de 1924 - Em Santos, nasce Sílvio Fernandes Lopes, filho de
Cordovil Fernandes Lopes e de Maria Coelho Lopes |
1947 - Forma-se em Engenharia Civil pela Escola de Engenharia Mackenzie |
De 22/1/1948 a 31/12/1951 - Primeiro mandato como vereador em Santos |
De 1º/1/1952 a 31/12/1955 - Segundo mandato como vereador em Santos |
De 14/4/1957 a 14/4/1961 - Primeiro mandato como prefeito de Santos |
14/3/1963 - Assume mandato como deputado estadual. Renuncia em 14/4/1965
para assumir o cargo de prefeito de Santos |
1º/2/1963 - Assume como secretário do Estado dos Negócios da Viação e
Obras Públicas de São Paulo. É exonerado, a pedido, em 28/2/1963 |
28/12/1963 - Assume como secretário de Estado dos Negócios e Serviços e
Obras Públicas de São Paulo. É exonerado, a pedido, em 9/4/1964 |
De 14/4/1965 a 14/4/1969 - Segundo mandato como prefeito de Santos |
De 1º/2/1971 a 1º/2/1975 - Mandato como deputado federal |
1º/2/1979 a 1º/2/1983 - Mandato como deputado federal |
15/3/1979 - Assume como secretário de Estado dos Negócios de Obras e do
Meio-Ambiente de São Paulo. É exonerado, a pedido, em 8/1980 |
8/8/1980 - Assume como secretário de Estado dos Negócios Metropolitanos de
São Paulo. É exonerado, a pedido, em 12/5/1982 |
1985 - Exerce o cargo de diretor do Grupo Itamarati-Constran Engenharia
S.A. |
1990 a 2005 - Preside a empresa Constran S.A. |
Fonte: Arquivo A Tribuna
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Ex-prefeito dedicou 40 anos à vida pública
Da Pesquisa
Considerado por muitos um dos maiores políticos que a Cidade já produziu, o engenheiro
Sílvio Fernandes Lopes dedicou quase 40 anos de sua vida à carreira pública.
Além de prefeito eleito por duas gestões, acumulou mandatos legislativos como
vereador, deputado estadual e federal. Também foi secretário de Estado nos governos de Adhemar de Barros e Paulo Maluf. Sua saída da vida pública
ocorreu em 1982.
Mesmo longe da carreira política, acompanhava da Capital tudo o que acontecia na
Cidade. Em setembro de 2000 - véspera de eleições para prefeito -, disse a A Tribuna que fazia questão de vir a Santos dar o seu voto, mesmo
não tendo mais a obrigação, já que os 75 anos o isentavam do dever.
Quando esteve à frente da Prefeitura, Lopes concluiu obras importantes (ver
quadro).
Foi no primeiro governo que iniciou a construção do antigo Horto Municipal (Jardim
Botânico Chico Mendes), garagem dos ônibus no Jabaquara, PS do Macuco, cinco escolas e a instalação da Caixa de Pecúlios dos Servidores
Municipais.
Na segunda administração, construiu a Avenida Nossa Senhora de
Fátima, a Estação Rodoviária, o PS da Zona Noroeste, além de ter criado a Prodesan e mais sete escolas públicas.
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Última entrevista a A Tribuna foi em 2002
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Aos 23 anos, foi vereador
Foto: Flávia Santini Stockler, em 22/10/1991, publicada com a matéria
Partidos
- O ex-prefeito começou sua vida política pelo extinto Partido Social Progressista (PSP), só se afastando da legenda quando da reforma partidária,
após o golpe militar de 1964. Optou pela Arena e, com a redemocratização, pelo PDS.
Não chegou a pegar a dissidência do PDS que foi para o PPB de Paulo Maluf, porque naquela
época já estava abandonando a carreira política.
Seu último cargo público foi como secretário de Estado de Obras e Meio-Ambiente e
depois de Negócios Metropolitanos, no governo de Paulo Maluf (78-82).
Em 1985, dedicou-se à iniciativa privada, na Capital, assumindo a direção comercial da
Constran Engenharia, uma grande construtora paulistana do Grupo Itamarati.
Fim da política - Em matéria publicada em A Tribuna, em 28 de outubro de
1991, ilustrada com fotos de Flávia Santini Stockler, diretora de Circulação de A Tribuna, Lopes revelou a sua decisão de encerrar a carreira
política definitivamente. "Eu não disputarei mais nenhum cargo eletivo, visto que a minha fase como político já passou".
Em novembro de 2002, em uma de suas vindas a Santos, Lopes concedeu sua última
entrevista a A Tribuna.
Obras e melhoramentos
Realizados por Sílvio Fernandes Lopes, quando prefeito da Cidade
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Equipamentos urbanos |
Estação Rodoviária |
Edifício sede da Prodesan |
Conjunto cultural, teatro, biblioteca e salas de cultura (deixou em construção) |
Pronto-Socorro da Zona Noroeste |
Nova garagem da SMTC, no Jabaquara |
Construção do Horto Municipal do Jardim Bom Retiro |
Bairros |
Drenagem e pavimentação de toda a Ponta da Praia |
Drenagem e pavimentação de todo o Jabaquara |
Drenagem e pavimentação de todo o Marapé |
Drenagem e pavimentação da Vila Belmiro |
Drenagem e pavimentação da área entre os canais 4 e 6 |
Término da segunda pista das praias, desde o Boqueirão até a Ponta da Praia, e do
Canal 2 até o José Menino na divisa com São Vicente, com a construção total dos jardins da praia, inclusive com alimentação elétrica subterrânea |
Escolas |
Conjunto Educacional da Vila Belmiro com dois prédios escolares e Praça de
Esportes |
Grupo Escolar do Marapé |
Grupo Escolar da Nova Cintra |
Grupo Escolar na Rua Brás Cubas/Sete de Setembro |
Instituto Municipal do Comércio |
Grupo Escolar de Bertioga |
Grupo Escolar da Vila São Jorge |
Grupo Escolar do Jardim Santa Maria |
Grupo Escolar Pedro II, na Ponta da Praia |
Grupo Escolar do Jardim São Manoel |
Parque Infantil da Zona Noroeste |
Obras viárias |
Ligação Santos/São Vicente: Avenida Nossa Senhora de Fátima |
Alargamento e obras de entrada da Cidade |
Repavimentação em concreto asfáltico de cerca de 100 quilômetros de vias |
Início das obras de alargamento do centro da Cidade |
Transportes |
Implantação total dos serviços de trólebus em Santos |
Complementação das linhas de trólebus (Av. Cons. Nébias e Macuco) e colocação de
35 trólebus em operação |
Compra de 145 ônibus novos |
Fonte: Arquivo A Tribuna
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Sílvio Fernandes Lopes (E) e Esmeraldo Tarquínio (D)
Foto: arquivo/jornal santista A Tribuna, em 15/2/1981
Sílvio Fernandes Lopes foi o paraninfo da turma de formandas do curso de piano do
Conservatório Musical de Santos, em cerimônia realizada no Teatro Coliseu em 22/12/1959
Foto: acervo de Maria Elvira Rodrigues Pfeifer (à esquerda na foto),
publicada na seção Imagem do passado do jornal santista A Tribuna, em
27/1/2006
Sílvio Fernandes Lopes
Foto: jornal santista A Tribuna de 13 de abril de 1969
(exemplar no acervo de António Mendes, de Praia Grande/SP)
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Este texto é parte de um livro sobre o fundador da revista
Destaque, Emiry Felicio, e personalidades santistas com que ele conviveu, e que foi deixado inédito pelo jornalista Paulo Mattos, falecido em
19/7/2010. A entrevista com Silvio Fernandes Lopes ocorreu em 1997. Sua publicação em Novo Milênio foi autorizada por seus familiares em
agosto de 2012: O prefeito Silvio conta Emiry
Ele é um retrato dos tempos de Emiry. Silvio Fernandes Lopes foi vereador e prefeito de Santos, duas vezes cada. A
segunda vez em que governou a cidade, de 1965 a 1969, teve como parceiro político o vereador Emiry Felicio. Que exerceu seu único mandato de
vereador de 1963 a 1968. Ninguém melhor do que ele poderia descrever este nosso personagem Emiry.
Aliado a que atribui grande importância nessa época, Silvio fala com saudade de Emiry Felicio, a quem não vê há
décadas, mas que guarda com perfeição os ricos momentos dessa convivência. "Foram grandes tempos, de ágil participação deste que, ainda que de
longe, guardo grata recordação", fala Silvio, o mais jovem prefeito - 32 anos - que Santos já teve.
Aos 71 anos, Silvio dirige a Constran em São Paulo, onde reside. Mas pretende retornar a Santos, para o gozo da
eternidade... "Santos não é terra dos aposentados, como dizem? Pois pretendo, quando deixar de trabalhar, voltar para lá. Porque é a minha terra!",
diz.
Recordando dos tempos em que administrou a cidade, experiência que lhe valeu um aprendizado de vida e que deixou
gravada na alma dos santistas sua presença, Silvio detalha o procedimento do então jovem Emiry: lépido,hábil, experto e leal. "E não fisiológico -
observa -, elemento prestativo e que se empenhava para colocar-se à disposição na medida de sua capacidade, que revelava de alto gabarito", revela o
ex-prefeito.
Uma das circunstâncias mais marcantes dessa convivência, que cedo Silvio diz ter aprendido a valorizar, foi o
episódio da eleição do presidente da Câmara, em 1968 -, que resultou na eleição de Odair Viegas. Narrado por Emiry em suas histórias neste livro, o
episódio revelou, segundo Silvio, a perspicácia e a rapidez política exigidas para aquele momento.
"Ele era muito simpático, cordial e independente" - reporta Silvio -, como ainda deve ser, acrescenta. E foi útil
no instante em que precisávamos eleger a direção da Câmara, sem a qual ninguém governa. É essencial para o Executivo a sintonia com o Legislativo,
ou nada é possível", explica o ex-prefeito.
Em sua experimentada experiência política, em que foi vereador e prefeito igualmente por duas vezes, e secretário
de Estado, também em duas oportunidades, Silvio Fernandes Lopes compreende que em política não se pode insistir em propostas que não encontram eco
entre os parceiros: "Há de se encontrar saídas viáveis".
"Naquele momento, Alvaro Fontes, nosso amigo e brilhante vereador,não contava com o apoio da maioria. Era preciso
um nome que fluísse, com possibilidades de eleição. E foi Emiry quem trouxe esse nome", relembra Silvio.
Contando que apesar de não ver Emiry há muito tempo, lê sempre sua revista, que recebe regularmente, Silvio cita a
"grande atividade " de Emiry como vereador, "irrequieto, criativo, dono de uma atuação política forte e persistente. Aquele momento histórico não
poderia viver sem ele, infelizmente aliás por apenas um mandato, que ele exerceu", conta Silvio.
"Mesmo fora da arena política, Emiry atuou levando reivindicações de grupos populares, sem nunca ter feito de seu
gabinete um balcão de negócios em benefício próprio. Em todos os eventos que participei, tive o apoio de Emiry", localiza historicamente o
ex-dirigente santista.
Valorização
Com um acervo de obras que o credencia como um dos maiores prefeitos que a cidade já teve, título que aliás concede
a Oswaldo Justo, Silvio Fernandes Lopes é engenheiro civil e, como tal, dedicou suas gestões ao atendimento da grande reivindicação da época - a
urbanização. Silvio foi fundador da Prodesan, em 1965 - e esta uma ferramenta para a dinamização das realizações.
"Eu não pavimentei e drenei ruas, mas bairros inteiros", recorda Silvio, que em 1957 venceu sua primeira eleição à
Prefeitura comandando uma frente popular, a primeira ocorrida em Santos, há quase quarenta anos. "Foi a maior drenagem já ocorrida em Santos desde
Saturnino de Brito", compara ele, citando aquela realizada no bairro da Ponta da Praia, "onde não há enchentes até hoje", diz.
A construção de prédios escolares foi outro ponto forte das gestões de Silvio. Quem terminou a obra da pista da
praia, realizada em sua maior parte por seu antecessor Antonio Feliciano. Silvio venceu a eleição contra o candidato oficial, apoiado pelo então
prefeito. Que, como deputado federal, conseguiu a autonomia de Santos, em 1953, ano em que se elegeria prefeito.
Dentre suas realizações, Silvio cita o trabalho de iluminação, em que Santos foi a primeira cidade do Brasil a ter
vapor de mercúrio nas ruas. "Ainda comprei muitos ônibus e instalei a rede e adquiri os primeiros trólebus", recorda. A abertura da pista de entrada
da cidade, "estreitada por uma enorme pedra, em que ninguém mexia", observa -, a urbanização era o tema popular em um tempo em que saúde e educação
eram satisfatórios", diz.
"A cidade era um canteiro de obras", argumenta Silvio, frisando que o governo avançava na medida do entendimento
entre Executivo e Legislativo, onde sempre contou com a maioria dos vereadores.
Filho de Cordovil Fernandes Lopes, recorda que seu pai foi o segundo brasileiro na direção dos serviços da SPR - a
"São Paulo Railway", a empresa ferroviária. "Começou como ajudante de telegrafistas e chegou a chefe do distrito de Santos da empresa", relembra.
Cordovil Fernandes Lopes, importante dirigente da empresa canadense SPR, "só nã chegou ao cargo máximo porque a
legislação brasileira exigia a formação em Engenharia, que ele não tinha", salienta Silvio.
Silvio conta que o pai foi dirigente de diversas entidades, como o Anália Franco, Asilo de Inválidos, Centro
Português, Escola Portuguesa e Santa Casa. E é nome de uma rua no Jardim Castelo, na Zona Noroeste.
"Ele não gostava de política, no sentido do exercício", segue Silvio falando de seu pai. "E foi contra a minha
candidatura a vereador. Mas eu quis e ele aceitou, me ajudando". O ex-prefeito lembra que todo homem é um ser político, "mas há aqueles que disputam
os cargos e os que ficam de fora dando palpite", ironiza.
"A geração que surgiu comigo levou alguns muito cedo, como Fernando Oliva e Alvaro Fontes, homem de muita
atividade", recorda, citando Tarquínio - "histórico adversário na política, mas amigo". "Eu e Emiry aqui estamos, gente como Mário Covas, hoje
governador, foi meu diretor de obras", diz, relatando os companheiros de sua geração política.
Caracterizando-se hoje como "um simples eleitor", Silvio é o mais antigo prefeito eleito de Santos entre nós.
A história "Silvista"
Vereador eleito pela primeira vez em 1948, Silvio assumiu a vaga de Germano Melchert de Castro, na Câmara que teve
cassados os mandatos dos 14 vereadores comunistas, eleitos pelo PST. Melchert de Castro renunciaria em 15 de janeiro deste ano, 15 dias após a
posse, abrindo a vaga para Sílvio.
Os vereadores de 48 - a 15ª Legislatura
Dr. Agostinho Ferramenta da Silva; Alexandre Alves Peixoto Filho (perdeu vaga para o dr. Julio Moreno); Antonio
Alves Arantes; Antonio Bento de Amorim Filho; prof. Arthur Rivau; prof. André Freire; Athié Jorge Coury (renunciou em 8/3/1951, eleito deputado
estadual); Cypriano Marques Filho (renunciou em 10/11/1951); dr. Crisnauro Bustamante Bacelar (renunciou em 2/2/1950); Edgar Perdigão; Felipe
Folganes; Florival Barletta; Francisco Mendes; Gustavo Martini; Henrique Soler; Ibraym do Carmo Mauá; Isaac de Oliveira; João Antunes de Mattos; dr.
João Carlos de Azevedo; dr. Julio Moreno (entrou no lugar de Alexandre Alves P. Filho); Laurindo Chaves; Luiz La Scala; Manoel Bento de Souza;
Nelson Noschese; Pedro Teodoro da Cunha; Rafael dos Santos Tavares (renunciou em 8/3/1951, eleito deputado estadual); Salvador Evangelista; Zeny de
Sá Goulart (assumiu no lugar de Frederico Câmara Neiva, que se recusou a ocupar o lugar dos comunistas cassados); Germano Melchert de Castro
(renunciou em 15/1/1948); dr. Silvio Fernandes Lopes; Benedito Neves Goes.
Suplentes convocados - dr. Silvio Fortunato; José Raimundo Pinto Leite; Hugo Pacheco Chagas; Edmundo Gomes de
Queiroz; Fausto Saddi; Layre Giraud; Albino de Oliveira (assumiu no lugar de Athié J. Coury); Vicente Molinari; Oswaldo Franco Domingues; Sócrates
Aranha de Menezes; Nestor Bitencourt; Alfredo Garcia.
A trajetória de Silvio
Reeleito para o mandato na Câmara de 1951 a 1955, quando seu partido, o PSP, elegeu a maior bancada, Silvio foi
vice-presidente da cada em 1952/1953. Não se candidatou à reeleição, pois estava preparando sua candidatura a prefeito, nas eleições de 1957, que
venceu.
Os vereadores de 1952 - a 16ª Legislatura
Prof. Arthur Rivau (renunciou em 9/4/1953, eleito vice-prefeito); Lucio da Silva Graça; Antonio Bento do Amorim
Filho; dr. Agostinho Ferramenta; dr. Julio Moreno; prof. Domingos Fuschini; dr. José Carlos Marques; João Inácio de Souza; Remo Petrarchi;
Aristóteles Ferreira; Gustavo Martini; Henrique Soler; Laurindo Chaves; Luiz La Scala; Manoel Paulino; Silvio Fernandes Lopes; dr. Washington di
Giovanni; Albino de Oliveira; dr. João Carlos de Azevedo; dr. Silvio Fortunato; Antonio Moreira; Benedito Neves Goes; José Carlos Junior; sr. Pedro
de Castro Rocha; Walter Roux Paulino; José Cintra Batista; Antonio Alves Filho; Waldemar Noschese; Francisco Mendes; Florival Barleta.
Suplentes convocados - Antonio Ferreira; Waldemar Metropolo; Eduardo Tobias; Manoel Bento de Souza; Vicente
Molinari; José Pires Castanho Filho; Oswaldo Justo (convocado no lugar de Antonio Alves Filgueiras); Paulo Nakandakare.
Silvio, a estrela sobe: agora prefeito
Nesse pleito, ocorrido em 24 de março de 1957, Silvio teve quase 52% dos votos, com o vereador Florival Barleta
como vice. Enfrentava o candidato oficial, apoiado por Feliciano, o também engenheiro Nilde Ribeiro dos Santos, do PSB. Contra ele, o jornal
A Tribuna, que apoiava o candidato oficial, coligado com o PSD, UDN e PL. O candidato a vice de Nilde era Amorim Filho.
Nessa disputa, Silvio comanda uma frente progressista, apoiada pelos comunistas, com o PST, PRT e dissidências do
PTN, PSD e PSB: é a "Frente Municipalista", que arrasta o apoio dos sindicatos operários. Concorrem também Arthur Rivau e Coutinho Marques,
respectivamente pelo PDC e pelo PR e PRP. Silvio é o candidato popular, com forte expressão nos bairros operários.
O vice de Silvio era Florival Barletta, do PTB, com quem o PSP sempre fez alianças. Mas em tempos em que a
candidatura a vice era independente, Jaime Peres sai pelo PTN e forma a "dobradinha progressista" com Silvio, apesar de estar na parceria com Athié.
E acaba eleito. Em 1958, Silvio estaria em um comício com Luiz Carlos Prestes, o líder comunista, pela eleição de Adhemar de Barros.
Na sucessão de Silvio, em 1961, este apoia e elege seu diretor de obras, o engenheiro Luiz La Scala Junior.
Novamente com apoio dos comunistas e do PSP, PTB, PL e PSB. Vencendo Athié, do PDC e do PRT, Covas, da UDN, PTN e com apoio do Movimento
Independente dos Trabalhadores (MIT). E Antonio Feliciano, o ex-prefeito, do PSD.
Nessa disputa, o jornal A Tribuna apoia Mário Covas, mas novamente Silvio vence a eleição à revelia do poder
local do jornal. Nessa disputa, dobra outra vez o jornal local e vence com La Scala Junior, que teve 38% dos votos. "Na época, lembra Silvio, o nome
dele estava em todas as placas, nas dezenas de obras que realizamos simultaneamente". Era o diretor de obras e parceiro nas realizações, na reversão
popular que tinha sido imposta à Prefeitura.
A tragédia
Mas o destino iria se atravessar e o jovem engenheiro La Scala Junior, filho do ex-dirigente sindical e fundador da
Federação Operária Local de Santos, anarco-sindicalista, Luiz La Scala - depois vereador -, desapareceria no dia da diplomação. Um acidente de carro
no dia 4 de abril, e no dia 8 La Scala faleceria. Assume o prefeito José Gomes, do PTB.
Mas a trilha de Silvio prosseguiria. No ano seguinte, 1962, é o candidato mais votado para a Assembleia
Legislativa, com quase dezoito mil votos - 25% de toda a expressão popular no pleito para deputado estadual em Santos.
Pela repercussão alcançada em seu trabalho na Prefeitura, Silvio é o candidato local que obtém a maior parcela de
votos na cidade: 84% de sua votação é de Santos. Nas eleições seguintes para a Prefeitura, novamente Silvio é o candidato com condições de vitória.
Enfrenta um candidato forte, em ascensão, que se elegera vereador e deputado federal: Esmeraldo Tarquínio. Mas Silvio vence a disputa, com doze mil
votos à frente.
O nosso personagem abre e fecha uma época. Governa de 1965 até 1969, já dentro de um novo quadro político. Em 1964,
o país mudava pela força da "revolução" militar e Silvio se filia ao partido do governo, a Arena. Tarquínio vence as eleições para sua sucessão, mas
não toma posse: é cassado e a cidade perde a autonomia, outra vez. Governará o interventor, general-de-divisão Clóvis Bandeira Brasil, que inicia
uma série de prefeitos nomeados.
Em 1970, Silvio se elege deputado federal, com expressiva votação, o quinto mais votado do partido. O antigo
adversário Feliciano, que derrotara, já era seu aliado, parceiro na Arena. Em 1968 partilhara das negociações para a eleição de Odair Viegas à
presidência da Câmara Municipal. Na grande jogada de Emiry - que nela marcou seu prestígio junto às lideranças de então, Silvio e Feliciano. Que
chegaram a ir em sua casa para conferir a manobra vitoriosa de Emiry, contada em detalhes neste livro.
Com dois filhos, quatro netos, Silvio seria ainda secretário de Estado do governador Paulo Maluf por duas vezes. E
quando veio a autonomia para Santos, desta vez pelas mãos do deputado federal Gastone Righi, navegando por sobre uma forte expressão reivindicatória
da cidade, Silvio seria outra vez cogitado a candidatar-se.
Mas Silvio não aceita a incumbência para a qual dedicara boa parte de sua vida: não era mais o seu tempo,
acreditava, por aqui. Em 1958 ele vai para São Paulo, para integrar a direção da Constran. Mas a volta a Santos ainda ocorrerá - porque esta "é a
sua terra".
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