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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - OS DIRIGENTES
Sílvio Fernandes Lopes

De 14/4/1957 a 14/4/1961
De 14/4/1965 a 14/4/1969

No dia em que ocorreu o sepultamento de Sílvio Fernandes Lopes, em 6 de dezembro de 2005, o jornal santista A Tribuna destacou o fato, com esta matéria:


HOMENAGEM - O caixão foi colocado em um caminhão do Corpo de Bombeiros
e levado até o Paço Municipal
Foto: Rogério Soares, publicada com a matéria

Morre ex-prefeito Sílvio Fernandes Lopes

O ex-prefeito de Santos Sílvio Fernandes Lopes morreu na manhã de ontem, aos 80 anos, de parada cardíaca, em sua casa, na Capital. Ele foi trazido para a Cidade no início da noite. O velório está sendo realizado no Salão Nobre Esmeraldo Tarquínio, na Prefeitura. O enterro está marcado para o meio-dia, no Cemitério do Paquetá. Fernandes Lopes governou a Cidade entre os anos de 1957 e 1961 e 1965 e 1969.


Corpo do ex-prefeito chegou a Santos no final da tarde e seguiu para o Salão Nobre da Prefeitura
Foto: Rogério Soares, publicada com a matéria

SÍLVIO FERNANDES LOPES
Adeus

O ex-prefeito morreu ontem em sua casa na Capital, aos 80 anos. Seu corpo está sendo velado na Prefeitura e será sepultado no Cemitério do Paquetá

Da Reportagem

O ex-prefeito Sílvio Fernandes Lopes, que governou Santos entre os anos de 1957 e 1961 e 1965 e 1969, morreu na manhã de ontem, em São Paulo, aos 80 anos. O velório está sendo realizado no Salão Nobre Esmeraldo Tarquínio da Prefeitura desde as 19 horas de ontem. O enterro está marcado para o meio-dia, no Cemitério do Paquetá.

Sílvio Fernandes Lopes estava em sua casa, na Capital, por volta das 9h30, e se preparava para ir trabalhar na empresa de engenharia onde era presidente, a Constran, quando se sentiu mal, com falta de ar, e teve uma parada cardíaca.

Ele foi socorrido pela mulher, Arlete Telles Lopes, de 80 anos, e pelo filho Sílvio Fernandes Lopes Júnior, de 57. Os dois chamaram a ambulância, mas o ex-prefeito não resistiu e morreu em casa. Segundo outro filho, Sérgio Telles Fernandes, de 55, o pai havia superado no início do ano um câncer de próstata, mas continuava sua luta contra o cigarro. O ex-prefeito também deixou quatro netos e cinco bisnetos.

O corpo de Sílvio Fernandes Lopes chegou a Santos por volta das 18 horas. Na Avenida Martins Fontes, entrada da Cidade, o caixão foi colocado em um caminhão do Corpo de Bombeiros e levado até o Paço Municipal, onde chegou por volta das 18h30. Políticos, antigos companheiros de administração, amigos e jornalistas o aguardavam para a última homenagem.

Como na época de vida pública, o ex-prefeito, que completaria 81 anos no próximo sábado, foi recebido com palmas. Sobre o caixão, as bandeiras da Cidade de Santos e do Santos Futebol Clube.

No Salão Nobre Esmeraldo Tarquínio, perto da porta principal, há um busto de bronze do ex-prefeito, uma homenagem prestada pelos servidores públicos municipais. "Com a Lei 2232-60, Sílvio Fernandes Lopes amparou a família do servidor municipal. Este bronze simboliza nossa gratidão. 2 de janeiro de 1960".

"Na política, as pessoas geralmente fazem amigos e inimigos, mas ele fez amigos e adversários", afirmou o filho Sérgio.

A mulher do ex-prefeito lembrou emocionada dos 57 anos de casamento e da atenção dispensada por ele à família.

"Conheci o Sílvio quando tínhamos 12 anos. Aos 22 anos já estávamos casados. Ele sempre teve esse espírito de liderança. Foi um prazer conviver com esse homem que, mesmo diante de todas as responsabilidades da vida pública, nunca deixou a família em segundo plano. Sempre fez questão de estar presente na educação dos filhos, netos e bisnetos".

Dedicação 

"Foi um prazer conviver com esse homem que, mesmo diante de todas as responsabilidades da vida pública, nunca deixou a família em segundo plano"

Arlete Telles Lopes
Mulher do ex-prefeito

Juscelino - Para o prefeito João Paulo Tavares Papa, que decretou luto oficial de três dias a contar de ontem, Sílvio Fernandes Lopes era uma referência como político. "Um dos prefeitos que deixaram uma marca mais forte em termos de estilo e trabalhos executados. Ele tinha uma filosofia desenvolvimentista, era o JK (ex-presidente Juscelino Kubitschek) de Santos".

Com políticos e sindicalistas, o ex-prefeito chegou a se encontrar com o então presidente Juscelino Kubitschek, para que ele ajudasse a solucionar um impasse que motivou uma greve geral na Cidade. O jornalista de A Tribuna Hamleto Rosato, de 91 anos, conta que acompanhou a comitiva como repórter. "Ele é o único prefeito de quem eu não ouço falar mal".

O advogado do Santos FC Mário Mello Soares, ex-assessor do ex-prefeito, acompanhou-o durante 25 anos e coordenou suas duas últimas campanhas. Ele lembrou do início da carreira política do ex-prefeito, aos 23 anos, como vereador. E comentou ainda que foi o prefeito mais jovem da história da Cidade, aos 32 anos. "Ele foi um fenômeno na política e realizou obras espetaculares".

O então secretário de Educação João Carlos de Alencastro Guimarães, de 82 anos, lembrou: "Ele construiu várias escolas, como a Primo Ferreira, a Azevedo Júnior e a Acácio de Paula Leite Sampaio". O ex-assessor Waldemar de Andrade destacou as obras do ex-prefeito nos morros, como pavimentação e saneamento.


Sílvio Fernandes Lopes encontrou-se com o presidente JK
Foto: Paulo Freitas, em 13/9/2000, publicada com a matéria

Câmara - Foi através de uma indicação de Sílvio Fernandes Lopes que o hoje presidente da Câmara e também ex-prefeito, Paulo Gomes Barbosa, iniciou sua vida pública. Ele o chamou para presidir a Bolsa Oficial de Café de Santos.

Na avaliação de Barbosa, o ex-prefeito "foi um dos melhores administradores do Município. Era trabalhador, cobrador de resultados, objetivo e sabia comandar". Barbosa suspendeu a sessão da Câmara de ontem.

A audiência pública da Comissão Especial de Vereadores (CEV) da Habitação, marcada para a noite de ontem, foi transferida para amanhã, também em virtude da morte do ex-prefeito.

O atual secretário municipal de Cultura, Carlos Pinto, também credita sua estréia na política a Sílvio Fernandes Lopes. "Um de seus grandes feitos foi ter conseguido criar o Centro de Cultura Patrícia Galvão. A ideia foi levada a ele pelo pessoal da Cultura e ele rapidamente me surpreendeu com o projeto. O centro acabou sendo entregue pelo Carvalhinho (prefeito que o sucedeu, Antônio Manoel de Carvalho)".

O secretário-adjunto de Estado da Educação Paulo Alexandre Barbosa representou o governador Geraldo Alckmin e prestou solidariedade à família do ex-prefeito durante o velório.

Perfil de Sílvio Fernandes Lopes
10 de dezembro de 1924 - Em Santos, nasce Sílvio Fernandes Lopes, filho de Cordovil Fernandes Lopes e de Maria Coelho Lopes
1947 - Forma-se em Engenharia Civil pela Escola de Engenharia Mackenzie
De 22/1/1948 a 31/12/1951 - Primeiro mandato como vereador em Santos
De 1º/1/1952 a 31/12/1955 - Segundo mandato como vereador em Santos
De 14/4/1957 a 14/4/1961 - Primeiro mandato como prefeito de Santos
14/3/1963 - Assume mandato como deputado estadual. Renuncia em 14/4/1965 para assumir o cargo de prefeito de Santos
1º/2/1963 - Assume como secretário do Estado dos Negócios da Viação e Obras Públicas de São Paulo. É exonerado, a pedido, em 28/2/1963
28/12/1963 - Assume como secretário de Estado dos Negócios e Serviços e Obras Públicas de São Paulo. É exonerado, a pedido, em 9/4/1964
De 14/4/1965 a 14/4/1969 - Segundo mandato como prefeito de Santos
De 1º/2/1971 a 1º/2/1975 - Mandato como deputado federal
1º/2/1979 a 1º/2/1983 - Mandato como deputado federal
15/3/1979 - Assume como secretário de Estado dos Negócios de Obras e do Meio-Ambiente de São Paulo. É exonerado, a pedido, em 8/1980
8/8/1980 - Assume como secretário de Estado dos Negócios Metropolitanos de São Paulo. É exonerado, a pedido, em 12/5/1982
1985 - Exerce o cargo de diretor do Grupo Itamarati-Constran Engenharia S.A.
1990 a 2005 - Preside a empresa Constran S.A.
Fonte: Arquivo A Tribuna

Ex-prefeito dedicou 40 anos à vida pública

Da Pesquisa

Considerado por muitos um dos maiores políticos que a Cidade já produziu, o engenheiro Sílvio Fernandes Lopes dedicou quase 40 anos de sua vida à carreira pública.

Além de prefeito eleito por duas gestões, acumulou mandatos legislativos como vereador, deputado estadual e federal. Também foi secretário de Estado nos governos de Adhemar de Barros e Paulo Maluf. Sua saída da vida pública ocorreu em 1982.

Mesmo longe da carreira política, acompanhava da Capital tudo o que acontecia na Cidade. Em setembro de 2000 - véspera de eleições para prefeito -, disse a A Tribuna que fazia questão de vir a Santos dar o seu voto, mesmo não tendo mais a obrigação, já que os 75 anos o isentavam do dever.

Quando esteve à frente da Prefeitura, Lopes concluiu obras importantes (ver quadro).

Foi no primeiro governo que iniciou a construção do antigo Horto Municipal (Jardim Botânico Chico Mendes), garagem dos ônibus no Jabaquara, PS do Macuco, cinco escolas e a instalação da Caixa de Pecúlios dos Servidores Municipais.

Na segunda administração, construiu a Avenida Nossa Senhora de Fátima, a Estação Rodoviária, o PS da Zona Noroeste, além de ter criado a Prodesan e mais sete escolas públicas.

 

Última entrevista a A Tribuna foi em 2002

 
Aos 23 anos, foi vereador
Foto: Flávia Santini Stockler, em 22/10/1991, publicada com a matéria

Partidos - O ex-prefeito começou sua vida política pelo extinto Partido Social Progressista (PSP), só se afastando da legenda quando da reforma partidária, após o golpe militar de 1964. Optou pela Arena e, com a redemocratização, pelo PDS.

Não chegou a pegar a dissidência do PDS que foi para o PPB de Paulo Maluf, porque naquela época já estava abandonando a carreira política.

Seu último cargo público foi como secretário de Estado de Obras e Meio-Ambiente e depois de Negócios Metropolitanos, no governo de Paulo Maluf (78-82).

Em 1985, dedicou-se à iniciativa privada, na Capital, assumindo a direção comercial da Constran Engenharia, uma grande construtora paulistana do Grupo Itamarati.

Fim da política - Em matéria publicada em A Tribuna, em 28 de outubro de 1991, ilustrada com fotos de Flávia Santini Stockler, diretora de Circulação de A Tribuna, Lopes revelou a sua decisão de encerrar a carreira política definitivamente. "Eu não disputarei mais nenhum cargo eletivo, visto que a minha fase como político já passou".

Em novembro de 2002, em uma de suas vindas a Santos, Lopes concedeu sua última entrevista a A Tribuna.

Obras e melhoramentos
Realizados por Sílvio Fernandes Lopes, quando prefeito da Cidade

Equipamentos urbanos
Estação Rodoviária
Edifício sede da Prodesan
Conjunto cultural, teatro, biblioteca e salas de cultura (deixou em construção)
Pronto-Socorro da Zona Noroeste
Nova garagem da SMTC, no Jabaquara
Construção do Horto Municipal do Jardim Bom Retiro
Bairros
Drenagem e pavimentação de toda a Ponta da Praia
Drenagem e pavimentação de todo o Jabaquara
Drenagem e pavimentação de todo o Marapé
Drenagem e pavimentação da Vila Belmiro
Drenagem e pavimentação da área entre os canais 4 e 6
Término da segunda pista das praias, desde o Boqueirão até a Ponta da Praia, e do Canal 2 até o José Menino na divisa com São Vicente, com a construção total dos jardins da praia, inclusive com alimentação elétrica subterrânea
Escolas
Conjunto Educacional da Vila Belmiro com dois prédios escolares e Praça de Esportes
Grupo Escolar do Marapé
Grupo Escolar da Nova Cintra
Grupo Escolar na Rua Brás Cubas/Sete de Setembro
Instituto Municipal do Comércio
Grupo Escolar de Bertioga
Grupo Escolar da Vila São Jorge
Grupo Escolar do Jardim Santa Maria
Grupo Escolar Pedro II, na Ponta da Praia
Grupo Escolar do Jardim São Manoel
Parque Infantil da Zona Noroeste
Obras viárias
Ligação Santos/São Vicente: Avenida Nossa Senhora de Fátima
Alargamento e obras de entrada da Cidade
Repavimentação em concreto asfáltico de cerca de 100 quilômetros de vias
Início das obras de alargamento do centro da Cidade
Transportes
Implantação total dos serviços de trólebus em Santos
Complementação das linhas de trólebus (Av. Cons. Nébias e Macuco) e colocação de 35 trólebus em operação
Compra de 145 ônibus novos
Fonte: Arquivo A Tribuna


Sílvio Fernandes Lopes (E) e Esmeraldo Tarquínio (D)
Foto: arquivo/jornal santista A Tribuna, em 15/2/1981


Sílvio Fernandes Lopes foi o paraninfo da turma de formandas do curso de piano do Conservatório Musical de Santos, em cerimônia realizada no Teatro Coliseu em 22/12/1959
Foto: acervo de Maria Elvira Rodrigues Pfeifer (à esquerda na foto),
publicada na seção Imagem do passado do jornal santista A Tribuna, em 27/1/2006


Sílvio Fernandes Lopes
Foto: jornal santista A Tribuna de 13 de abril de 1969
(exemplar no acervo de António Mendes, de Praia Grande/SP)

Este texto é parte de um livro sobre o fundador da revista Destaque, Emiry Felicio, e personalidades santistas com que ele conviveu, e que foi deixado inédito pelo jornalista Paulo Mattos, falecido em 19/7/2010. A entrevista com Silvio Fernandes Lopes ocorreu em 1997. Sua publicação em Novo Milênio foi autorizada por seus familiares em agosto de 2012:

O prefeito Silvio conta Emiry

Ele é um retrato dos tempos de Emiry. Silvio Fernandes Lopes foi vereador e prefeito de Santos, duas vezes cada. A segunda vez em que governou a cidade, de 1965 a 1969, teve como parceiro político o vereador Emiry Felicio. Que exerceu seu único mandato de vereador de 1963 a 1968. Ninguém melhor do que ele poderia descrever este nosso personagem Emiry.

Aliado a que atribui grande importância nessa época, Silvio fala com saudade de Emiry Felicio, a quem não vê há décadas, mas que guarda com perfeição os ricos momentos dessa convivência. "Foram grandes tempos, de ágil participação deste que, ainda que de longe, guardo grata recordação", fala Silvio, o mais jovem prefeito - 32 anos - que Santos já teve.

Aos 71 anos, Silvio dirige a Constran em São Paulo, onde reside. Mas pretende retornar a Santos, para o gozo da eternidade... "Santos não é terra dos aposentados, como dizem? Pois pretendo, quando deixar de trabalhar, voltar para lá. Porque é a minha terra!", diz.

Recordando dos tempos em que administrou a cidade, experiência que lhe valeu um aprendizado de vida e que deixou gravada na alma dos santistas sua presença, Silvio detalha o procedimento do então jovem Emiry: lépido,hábil, experto e leal. "E não fisiológico - observa -, elemento prestativo e que se empenhava para colocar-se à disposição na medida de sua capacidade, que revelava de alto gabarito", revela o ex-prefeito.

Uma das circunstâncias mais marcantes dessa convivência, que cedo Silvio diz ter aprendido a valorizar, foi o episódio da eleição do presidente da Câmara, em 1968 -, que resultou na eleição de Odair Viegas. Narrado por Emiry em suas histórias neste livro, o episódio revelou, segundo Silvio, a perspicácia e a rapidez política exigidas para aquele momento.

"Ele era muito simpático, cordial e independente" - reporta Silvio -, como ainda deve ser, acrescenta. E foi útil no instante em que precisávamos eleger a direção da Câmara, sem a qual ninguém governa. É essencial para o Executivo a sintonia com o Legislativo, ou nada é possível", explica o ex-prefeito.

Em sua experimentada experiência política, em que foi vereador e prefeito igualmente por duas vezes, e secretário de Estado, também em duas oportunidades, Silvio Fernandes Lopes compreende que em política não se pode insistir em propostas que não encontram eco entre os parceiros: "Há de se encontrar saídas viáveis".

"Naquele momento, Alvaro Fontes, nosso amigo e brilhante vereador,não contava com o apoio da maioria. Era preciso um nome que fluísse, com possibilidades de eleição. E foi Emiry quem trouxe esse nome", relembra Silvio.

Contando que apesar de não ver Emiry há muito tempo, lê sempre sua revista, que recebe regularmente, Silvio cita a "grande atividade " de Emiry como vereador, "irrequieto, criativo, dono de uma atuação política forte e persistente. Aquele momento histórico não poderia viver sem ele, infelizmente aliás por apenas um mandato, que ele exerceu", conta Silvio.

"Mesmo fora da arena política, Emiry atuou levando reivindicações de grupos populares, sem nunca ter feito de seu gabinete um balcão de negócios em benefício próprio. Em todos os eventos que participei, tive o apoio de Emiry", localiza historicamente o ex-dirigente santista.

Valorização

Com um acervo de obras que o credencia como um dos maiores prefeitos que a cidade já teve, título que aliás concede a Oswaldo Justo, Silvio Fernandes Lopes é engenheiro civil e, como tal, dedicou suas gestões ao atendimento da grande reivindicação da época - a urbanização. Silvio foi fundador da Prodesan, em 1965 - e esta uma ferramenta para a dinamização das realizações.

"Eu não pavimentei e drenei ruas, mas bairros inteiros", recorda Silvio, que em 1957 venceu sua primeira eleição à Prefeitura comandando uma frente popular, a primeira ocorrida em Santos, há quase quarenta anos. "Foi a maior drenagem já ocorrida em Santos desde Saturnino de Brito", compara ele, citando aquela realizada no bairro da Ponta da Praia, "onde não há enchentes até hoje", diz.

A construção de prédios escolares foi outro ponto forte das gestões de Silvio. Quem terminou a obra da pista da praia, realizada em sua maior parte por seu antecessor Antonio Feliciano. Silvio venceu a eleição contra o candidato oficial, apoiado pelo então prefeito. Que, como deputado federal, conseguiu a autonomia de Santos, em 1953, ano em que se elegeria prefeito.

Dentre suas realizações, Silvio cita o trabalho de iluminação, em que Santos foi a primeira cidade do Brasil a ter vapor de mercúrio nas ruas. "Ainda comprei muitos ônibus e instalei a rede e adquiri os primeiros trólebus", recorda. A abertura da pista de entrada da cidade, "estreitada por uma enorme pedra, em que ninguém mexia", observa -, a urbanização era o tema popular em um tempo em que saúde e educação eram satisfatórios", diz.

"A cidade era um canteiro de obras", argumenta Silvio, frisando que o governo avançava na medida do entendimento entre Executivo e Legislativo, onde sempre contou com a maioria dos vereadores.

Filho de Cordovil Fernandes Lopes, recorda que seu pai foi o segundo brasileiro na direção dos serviços da SPR - a "São Paulo Railway", a empresa ferroviária. "Começou como ajudante de telegrafistas e chegou a chefe do distrito de Santos da empresa", relembra.

Cordovil Fernandes Lopes, importante dirigente da empresa canadense SPR, "só nã chegou ao cargo máximo porque a legislação brasileira exigia a formação em Engenharia, que ele não tinha", salienta Silvio.

Silvio conta que o pai foi dirigente de diversas entidades, como o Anália Franco, Asilo de Inválidos, Centro Português, Escola Portuguesa e Santa Casa. E é nome de uma rua no Jardim Castelo, na Zona Noroeste.

"Ele não gostava de política, no sentido do exercício", segue Silvio falando de seu pai. "E foi contra a minha candidatura a vereador. Mas eu quis e ele aceitou, me ajudando". O ex-prefeito lembra que todo homem é um ser político, "mas há aqueles que disputam os cargos e os que ficam de fora dando palpite", ironiza.

"A geração que surgiu comigo levou alguns muito cedo, como Fernando Oliva e Alvaro Fontes, homem de muita atividade", recorda, citando Tarquínio - "histórico adversário na política, mas amigo". "Eu e Emiry aqui estamos, gente como Mário Covas, hoje governador, foi meu diretor de obras", diz, relatando os companheiros de sua geração política.

Caracterizando-se hoje como "um simples eleitor", Silvio é o mais antigo prefeito eleito de Santos entre nós.

A história "Silvista"

Vereador eleito pela primeira vez em 1948, Silvio assumiu a vaga de Germano Melchert de Castro, na Câmara que teve cassados os mandatos dos 14 vereadores comunistas, eleitos pelo PST. Melchert de Castro renunciaria em 15 de janeiro deste ano, 15 dias após a posse, abrindo a vaga para Sílvio.

Os vereadores de 48 - a 15ª Legislatura

Dr. Agostinho Ferramenta da Silva; Alexandre Alves Peixoto Filho (perdeu vaga para o dr. Julio Moreno); Antonio Alves Arantes; Antonio Bento de Amorim Filho; prof. Arthur Rivau; prof. André Freire; Athié Jorge Coury (renunciou em 8/3/1951, eleito deputado estadual); Cypriano Marques Filho (renunciou em 10/11/1951); dr. Crisnauro Bustamante Bacelar (renunciou em 2/2/1950); Edgar Perdigão; Felipe Folganes; Florival Barletta; Francisco Mendes; Gustavo Martini; Henrique Soler; Ibraym do Carmo Mauá; Isaac de Oliveira; João Antunes de Mattos; dr. João Carlos de Azevedo; dr. Julio Moreno (entrou no lugar de Alexandre Alves P. Filho); Laurindo Chaves; Luiz La Scala; Manoel Bento de Souza; Nelson Noschese; Pedro Teodoro da Cunha; Rafael dos Santos Tavares (renunciou em 8/3/1951, eleito deputado estadual); Salvador Evangelista; Zeny de Sá Goulart (assumiu no lugar de Frederico Câmara Neiva, que se recusou a ocupar o lugar dos comunistas cassados); Germano Melchert de Castro (renunciou em 15/1/1948); dr. Silvio Fernandes Lopes; Benedito Neves Goes.

Suplentes convocados - dr. Silvio Fortunato; José Raimundo Pinto Leite; Hugo Pacheco Chagas; Edmundo Gomes de Queiroz; Fausto Saddi; Layre Giraud; Albino de Oliveira (assumiu no lugar de Athié J. Coury); Vicente Molinari; Oswaldo Franco Domingues; Sócrates Aranha de Menezes; Nestor Bitencourt; Alfredo Garcia.

A trajetória de Silvio

Reeleito para o mandato na Câmara de 1951 a 1955, quando seu partido, o PSP, elegeu a maior bancada, Silvio foi vice-presidente da cada em 1952/1953. Não se candidatou à reeleição, pois estava preparando sua candidatura a prefeito, nas eleições de 1957, que venceu.

Os vereadores de 1952 - a 16ª Legislatura

Prof. Arthur Rivau (renunciou em 9/4/1953, eleito vice-prefeito); Lucio da Silva Graça; Antonio Bento do Amorim Filho; dr. Agostinho Ferramenta; dr. Julio Moreno; prof. Domingos Fuschini; dr. José Carlos Marques; João Inácio de Souza; Remo Petrarchi; Aristóteles Ferreira; Gustavo Martini; Henrique Soler; Laurindo Chaves; Luiz La Scala; Manoel Paulino; Silvio Fernandes Lopes; dr. Washington di Giovanni; Albino de Oliveira; dr. João Carlos de Azevedo; dr. Silvio Fortunato; Antonio Moreira; Benedito Neves Goes; José Carlos Junior; sr. Pedro de Castro Rocha; Walter Roux Paulino; José Cintra Batista; Antonio Alves Filho; Waldemar Noschese; Francisco Mendes; Florival Barleta.

Suplentes convocados - Antonio Ferreira; Waldemar Metropolo; Eduardo Tobias; Manoel Bento de Souza; Vicente Molinari; José Pires Castanho Filho; Oswaldo Justo (convocado no lugar de Antonio Alves Filgueiras); Paulo Nakandakare.

Silvio, a estrela sobe: agora prefeito

Nesse pleito, ocorrido em 24 de março de 1957, Silvio teve quase 52% dos votos, com o vereador Florival Barleta como vice. Enfrentava o  candidato oficial, apoiado por Feliciano, o também engenheiro Nilde Ribeiro dos Santos, do PSB. Contra ele, o jornal A Tribuna, que apoiava o candidato oficial, coligado com o PSD, UDN e PL. O candidato a vice de Nilde era Amorim Filho.

Nessa disputa, Silvio comanda uma frente progressista, apoiada pelos comunistas, com o PST, PRT e dissidências do PTN, PSD e PSB: é a "Frente Municipalista", que arrasta o apoio dos sindicatos operários. Concorrem também Arthur Rivau e Coutinho Marques, respectivamente pelo PDC e pelo PR e PRP. Silvio é o candidato popular, com forte expressão nos bairros operários.

O vice de Silvio era Florival Barletta, do PTB, com quem o PSP sempre fez alianças. Mas em tempos em que a candidatura a vice era independente, Jaime Peres sai pelo PTN e forma a "dobradinha progressista" com Silvio, apesar de estar na parceria com Athié. E acaba eleito. Em 1958, Silvio estaria em um comício com Luiz Carlos Prestes, o líder comunista, pela eleição de Adhemar de Barros.

Na sucessão de Silvio, em 1961, este apoia e elege seu diretor de obras, o engenheiro Luiz La Scala Junior. Novamente com apoio dos comunistas e do PSP, PTB, PL e PSB. Vencendo Athié, do PDC e do PRT, Covas, da UDN, PTN e com apoio do Movimento Independente dos Trabalhadores (MIT). E Antonio Feliciano, o ex-prefeito, do PSD.

Nessa disputa, o jornal A Tribuna apoia Mário Covas, mas novamente Silvio vence a eleição à revelia do poder local do jornal. Nessa disputa, dobra outra vez o jornal local e vence com La Scala Junior, que teve 38% dos votos. "Na época, lembra Silvio, o nome dele estava em todas as placas, nas dezenas de obras que realizamos simultaneamente". Era o diretor de obras e parceiro nas realizações, na reversão popular que tinha sido imposta à Prefeitura.

A tragédia

Mas o destino iria se atravessar e o jovem engenheiro La Scala Junior, filho do ex-dirigente sindical e fundador da Federação Operária Local de Santos, anarco-sindicalista, Luiz La Scala - depois vereador -, desapareceria no dia da diplomação. Um acidente de carro no dia 4 de abril, e no dia 8 La Scala faleceria. Assume o prefeito José Gomes, do PTB.

Mas a trilha de Silvio prosseguiria. No ano seguinte, 1962, é o candidato mais votado para a Assembleia Legislativa, com quase dezoito mil votos - 25% de toda a expressão popular no pleito para deputado estadual em Santos.

Pela repercussão alcançada em seu trabalho na Prefeitura, Silvio é o candidato local que obtém a maior parcela de votos na cidade: 84% de sua votação é de Santos. Nas eleições seguintes para a Prefeitura, novamente Silvio é o candidato com condições de vitória. Enfrenta um candidato forte, em ascensão, que se elegera vereador e deputado federal: Esmeraldo Tarquínio. Mas Silvio vence a disputa, com doze mil votos à frente.

O nosso personagem abre e fecha uma época. Governa de 1965 até 1969, já dentro de um novo quadro político. Em 1964, o país mudava pela força da "revolução" militar e Silvio se filia ao partido do governo, a Arena. Tarquínio vence as eleições para sua sucessão, mas não toma posse: é cassado e a cidade perde a autonomia, outra vez. Governará o interventor, general-de-divisão Clóvis Bandeira Brasil, que inicia uma série de prefeitos nomeados.

Em 1970, Silvio se elege deputado federal, com expressiva votação, o quinto mais votado do partido. O antigo adversário Feliciano, que derrotara, já era seu aliado, parceiro na Arena. Em 1968 partilhara das negociações para a eleição de Odair Viegas à presidência da Câmara Municipal. Na grande jogada de Emiry - que nela marcou seu prestígio junto às lideranças de então, Silvio e Feliciano. Que chegaram a ir em sua casa para conferir a manobra vitoriosa de Emiry, contada em detalhes neste livro.

Com dois filhos, quatro netos, Silvio seria ainda secretário de Estado do governador Paulo Maluf por duas vezes. E quando veio a autonomia para Santos, desta vez pelas mãos do deputado federal Gastone Righi, navegando por sobre uma forte expressão reivindicatória da cidade, Silvio seria outra vez cogitado a candidatar-se.

Mas Silvio não aceita a incumbência para a qual dedicara boa parte de sua vida: não era mais o seu tempo, acreditava, por aqui. Em 1958 ele vai para São Paulo, para integrar a direção da Constran. Mas a volta a Santos ainda ocorrerá - porque esta "é a sua terra".