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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - ESTRADAS
Ferrovia leva o progresso ao Litoral Sul

Muitas das cidades do Litoral Sul devem seu surgimento ou desenvolvimento aos trilhos da ferrovia Santos-Juquiá, que estabeleceu a comunicação com aquela região num tempo em que não havia rodovias e o transporte marítimo costeiro sofria com o declínio dos pequenos portos existentes e as próprias dificuldades da travessia por mar. Na edição de 5 de janeiro de 1986, os 72 anos dessa ferrovia eram assim registrados em matéria no jornal santista A Tribuna:

As condições deixam a desejar 
(passagem de nível na Avenida Bernardino de Campos, em Santos)
Foto: reprodução de A Tribuna de 5/1/1986

Os 72 anos da ferrovia para Juquiá

Há 72 anos, em 5 de janeiro de 1914, um pequeno trem da The Southern São Paulo Railways, composto de locomotiva a vapor e duas galeras (vagões abertos, tipo gôndola) chegava a Juquiá, no Sul do Estado, inaugurando a Estrada de Ferro Santos-Juquiá, com 163 quilômetros.

A ferrovia, projetada e construída por engenheiros ingleses, tinha por objetivo o transporte da produção agrícola da região - principalmente banana, mandioca, arroz, café e chá - destinada aos grandes centros consumidores (como a Província de São Paulo) e à exportação via Porto de Santos.

Em Juquiá, os trilhos chegavam às margens do rio que dava nome ao lugar, "um grande bananal com alguns milhares de pés da musácea, plantados nas encostas, até onde dava para se ver sem o uso de binóculos", segundo os cronistas da época. Na outra ponta, em Santos, a ferrovia estava assentada com trilhos de bitola métrica, no Bairro do Macuco, entre as ruas João Guerra e Borges, "passando ao lado da Linha Forte Augusto (pequena ferrovia da Cia. Docas que transportava lixo e aterro entre o Morro do Jabaquara e o Bairro do Pau Grande, denominação antiga dada ao Estuário) e do vulcão calado do manguezal da Mortona. Para chegar ao cais e aos navios atracados no Paquetá, ao lado do cemitério dos ingleses, na rampa do mercado, as mercadorias seriam transportadas em carroças puxadas por muares, "numa viagem que durava hora e meia, sem paradas para descanso, que era feita duas vezes por dia, menos nos domingos e dias santos da igreja".

O traçado da ferrovia, a partir do Macuco, contornava os morros e devido a um litígio de terras com a família Martini, no José Menino, foi feito pequeno desvio junto ao Morro do José Menino, onde foi construído um túnel de cerca de 100 metros, desembocando nas proximidades da Pedra dos Ladrões, já em São Vicente.

A obra mais demorada, entretanto, foi a construção da ponte sobre o Rio Barreiros, estaqueada com eucaliptos vindos do Paraná por via marítima. Esse mesmo tipo de construção de ponte foi adotado na travessia do Rio Itanhaém.

A Santos-Juquiá operou como ferrovia particular e isolada até o final da década de 20, quando foi encampada por 600 mil libras esterlinas, incorporando-se à E.F. Sorocabana, hoje Fepasa. Para cobrir a despesa, o então governador da Província de São Paulo, Júlio Prestes, emitiu títulos da Dívida Pública naquele valor.

Importante - O Litoral Sul, com as suas belezas naturais e o seu enorme potencial agrícola, foi descoberto pela Santos-Juquiá, que também ofereceu transporte ao Vale do Ribeira a partir da desativação do Porto de Cananéia.

Sem o trem, não existiriam hoje as cidades de Mongaguá, Itanhaém, Peruíbe e tantas outras, porque não existiam na época outros meios de transporte, exceto o marítimo, que se constituía numa aventura, com as lanchas de pequeno porte e os chatões para cargas, volteando os costões rochosos, onde às vezes eram destruídos pelos vagalhões de encontro às pedras, ou encalhando nas praias desertas.

Fora das praias, a partir de Peruíbe, na direção do Sul do Estado, as pequenas paradas dos trens foram se transformando em vilarejos e aglomerados populacionais de lavradores, deles nascendo os municípios de Itariri, Pedro de Toledo e Miracatu, além de pequenos distritos, quase cidades, como Ana Dias, Musácea, Solemar, Pedro Taques, Samaritá, Manuel da Nóbrega e Suarão.

Segundo registros da época, em 1922 os trens que partiam de Santos para Juquiá faziam paradas de meia hora em Itanhaém e Peruíbe, onde, às vezes, por falta de combustível (lenha para as fornalhas das locomotivas a vapor), os próprios maquinistas entravam nas matas e derrubavam pequenas árvores das proximidades, "colocando-as a queimar, com os galhos, fazendo muita fumaça, um incômodo para os passageiros, que pagam e têm direito ao conforto".

Com o advento da indústria automobilística nacional, a necessidade de construção de estradas no litoral retirou do trem grande parte dos passageiros e cargas, comprometendo a rentabilidade da ferrovia, como prestadora de serviços que é. Com isso, o trem não teve condições de se renovar, para acompanhar o progresso, entrando no desvio do esquecimento, donde os futurólogos tentam retirá-lo, sem muito êxito até agora.

Uma curiosidade: na construção da ferrovia Santos-Juquiá, a The Southern São Paulo Railways teve que assinar um compromisso com a Câmara de Vereadores de Santos, que permitiu a instalação dos trilhos das ruas e avenidas, "sob condição de retirá-los no prazo máximo de 50 anos, improrrogáveis".