Jardim construído pelo paisagista Burle Marx em Cubatão foi inaugurado em 1990 e, na ocasião,
ganhou o plantio de árvores e espécimes nativas
Foto: Raimundo Rosa, publicada com a
matéria
MEMÓRIA
História de Karl Marx está ligada à industrialização de Cubatão
Primeira fábrica de Cubatão foi fundada pelo pai de Burle Marx, Wilhelm Marx,
parente do criador da doutrina comunista
Manuel Alves Fernandes
Da Redação
Modelo de sucesso da
iniciativa privada, a industrialização de Cubatão, por ironia da história, começou pelas mãos de um parente de Karl Marx, criador da doutrina
comunista. A Cia. Curtidora Marx, primeira fábrica da cidade, foi fundada em 1912 por Wilhelm Marx, um judeu alemão nascido
em Stuttgart e criado em Trier, onde também nasceu Karl Marx, primo do avô de Wilhelm. Porém não foi
Wilhelm, mas seu filho Roberto, quem deixou a marca que ainda permanece viva em Cubatão.
Em 1990, quando já era famoso por ter feito o paisagismo do eixo monumental de
Brasília, Roberto Burle Marx projetou e construiu - no governo Nei Serra - a área ajardinada da entrada de Cubatão pela
Avenida Jornalista Giusfredo Santini, a partir da rodovia D. Domênico Rangoni.
É o único jardim feito por Burle Marx na região.
VILA OPERÁRIA |
A Curtidora Marx funcionou por 2 anos. Wilhelm
também construiu a 1ª vila operária de Cubatão. |
15 mil metros
quadrados era o espaço que a fábrica ocupava no bairro da Olaria, próximo ao Morro do Marzagão
|
Centenário - Para comemorar o centenário de nascimento de Roberto Burle Marx, a
Prefeitura de Cubatão está programando, com apoio de empresas da cidade, a reforma do jardim que se encontra mal conservado: a recuperação do
espelho d'água e da cascata em formato de pirâmide, feita de aço, e o busto de Santini. A reforma ainda não começou porque um casal de quero-quero
se reveza no lago do entorno da pirâmide, vigiando os filhotes em um ninhal recentemente formado.
O secretário municipal de Meio-Ambiente, Vanderlei de Oliveira, disse que vai esperar
que as aves aprendam a voar para iniciar a reforma por determinação da prefeita Marcia Rosa, dentro da proposta de "uma
Cubatão mais bela".
Curtidora Marx - Segundo o historiador Joaquim Miguel
Couto, o tanino das folhas dos manguezais foi o responsável pela instalação da Curtidora Marx em Cubatão. O tanino extraído dessas folhas servia
para curtir e dar forma às peles de couro. A fábrica ocupava uma área com cerca de 15 mil m² no bairro da Olaria, situado hoje entre a Via Anchieta
e a Rodovia Padre Manoel da Nóbrega, próximo ao Morro do Marzagão e da atual Vila Natal.
Wilhelm Marx morava em São Paulo mas teve casa em Cubatão, entre 1904 e 1914. A
empresa funcionou por dois anos, período em que ele também construiu a primeira vila operária de Cubatão. Miguel Couto
conta: "Em 1914, com o início da Primeira Guerra, a empresa foi quase que obrigada a encerrar
suas atividades, dado que seu dono era um alemão. Ainda em 1914, o curtume foi vendido para Fernandes Ribeiro, que em dificuldades financeiras
repassou a empresa ao seu maior credor, a London & River Plate Bank Limited. Em 1918, o banco estrangeiro vendeu a curtidora pelo preço de
120:000$000 a Domingos da Costa Muniz, o maior importador de couros do Brasil, com escritórios comerciais em São Paulo".
A empresa voltou a operar em 1919, com o nome de Curtume Domingos da Costa Moniz, curtindo couros e peles e chegou a ser a maior do gênero no País.
Sementes - Os Marx deixariam sementes em Cubatão. Roberto foi um artista
plástico de renome internacional, como arquiteto e paisagista. Em 1990, foi convidado pelo ex-prefeito Nei Serra para construir um jardim na entrada
de Cubatão. E voltou à cidade que conheceu ainda na infância. Com apoio da sua equipe, plantou a extensa área gramada com espelho d'água e espécies
de plantas brasileiras, entre elas vitórias-régias. A obra foi inaugurada por ele em 5 de junho de 1990. Depois disso, nunca passou por reforma, o
que será feito agora com apoio de empresas de Cubatão. Vanderlei de Oliveira disse que a recomposição paisagística deverá ficar pronta ainda neste
ano.
O local (jardim inaugurado em 1990)
recebeu também um espelho d'água, onde foi implantada uma cascata em forma de pirâmide feita de aço. O local nunca passou por reformas. Hoje, tanto
o jardim quanto a pirâmide estão muito danificados. As vitórias-régias morreram, porque o lago secou. A Prefeitura de Cubatão está preparando a
reforma do local
Foto: arquivo, publicada com a matéria
MEMÓRIA
Burle Marx deixa marcas em Cubatão
Poucos moradores conhecem as relações familiares do paisagista com o Município
Manuel Alves Fernandes
Da Redação
O brasileiro Roberto Burle
Marx - que nasceu em 1909 - ganhou renome internacional, como paisagista e nativista.
Entre as obras citadas por seus biógrafos está o Jardim de Burle Marx em Cubatão, onde
se destacam uma pirâmide de aço, ao lado do busto de Giusfredo Santini.
Embora poucos moradores de Cubatão saibam da sua relação familiar com a cidade, o
jardim foi projetado para a entrada de Cubatão. Fica entre a Refinaria Presidente Bernardes e a Base de Tanques da BR
Distribuidora, em uma área aberta com 57 mil m², segundo o secretário municipal de Planejamento, Adalberto Ferreira da Silva.
Ele ocupava o mesmo cargo, em 1990, quando Roberto Burle Marx veio a Cubatão para
acompanhar a última etapa do plantio de árvores e espécimes nativas e vistoriar a obra, que tinha um espelho d'água, onde foi implantada uma cascata
em forma de pirâmide feita de aço.
O espelho d'água ganhou plantas nativas: vitórias-régias amazônicas e ninfas amarelas,
brancas e vermelhas.
O jardim tinha verbenas, palmeiras e plantas da região, entre elas suinãs, wedelhas e
turneras, que florescem entre 11 e 13h30. As vitórias-régias vieram do jardim do paisagista, no Rio de Janeiro, dentro de caixas com água. O projeto
original não previa a pirâmide, e sim painéis de cimento em forma de cunha, tal como é o projeto que ele desenvolveu em Recife. Mas o então prefeito
Nei Serra acabou convencendo o paisagista e utilizar o aço da Cosipa na pirâmide que faz uma referência a
Zanzalá, obra de Afonso Schmidt.
CURIOSIDADES |
O então prefeito de Cubatão, Nei Serra, convenceu o
paisagista Burle Marx a utilizar o aço da Cosipa na pirâmide que faz uma referência a Zanzalá, obra de Afonso Schmidt. |
Burle Marx pegou da mãe Cecília o gosto pelas rosas, begônias, antúrios, gladíolos e tinhorões que ela
plantava no seu jardim. E com a ama Ana aprendeu a preparar os canteiros
|
Meio-ambiente - Segundo Adalberto Ferreira da Silva, o jardim foi inaugurado em
5 de junho de 1990. "Na véspera, eu e os engenheiros Guimarães, Pedro Tosta e Marco Antonio Di Stefano trabalhamos a noite toda para ajudar a
empresa que realizou os serviços, com apoio de funcionários da Prefeitura, para entregar a obra na data marcada. Burle Marx participou do ato,
acompanhado pelo principal executor dos seus projetos, Haruyoshi Ono".
Na sua última administração, em 1996
(N.E.: na verdade, em 16 de maio de 1997), Nei
Serra implantou também - no mesmo jardim - o busto em homenagem a Giusfredo Santini, que presidiu A Tribuna
entre 1959 e 1990, que dá nome ao trecho inicial da entrada da cidade, a partir da Rodovia D. Domênico Rangoni, e corta o jardim no sentido da Vila
Nova-Conjunto 31 de Março.
A inauguração contou com a presença de Roberto Mário Santini (que presidiu A
Tribuna de 1990 a 2007), sua esposa Regina Clemente Santini e os filhos Roberto, Marcos, Renata e Flávia.
Hoje, tanto o jardim quanto a pirâmide estão muito danificados. O busto de bronze de
Giusfredo Santini foi furtado há quatro anos. E as vitórias-régias morreram, porque o lago secou.
Em 1997, foi inaugurado no jardim o busto em homenagem a Giusfredo Santini, que presidiu
A Tribuna entre 1959 e 1990;
obra foi roubada há quatro anos
Foto: Arquivo Histórico Municipal de
Cubatão - também publicada com a matéria
Desde criança - Roberto Burle Marx nasceu na época em que seu pai Wilhelm ainda
mantinha a Curtidora Marx em Cubatão.
Mas, quando o pai se mudou para o Rio de Janeiro, radicou-se nessa cidade, onde estão
localizados seus principais trabalhos, como os jardins do Aterro do Flamengo. Segundo seus biógrafos, Roberto pegou da mãe Cecília o gosto pelas
rosas, begônias, antúrios, gladíolos, tinhorões e muitas outras espécies que ela plantava no seu jardim.
Com a ama Ana Piascek aprendeu, aos 8 anos, a preparar os canteiros e a observar a
germinação das sementes do jardim e da horta. Ali começou a sua coleção de plantas. Com o pai, que depois de sair de Cubatão montou uma nova empresa
de exportação e importação de couros no Rio de Janeiro e foi morar num casarão no Leme, aprendeu alemão. Neste casarão, Burle Marx, então com 8
anos, começou sua própria coleção de plantas e a cultivar suas mudas.
Viveu na Alemanha de 1928 a 1929 com a família, para tratar de uma doença nos olhos,
ocasião em que entrou em contato com as vanguardas artísticas e estudou pintura. Voltou ao Rio de Janeiro em 1930. Conviveu com Lucio Costa, Oscar
Niemeyer, Hélio Uchôa e Milton Roberto. As plantas baixas de seus projetos lembram telas abstratas e de estilo concretista. Morreu no Rio de
Janeiro, em 5 de junho de 1994, tendo projetado mais de dois mil jardins ao longo de sua vida.
Burle Marx durante visita feita ao jardim que projetou em Cubatão
Foto: Arquivo Histórico Municipal de
Cubatão - também publicada com a matéria |