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HISTÓRIAS E LENDAS DE CUBATÃO - HISTÓRIA - BIBLIOTECA NM
A História Econômica de Cubatão (3)

Com o título: "Entre estatais e transnacionais: o Pólo Industrial de Cubatão", esta tese de doutorado foi defendida em janeiro de 2003 no Instituto de Economia da Universidade de Campinas (Unicamp) pelo professor-doutor Joaquim Miguel Couto, de Cubatão, que autorizou sua transcrição em Novo Milênio. O tema continua:

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ENTRE ESTATAIS E TRANSNACIONAIS: O PÓLO INDUSTRIAL DE CUBATÃO

Prof. Joaquim Miguel Couto

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Capítulo I

Indústrias pioneiras no mundo das bananeiras

1.2 – As indústrias pioneiras (primeira metade do século XX)

Ao descortinar o século XX, Cubatão era um mar de bananeiras, uma imensidão verde. Sua produção agrícola enchia os vagões da São Paulo Railway, tanto na Estação de Piaçaguera quanto na Estação de Cubatão. Os destinos dos cachos eram dois: exportação (via Porto de Santos, principalmente para a Argentina) e Planalto Paulista. Não existia desemprego naqueles tempos. Todo trabalhador que chegava à cidade encontrava alguma ocupação nos bananais. A cultura da banana era, assim, a principal atividade econômica do povoado e a que empregava a maioria de seus trabalhadores.


Cubatão era um pouso de tropeiros em 1825, conforme a gravura de Hercules Florence
Imagem da sua obra Viagem Fluvial do Tietê ao Amazonas de 1825 a 1829

Muito embora o clima da região fosse maléfico para a espécie humana, em função de ser propício à vida microbiana, o clima favorecia as plantas. Por isso, a região era rica em alimentos. Até a década de 1950, a natureza fornecia a maior parte da dieta dos cubatenses. Entre as frutas, sobravam nos pés, mexericas, laranjas, goiabas, pitangas, carambolas, grumixamas, amoras, abricós, araçás, cambucis, jacas, caquis, maracujás, coquinhos, sem falar das bananas (nanica, maçã, ouro, cinza, terra e branca).

Os rios e o mangue forneciam peixes em abundância: cará e traira, principalmente, mas também, bagre, robalo, lagosta e amboré (que se pegava com a mão no lodo), além de siris e caranguejos. Os quintais das casas eram repletos de galinhas e porcos, onde também se plantava couve, alface, machucho, batata e inhame. A caça fornecia outros tipos de carne fresca: paca, tatu e preá. A cana-de-açúcar brindava a todos com seu líquido saboroso.

No entanto, a população dependia de dinheiro para comprar certos produtos essenciais à sua alimentação: feijão, arroz, açúcar, sal, banha, carne de boi, bacalhau, carne seca e macarrão. Os meninos gostavam de bala rebuçada. O restante, a natureza fornecia a todos os habitantes. A renda para comprar tais produtos vinha, principalmente, do trabalho nos bananais (grandes ou pequenos). Para cozinhar, utilizavam a farta lenha de suas matas e mangues. Para iluminação, tinham, sim, que comprar o querosene.

O novo século também começava com a Estrada do Vergueiro (na Serra do Mar) servindo apenas de caminho para as boiadas em direção ao matadouro de Santos [61]. Entre a subida da Serra e a ponte coberta do Rio Cubatão [62], o antigo Aterrado era uma lagoa de lama, onde os bois atolavam até à morte.

Em 1913, a velha Estrada do Vergueiro foi reconstruída com capitais particulares (Sociedade Caminho do Mar), passando a cobrar pedágio. Seu nome, mais uma vez, se modifica: passou a ser o Caminho do Mar (Andrade, 1975:102). Em 1922, Washington Luiz, presidente do Estado de São Paulo, inaugurou os Monumentos do Caminho do Mar, edificados em comemoração ao Centenário da Independência. As obras foram entregues a Victor Dubugras, que usou uma linguagem arquitetônica que resgatou as tradições coloniais brasileiras. Os edifícios foram localizados em pontos de onde se vislumbravam as mais belas paisagens da Serra do Mar [63].

Em 1923, a estrada Caminho do Mar é desapropriada e volta a pertencer ao Estado, sendo revestida de concreto em 1926, passando a ser a primeira estrada do Brasil e da América do Sul com esse tipo de revestimento [64]. Um ano antes, em 1925, o Aterrado que ligava Santos a Cubatão também era asfaltado.

Mesmo com a cultura da banana em grande escala, outra atividade econômica se destacava neste início do século XX em Cubatão, apesar de pequena perto dos soberbos bananais: era o curtimento do couro. Realizado em humildes curtumes, espalhados pela cidade, a razão de sua existência era a flora da região, fonte de sua principal matéria-prima, o tanino, retirado das folhas e cascas de uma árvore, chamada Avicennia, predominante nos manguezais de Cubatão [65]. Em razão de suas propriedades bactericidas, o tanino foi durante bom tempo um produto muito utilizado na preservação do couro.

Foram vários os curtumes, muitos deles nem sequer tinham nome. Eram indústrias de fundo de quintal, com pequeno número de empregados contratados. Dentre esses vários curtumes, a memória dos velhos habitantes registram apenas três: um situado no antigo bairro de Santana (hoje Vila São José, na beira do caminho que liga Cubatão a Santos), outro no bairro de Piaçaguera (próximo a atual Cosipa), e o último, às margens do Rio Branco. Todos, sem exceção, situados estrategicamente à beira dos manguezais [66].

Mas, no início da década de 1910, as coisas começaram a mudar. Aquela vida econômica, tipicamente de roça, não seria mais a única. Instalam-se, em Cubatão, três grandes empresas indústrias, as chamadas pioneiras [67].

A primeira delas, inaugurada em 1912, foi a Cia. Curtidora Marx [68]. O tanino das folhas dos manguezais foi o responsável pela sua instalação em Cubatão. Desenvolvia a preparação de couros e peles para as mais diversas utilizações, numa área fabril de cerca de 15.000 m². Situava-se no bairro da Olaria, que hoje margeia a Via Anchieta.

Pertencente ao alemão Wilhelm Marx (pai do paisagista Burle Marx, que morou em Cubatão entre 1904 e 1914), a empresa funcionou vigorosa por dois anos, construindo a primeira vila operária de Cubatão [69]. Mas, em 1914, com o início da Primeira Guerra, a empresa foi quase que obrigada a encerrar suas atividades, dado que seu dono era um alemão. Ainda em 1914, o curtume era vendido para Fernandes Ribeiro, que em dificuldades financeiras, repassou a empresa ao seu maior credor, a London & River Plate Bank Limited. Em 1918, o banco estrangeiro vendeu a empresa pelo preço de 120:000$000 ao Sr. Domingos da Costa Moniz, o maior importador de couros do Brasil, com escritórios comerciais em São Paulo.

A indústria voltou a operar em 1919, com o nome de Curtume Domingos da Costa Moniz, curtindo couros e peles [70]. Nesse mesmo ano, a City de Santos passou a fornecer energia elétrica à empresa; até então, a iluminação da indústria era feita por lampião. Utilizava como matérias-primas o couro de boi, porco, carneiro e novilho, além da substância curtidora, o tanino, extraído das folhas e cascas das árvores do mangue cubatense.

As máquinas eram movidas a vapor, graças a uma caldeira Wolf alemã locomóvel, de 12 metros de comprimento. A caldeira também era aproveitada para o cozimento do tanino. De acordo com Peralta (1979:301), em 1928, a Costa Moniz era a sétima empresa do Estado de São Paulo em capital (650:000$000) e a quinta em número de operários (50).

Em 1929, as coisas modificam-se substancialmente. A extração de folhas e cascas das árvores do mangue foi tanta que essa matéria-prima começou a se tornar rara; era o fim da Avicennia. O curtume é assim obrigado a modificar, aos poucos, a sua linha de produção. Nesse mesmo ano, a tecelagem de correias da empresa foi transferida de São Paulo para Cubatão, passando a indústria cubatense a produzir cadarço e pontas de arreio, enquanto reduzia sua produção de couros, já utilizando matéria-prima sintética para o curtimento.

Durante a Segunda Guerra (1942), a empresa paralisou a produção de couro e através da aquisição de nova maquinaria, passou a produzir mangueiras de incêndio, material em falta no mercado interno (devido às dificuldades de importação), que se tornou, então, o seu principal produto [71].

Seus maiores compradores eram a Marinha do Brasil e o Loyde Brasileiro. Também foi implantada, nessa época, a seção de borracha, para fabricação do tubo que era inserido na mangueira. Em 1945, a empresa adquiriu seu nome definitivo, Costa Moniz Indústria e Comércio S/A.

Nos anos 60, a Costa Moniz fabricava mangueiras de incêndio de fios tecidos, correias e cordas de couro curtido. Tinha 83 trabalhadores (1963) que, em sua maioria, continuavam morando em sua vila operária (Goldenstein, 1965:19). Sua produção foi sempre vendida em São Paulo, na loja da matriz da empresa. Em 1979, a indústria funcionava com 16 máquinas, numa área construída de 16.260 m², produzindo além das mangueiras, cordões de sapato e sandálias (de algodão e fio sintético) (Peralta, 1979:78).

Em 1981, mergulhada em problemas financeiros, criados pelo herdeiro da empresa, a Costa Moniz teve sua falência decretada. Triste fim para a mais antiga das indústrias cubatenses. No final dos anos 80, suas ruínas ainda podiam ser vistas à margem da Via Anchieta. Hoje, nada mais existe.


Instalações da Cia. Anilinas, em 1949
Foto cedida a Novo Milênio por Arlindo Ferreira

A segunda grande indústria que se instalou em Cubatão foi a Cia. Anilinas, Produtos Químicos e Material Técnico. Mais uma vez, o tanino foi o motivo que trouxe a empresa para Cubatão. Era bem maior que a Costa Moniz. Sua história começou em 1913, quando José Batista Duarte veio até Cubatão para comprar terrenos visando construir uma indústria química.

Em 1914, foi constituída a Fábrica de Produtos Químicos e Corantes Santa Cléo, nome dado em homenagem à esposa de José Duarte. A matriz da empresa se estabeleceu em São Paulo, sendo a fábrica de Cubatão dirigida por Antônio Duarte, tio de José Duarte.

A fábrica entrou em operação em 1916, produzindo apenas três produtos (tanino, adubos e corantes), a partir das folhas e cascas das árvores dos manguezais. Situada no centro da cidade de Cubatão, à beira de sua avenida principal, tinha ligação direta com o manguezal, através do Rio Capivari, que corria por dentro da indústria. Existia até um pequeno porto de desembarque, dentro da empresa, para descarregar a matéria-prima colhida no mangue [72].

Com o correr dos anos, ampliou suas instalações, passando a fabricar uma série de novos produtos. Em 1923, a empresa tinha cerca de 100 empregados, que moravam, em parte, na sua vila operária, que possuía 20 casas. Em 16 de abril de 1924, a fábrica passou a chamar-se J.B. Duarte & Cia. Ltda.

Nesse ano, a área total da indústria era de 42.050 m², mas, entre 1927 e 1934, a empresa adquiriu vários terrenos no perímetro urbano de Cubatão, constituindo uma área de 51.350 m², que se estendia do centro do povoado até o Rio Cubatão. A exemplo da Costa Moniz, no final dos anos 20, a J.B. Duarte fechou sua seção de fabricação de tanino, em razão da falta de matéria-prima oriunda dos mangues de Cubatão.

Em 1928, era a primeira indústria do Estado do Estado de São Paulo em força motriz (CE 600), a segunda em número de operários (100) e a terceira em capital, 2.500:000$000 (Peralta, 1979:302). Era a maior produtora de anilinas, fosfato, sabão, carbonatos e silicatos do Estado, e possuía filiais em quase todos os estados brasileiros.

Um dos seus clientes era a Costa Moniz, que comprava anilinas para tingimento de couros. Mas, no início dos anos 30, a empresa começou a encontrar dificuldades e, em 1933, entrou em processo de liquidação, quando foi comprada pelo empresário alemão John Jurgens [73]. A empresa adquire nova denominação, Cia. de Anilinas e Produtos Chímicos do Brasil, com capital de apenas 600:000$000. Sua matriz se localizava no Rio de Janeiro, e a fábrica passou a ser controlada por um gerente alemão, Paul Stephan.

Nos anos seguintes, a Cia. de Anilinas entrou novamente em plena fase de crescimento. Contando com 13 filiais e representantes até no exterior, seu número de empregados ultrapassa a casa das duas centenas. As instalações industriais também são aumentadas, construindo novos galpões de carpintaria, oficina mecânica e tanoaria (onde eram feitas as barricas para os produtos).

Nesses anos 30, a empresa tinha cerca de 10 técnicos alemães, vindos especialmente para trabalhar na indústria, responsáveis por todo o processo produtivo [74]. Em 19 de maio de 1936, a empresa mudou de nome novamente, passando a ser denominada Cia. de Anilinas, Produtos Chímicos e Material Technico [75].

Em 1942, com o agravamento da Segunda Guerra, todos os alemães da Cia. de Anilinas são levados para São Paulo como prisioneiros. A fábrica passou a ser gerida por um interventor, que mostrou pouco interesse pelo negócio (Peralta, 1979:85). Em 1944, a indústria tinha reduzido seu número de empregados para 80. Nesse mesmo ano, John Jurgens morre, deixando a empresa para seus dois filhos menores, Victor Bourhis Jurgens e Gerd Gustav John Jurgens. Era o começo da decadência da Química, como passou a ser conhecida a fábrica de Cubatão.

Os interventores e tutores dos menores, que dirigiram a empresa de 1942 a 1954, deixaram a indústria em péssima situação financeira e técnica (com máquinas obsoletas). Quando os filhos de Jurgens assumiram a Química, em 1954, a empresa tinha 20 centavos em caixa. Começaram então a se desfazer de algumas terras da empresa e doar outras para que a Prefeitura abrisse novas ruas.

"A Química foi parando aos poucos", diz um antigo empregado. Sobreviveu de forma anêmica até 1964, quando a indústria deixou de pagar seus funcionários. Ainda nesse ano, foi preciso vender algumas máquinas para pagar os salários, que estavam há seis meses atrasados.

Em 1965, em pleno regime militar, os empregados da Química decidem entrar em greve. Era a primeira greve, na Baixada Santista, após o golpe militar, gerando ampla repercussão na imprensa santista e nos meios políticos da região. A Química nunca mais voltou a produzir. Sua falência foi decretada em 1966; tinha 52 empregados (Pinto & Roebbelen, 1992:11). Foi a leilão judicial em 1967 [76].

Para os ex-funcionários entrevistados, a falência da empresa se deu em razão da má gestão dos interventores e a falta de competência dos herdeiros do Sr. Jurgens. Para Peralta (1979:85), a causa da falência foi a incompetência administrativa dos herdeiros, a Segunda Guerra, pressão política sobre seus proprietários e paralisação das importações de matérias-primas.

Tanto a Química quanto a Costa Moniz deram grande incremento a uma profissão que já era desenvolvida na região desde o final do século XIX: trata-se dos chamados mangueiros [77]. Cabiam a esses trabalhadores a coleta das folhas da Avicennia nos mangues da região, bem como o corte de seus troncos, que eram vendidos aos curtumes.

Eram, portanto, trabalhadores avulsos, pagos pela quantidade de material entregue. O pagamento era feito a cada mangueiro por quilo de folha colhida. Segundo Goldenstein (1965:19), esses trabalhadores exerciam apenas essa atividade, não devendo ser confundidos com os bananicultores. Tinham como característica a nacionalidade portuguesa em sua maioria.

A grande extração das folhas e troncos da Avicennia levou a sua rápida extinção dos mangues de Cubatão, já no final dos anos 20. O resultado foi o fechamento dos curtumes, devido a perda de sua fonte de tanino, e motivo de sua localização em Cubatão. A extração desmedida da vegetação dos manguezais tinha aí o seu primeiro exemplo concreto de prejuízo ao meio-ambiente [78].

A terceira indústria que se localizou em Cubatão foi a Cia. Santista de Papel. Suas dimensões e capacidade de produção eram bem maiores que as da Costa Moniz e da Química. A história dessa indústria começou em 1903, quando uma fábrica de papel do município de Caieiras decidiu construir uma nova unidade em Cubatão.

A escolha de Cubatão ocorreu por três fatores: proximidade do Porto de Santos (para recebimento de matéria-prima importada); grande quantidade de água de boa qualidade, limpa e cristalina, do Rio Cubatão (sem necessidade de tratamento prévio e de grande importância na fabricação do papel) [79]; e a possibilidade de se construir uma usina hidrelétrica na cachoeira do Rio Pilões [80]. Para isso, a empresa comprou uma área de 2.400 hectares na raiz da Serra do Mar, entre os morros do Pai Matias e da Mãe Maria.

Em 1914, são compradas as máquinas na Alemanha, mas com a eclosão da Primeira Guerra, a construção da indústria foi interrompida. Terminada a guerra, em 1918, reiniciou-se sua construção. Seu proprietário, Francisco de Paula Vicente de Azevedo (cafeicultor em Campinas), se associou a Theodomiro de Mendonça Uchoa (fazendeiro de Ribeirão Preto, de grande fortuna) e fundaram, em 1919, a Companhia Fabril de Cubatão, uma sociedade anônima, com capital de 2.400:000$000 (dois mil e quatrocentos contos de reis).

Ainda em 1919, compraram uma nova área de 1.528.785 m², por 26 contos de réis, também situada na raiz da Serra (Peralta, 1979:88/89). Essa nova área era bem mais próxima do povoado de Cubatão, em relação à primeira. Foi nessa segunda área que a Cia. Fabril construiu sua fábrica. Na primeira área, a empresa edificou a sua usina hidrelétrica, cuja produção dependia do volume de água do Rio Pilões [81].

Para a comunicação entre as duas áreas foi implantada uma pequena ferrovia. Utilizava também uma linha férrea já existente, pertencente à Cia. City de Santos, que partia dos Pilões, passava pela fábrica e terminava na Estação de Cubatão. Por essa linha recebia a matéria-prima importada diretamente do Porto de Santos e escoava parte de sua produção. Tinha ainda um grande depósito ao lado da Estação de Cubatão [82].

A fábrica de papel entrou em operação em 1922, com suas três máquinas alemãs [83]. Utilizava as claras águas do Rio Cubatão na produção do papel e a lenha retirada da Serra como combustível. Sua produção se modificava conforme a necessidade de venda da empresa: papel, papelão, papel higiênico, papeis para embrulho, impressão e papel para jornal. Sua principal matéria-prima era a celulose importada. As outras matérias-primas tinham origem nacional.

Sua mão-de-obra era qualificada, vinda de Caieiras e Pindamonhangaba. A produção da empresa era contínua, em turno de 12 horas cada (Peralta, 1979:90/95). A Cia. Fabril fornecia feltro usado (para estampagem de couro) para a Costa Moniz.

A exemplo da Costa Moniz e da Química, a Cia. Fabril construiu também sua vila operária. Era a mais bem equipada da região, com 130 casas. Em 1963, cerca de 75% de seus operários residiam na vila com suas famílias [84].

Em 1931, enfrentando dificuldades financeiras, a empresa encerrou suas atividades, decretando falência [85]. Em 30 de janeiro de 1932, a massa falida da empresa foi comprada pela Cia. Santista de Papel, por dois mil e oitocentos contos de reis, em leilão judicial. A Cia. Santista tinha sido constituída em 31 de dezembro de 1931.

Reformando parte da indústria, a empresa voltou a produzir, ainda em 1932, depois de praticamente um ano paralisada. Em 1937, a empresa já era a primeira em capital do Estado de São Paulo (13.000:000$000) e a quarta em número de empregados, com 266 operários (Peralta, 1979:303) [86].

Em março de 1942, a Cia. Santista enfrentava dificuldades por causa da Segunda Guerra. Em razão do racionamento de combustível, a empresa era obrigada a usar lenha das encostas da Serra (de sua propriedade, situadas entre a hidrelétrica e a fábrica) como combustível para suas caldeiras. A devastação das matas foi grande (Pereira, 1988:147). Também nesse período, sua produção foi prejudicada em função da falta de celulose importada.

Logo após a guerra, em 1947, a empresa contratou um agrônomo para reflorestar as áreas devastadas (e produzir sua própria celulose), através da plantação de um milhão de pés de eucaliptos. Mas o projeto fracassou [87]. A construção da Via Anchieta, a partir de 1942, no trecho da Serra, e a construção do Oleoduto, em 1950, obrigou a Fabril a começar a filtrar a água do Rio Cubatão.

Com o fim da Segunda Guerra, começaram a surgir novas indústrias de papel no Brasil, com parque produtivo moderno, dificultando a comercialização dos produtos da Cia. Santista. Com a queda das vendas, a produção diminuiu e, conseqüentemente, houve demissões de trabalhadores.

No entanto, no início de 1950, chegou à empresa um novo diretor que reestruturou toda a indústria: comprou novas máquinas, uma frota de caminhões (para distribuir a produção e trazer matéria-prima) e concedeu aumento aos operários (incentivando a melhoria da produtividade). Com essas medidas, a empresa melhorou a qualidade de seu papel e logo suas vendas aumentaram (Pereira, 1988: 252/254) [88].

Em 1967, o grupo Ripasa S/A – Celulose e Papel comprou a Cia. Santista de Papel [89]. A partir dessa data, a Cia. Santista passou a receber da Ripasa (de Americana-SP) a celulose de que necessitava. Apesar do novo dono, a empresa manteve o seu nome original. No final dos anos 60, a indústria estava em plena expansão, sendo uma das grandes indústrias de papel do país, com cerca de 600 operários (PMC, 1970b:12) [90].

Atualmente, a produção da Cia. Santista é concentrada num nicho de mercado não atendido pelas modernas indústrias do ramo: a produção em pequena escala. Produz papéis para impressão e escrita, papéis especiais e cartolinas. Sua capacidade de produção é de 51.000 toneladas/ano, através da utilização das três máquinas alemãs de 1914, reequipadas com tecnologia moderna. Emprega 358 trabalhadores diretos e cerca de 150 indiretos (outubro/2002).

Quanto à sua vila operária, há mais de uma década começou a desocupação de parte das casas, devido à facilidade de acesso rodoviário à empresa. As casas desocupadas ou foram incorporadas à fábrica ou estão fechadas para reforma. No entanto, metade das casas continua sendo ocupada pelos funcionários.

Apesar da instalação dessas três grandes indústrias, seu impacto na vida cotidiana do pequeno centro urbano de Cubatão foi reduzido. Com exceção da Química, que tinha sua fábrica situada junto ao povoado, tanto a Cia. Santista como a Costa Moniz eram distantes do centro de Cubatão e, assim, viviam quase que isoladas com suas vilas operárias. A vocação econômica principal do povoado continuou a ser a bananicultura.

O fato importante, que deve ser ressaltado, é que a instalação dessas primeiras indústrias demonstrava que o povoado não estava estagnado economicamente, razão pela qual em 26 de outubro de 1922, pela lei n.º 1871, Cubatão foi elevado a categoria de Distrito de Paz do município de Santos.


Placa indicativa do acesso às principais indústrias de Cubatão, em 1981
Foto: 5º Boletim Informativo - 1981 - Prefeitura Municipal de Cubatão (original preto-e-branco)


NOTAS:

[61] "Essa estrada não passava de um caminho de boiadas. Começava entre enevoados picos e se precipitava por encostas, entalada entre barrancos e abismos. Quando o morro virava, ela virava também (...) Ora a estrada media duas braças de largura, ora não chegava a meia braça. Estava sempre molhada, enlameada, e meio destruída pelas tropas. Árvores nascidas no barranco caiam freqüentemente sobre o leito e aí ficavam para sempre, como toros perdidos em cuja umidade havia sapos cor de pedra e misteriosos movimentos nas folhas secas, que bem podiam ser cobras.

"Mas fugia sempre. Comprimia-se em gargantas, retorcia-se em voltas, descia em quedas rápidas, contornando troncos e penhascos, saltando sobre cachoeiras espertas que na margem se atiravam de muitas braças de altura, alvas, trêmulas, esvoaçantes como noivas. Por vezes, a descida era tão rápida que o viajante ouvia, mesmo sobre a cabeça, o tropel das boiadas e os gritos dos boiadeiros" (Schmidt, 1945:183/184).

[62] "Essa ponte era velha. Toda construída de vigas de madeira, pintadas de alcatrão, resistia com galhardia à fúria das enchentes que, no passado, tinham arrebatado outras pontes. Era alta, assoalhada de grossos pranchões, parecia dormir sobre o rio, embalada pelo queixume das águas que, noite e dia, investiam contra as pilastras de pedra. Numa e noutra margem, terminava em muralhas de alvenaria, pintadas a piche. Essas muralhas tinham largos alicerces que serviam de bancos aos seus freqüentadores. Mas ninguém cuidava de carpir a cabeceira da ponte (...)

"Entre a cabeceira do lado da serra e a cabeceira do lado da estação, não mediava apenas o rio, mas um abismo de convenções sociais. O lado da serra era dos pés-rapados, o lado da estação era das pessoas gradas do bairro. Uns homens direitos, até certo ponto abastados" (Schmidt, 1984:46).

[63] Os monumentos construídos foram:

1- Monumento do Pico: substituiu o antigo marco construído em 1790, pela Câmara de São Paulo, em homenagem ao governador Bernardo Lorena;

2- Pouso do Paranapiacaba: maior monumento do Caminho do Mar, que servia como ponto de parada para os viajantes. Ficou conhecido como Casa Modernista, por ter sido uma casa de chá freqüentada pelos artistas da Semana de 1922 (Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral, Mário de Andrade, entre outros);

3- Belvedere Circular: assinala o primeiro cruzamento da Calçada do Lorena com a Estrada da Maioridade;

4- Rancho da Maioridade: situado em curva acentuada, projetado por Dubugras, mantém o padrão arquitetônico do Pouso do Paranapiacaba e foi construído em local que possibilita ampla visão da Baixada Santista;

5- Padrão do Lorena: marco do segundo cruzamento da Calçada do Lorena com a Estrada da Maioridade.

No dia da inauguração dos monumentos (07/09/1922), Júlio Prestes fez a seguinte referência à Serra do Cubatão: "Esta serra é o emblema da intrepidez, da coragem, do descortino dos paulistas. É o símbolo da altivez e da sobranceria de S. Paulo. Por ela, se fez a primeira conquista, quando os seus cocorutos, embiocados de neblina, calafetavam o interior numa noite povoada de fantasmas; por ela, penetrou na América a civilização latina, quando, ao sol da cristandade, os seus cumes se aureolavam de arnezes de ouro e o céu, raiado de púrpura, refletia as planícies do além; por ela, os patriarcas de nossa emancipação política conduziram Pedro I, e as trompas da liberdade retroaram na alvorada da nacionalidade, acordando a alma alvoroçada do Brasil ao grito de Independência ou morte!; por ela, a escravidão, fugindo ao cativeiro, voltou à liberdade; por ela, São Paulo galvanizou o Brasil com os clarões de sua fé republicana, com a mesma segurança com que fez a democracia e com a mesma firmeza com que mantém o império da ordem e da legalidade" (Prestes, 1922:43/44).

[64] Desde 1994, a Estrada Velha, como ficou conhecido o Caminho do Mar, está fechada ao trânsito de veículos e pedestres, em razão das barreiras que caíram sobre a pista. A Dersa, durante o ano de 2001 e 2002, vem recuperando a estrada para possibilitar, no futuro, visitas monitoradas ao patrimônio histórico da Serra do Mar, a cargo da EMAE - Empresa Metropolitana de Águas e Energia, que atualmente administra a Usina Henry Borden. A estrada, depois de tantas modificações, possui 7 km de comprimento na Serra.

[65] A Avicennia Schauervana pertence à família da Avicenniaceae (verbenaceae), e recebe os seguintes nomes vulgares na região: mangue amarelo, mangue branco, ciriúba, siriúba, siriba e siriúva. Além da Avicennia, a vegetação dos manguezais era constituída do mangue vermelho (Rhizophora Mangle) e do mangue branco (Laguncularia Racemosa) (Noronha, 1994:06).

Segundo Andrade & Lambert (1965:172), essas plantas eram freqüentemente despidas das folhagens e cortadas com intervalos de poucos anos. Sua grande extração, desde o início do século, é o responsável pela sua baixa ocorrência não só nos manguezais da Baixada Santista, como em todo o litoral de São Paulo. O tanino, por sua vez, é um composto de polifenóis de composição diversa, fracionado por ácidos minerais, extraído de várias espécies de plantas do mangue (Gutberlet, 1996:68).

Os manguezais "são formados por sedimentos marítimos e fluviais e atravessados por rios que meandram e se ramificam. Originalmente o mangue da Baixada Santista formava extensas florestas. Hoje só resta uma pequena parte da vegetação primária. A maior parte do mangue foi vitima do aterramento em virtude da urbanização e da construção industrial" (Ibid., p.64).

[66] É certa a existência desses pequenos curtumes, conforme está registrado no belo artigo de Godofredo Schmidt (1970:06), descrevendo a Cubatão de 1911, e nas histórias orais registradas em nossas entrevistas. Goldenstein (1972) registou a presença de dois, e Peralta (1979), a existência de três. O curtume das margens do Rio Branco produzia tanino para a fabricação de vinhos, outros curtumes e para tecelagens; e o de Piaçaguera produzia sola de sapato (Peralta, 1979:72/73).

No seu artigo sobre o ano de 1911, Schmidt (1970:06) afirmava que Cubatão nem chegava a ser uma vila: "O povoado, que não chegava a ser uma vila, ou mesmo uma aldeia, estendia-se, acompanhando a estrada do Vergueiro – caminho das boiadas, para o abate em Santos – da estação da São Paulo Railway até a ponte sobre o rio e, depois desta, até a casa do Joaquim do Pico (...) havia quatorze vendas entre a estação e a ponte. Isto para um lugarejo de pouco mais de uma centena de casas (...) Em termos econômicos, do que vivia Cubatão? Vivia – se isto era viver – da produção dos bananais da zona rural, da exploração da casca e folhas do mangue, para os curtumes, e da extração de areia, sob a ponte (...) Cubatão, no meu tempo, não era, positivamente, uma sucursal do Éden, nem um lugar ideal para nele se viver. Havia a pobreza, a umidade, o calor, os borrachudos".

[67] "O começo do século XX, iniciou uma época de realce na história de Cubatão. Sua localização junto à estrada de rodagem para o planalto e sua proximidade ao Porto de Santos, além de a São Paulo Railway cortar com seus trilhos toda sua área geográfica, atraiu para aquela região algumas indústrias pioneiras. Esse pequeno parque industrial proporcionou a Cubatão um bom desenvolvimento econômico e um razoável fluxo demográfico, em razão da mão-de-obra já absorvida pelas fábricas" (Lichti, 1996:04).

Para Goldenstein (1972:197), "Uma indústria jamais é um fato isolado: sua existência depende de um conjunto de fatores que podem estar relacionados com espaços próximos ou distantes. A variedade e a complexidade dessas relações é tanto maior quanto mais evoluído o processo social. Estas relações que se estabelecem, podem ser representadas do ponto de vista geográfico, pelos fluxos, quer se refiram estes à matéria-prima, à energia, à água, quer à mão-de-obra, aos capitais, ao mercado etc. Em se tratando não de uma indústria, mas de uma área industrializada, esses variados fluxos atingem o máximo de complexidade, mormente quando se referem não a um único aspecto, porém ao conjunto".

[68] Para Peralta (1979:75), era o maior curtume do Estado de São Paulo, na época de sua instalação. Já para Goldenstein (1972:113) e PMC (1976:07), a indústria era a maior do país em sua atividade.

[69] Conhecida por Colônia, a vila operária da empresa chegou a ter 150 casas de madeiras e 23 barracões para solteiros (Peralta, 1979:75). Nos anos 70, a vila operária foi desapropriada para a construção da Rodovia Pedro Taques (que ligou Cubatão ao litoral Sul do Estado).

[70] O método de curtimento do couro, destas empresas pioneiras, era o curtimento vegetal, onde o couro cru era embebido num extrato rico em tanino. Através desse processo era retirada a água dos interstícios das fibras de proteína do couro cru, unindo estas fibras entre si.

[71] Para Goldenstein (1972:115), "A evolução dessa indústria foi tipicamente a das indústrias de substituição [de importações]. Dificuldades de importação foram levando a transformações sucessivas: os velhos teares trazidos de São Paulo serviram, durante a Segunda Guerra, para tecer mangueiras contra incêndios, produto que faltava no mercado".

[72] Outro porto próximo à empresa era o chamado Porto 5: "O porto 5 foi bastante usado pelos antigos cortadores de lenhas de mangue, bem como pelo extratores de folhas dessa mesma espécie de árvore, que eram comercializadas principalmente para a Companhia de Anilinas e Produtos Químicos do Brasil S/A, e que servia como matéria-prima na fabricação de tinturas" (Coutinho & Santos, 1999:22).

[73] Em 1932, seu capital era de 3.600:000$000, caindo em 1933 para 1.880:000$000. Pode-se perceber os problemas da empresa, no início dos anos 30, pela diminuição do seu número de empregados: 1929: 100; 1930: 60; 1931: 40; 1932: 80; 1933: 90; 1934: 100; 1935: 82; 1936: 114; 1937: 148 (Peralta, 1979:302).

[74] Sobre a indústria química na primeira metade do século XX, escreveu Silvio Fróes Abreu, em 1954, na revista Digesto Econômico: "Os alemães também cedo se instalaram aqui, representando a I.G. Farben, a Merck. Chegaram a instalar fábrica em pequena escala em Cubatão, trazendo as matérias-primas básicas, desenvolvendo-se com aplicação dos produtos essenciais importados" (Abreu, 1954:27).

[75] Com os alemães, a fábrica ampliada, passou a produzir amarelo-cromo, preto enxofre, bicarbonato de sódio, bicarbonato de amônio, solução de amônia, além de diversas qualidades de sabão. Fabricava também filme de leite (produto próprio para couro), anilinas para lã, algodão e couro, óleo sulforicinado, alúmen de potássio, hipossulfito de sódio, borax-xiliol C.S.N., formol, dissolvente, ácido fórmico e explosivos (controlados pelo Exército Brasileiro).

Todos os depósitos eram altos, para evitar as enchentes do Rio Capivari que corria pelo terreno da fábrica. As águas do Rio Capivari eram aproveitadas pela empresa para resfriar as serpentinas do gás carbônico. O apito da Cia. de Anilinas servia de relógio para todo o povoado ao redor. Tocava às 7h00, 11h00, 12h00 e 16h30. O Sr. John Jurgens, dono da empresa, gostava de muito verde e, por isso, plantou ciprestes vindos de Floresta Negra, na Alemanha, construindo uma verdadeira floresta dentro de sua fábrica (Pinto & Roebbelen, 1992:06/07)

[76] Em 18 de julho de 1967, era publicado no jornal A Tribuna o edital do Leilão Judicial da Cia. de Anilinas, Produtos Químicos e Material Técnico, situada na Av. Nove de Abril, n.º 78, a ser realizado na sede da empresa nos dias 18, 19 e 20 de julho de 1967. As instalações da indústria foram divididas em 107 lotes. O patrimônio da empresa foi vendido em apenas 2 horas e dez minutos. A firma Leopoldo e Filho, instalada em São Paulo, comprou 90% dos lotes.

Muitos dos ex-empregados compareceram ao leilão para presenciarem o último ato envolvendo a empresa de 53 anos. Em setembro de 1972, a Prefeitura Municipal adquiriu dos irmãos Jurgens a área da Química. Em 1973, as 28 famílias que residiam na vila operária da empresa foram obrigadas pela Prefeitura a deixar definitivamente o local de sua moradia (Pinto & Roebbelen, 1992:5).

[77] "A gente atravessava a ponte e via, lá em baixo, as chatas carregadas de areia. Nas margens, os ranchos dos batedores de mangue. Eram uns homens que viviam no tijuco. Entravam com a canoa pelos alagados cobertos desses arbustos e derriçavam as suas folhas, enchendo com elas a canoa. Nas zonas em que já não havia mais folhas, cortavam os próprios arbustos e levavam o seu carregamento para os barrancos próximos à ponte. Moravam ali, em ranchos abertos, ou com três paredes apenas. Na frente do rancho, estava empilhado a galharia do mangue. Eles os cortavam em tarolos de palmo e meio. Depois, com macetes, tiravam-lhes a casca grossa e negra de tanino. A casca era vendida para os curtumes, os tarolos, depois de rachados ao meio, serviam de lenha para cozinha" (Schmidt, 1984:43).

[78] "Quanto a importância da preservação dos manguezais, mencionados os alertas pioneiros de Saturnino de Brito, em 1917, cabendo citar também, com relação aos aspectos biológicos, o depoimento de Freire, em 1934, em Congresso de Pesca realizado no Rio de Janeiro, protestando contra a excessiva extração de tanino e atribuindo ao manguezal importância significativa com relação à alimentação de fauna marinha" (Branco, 1984:88).

[79] A matéria-prima básica da indústria de papel é a celulose, que exige em sua manipulação uma elevada quantidade de água.

[80] Segundo Figueiredo (2000:59), especialista do setor elétrico brasileiro, "Grosso modo, metade do consumo industrial [de energia elétrica] ocorre no segmento dos chamados grandes consumidores (alumínio, ferro-ligas, cimento, soda, cloro, papel e celulose e petroquímica)". Assim, por ser uma fábrica de grande consumo de energia, era imprescindível para a empresa construir uma usina hidrelétrica própria, principalmente numa época anterior à Usina Henry Borden.

[81] Segundo Suzigan (2000:388), "(...) a geração direta de energia nas fábricas para uso próprio era uma prática comum na indústria no século XIX e princípios do século XX)".

[82] "Dando acesso à usina da Companhia havia uma estrada de ferro, tem um ramal que ligava a fábrica com a estação da (SPR) Companhia Inglesa, em Cubatão. Fazendo baldeação das mercadorias em Cubatão, o trenzinho, puxado por uma graciosa locomotiva a vapor, levava os papeis fabricados e trazia matéria-prima, toras de madeira para a serraria e outras cargas" (Pereira, 1988:145).

Essa linha férrea foi desativada no início dos anos 50, em função da empresa optar pelo transporte rodoviário pela Via Anchieta, que passava ao lado da fábrica. Em 1954, "Além da celulose estrangeira que vinha do cais do porto, outros caminhões chegavam com pasta de madeira, aparas, linter, breu, soda-cáustica e outras matérias-primas (...)" (Ibid., p.273).

[83] Goldenstein (1965:20) afirma erroneamente que a empresa faliu em 1923 e foi arrematada pelo Banco Comercial de São Paulo.

[84] Em dezembro de 1941, "A vila da Fabril possuía umas duzentas casas, destinadas aos funcionários e operários. Contava com escola (mais tarde transformada em grupo escolar), refeitório, padaria, armazém de secos e molhados, bar, barbearia, sapateiro, pensão, igreja, um cineminha, farmácia, clube e até um chalé de bicho. Nem todos os funcionários residiam com suas famílias na vila industrial da Fabril, viajando nos fins-de-semana para São Paulo e Santos" (Pereira, 1988:143).

[85] "No fim da década de 1920 e início da de 1930, consta que a indústria de papel estava com superprodução. Como a produção excedeu a demanda, os preços caíram, trazendo dificuldades financeiras para muitas empresas. Segundo se alegava essa situação havia sido causada por aumento excessivo da capacidade de produção no final da década de 1920, especialmente em São Paulo" (Suzigan, 2000:310/311).

Podemos verificar a decadência da Cia. Fabril, nesse período, através do número de seus empregados. Em 1928, a empresa possuía 585 operários; 1929: 493; 1930: 286; 1931: 157; 1932: 193; 1933: 216; 1934: 221; 1935: 235; 1936: 238; 1937: 266 (Peralta, 1979:303). Em 1979, sua área total era de 453,86 hectares (Ibid., p.92/93).

[86] "De fato, há informações de que em 1937 havia trinta fábricas de papel em operação, com capacidade total de produção de 112.000 toneladas por ano e empregando 20.000 trabalhadores; os números eram substancialmente mais elevados que os do final da década de 1920. Mais da metade da capacidade de produção estava no estado de São Paulo, onde se localizavam as três maiores fábricas (Klabin, Melhoramentos e uma fábrica pertencente à Companhia Santista de Papel)" (Suzigan, 2000:314).

[87] Como afirma um antigo funcionário da empresa, em janeiro de 1948, "(...) a má qualidade do solo nas escarpas da serra e as formigas não permitiam que as mudas dos eucaliptos se desenvolvessem" (Pereira, 1988:238). Outra solução  para a falta de celulose foi utilizar velhas cordas de navios (oriundas do Porto de Santos) para produzir celulose. Mais uma vez a iniciativa fracassou.

[88] Assim Goldenstein (1965:20) descrevia a empresa, em 1963: "Trata-se de indústria em plena expansão, uma das grandes indústrias de papel do país, equipada com maquinário estrangeiro". Já nessa época, a matéria-prima importada era de apenas 30%, recebendo o restante do Estado do Paraná. O número de operários nesse ano variou de 400 a 450, em sua maioria qualificados, e oriundos do nordeste do país (Ibid., p.20).

[89] A Ripasa, fundada em 22/10/1959, em Limeira, detêm 93,83% do capital da Santista de Papel e sua sede social se localiza, atualmente, na cidade de São Paulo.

[90] A produção de papel da Cia. Santista era vendida principalmente para São Paulo e Rio de Janeiro, e vinha crescendo continuamente (em toneladas por ano): 1932: 3.232; 1938: 8.098; 1942: 6.069; 1947: 5.237; 1952: 7.156; 1957: 9.436; 1962: 11.396; 1966: 17.144; 1967: 18.510; 1968: 21.895; 1969: 24.895 (Goldenstein, 1972:247).