Segurança na Net: paranóia?
Carlos Pimentel Mendes
Editor
Começamos
a semana com toda a comunidade internauta alarmada: primeiro, com a fúria
com que hackers orquestraram um ataque maciço aos principais sites
da Internet, como Yahoo, eBay, Amazon, CNN, até a brasileira Agência
Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Em seguida (e há quem
suspeite de alguma vinculação, até porque tais ataques
não geraram danos, apenas forçaram a interrupção
das atividades), o alarme soa por conta de uma reunião no dia 15/2/2000
entre representantes do governo dos Estados Unidos para discutir segurança
na Internet. Como pano de fundo, personalidades européias manifestam
preocupação com segurança na Internet.
Em primeiro lugar, a segurança
não tem que estar na Internet, mas em cada computador a ela conectado,
e de acordo com as necessidades do usuário. A preocupação
com segurança num site como Novo Milênio, onde todas
as informações disponíveis estão abertas ao
público, é muito diferente das que tem uma agência
de investigação (leia-se: espionagem), onde por natureza
tudo é secreto.
Em segundo lugar, porque justamente
as autoridades que tanto falam em segurança na rede são as
primeiras a arrombar a porta, criando literalmente portas para acesso exclusivo
a qualquer computador da rede. Se o leitor não tinha essa informação,
prepare-se para cair de costas: existem, entre outras, três iniciativas
importantes no sentido de espionar a rede mundial de computadores: o projeto
Inktomi, o Circle of Fire e o Echelon.
Inktomi - No final dos anos
70, megacorporações japonesas (com apoio do governo nipônico)
criaram o Projeto Inktomi, com uma rede de satélites e supercomputadores
para monitorar e interceptar as telecomunicações de dados
e voz (telefonia, fax, correio eletrônico). Localização
por palavras-chaves e dados relacionados com áreas sensíveis
em pesquisa e desenvolvimento de alta tecnologia, além do controle
direto de concorrentes atuais ou possíveis, são o escopo
desse trabalho.
Circle of Fire - Começou
logo após a detonação das primeiras bombas atômicas
sobre Hiroshima e Nagasaki, em 1945: os cientistas que participaram de
sua construção e imaginavam que o artefato só seria
usado como forma de dissuasão, sem lançamento efetivo, formaram
um grupo que pretendia garantir a troca mútua e imediata de informações
científicas e tecnológicas, para evitar que um governo pudesse
usá-las para controlar os demais. A iniciativa foi de Albert Einstein,
presidente da Comissão de Desespero dos Cientistas do Átomo.
No final dos anos 50, surgiu entre
esse grupo de cientistas a idéia de que fosse possível interceptar
e manter em sigilo o conhecimento científico até que seu
uso fosse julgado necessário. Surgiu assim o projeto Circle of Fire
(Círculo de Fogo), que até hoje mantém uma rede de
interceptação e monitoramento de informações,
agora com as facilidades da Internet e tendo desvirtuado completamente
a idéia inicial.
Echelon - é um projeto
iniciado pelos norte-americanos em 1948 para espionar o bloco soviético,
durante a chamada Guerra Fria. Supervisionado pela National Security Agency
(NSA) - uma entidade do governo
dos Estados Unidos menos conhecida que a CIA e o FBI, porém muito
mais poderosa -, o projeto é operado com a colaboração
da agência inglesa GCHQ e outras situadas no Canadá, na Austrália
e na Nova Zelândia. Conta com 25 satélites e cinco bases principais:
em Yakima, cerca de 200 km a Sudoeste de Seattle/EUA; Sugar Grove (250
km a Sudoeste de Washington-DC/EUA; Morwenstow (Cornualha, Reino Unido);
Waihopai (Nova Zelândia) e Geraldton (Oeste da Austrália).
Além delas, dispõe de umas 50 bases secretas distribuídas
por 20 países (Japão, Alemanha, Nova Zelândia, Austrália
etc.), pelas quais passa 95% do tráfego mundial de telecomunicações.
Qualquer
chamada telefônica, mensagem de correio eletrônico, transmissão
por telex ou fax, através de qualquer meio de transmissão
(link de microondas, telefonia celular, rede de satélites e mesmo
por fibra óptica) pode ser monitorada, capturada e analisada pelo
Echelon, através de super-computadores que usam inclusive sistemas
de reconhecimento óptico de caracteres (OCR). Existe o chamado "dicionário
Echelon" com palavras-chave a serem procuradas nas mensagens e, da mesma
forma como no projeto japonês Inktomi, endereços específicos
de interesse para os mentores do projeto são submetidos a vigilância
especial.
As mensagens assim filtradas são
automaticamente gravadas e transcritas para exame por um grupo de mais
de 100 mil analistas funcionários da NSA espalhados pelos centros
de espionagem da agência. Completado o processo, esse material é
enviado por satélite através de um hub estratégico
em Menwith Hill (Inglaterra) para a sede da NSA em Fort Meade, no estado
norte-americano de Maryland.
Há dois anos (1998) os computadores
do Echelon já descriptografavam, em tempo real, qualquer mensagem
codificada em chae de até 40 bits (as chaves maiores demoravam um
pouco mais e as de mais de 128 bits (PGP, GNU Privacy Guard e SSLeary)
implicavam em grandes esforços, daí ser proibida por lei
qualquer exportação de programas contendo chave de ciptografia
além de 64 bits. Como no final de 1999 a NSA liberou a exportação,
é evidente que o sistema de computadores da agência foi aperfeiçoado
(só em 1999, o orçamento da NSA era de US$ 15 bilhões)...
E, desde 1995, a Europa tem um sistema
parecido e vem negociando sua integração com o Echelon. Os
debates travados no Parlamento Europeu no início de 1998 chegaram
à imprensa, mas o assunto foi abafado, mas o debate continua: a
maior dificuldade é que o governo americano quer apoio a ações
que permitam maior controle das telecomunicações (Internet
inclusa). Insere-se nesse contexto o Acordo de Wassemar, de que participam
Alemanha, Argentina, Austrália, Áustria, Bélgica,
Bulgária, Canadá, Coréia do Sul, Dinamarca, Eslováquia,
Espanha, Estados Unidos, Finlândia, França, Grécia,
Holanda, Hungria, Irlanda, Itália, Japão, Luxemburgo, Noruega,
Nova Zelândia, Polônia, Portugal, Reino Unido, República
Checa, Romênia, Rússia (!), Suécia, Suíça,
Turquia e Ucrânia. O Brasil não está incluído.
Na sua casa - E sabem quem
colabora com essa espionagem? Você, leitor! No Windows instalado
em seu computador, se procurar bem no kernel, vai encontrar uma
porta (chave) específica para o acesso da NSA. Agora, adivinhe o
nome da chave criada pela Microsoft? NSA!
E mais: a Internet usa portas de
acesso como a 25 para o SMTP, a 20 e a 21 para o FTP, a 79 para Finger,
a 80 para a Web. Há também uma porta semi-secreta para uso
exclusivo da NSA. Segundo alguns informes, seria a porta 560. Ou então
a 666 (que seria bem apropriada, coincidindo com o mitológico número
atribuído aos poderes demoníacos...).
Com tudo isso, ainda têm coragem
de querer aumentar os controles de segurança na Internet? |