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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - Feiras
Feiras-livres santistas surgiram em 1923 (1)

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Em Santos, as feiras-livres começaram a funcionar de forma organizada em 1923, se bem já existissem ajuntamentos de barracas e outras construções formando mercados públicos desde meados do século XIX. Sobre o assunto, foi publicada esta matéria pelo jornal santista A Tribuna (ortografia atualizada nesta transcrição) - em 5 de maio de 1931, na página 5:


Imagem: reprodução da publicação original

 

As feiras-livres de Santos

O que viu e ouviu a nossa reportagem, na manhã de ontem, na feira do Campo Grande - Um imposto sui generis

Lançadas em 1923, as feiras-livres sofreram, logo após, uma interrupção prolongada, vindo a ser instaladas, novamente, há pouco mais de um ano.

Em se tratando de um assunto que interessa muito de perto à economia da nossa população, achamos que seria proveitoso uma investigação sobre o que se tem conseguido com a implantação das feiras-livres nesta cidade, após um ano de pleno funcionamento.

Deliberamos, pois, iniciar uma reportagem a respeito, para o que visitamos, na manhã de ontem, a feira-livre do Campo Grande, justamente uma das mais movimentadas e que serve à densa população daquele bairro, bem como aos moradores do Marapé, Nova Cintra e circunvizinhanças.

A feira do Campo Grande, como já é do domínio público, efetua-se no cruzamento da Rua Carvalho de Mendonça com a Avenida Bernardino de Campos, no local denominado Vila Belmiro.

Alinhadas paralelamente aos passeios daquela via pública, as barracas apresentam bom aspecto, no tocante à higiene e conforto.

À proporção que elas aumentam em número, vai se estendendo o cordão formado pelas mesmas, já ocupando as margens do canal que fica ao centro da Avenida Bernardino de Campos, já se agrupando no largo formado pela confluência daquelas rua e avenida com a Rua dos Guararapes.

Inúmeros são os comerciantes de secos e molhados, desta cidade, que, com os procedentes da capital, concorrem para o desenvolvimento das feiras.

Caminhões, carroças e carrinhos de mão estacionam nas proximidades, à espera do encerramento da feira, a fim de transportarem, de regresso, o saldo de mercadoria não negociada.

A feira, que se inicia habitualmente às 6 horas, termina às 11 horas, quando os mercadores são advertidos por um toque de sineta, dado pelo encarregado da fiscalização, por parte da Prefeitura Municipal.

Um segundo sinal avisa que estão definitivamente encerradas as operações de venda e que as barracas devem ser prontamente desmontadas e removidas do local.

As barracas destinadas às verduras e legumes, por exemplo, são de pequenos chacareiros das estações que marginam as linhas da Sorocabana e da S.P.R. ou situadas à beira da rodovia que liga esta cidade à capital.

Outro tanto sucede com os fornecedores de ovos e galinhas, que oferecem realmente regular vantagem, visto que apresentam à venda excelente artigo por preço bastante convidativo.

Os sacos de produtos - como açúcar, farinha e outros similares, são cobertos por telas de gaze ou folhas de vidro, impedindo, assim, a penetração da poeira.

Igualmente estão os queijos, manteiga e demais artigos, protegidos contra as moscas e o contato das mãos dos que têm por hábito examinar o artigo, apalpando-o e revirando-o muito a seu sabor.

***

Na verificação que fizemos, pudemos notar que vigoravam na feira livre do Campo Grande os seguintes preços, tomando por base o quilo: açúcar, $800 e $900; batatas, $400, $450, $500 e $600; feijão, preto, mulatinho, manteiga ou fradinho, de $400 a $500; farinha de mandioca, $500; arroz, $400, $500 e $600; milho, $500; charque, especial, 2$600, 1ª 2$200 e 2$000; bacalhau, 3$000; mate, 1$600; carne de porco salgada, 3$000, 2$800 e 2$700; cebola, $500 e $600; paio, especial, 5$000; comum, 4$200; café (torrado e moído), especial, 3$000, os demais, 2$000 (com 1 colherinha de brinde) e 1$800; chocolate em pó, 2$400 e 2$600; massas, 1$100, 1$200 e 1$300; batata doce, $250; vagem, 1$400; tomate, 1$400; ervilha, 2$000; couve-flor (uma) 1$500 e 2$000; repolho (um) $800 e 1$000; peixe, corvina, 2$500, galo, 1$100 e 1$200; tainha, 2$000; outras qualidades, 1$500, 1$800 e 2$000; camarão, 6$000 e 5$000; (camarão lagosta), 8$000; frutas, laranja, $400, $500 e $600 a dúzia; tangerinas, $400 e $500 a dúzia; bananas, $200 e $300 a dúzia; abacaxi, $200, $300 e $400 cada um; galinhas, 4$000, 4$500 e 5$500; frangos, 3$600 e 3$500; ovos, 2$200 e 2$300 a dúzia.

Percorrendo a feira, tivemos a oportunidade de ouvir vários meninos que se ocupam em transportar a mercadoria adquirida pelos compradores, mediante uns níqueis com que auxiliam seus pais, gente humilde e que luta com dificuldades para obter o sustento da família, na maioria das vezes numerosa.

Esses menores, que usam - para transporte das compras que lhes são confiadas -  toscos carrinhos de madeira, são, todavia, sujeitos a um imposto de "locação", conforme tivemos ocasião de ouvir dos mesmos.

Veio mesmo às nossas mãos um talão do Tesouro Municipal, referente às feiras-livres, que assinala: "Locação rs. 1$000", e que foi fornecido a um dos meninos que se ocupam no transporte de mercadorias como recebido da taxa de $400 que lhe foi imposta.

Estranhando tal fato, indagamos de um empregado da Prefeitura Municipal sobre o que havia a respeito de tal imposto.

Disse-nos, então, textualmente o referido funcionário: "Primeiro cobrávamos $400 cada carrinho; agora, essa taxa passou a ser de $200 apenas".

Estava, assim, confirmado o que nos dissera um pequeno que conduzia um carrinho de madeira e que nos presenteou com um dos ditos talões, justamente o que possui o n. 022443.

Achamos descabida a cobrança de tal "imposto de locação", tanto mais que se trata de meninos, alguns deles com 10 anos, apenas, que labutam penosamente durante toda a manhã para, na maioria das vezes, não chegar a ganhar 2$000.

É deveras rigorosa a Prefeitura ao proceder dessa forma para com uma dúzia de pequenos, que bem mereciam estar ainda numa escola, ou empregando a sua atividade de trabalhador precoce em outro ofício mais rendoso.

***

De várias pessoas que efetuavam suas compras na feira, indagamos da maneira como eram servidas e a quase totalidade afirmava que, se bem não fizessem grande pechincha, era sempre razoável comprar mantimentos ali, onde a concorrência ampla dava margem a uma pequena baixa de preços.

Quanto à qualidade das mercadorias, com algumas exceções, todos se davam por satisfeitos.

***

Mas, convém reparar que as feiras já existentes não satisfazem plenamente a população.

Em alguns bairros, por ficarem mais afastados, preciso se torna a criação de feiras, a fim de que os seus moradores possam também gozar das vantagens que com as mesmas possam obter.

A Ponta da Praia, onde reside um sem-número de operários e famílias de pescadores, não tem a sua feira-livre.

Os moradores daquele ponto extremo da cidade, para poderem atingir a feira que lhe fica mais próxima, têm necessidade de ir até a Encruzilhada, para o que há necessidade de tomarem o bonde 4, tanto mais que a distância que separa a Ponta da Praia daquele local é bastante longa, o mesmo sucedendo se desejarem atingir a feira da Avenida Floriano Peixoto, no Gonzaga, que se acha tão afastada quanto aquela.

Assim, fica evidenciada plenamente a necessidade de ser instituída uma feira na Ponta da Praia, onde há locais amplos e de fácil acesso aos veículos e pedestres, visto que três linhas de bonde ligam rapidamente aquele local ao Boqueirão, que assim seria também aquinhoado.

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