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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - IMPRENSA
A imprensa santista (7a)

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Em 26 de março de 1944, o jornal santista A Tribuna publicou edição comemorativa de seu cinqüentenário (exemplar no acervo do historiador Waldir Rueda), com esta matéria (grafia atualizada nesta transcrição):
 


Imagem: reprodução parcial da matéria original

O 50º aniversário d'A Tribuna

Um pouco de história da terra andradina mal contada por velho jornalista sem memória

(Crônica de Euclides Andrade)

Diante desta Underwood amiga, cujo teclado meus dedos cansados vão carinhosamente afagando; no isolamento desta sala nobre de redação, em cujas paredes se ostentam, como num panteão, retratos de alguns daqueles que fizeram a grandeza da A Tribuna - eu sinto (e só agora!) o peso enorme da incumbência que me foi confiada pela direção deste grande e prestigioso órgão da imprensa patrícia! Eu devo escrever algo sobre a fundação da A Tribuna; devo contar à mocidade de hoje como nasceu e como cresceu este jornal, que Olímpio Lima fundou e Nascimento Júnior transformou em um dos mais prósperos e autorizados matutinos brasileiros.

Para explicar o aparecimento da A Tribuna é preciso, porém, que a situemos no tempo e no espaço, evocando a veneranda Santópolis da última década do século XIX, rememorando fatos, aspectos e gentes que o cronista conheceu aí pelas alturas de 1894.

Naquele ano fatídico de lutas fratricidas, que ensangüentavam o solo brasileiro, achavam-se divididos pelas tricas políticas os habitantes da cidade que o Senhor Dom Braz Cubas fundou.

Na baía Guanabara, marinheiros de Custódio de Melo e Saldanha da Gama travavam rudes e sanguinolentos combates com os soldados que defendiam o governo constituído, chefiado pelo ínclito marechal Floriano Peixoto.

No Sul do país, ia acesa a luta entre castilhistas e maragatos. O Brasil inteiro estava interessado na guerra fratricida, que lhe encharcava de sangue o solo e levava o luto e as lágrimas a milhares de lares patrícios.

Santos, grande empório marítimo nacional, despertava a cobiça dos marujos rebelados, que lhe rondavam o estuário, defendido por patriotas, pela Guarda Nacional e por tropas do Exército e da Polícia do Estado.

A urbe andradina era nessa época um modesto centro povoado, em cujas ruas mal calçadas se viam, de distância em distância, lampiões a gás, pisca-piscando dentro da noite trevosa.

Os bondezinhos de João Éboli, que muares modorrentos arrastavam por algumas ruas da cidade, não iam além do Ponto Gonzaga, trafegando por uma espécie de estrada larga, ladeada de matagais inóspitos, batizada, mal fora rasgada pelas picaretas progressistas, com o nome de Ana Costa.

Paralelamente a essa, uma outra grande artéria citadina fora anteriormente iniciada: a Avenida Conselheiro Nébias, destinada a substituir o Caminho Velho da Barra, através do qual trafegavam troles e desengonçadas caleças e vitórias.

Na extensa faixa litorânea, raras edificações: prédios de largos beirais construídos de alvenaria; chalés de madeira; algumas chácaras pertencentes a gente abastada; e, como padrão da fé cristã deste povo bom e hospitaleiro, a pitoresca e humilde capelinha de Santo Antônio do Embaré, embiocada entre goiabeiras e árvores de jambolão.

Santos era nessa época remota uma nova Meca de todos quantos almejavam melhorar de sorte em terras mais dadivosas do que aquelas que lhes haviam servido de berço.

A sua população era das mais cosmopolitas; imigrados alienígenas e brasileiros, estes, procedentes da zona litorânea do próprio Estado bandeirante ou de outras unidades da Federação.

Os que haviam chegado primeiro, e aqui se sentiam bem aquinhoados pela sorte, atraíam para a terra dos Gusmões mais gente amiga e operosa. E com esses braços laboriosos, vinham também alguns cérebros escaldados pela cobiça, cérebros de aventureiros em busca de conforto e de riqueza, gente da qual se costuma dizer que aconselha aos filhos que ganhem dinheiro de qualquer maneira, mesmo que o ganhem honradamente. Burgo de grandes possibilidades, terra moça que crescia e a todos hospedava carinhosamente, Santos viu grandemente majorada a sua população.

E logo começaram a se chocar os interesses e a despertarem as cobiças. A política não era praticada no seu bom sentido. Formavam-se grupelhos ao redor de um chefete qualquer para defender o governo central, que, aliás, ninguém se atrevia a atacar.

Claro está que nessa ânsia de se aproximarem dos altos dirigentes, os soi disants governistas e oposicionistas entravam a brigar, trocando doestos, atirando-se desaforos em letra de forma, pelas colunas dos seus respectivos órgãos de opinião.

Santos era assim. E são sempre assim as terras moças e promissoras. Conta-se mesmo que Quintino de Lacerda, o bravo campeão santense do abolicionismo, indignado, certa vez, ante as estripulias que estavam sendo praticadas por vereadores inescrupulosos, expulsou-os do Paço Municipal e telegrafou para a Capital: "Botei na rua a canalhada; fechei o Paço Municipal e estou com a chave no bolso".

A Olímpio Lima, moço maranhense, que andara à procura de fortuna por terras do Pará e que, desiludido do Norte, se fez de rota para Santos, em busca de trabalho, causava pasmo que a terra andradina, de tão fartos recursos, habitada por gente tão boa, tão operosa e hospitaleira, fosse vítima de administradores, mal intencionados, uns; outros inexperientes e desastrados.

Olímpio vinha do povo. Ele sentia bater o coração da gente humilde em uníssono com o seu coração. Homem que se fizera no trabalho e pelo trabalho, conhecendo da vida todas as agruras, alma grande e generosa, Olímpio Lima, mal aportara a Santos e se apercebera do que aqui se passava no tocante à política e à administração pública, entrou a cogitar num meio de iniciar uma campanha regeneradora dos costumes da época, colocando-se, brava e desprendidamente, ao lado das classes proletárias, da gente desditosa que se abrigava em barracos, construídos com tábuas arrancadas de caixas de querosene e cobertos com retalhos de latas velhas, nos agrestes capoeirões do Campo Grande e Marapé.

O generoso maranhense queria constituir-se em paladino dessa gente infeliz e esquecida da sorte, dessa gente que trabalhava de sol a sol e curtia fome; dessa gente que suava no labor quotidiano e não tinha um catre em que pudesse descansar. E daí, dessa constante preocupação humanitária, lhe nasceu no cérebro a idéia de fundar em Santos um jornal, que fosse realmente uma tribuna da qual se fizesse ouvir a voz do povo. Esse jornal seria o bastião de cujas ameias ele romperia fogo vingador contra os exploradores do povo.

Essa idéia generosa amadureceu-lhe no cérebro. Convocou a amigos para a cruzada santa em prol do povo, em defesa dos sagrados interesses e direitos da gente humilde.

Fez contas às suas economias. Eram elas minguadas. Deitou mãos a tudo quanto possuía; recorreu a amigos dedicados, tão interessados quanto ele na realização daquele sonho bom e...


Olímpio Lima
Foto publicada com a matéria


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