XV
Antes do
Diário de Santos mudar as suas oficinas para a Rua Frei Gaspar,
completou na Rua Santo Antonio o seu 42º aniversário, e foi pouco depois dessa data que o sr. Mariano Scarpini deixou a
gerência do Diário, substituindo-o o sr. Domiciano Silva, tio do dr. Tito Brasil.
Aproveitando esta ocasião, direi algo sobre a pessoa do major Domiciano Silva, pois só convivendo
algum tempo com ele é que se pode descobrir o valor que possui.
Fiquei então sabendo que o major Domiciano Silva, cuja inteligência e tenacidade têm sido postas
em prova em mais de um ramo de atividade, sendo ele um dos fundadores da cidade de Bauru, deste Estado, onde, quer como comerciante, quer como
jornalista, em longos anos que lá residiu, deixou fortes traços de amor ao trabalho e têmpera forte de lutador, e os seus serviços em Bauru foram
muito valiosos.
Conversando-se com ele em matéria de forma de governo, mostra-se sempre ardoroso republicano. Foi
ainda com ele que eu e Amorim fizemos uma viagem a Conceição de Itanhaém, em carro de 1ª classe da
Soutern S. Paulo Railway, por ocasião da festa de N. S. da Conceição, padroeira daquele pitoresco lugar onde
Anchieta fundou um convento.
Durante a viagem, que consome boas 3 horas, o sr. Domiciano tornou-se um verdadeiro camarada,
fazendo-nos rir a bom rir com as anedotas que contava com chiste e muita graça. E, entendido em construção de estradas de ferro, ia explicando-nos
sobre o assentamento da linha, os cortes, as curvas, admirando o grande trabalho da enorme ponte de 600 e tantos metros que o comboio atravessava
com a marcha diminuída, dando tempo a que observássemos o belo panorama descortinado às nossas vistas ávidas de coisas novas.
E atravessamos a ponte entre o espírito das anedotas e a esperança de chegarmos incólumes a
Conceição depois daqueles 600 metros de trilhos, em baixo dos quais acompanhava um rio pronto para receber centenas de banhistas
involuntários, caso a ponte quisesse brincar conosco.
Chegamos a Conceição. Movimento festivo. Almoçamos num hotel, o melhor do lugar. Propus aos
festeiros uma palestra humorística, sob o tema "As mãos e os pés", que foi realizada no salão do Gabinete de Leitura.
Depois da palestra, acompanhamos a procissão que percorreu as três principais ruas da cidade.
Fomos à Matriz e não pudemos deixar de visitar o histórico convento, o qual percorremos canto por canto, gozando das velharias que para mim eram
novidades. Voltamos à noite, mas desta vez sem anedotas, porque, um tanto cansados da excursão, o sono manifestava-se.
Mesmo assim, de olhos semi-cerrados, trazíamos na imaginação vivas lembranças das horas agradáveis
que passamos em Itanhaém, cercados de gentilezas que o sr. Pompílio a nos dispensou em sua residência, e dos momentos de sesta, estirados na relva,
sentindo passar pela estrada uma moçoila, a olhar muito para nós, acelerando os passos, fugindo enfim, tal uma corsa perseguida pelo caçador...
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Chegamos de novo a Santos, às 9 horas da noite, debaixo de uma carga d'água. Escapamos do banho na
ponte, mas não nos livramos do presente das nuvens.
A ponte de mais de 600 metros na estrada de ferro para Conceição de Itanhaém
Foto e legenda publicadas com o texto
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