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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - IMPRENSA - BIBLIOTECA NM
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Em 1979, o jornalista Olao Rodrigues lançou o livro História da Imprensa de Santos, com edição do autor, única obra do gênero a abordar de forma tão ampla o desenvolvimento da imprensa santista. Novo Milênio apresenta esta obra pela primeira vez em versão digital, autorizada em junho de 2008 por sua filha Heliete Rodrigues Herrera:
 

Eis o antigo e grande colaborador anônimo e obscuro da imprensa de Santos - o pequeno vendedor de jornais

Imagem publicada com o texto, página 18

Jornais

Precursor da Imprensa - 1849

Embora o talentoso e inolvidável historiador Francisco Martins dos Santos assinalasse, como consta, que a folha anos antes circulasse em manuscrito, circunstância que não conseguimos apurar, certo é que Revista Comercial foi o primeiro jornal publicado tipograficamente em Santos, num domingo, a 2 de setembro de 1849.

Tamanho pequeno, com duas páginas ou uma só folha, sumário, portanto, publicava-se apenas aos domingos, com pouco noticiário mas oferecendo maior espaço para informações comerciais e marítimas. Seu fundador, o médico alemão Guilherme Délius, naturalizado brasileiro, natural de Hamburgo desde 1802, foi professor do Colégio Alemão e intérprete e tradutor juramentado da Alfândega de Santos.

O jornal do dr. Guilherme Délius passou a ser publicado com quatro páginas às terças e sextas-feiras; mais tarde às terças, quintas e sábados. Custava a assinatura 5$000 por semestre e o número avulso 200 réis para os assinantes e 320 réis para os que não o fossem. E os anúncios? Ficavam a cem réis por linha.

Composto e impresso na Tipografia comercial, na Rua do Rosário, hoje João Pessoa, também de propriedade do dr. Guilherme Délius.

Por período de um ano, a Revista Comercial topou com sérias dificuldades para o serviço de distribuição, muito irregular, o que provocava muitas queixas dos assinantes e do público em geral. Depois sobrevieram embaraços de ordem financeira, tanto que seu diretor contraiu empréstimo com Manoel Teixeira da Silva, dando-lhe em garantia a Tipografia Comercial. Isso se verificou a 31 de março de 1859. Já então jornal e tipografia mudaram-se da Rua Setentrional nº 3 para a Rua Santo Antônio nº. 60.

Atuando em meio acanhado, Guilherme Délius continuou a lutar com afinco e tenacidade para manter a folha, que lhe impunha compromissos financeiros agravados com o decorrer do tempo. Afinal, não mais suportando a situação, viu-se sujeito a vender jornal e tipografia, isso ocorrendo a 2 de novembro de 1865. Por escritura pública, o médico brasileiro naturalizado passou à propriedade do santense dr. Antônio Pereira dos Santos o jornal a que tanto prezava, já no seu 17º ano, e o estabelecimento gráfico. Tudo por 12:000$000.

Depois de cinco dias, ressurgiu Revista Comercial sob a direção do dr. Antônio Pereira dos Santos, figura de influência política, econômica e social na Cidade, primo de Vicente de Carvalho. Três anos apenas o jornal ficou em suas mãos. No dia 13 de fevereiro de 1868 vendeu-o, como também a tipografia, por 7:000$000 aos drs. José Antônio de Magalhães Castro Sobrinho, Inácio Wallace da Gama Cócrane e coronel Antônio Ferreira da Silva. Assumiu o cargo de redator principal o dr. Magalhães Castro Sobrinho, passando a gerir a tipografia o solicitador Bernardino Clementino Nébias.

Nova mudança. Dessa feita, o jornal foi para a Rua Direita, hoje 15 de Novembro nº 27, ganhando maior formato e circulando doze dias durante o mês, fixos, como a 3, 5, 8i, 10, 13, 15, 18, 20, 23, 25, 28 e 30 de cada mês, menos 30 de fevereiro, é óbvio.

Estava predestinado que o primeiro jornal de Santos teria outros donos. Por escritura lavrada a 17 de abril de 1872, tanto Revista Comercial como a Tipografia Comercial foram vendidas aos irmãos João Carlos Behn e Jorge Elias Behn, por 9:000$000, pagáveis em obrigações à Praça.

Não foram bem sucedidos os irmãos Behn. As despesas se acumulavam mês a mês e descorçoados tiveram de suspender a publicação do periódico, ante os comentários e charges jocosas do Diário de Santos, que nunca o poupara em artigos e simples notas de cunho afrontoso e ridicularizante.

Segundo Lafayete de Toledo, em Imprensa Paulista, de 1898, volume III, Revista Comercial em 1872 teve como redator o dr. João José Frederico Ludovico, natural de Bananal, neste Estado, homem de talento. Além de jornalista, foi dramaturgo, deputado provincial por Minas Gerais, professor, poeta e autor do livro Rabiscos Acadêmicos. Faleceu em Uberaba por volta de 1894.

De conformidade com a mesma fonte, o jornal fundado pelo dr. Guilherme Délius também pertenceu a Rocha & Irmãos e durante certo tempo foi seu correspondente no Rio de Janeiro o jornalista Augusto Fomm, santense que se fazia admirar pela cultura, redator do Jornal do Comércio, da Corte.

Enfim, o acervo gráfico do jornal pioneiro da Imprensa de Santos foi vendido ao capitão Nolasco Rodrigues Paz, de Rio Claro, que, em janeiro de 1873, passou a publicar o jornal Eco do Povo, naquela comuna da Província.

Revista Comercial: Primeira página da primeira edição impressa, de 2 de setembro de 1849

Imagem enviada a Novo Milênio por Ary O. Céllio e também publicada com o texto, página 20

O Nacional - 1850

Não fazia um ano do lançamento do primeiro jornal de Santos - Revista Comercial - quando foi editado O Nacional. Folha política. Redigia-a o dr. Martim Francisco Ribeiro de Andrada (2º), nascido na França quando do exílio do seu pai Martim Francisco, irmão de José Bonifácio e Antônio Carlos, a famosa tríade andradina.

O dr. Francisco Manoel Raposo de Almeida, também advogado, tornou-se proprietário da tipografia onde se compunha e imprimia a folha, segundo assevera Costa e Silva Sobrinho em seu livro Santos Noutros Tempos.

O dr. Martim Francisco (2º), por escritura pública, lavrada no dia 14 de março de 1850 no 1º Tabelião, vendeu "uma tipografia com todos seus pertences pela importância de 1:100$000, pagas em duas prestações, a primeira da data da escritura a um ano, e a segunda seis meses após a primeira, sendo a primeira de 600$000 e a segunda de 500$000".

Havia 4 cláusulas, a saber:

"a) O comprador será obrigado a imprimir um jornal político, por semana, redigido pelo vendedor, cujos artigos serão revestidos da competente responsabilidade, sendo dito jornal impresso a 400 exemplares, e do formato do jornal Ipiranga, impresso em São Paulo.

"b) O vendedor pagará anualmente a quantia de 800$000 pela impressão do jornal, sendo pagos 200$000 logo que forem impressos os primeiros 400 exemplares do nº 1 e depois em trimestres adiantados de 200$000 cada um.

"c) A metade do importe dos anúncios pertencerá ao comprador e a outra metade à redação do jornal.

"d) O papel necessário para a impressão do jornal será fornecido pela redação do mesmo.

"Além do dr. Martim Francisco (2º) e dr. Raposo de Almeida, subscreveram a escritura o tabelião Firmino de Quadros Aranha e testemunhas".

Um mês e tanto depois surgiu O Nacional, no formato exato do Ipiranga, da Capital. Nome da tipografia: Imparcial.

A folha era de tendência liberal.

Todavia, não foi além de dois anos de existência.

Santos ainda era muito incipiente para suportar três folhas: Revista Comercial, O Nacional e O Mercantil.

O Mercantil - 1850

No dia 4 de setembro de 1850 (N. E.: na verdade, 8 de junho de 1850) veio a lume O Mercantil, um ano depois da publicação do primeiro jornal de Santos.

Dirigia-o e redigia-o o dr. Manuel Raposo de Almeida, cidadão português, natural da ilha de São Miguel dos Açores, onde nasceu a 15 de agosto de 1807. Faleceu na cidade de Taubaté a 17 de março de 1886, aos 79 anos de idade. Foi outro semeador de jornais. Fundou periódicos em Pernambuco, Bahia, Minas Gerais, Santa Catarina e na Província de São Paulo. Bacharel em Direito, doutor em Cânones pela Universidade de Coimbra e doutor em Teologia. Publicou em Santos dramas históricos, entre os quais Camões, O Monge da Serra Ossa e Martim de Freitas, sendo vasta sua bibliografia.

O Mercantil, primeiro do nome, circulou durante dois anos ou de 1850 a 1852.

Era empresa temerária editar-se jornal em Santos naquela época. Verdadeira aventura. A população não passava de 7.036 habitantes, inclusive escravos, ou 4.817 livres e 2.219 cativos. Possuía a Cidade 1.064 prédios, dos quais 202 assobradados e 862 térreos. Impressionavam desagradavelmente as suas ruazinhas tortuosas, os seus prédios lamacentos, os seus becos sórdidos. No Estuário os escravos despejavam as imundícias leves e grossas de todas as casas residenciais, pois não havia rede de esgotos, nem água canalizada. Os ribeiros e riachos cortavam o centro urbano.

Enfim, Santos era pequenina, feia e suja!

O Mercantil era impresso na Tipografia Imperial, que ficava na Rua Santo Antônio nº 2, atual Rua do Comércio (N. E.: na verdade, Typographia Imparcial).

Era de sua propriedade aquele estabelecimento gráfico, que lhe vendera o dr. Martim Francisco (2º), e onde também se imprimia o jornal O Nacional.

Foram tais as dificuldades financeiras que enfrentava que, a 10 de dezembro de 1851, foi forçado o dr. Raposo de Almeida a hipotecar a sua tipografia à firma Vergueiro & Companhia. Mais tarde, fez outra e definitiva hipoteca da oficina gráfica, desta feita a Antônio Martins Ferreira da Cruz. Compreendia um prelo de ferro e outro de madeira, com todos os pertences, como tipos, emblemas e o mais.

Em 1852 o dr. Raposo de Almeida retirou-se de Santos, passando a residir em Pindamonhangaba, onde constituiu família.

Faleceu ele a 17 de março de 1886, depois de prestar apreciáveis serviços ao Brasil no campo da Arqueologia, História e Jornalismo.

Jornal O Mercantil, edição nº 1, de 8 de junho de 1850, página 1
Imagem: acervo da Biblioteca Nacional Digital

O Precursor - 1851

Não foi o primeiro jornal editado em Santos, a despeito do título.

O Precursor surgiu dois anos após Revista Comercial, tratando-se, não há dúvida, dos primeiros periódicos surgidos no município.

Pena não tivesse a mesma repercussão que os primitivos órgãos de publicidade do município, como Revista Comercial, O Nacional, O Comercial e O Mercantil.

O Precursor veio a lume em 1851.

Médico Popular - 1851

Em 1851 ainda estávamos engatinhando no Jornalismo. Tudo era incipiente, sobretudo na arte gráfica. Os jornais eram feitos em simples tipografias em que faltavam mão-de-obra e recursos técnicos.

Mesmo assim, meia dúzia de jornais tentaram a sorte em meio a um público apático e Santos ainda vivendo os dias ingratos de sua precariedade em água, esgotos, transporte e tudo mais.

Nesse ano de 1851 foram publicados dois periódicos: O Precursor e Médico Popular, este último se impondo pela curiosidade, pois eram tão poucos os médicos e tão escassos os recursos econômicos da população, que o jornalzinho, editado por gente competente, dava conselho e orientava os interessados sobre a propriedade dos medicamentos para os casos comuns e simples de doenças.

O Paranapiacaba - 1853

O Paranapiacaba iniciou sua publicação no dia 20 de janeiro de 1853, impresso na Tipografia Comercial, que pertencia à Revista Comercial.

Jornal político, noticioso e literário, dirigido por Agostinho José de Oliveira Machado.

As assinaturas custavam 5$000 por semestre e 8$000 por ano, pagos adiantadamente, devendo os assinantes de fora pagar mais 500 réis de despesa para o porte. Subscreviam-se as assinaturas na própria Tipografia Comercial ou na Rua Áurea (General Câmara) nº 113.

Seu fundador era formado em Direito pela Faculdade de São Paulo.

A Juventude - 1855

Segundo registro do pesquisador Durwal Ferreira, A Juventude veio a lume no começo de 1855. Há seis anos apenas da publicação do primeiro jornal santense Revista Comercial.

Foi seguramente o primeiro jornal de estudantes, com matéria instrutiva e recreativa. Não durou muito, mas até pelo número 6 estava firme na "arena jornalística". Esse sexto número circulo a 11 de outubro de 1855.

O Clamor Público - 1855

No ano de 1855, além de O Popular, que registramos à parte, saíram os pequenos jornais A Juventude e O Clamor Público.

Embora omitido em várias fontes, O Clamor Público existiu de verdade. Apareceu em 1855. Costa e Silva Sobrinho registra-o em seu livro Santos Noutros Tempos.

O Comercial - 1857

Seu primeiro número saiu a 16 de agosto de 1857, num domingo, formato de 26x36, composto e impresso na Tipografia de Marques & Irmão, situada no Largo do Carmo nº 46, antes Largo da Cadeia, hoje Praça Barão do Rio Branco. Propriedade dos irmãos Joaquim Roberto de Azevedo Marques e Roberto Maria de Azevedo Marques, sendo este o principal redator.

Subscrevia assinaturas para Santos a quatro mil réis por seis meses e para fora a cinco mil réis, pagos adiantadamente. Custava quatrocentos réis o exemplar, que tinha 4 páginas, e os anúncios publicados a 80 réis por linha, enquanto os demais dependiam de combinação prévia.

Do seu artigo de apresentação, transcrevemos este trecho: "Um grande pensamento foi o alvo de todas as ambições, de todos os programas de reformas e melhoramentos, em todos os ramos, que coincidam com o progresso material e moral do País. Trabalhemos, pois, todos na grande obra de reconstrução do País: concorramos todos, com nossas forças, para esta primeira e grande necessidade - a ilustração do Povo para a sua indeclinável conseqüência. Eis por que aparece hoje O Comercial".

Já a partir do segundo número, a 22 de agosto de 1857, o jornal dos irmãos Azevedo Marques circulou aos sábados, como noticiou no número inicial.

No artigo principal, intitulado Cadeia Nova, o semanário assinalava que as obras da Cadeia Nova (hoje Cadeia Velha, ali na Praça dos Andradas), iniciadas há tanto tempo e por várias vezes interrompidas, como naquele período, sem que o jornal soubesse a verdadeira causa, era formulado apelo ao Governo no sentido de que o presídio fosse realmente construído, tal a urgente necessidade do empreendimento.

Nesse recuado dia 22 de agosto de 1857, O Comercial publicava destacado anúncio da Companhia Dramática dirigida e ensaiada pelo ator Domingos Martins de Souza. Em 4ª récita de assinatura, apresentaria o drama Uma Mulher de Artista, no velho e ruinoso Teatro de Santos, que ficava no Largo da Coroação, hoje Praça Visconde de Mauá, canto da Rua Riachuelo, onde se situa a agência do Banco Novo Mundo.

Mais tarde, ou a partir de 6 de janeiro de 1859, o jornal passou a sair às quintas-feiras e o estabelecimento tipográfico estava na Rua Setentrional nº 20. Essa via pública e a Meridional, que lhe ficava paralela, vieram a formar as atuais praças da República e Antônio Teles.

Voltando-se ao número inicial do semanário dos irmãos Azevedo Marques, é de salientar que, na segunda página, deparava-se com uma crônica em que ponderava estarem vagos os cargos de suplentes do Juízo Municipal, lacuna que o jornal considerava grave. Após uma série de apreciações, a crônica terminava por acentuar que a imediata nomeação dos suplentes impunha-se como medida necessária.

Segundo contrato celebrado com o presidente da Câmara Municipal, José Justiniano Bitencourt, que dá nome à Rua Bitencourt, e Roberto Maria de Azevedo Marques, O Comercial publicava gratuitamente as atas das sessões legislativas.

Estava o semanário no quarto ano de fundação, quando no número de 9 de fevereiro de 1860 participou aos seus leitores que, "devido à falta de empregado obrigam-nos a suspender por algum tempo a publicação de O Comercial. Não obstante - continuava a nota - receberemos quaisquer encomendas tipográficas, que serão satisfeitas com precisão e nitidez".

Na verdade, o jornal voltou a circular. Na hemeroteca do Instituto Histórico e Geográfico de Santos existe coleção desde o número inicial de 16 de agosto de 1857 até 9 de fevereiro de 1860, uma quinta-feira, número 150. Todavia, a Biblioteca Pública Nacional, do Rio de Janeiro, detém exemplares até 25 de maio de 1860, que é a data provável do seu desaparecimento.

Os irmãos Joaquim Roberto de Azevedo Marques e Roberto Maria de Azevedo Marques, de distinta e tradicional família santense, dedicados e talentosos, foram figuras evidenciais na imprensa da terra andradina do outro século, criadores do primeiro jornal político.

Roberto Maria de Azevedo Marques foi homem de talento. Em sua Chácara da Filosofia, no Saboó, reunia as figuras do meio intelectual de Santos e São Paulo e em memoráveis tertúlias debatiam temas literários, filosóficos e artísticos.

Ele traduziu do hebraico o romance O Lenço de Luís XIX, que fez muito sucesso na época.

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Jornal O Commercial, edição nº 125, de 5 de janeiro de 1860, página 1
Imagem: acervo Memória da Biblioteca Nacional (acesso: 26/10/2014)

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O Ytororó - 1859

Imagem publicada com o texto, na página 25

Não queremos atualizar o título segundo a ortografia em vigor. Discordamos, isso sim, do caráter de revista que lhe dão. A publicação não tem nada de magazine. Por sinal, Ytororó considerava-se jornal. Logo após o título revelava os temas que propagava: "Jornal científico, político, literário e artístico".

- Por quê, então, o primeiro jornal que se publicou em Santos tinha o título de Revista Comercial?

- Porque era jornal de verdade. Revista, no caso, era verbo e não substantivo.

Ytororó surgiu no dia 1º de fevereiro de 1859. Um de seus produtores foi o dr. Silva Costa, jurisconsulto, então residente no Rio de Janeiro, e seu diretor, o dr. Antônio Pereira dos Santos. Desapareceu em 1860, depois de editar 17 números.

O Progresso - 1860

Durante o ano de 1860, quando em Santos preponderavam outras folhas, apareceu O Progresso, que, consoante seu programa, pretendia progredir para melhor servir àqueles que a recebessem de braços abertos. Mas esses braços foram se fechando e O Progresso achou melhor fechar suas portas.

A Civilização - 1861

Folha consagrada aos interesses gerais do País. Dava destaque a todos fatos ocorridos em Santos. Surgiu em 1861.

Quem o dirigia e redigia foi o jornalista e escritor português Augusto Emílio Zaluar, autor do livro Peregrinação pela Província de São Paulo, de que o nosso Almanaque, edição 1973, transcreve o trecho sobre a primeira visita que ele fez a Santos.

Todavia, apesar de Zaluar ser homem vivo, inteligente e perspicaz, o periódico pouco durou.


Capa da edição de 7 de julho de 1861 de A Civilização

Imagem: arquivo Edgard Leuenroth, da Unicamp (Campinas/SP)

Reproduzido de A imprensa e a cidade de Santos, de Alexandre Alves, Santos-SP, 2008

O Santista - 1864

Segundo Lafayete de Toledo, em sua obra Imprensa Paulista, no III volume, à página 384, publicou-se em Santos o jornalzinho O Santista. Foi no ano de 1864, 15 anos após o lançamento do primeiro jornal neste município.

Seu nome era bonito. Gentílico de nossa querida terra. Mas desapareceu no espaço de tempo não previsto pelos seus editores.

- Em 1887, segundo a mesma e autorizada fonte, e o criterioso pesquisador Durwal Ferreira o confirma, apareceu outro Santista.

Neste século (N.E.: século XX), como o leitor poderá observar, surgiu também uma revista de nome Santista, órgão da Associação de Pais de Alunos do Ginásio Santista.

O Caboclo - 1863

Em 1863 circulou O Caboclo. Registra-o Lafayete de Toledo em sua obra Imprensa Paulista, III volume, como também João Gualberto de Oliveira em Nascimento da Imprensa Paulista.

Na hemeroteca da Biblioteca Nacional há um exemplar desse jornalzinho. Mas tão deteriorado se mostra, amarelecidas suas páginas, avelhantadas e dilaceradas que, ao simples toque com as mãos, o jornalzinho se desfaz, não resistindo, portanto, à copiagem nem pelo xerox nem pela microfilmagem.

Curioso o jornalzinho, como tivemos oportunidade de ver de preto. Curioso até no título, pois caboclo, como se sabe, quer dizer sertanejo, indígena ou tapuia e não o caiçara, o praiano ou o homem do Litoral.

O Caboclo teve rápida existência. Seu primeiro número circulou a 12 de janeiro de 1863 e o último número a 1º de março do mesmo ano.

Capa da primeira edição de O Caboclo, em 12 de janeiro de 1863

Imagem: arquivo Edgard Leuenroth, da Unicamp (Campinas/SP)

Reproduzido de A imprensa e a cidade de Santos, de Alexandre Alves, Santos-SP, 2008

O Mercantil - 1867

O Mercantil apareceu no dia 25 de agosto de 1867. Órgão noticioso, comercial e político, com redação e oficinas na Rua de Santo Antônio, 76, atual Rua do Comércio.

Jornal de tendência liberal, vinculado ao Partido Liberal, não perdoava o pessoal do outro lado, isto é, os conservadores.

Fazia-se de modo rude e violento o caráter dos comentários e artigos que os redatores de O Mercantil assestavam contra os elementos politicamente adversários, não os poupando pelo mais simples ato partidário ou administrativo.

A partir do segundo ano de fundação, ou 25 de agosto de 1868, passou a circular todos os dias, menos os que se seguiam a feriados e santificados.

O Mercantil, repetimos, era desabrido em seus comentários, como este, publicado na edição comemorativa do segundo aniversário: "Procuramos curar o flagelo político que tomou largas proporções, abusando até dos templos, para, do alto do púlpito, derramar sobre as massas sua doutrina subversiva, chamando-as para o grêmio da política que professam, transformando o Santuário de Cisto em armazém de cabala. Nada perdoaremos, puxaremos de pé atrás o azorrague e descascaremos sem dó nem piedade. Andai direito, e bem direito, senhores da Conserva, sentinela firme, temos os olhos fitos em vós".

Eram constantes as provocações e as rixas entre liberais e conservadores. Isso há 111 anos!

Capa da edição 117 de O Mercantil, de 10 de outubro de 1868 (ano 2)

Imagem: arquivo Edgard Leuenroth, da Unicamp (Campinas/SP)

Reproduzido de A imprensa e a cidade de Santos, de Alexandre Alves, Santos-SP, 2008

O Lírio - 1867

Antônio Manoel Fernandes, o recordista da fundação de periódicos, merece capítulo especial na atividade da Imprensa do outro século pela sua dedicação, idealismo e empenho em servir à terra natal por meio da Comunicação.

A despeito de suas exuberantes demonstrações de inteligência e perspicácia, Antônio Manoel Fernandes e seu condiscípulo Antônio Manoel dos Reis não escaparam à sátira de Fagundes Varela, seu professor na Academia de Direito de São Paulo, tentando escarnecer um e outro nesta quadra:

"Antônio Manoel dos Reis,

Antônio Manoel Fernandes;

Escreve um, grandes asneiras

Outro, escreve asneiras grandes".

Fagundes Varela quis apenas formar rimas. E mexer zombeteiramente com ambos. Aliás, era amigo de Antônio Manoel Fernandes. Do contrário não se compreenderia o motejo.

Não é inepto quem funda, dirige e ainda professora uma escola. Não é tolo quem funda 5 ou 6 jornais, dirige-os e redige-os, além de colaborar em outros. Não é sandeu quem faz poesias e escreve contos, romances e peças para teatro e nem faz asneiras quem arrebata o povo para um motim, nem é burro quem o povo elege vereador.

Pois Antônio Manoel Fernandes foi o fundador e redator de O Lírio, que apareceu em 1867. Era jornalzinho poético e cheio de literatura em prosa.

Qual o programa da folha nascente? Proteger os interesses de Santos, terra do diretor, que se via abandonada pelo Governo da Província.

"Dos lados paulistas do Litoral, surgia, apesar dos pesares, o grande núcleo moral, intelectual e cívico de Santos", dizia o artigo de apresentação.

Nesta antemanhã do centenário da Sociedade Humanitária dos Empregados no Comércio de Santos, a figura de Antônio Manoel Fernandes ganha maior evidência, pois foi numa das dependências do seu estabelecimento escolar - a Escola do Povo -, no Largo da Coroação, atual Praça Visconde de Mauá, que nasceu a respeitável entidade pioneira no País do mutualismo.

Cidade de Santos - 1868

João Gualberto de Oliveira, em seu livro Nascimento da Imprensa Paulista, bem assim o Almanaque da Baixada, edição 1973, registram o aparecimento em 1868 de Cidade de Santos, que seria o primeiro com esse título.

Confessamos que, em nossas pesquisas, não conseguimos apurar o surgimento desse jornal naquele ano. Como nós outros, também não o inscreve, na época assinalada, Lafayete de Toledo, nem mesmo o pesquisador Durwal Ferreira, que tanto se debruçou sobre o roteiro de investigações históricas da Imprensa de Santos.

Tanto João Gualberto de Oliveira como o Almanaque da Baixada, nessa altura editado por Bandeira Júnior, apontam que Cidade de Santos, o jornal que teria circulado em 1868, acusou pouca duração.

Por derradeiro diremos que da mesma forma o saudoso historiador Francisco Martins dos Santos, em seu livro História de Santos, também registra Cidade de Santos como tendo aparecido pela primeira vez a 29 de setembro de 1868.

Coincidência ou equívoco, a Cidade de Santos, que na verdade surgiu em 1898, cujo gerente foi Antônio Augusto Bastos, começou a publicar-se no dia 29 de setembro, mas de 1898, repetimos o ano.

Comércio de Santos - 1869

Comércio de Santos surgiu a 11 de janeiro de 1869. Tinha o formato de 27x37 e publicava-se às segundas, quartas e sextas-feiras.

Propriedade de José Rebelo de Amorim. Seu principal redator foi o dr. Alexandre Augusto Martins Rodrigues, figura evidencial em Santos no outro século, tanto no ambiente social quanto no político. Foi vereador e presidente da Câmara Municipal de Santos, cabendo-lhe saudar Rui Barbosa em sua visita oficial à Cidade, como ministro da Fazenda do governo provisório de Deodoro da Fonseca em 1891.

Dispunha de oficinas próprias. Em 1872, no entanto, premido pelas dificuldades, viu-se na contingência de vender todo o acervo gráfico. E sabem para quem? Para o Diário de Santos, por intermédio do dr. José Emílio Ribeiro Campos, que iniciou a publicação a 10 de outubro daquele ano.

Desaparecido o Diário de Santos, depois de mais de 40 anos de existência, surgiu em 1920, Comércio de Santos, que também desapareceu depois da Revolução Liberal de 1930. Nilo Costa lançou Diário de Santos com o mesmo material gráfico do Comércio de Santos, de que fora diretor, declarando ser a continuação do velho Diário de Santos, tanto que lhe observou ano e número.

Mas, é evidente, não se tratava de continuação. O Diário de Santos, o velho órgão fundado pelo dr. José Emílio Ribeiro de Campos, estava morto e bem morto... Essa ressuscitação só prevaleceu no espírito irrequieto do dr. Nilo Costa.

Assim ele surgiu para fazer crer que o curriculum vitae do seu ex-Comércio de Santos, que fundou e dirigiu, era de respeitável ancianidade, pois vinha desde 1869, quando surgiu o primeiro jornal com esse nome, que nada teve a ver com o do dr. Nilo Costa...

O Pirilampo - 1869

Malgrado Lafayete de Toledo, em sua rica obra Imprensa Paulista, que se acha no Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, registre o aparecimento de O Pirilampo em 1869, vinte anos depois da fundação na imprensa santense, outras fontes apontam-no como nascido em 1871. É possível - opinião nossa - que 1871 marcasse o reinício de sua publicação ou a sua segunda fase.

O Pirilampo foi o primeiro jornal liberal-radical e sua fundação se deve ao inteligente padre Francisco Gonçalves Barroso, que tinha funda inclinação pelo jornalismo, pois não foi apenas esse periódico que ele fundou. Mas houve outros dirigentes de O Pirilampo, bem conhecidos na imprensa do outro século, como Hipólito da Silva, Antônio Manoel Fernandes e José André do Sacramento Macuco. Gente apta à frente de um jornal liberal.

Correio de Santos - 1869-1878

Houve três jornais com o mesmo título no século passado (N.E.: século XIX). O melhor deles foi o que surgiu em 1885 dirigido por J. Guelfreire, que mal suportou uma campanha intransigente e ferrenha do Diário de Santos que, a certo ponto, virou polêmica em linguagem ofensiva entre o dr. Rubim César e J. Guelfreire.

Chegaram até a ameaças pessoais na própria redação do Correio de Santos, em que o dr. Rubim César, de chicote, foi tirar satisfações com o dono do Correio de Santos.

O primeiro Correio de Santos apareceu em 1869. Não fez jus ao título. Carecia de recursos. Desapareceu ante a apatia do público. O segundo Correio de Santos veio lá por 1878. Não teve melhor sorte que o antecessor. O terceiro do nome, o Correio de Santos, de J. Guelfreire, este sim, durou muito mais e era jornal de verdade, embora sempre pisado pelo seu rival, o Diário de Santos.

Diário de Santos - 1872

Imagem publicada com o texto, na página 30

No dia 9 de outubro de 1872, o dr. José Emílio Ribeiro Campos encaminhou à Câmara Municipal de Santos o seguinte requerimento: "Comunico a V. Exa. que as oficinas de impressão do jornal periódico Comércio de Santos passam a ser de propriedade de uma associação, de quem sou gerente e que se muda de lugar onde se acha para a casa de minha residência, à Rua Direita nº 5, onde será publicado o jornal Diário de Santos, cujo primeiro número sairá amanhã".

Na verdade, o Diário de Santos publicou-se pela primeira vez a 10 de outubro de 1872. Seu formato era 27x37, alterado mais tarde para 47x66, com 8 páginas. Matutino. Pertencia deveras a uma sociedade comercial, que confiara ao dr. José Emílio Ribeiro de Campos a sua administração geral.

Depois de A Tribuna, que caminha para os 85 anos, Diário de Santos foi o jornal de maior vivência na Cidade. José Emílio Ribeiro Campos era advogado de renomeada e conhecia jornal por dentro, naquela época de insipiência na imprensa santense. Desde logo, introduziu novos recursos à folha, remodelando-a.

Em 1880 assumiu sua direção o dr. Alexandre Martins Rodrigues, o qual um ano depois entregava a propriedade da empresa a João José Teixeira. Morrendo Teixeirinha - como o chamavam na intimidade -, assumiu a liderança o dr. Heitor Peixoto.

O Diário ainda contou com a chefia de jornalistas fulgurantes, como Manuel Ferreira Garcia Redondo, Inglês de Souza, Rubim César, Martim Francisco (3º), Tito Lívio Brasil, Isidoro Campos e ainda outros. Pela sua redação refulgiram os talentos de Martim Francisco (3º), Ângelo Souza, Eduardo Salamonde, Alberto Veiga, dr. Oliveira Braga Júnior, Manuel Rocha, Navarro de Andrade, Artur Bastos, Carlos de Afonseca, João Guerra, dr. Galeão Carvalhal, Camilo de Andrade, Joaquim Ferreira de Morais, Rubim César, Gastão Bousquet, Severino Rezende, João Luso, Juvenal Pacheco, Pinho Pacca, Cunha e Costa, Nogueira de Carvalho (foi diretor), Isidoro Campos, filho do fundador dr. José Emílio Ribeiro Campos, Nestor Rangel Pestana, José Maria dos Santos, Nero Serra (secretário), José do Patrocínio Filho e Mário Barbosa, além de tantos outros.

Entre as vigorosas campanhas do jornal destacaram-se as da Abolição e República.

Em 1900, Nogueira de Carvalho dirigiu-o. No ano seguinte, o dr. Isidoro Campos, que, com seu vigor, entusiasmo e talento, ofereceu-lhe vida estuante e progressiva. Foi ele o primeiro delegado regional de Polícia de Santos.

Não se pode falar do velho Diário de Santos sem assinalar o nome do jornalista Silvino Martins, educado na grande escola do trabalho, que veio a dirigir A Vanguarda.

As campanhas que o tradicional órgão de imprensa sustentou nessa quadra de dificuldades de sua existência representaram muito mais que um serviço relevante de jornalismo, senão reflexo da pujança e do valor de uma imprensa sadia que se interessava pelas legítimas reivindicações de um povo.

Em 1911, o jornal foi ter às mãos de dois jornalistas de pulso: Nestor Rangel Pestana e José Maria dos Santos. Mas aí o velho matutino começava a dar evidentes sinais de cansaço. Em vão, Tito Lívio Brasil tentou reanimá-lo.

Ele lutou tenazmente durante 6 anos e, afinal, entregou-o a César Lacerda de Vergueiro, em cujos braços o bravo jornal, fundado por José Emílio Ribeiro Campos, morre, e morre pobre, mas não esquecido. Entre os que o velaram, o amigo do primeiro instante, aquele que, 40 anos antes, o ajudara a engatinhar. Afonso Veridiano, que seus dedicados netos de nossos dias, Amaury Veridiano Laranja e Armando Veridiano Laranja o não esquecem um só dia.

Diário de Santos foi um papão. Viu concorrentes, um a um, abandonarem a luta ingrata em que espontaneamente se empenharam e varou de um século para outro como dos melhores - senão o melhor - dos jornais do município.

Tempos aqueles em que a imprensa - pobre dela! - denotava primarismo não apenas nas oficinas, como também na redação. Sobretudo na redação. Parece até que estamos a ver aqueles arremedos de repórteres, rudimentares e medíocres, numa época em que a notícia corria atrás deles e não era alcançada, confusos e bisonhos, verdadeiros "bacilos de Gutenberg".

Até as primeiras décadas deste século (N.E.: XX...), multiplicando-se esses "bacilos de Gutenberg" ainda se infundiam e infestavam as salas de redação. Ou ainda as infestam...


Capa do Diário de Santos, de 20 de dezembro de 1872 (ano 1)

Imagem: Arquivo Permanente da Fundação Arquivo e Memória de Santos, Coleção Costa e Silva Sobrinho, volume 147.

Reproduzido de A imprensa e a cidade de Santos, de Alexandre Alves, Santos-SP, 2008

 


Capa do Diário de Santos, de 4 de fevereiro de 1873 (ano 1)

Imagem:  Arquivo Permanente da Fundação Arquivo e Memória de Santos, Coleção Costa e Silva Sobrinho, volume 147.

Reproduzido de A imprensa e a cidade de Santos, de Alexandre Alves, Santos-SP, 2008

O Imparcial - 1870

Em 1870, ou no dia 11 de janeiro, foi fundado O Imparcial. Tinha redação à Rua do Rosário (João Pessoa) nº 101. Era de propriedade de José Inácio da Glória, outro semeador de jornais, como Antônio Manoel Fernandes, e não só em Santos como em São Vicente.

É de recordar que esse foi o ano de fundação da Associação Comercial de Santos.

A Imprensa - 1870

Imagem publicada com o texto, na página 32

No dia 1º de janeiro de 1870 saia o primeiro número de A Imprensa, editado por José Inácio da Glória e de que era redator o dr. Guilherme Délius, o bravo fundador da imprensa santense, com a sua Revista Comercial.

Retirando-se o dr. Guilherme Délius, o posto passou a ser exercido pelo rutilante poeta e jornalista, bacharel Joaquim Xavier da Silveira, nome até nossos dias evocado e respeitado pelos santenses, a despeito de sua morte haver ocorrido há mais de 100 anos, ou seja, a 30 de agosto de 1874. "Ele voou pelas alturas infinitas, onde passa ridente o rei da luz".

Composto e impresso na Tipografia Imparcial, à Rua do Rosário, 101. Anúncios e outros tipos de publicidade custavam 100 réis por linha. Assinaturas para Santos: por ano, 10$00; por semestre, 5$000. Para fora: por ano, 12$000; por semestre, 7$000. Era publicado às segundas e quintas-feiras, custando 160 réis o número avulso.

Em seu número 14, do ano IV, de 3 de março de 1873, segunda-feira, A Imprensa escrevia um artigo sobre impostos, em que estudava sob o aspecto sócio-econômico a contribuição que obrigatoriamente recaía sobre as classes operárias, firmando a certo trecho: "Como princípio - aí está a filosofia que lhe reconhece o caráter de universalidade, caráter constitutivo, na hipótese, de nexo lógico e necessário entre as ciências jurídicas e as ciências sociais. Impossível a economia - isola-se o trabalho e torna-se impossível a riqueza. Daí o desânimo dos operários, cujas forças quebradas no tirocínio que lhe trouxe a experiência da esterilidade, reboam antecipadamente o triste prelúdio da miséria na velhice".

Esse artigo, por certo, foi redigido por Xavier da Silveira, o Silveirinha, o homem que morreu aos 30 anos e passou pela vida espalhando e difundindo beleza e rimas, a oratória que arrebatava os mais indiferentes e honrando e engrandecendo a imprensa do século.

Com a morte prematura de Xavier da Silveira - uma das vítimas do surto de varíola que assolou a cidade em 1874, A Imprensa viu-se forçada a suspender sua publicação.

O jornal de que era principal redator o vulcânico Xavier da Silveira tornou-se popular na Cidade. Tinha muitos leitores. Precisava superar as dificuldades humanas. E superou-as. No dia 8 de outubro de 1874, reapareceu. Reapareceu sob a propriedade da empresa Tipografia Imparcial, com o infatigável José Inácio da Glória na gerência (Jacinto 3-162).

Segundo Francisco Martins dos Santos, em sua obra História de Santos, Imprensa teve a outra fase. Na verdade, Lafayete de Toledo, em Imprensa Paulista, aponta-a como circulando também em 1887.


Capa da edição de A Imprensa, de 12 de junho de 1871 (ano 2)

Imagem: arquivo Edgard Leuenroth, da Unicamp (Campinas/SP)

Reproduzido de A imprensa e a cidade de Santos, de Alexandre Alves, Santos-SP, 2008

Correio Mercantil - 1873

Um ano após o aparecimento do papão da imprensa do outro século - o Diário de Santos - surgiu em 1873 o jornal Correio Mercantil. Sua direção cuidou de explorar o setor comercial, não ligando para a matéria noticiosa nem mesmo telegráfica, desde que não se vinculasse à atividade do comércio. Para tanto, ganhou assinaturas em São Paulo.

Todo esforço da gente do Correio Mercantil não foi correspondido, tanto que o jornal, muito mais cedo do que era esperado, foi obrigado a suspender a publicação.

O Buscapé - 1875

Imagem publicada com o texto, na página 33

A despeito do título, não era jornalzinho faceto. Folha crítica, noticiosa, literária e imparcial, como destacava no cabeçalho. Imparcial? Órgão de publicidade que de ordinário vivia a provocar seus colegas com efeito de estabelecer polêmica, não era verdadeiramente imparcial.

No cabeçalho de trinta e poucos centímetros de altura - graúdo, não? - havia estas outras inscrições: Toda a correspondência deve ser dirigida à Rua da Praia, 18 (atual Tuiuti) e será publicada desde que não ofenda suscetibilidades. Colaboradores: diversos. Assinatura para Santos: trimestre, 4$000. Assinatura para fora: trimestre, 5$000. Fechando o cabeçalho, estas frases famosas; Ridendo castigat mores (Horácio) e To be or not to be (Shakespeare).

No número 10, do 2º ano, de 7 de setembro de 1875, de que dispomos cópia em xerox, um artigo que assim começava: "Em observância do programa deste pequeno jornal prontos estamos a aceitar a luva sobre qualquer assunto que merecesse um pouco, ao menos, ser lido pela ilustrada população desta Cidade, mas que tivesse por alvo alguma utilidade pública. É dar prova da falta de matéria a provocação sobre nihilidades, e objetos que ofendem suscetibilidades e se a aceitássemos seria sair do programa que traçamos".

A nota seguinte, com o título Deutschland, era toda escrita em alemão...

Mas a outra, que fechava a página número um, era de exaltação ao 7 de Setembro.

Sempreviva - 1875

No dia 25 de julho de 1875 surgiu de improviso o periódico Sempreviva. Leitura delicada, leve e abreviada. Sonetos e quadras em todas as quatro páginas.

Com esse título, queria dar realce à galante flor. Todavia, a folha não esteve sempre viva.

Murchou. Feneceu.

- Ainda no ano de 1875 surgiu o periódico O Rabecão, o segundo do mesmo título, visto que o primeiro foi dado à publicidade no ano de 1867.

O Raio - 1875

O Raio teve como fundadores e redatores Sebastião J. de A. e Souza, padre Francisco Gonçalves Barroso e Antônio Manuel Fernandes, os mesmos que, anos atrás, ou em 1869, editaram O Pirilampo.

Dava-lhes colaboração espontânea o poeta e escritor Hipólito da Silva, que não era comedido em seus artigos. Pelo contrário, havia-os agressivos e contundentes.

O Raio, hebdomadário, órgão de combate e crítica, fez-se arauto dos que pugnavam pelas reivindicações abolicionistas, apoiando sobretudo a pregação cívica de Luís Gama.

O Pirilampo, que eles haviam fundado e redigido, e mais José do Sacramento Macuco, era o avesso em atos e atitudes do vigoroso jornal que se integrava bravamente na cruzada abolicionista.

A Tesoura - 1876

A Tesoura, como insinuava seu título, era jornalzinho faceto. Mas também noticioso e crítico. Seu primeiro número foi publicado no dia 15 de outubro de 1876, num domingo.

O periódico era composto e impresso na Tipografia Imparcial, situada na Rua da Alfândega nº 20, custando a assinatura 2$000, por série de 10 números. Os anúncios em geral tinham preços convencionais.

No expediente, a direção dava os seguintes despachos: Aos srs.: das novidades barrigudas: quando quiserem honrar-nos...: Ao sr. V. Nus: em falta de matéria, lá vai sua bomba... e se houver parodia, agüente-se...; Ao sr. J. M. S. S.: quando quiser dar-nos informações relativamente às confidências, estamos às ordens do amigo!

Logo após a seção de expediente, o artigo de apresentação, com o título Lá Vai Obra. Ei-lo, em parte: "Reza a velha mitologia que um dia, tendo Júpiter uma grande dor de cachola, chamou o Kova e mandou-lhe abrir a manivela com um machado, de cujo ferro forjara mais tarde vieram as tesouras. Da supracitada machadada resultou que da olímpica cachola saísse... de ponto verde".

Assim sucedeu cá em Santos com A Tesoura.

Como quer que seja, nada impede que digamos estar o "bom de ferro" nascido, tomando, porém, as "boas casacas" para seu "divertimento".


Capa da quarta edição de A Tesoura, datada de 5 de novembro de 1876

Imagem: arquivo Edgard Leuenroth, da Unicamp (Campinas/SP)

Reproduzido de A imprensa e a cidade de Santos, de Alexandre Alves, Santos-SP, 2008

Revista Nacional - 1877

Revista Nacional de Ciências, Artes e Letras surgiu em julho de 1877. Seu editor-proprietário, bacharel Herculano Marcos Inglez de Souza, distinguia-se no ambiente cultural de Santos como também no de São Paulo. Ele e Antônio Carlos de Andrada eram diretores da revista que se editava trimestralmente e apresentava trabalhos científicos e literários assinados por cidadãos que, como eles, refulgiam nos círculos da Ciência, Arte e Literatura do País.

Revista Nacional tinha redação em São Paulo, porém composta e impressa em Santos na Tipografia a Vapor do Diário de Santos, na Rua Santo Antônio, atual Rua do Comércio, 64. Em nossa Cidade tinha larga distribuição, tanto assim que, também pela circunstância de seu editor-proprietário ser daqui, era considerada órgão de imprensa santense.

No número 1, volume II, de outubro de 1877 (N.E.: na verdade, volume I, de julho de 1877, cujo exemplar disponível na Humanitária está encadernado com o volume II), com o título Santos de Outrora, a revista publicava relação das terras, sítios ou fazendas compreendidos no distrito ou repartição da Vila e Praça de Santos, discriminando suas denominações, extensões, senhorios, títulos, cultivados ou não cultivados. No número 3, volume I, continha trabalhos, entre outros, de João de Souto Mayor, dr. Celso de Magalhães, Pedro de Oliveira, M. V. Fernandes Barros e bacharel Carlos França.

Revista Nacional de Ciências, Artes e Letras era publicação não apenas rica pelo mérito de seus editores e colaboradores, mas também luxuosa pela apresentação gráfica, com seus exemplares encadernados, o que na época constituía pormenor aparatoso.

Imagem: indicação de tipografia no número 1 da Revista Nacional de 1877

Acervo da Sociedade Humanitária dos Empregados no Comércio de Santos (SHEC)

 

Imagem: frontispício do número 2 da Revista Nacional de 1877

Acervo da Sociedade Humanitária dos Empregados no Comércio de Santos (SHEC)

 

Imagem: índice do número 2 da Revista Nacional de 1877 - note-se o erro no ano, grafado 1878

Acervo da Sociedade Humanitária dos Empregados no Comércio de Santos (SHEC)

O Desfalque - 1877

Noutros tempos sobravam os jornais ou simples pasquins ávidos e sequiosos por fatos que cheirassem a escândalo público. Seus repórteres andavam de um ponto a outro, atrás do acontecimento avesso à moral e aos bens comuns, como urubus em volta da carniça, com o grande intuito de fazer sensacionalismo ou agradar ao chefe da redação. Eram os telúricos da reportagem. Hoje o processo da moderna imprensa é bem diferente.

Segundo veio a saber determinado cidadão que ainda hoje vive, por efeito de informações transmitidas de fonte em fonte, do passado ao presente, teria ocorrido alcance no Tesouro Municipal de remota época. O caso teria sido abafado, guardado em sepulcral silêncio, devido à reputação social do acusado. Seus amigos, seus chefes, seus admiradores trataram de ressarcir os prejuízos. E tudo ficou em dia. Sucede que, inimigos políticos do tesoureiro acusado, vindo a saber da coisa, editaram à pressa um jornal com o título O Desfalque e deram a público o deplorável caso, já solucionado com a reposição do dinheiro.

Resultado: nada houve com o culpado. Porém teria dado processo e cadeia para o editor do jornalzinho por faltar-lhe o elemento fundamental da processualística criminal: a prova!

Essa a versão do aparecimento do jornalzinho O Desfalque.

O Foguete - 1877

Imagem publicada com o texto, na página 36

Órgão de um clube dançante. Seu primeiro número foi publicado no dia 15 de abril de 1877. No cabeçalho, além do título, estas inscrições: Será atacado todo o dia que houver festa. Assinatura: 60 réis pagos no ato de receber. Seguiam-se ano, data e número da edição.

Jornalzinho de pequeno formato e sentido humorístico. Esse número inicial era aberto com artigo de fundo intitulado O nosso Programa, que assim começava: "Eis-nos na estacada! Chegou a ocasião de sair a combate. A hora das dúvidas e hesitações passou. Onde está o inimigo? Em frente de nós, cuspindo a baba infame e leprosa sobre o que há de mais respeitável e digno: a honra, o patriotismo e a justiça. Estamos prontos para a luta encarniçada e sem tréguas, luta de todas as horas e todos os momentos. A nossa arma, a arma única de que lançaremos mão é - o ridículo!" E, mais adiante: "O Foguete aparece em público e raso, com galhardia própria de sua índole. O Foguete é uma coisa que aparece em todas as ocasiões. Quando nasce algum figurão, foguete com ele. Quando se batiza, foguete. Quando se casa, idem. Assim será O Foguete. Nunca faltará enquanto houver festa. O Foguete há de ser de todos os partidos. Contem com ele, pois".

Ainda na primeira página, um comunicado do Clube dos Caiçaras, sobre o que houve na sessão extraordinária de 12 de abril de 1877. Ata pormenorizada, espirituosa, repleta de verve e que terminou com o presidente Lorde Negraco a brigar com todos os companheiros.

Várias senhoras e senhorinhas o redigiam. Mas o diretor e responsável pelo jornalzinho satírico era o negociante Antônio Seixas.


Capa da edição 6 O Foguete, de 6 de maio de 1877 (ano 1)

Imagem: arquivo Edgard Leuenroth, da Unicamp (Campinas/SP)

Reproduzido de A imprensa e a cidade de Santos, de Alexandre Alves, Santos-SP, 2008

Diário de Notícias - 1877

Apareceu a 16 de janeiro de 1877. Editava-o Elias Pimenta. Na Redação, davam-lhe o concurso de sua inteligência Vicente de Carvalho, ainda acadêmico de Direito, e José André do Sacramento Macuco, que se diplomou advogado no exterior e teve aqui seu diploma reconhecido.

Se Vicente de Carvalho se tornou famoso em Santos, como jurisconsulto e poeta, a ponto de o município erguer-lhe uma estátua, não é menos verdade que José André do Sacramento Macuco, também natural de Santos, da tradicional família Macuco, filho de dona Luíza Macuco, foi figura de evidência em sua terra. Além de jornalista e literato, militou na política, participando do Conselho de Intendência Municipal, em 1894, que governou Santos, além de haver desempenhado as funções e promotor público e delegado de Polícia. Há uma via pública em Santos com seu nome.

A Lei - 1877

Em 1877, ano próspero em jornalzinhos sem expressão técnico-cultural, surgiu A Lei, órgão conservador, editado pelo coronel Narciso de Andrade. Era exceção aos pasquins aparecidos nesse ano, tal o mérito moral, econômico e cultural dos cidadãos que o integravam. O coronel Narciso de Andrade, que tem uma praça pública com seu respeitável nome, em Vila Matias ou Monte Serrate, foi figura saliente no ambiente político e social da Cidade. Vereador e presidente da Câmara Municipal.

Entre os redatores o engenheiro Inácio Wallace da Gama Cócrane, que, como deputado geral, teve o orgulho de referendar a Lei Áurea, como santense e abolicionista convicto, e ainda o dr. Aquilino do Amaral, que chegou a ser senador republicano por Mato Grosso e redator-chefe de A Tribuna na administração de José Paiva Magalhães, na fase intermediária Olímpio Lima-Nascimento Júnior.


Capa da edição de A Lei, de 14 de junho de 1877 (ano 1)

Imagem: arquivo Edgard Leuenroth, da Unicamp (Campinas/SP)

Reproduzido de A imprensa e a cidade de Santos, de Alexandre Alves, Santos-SP, 2008

O Caixeiro - 1879

Sob o título O Caixeiro, o minúsculo jornal, em seu cabeçalho, assinalava: Jornal comercial, noticioso, literário e recreativo. Publicidade de uma associação anônima. Advogado dos caixeiros. Redação: Rua General Câmara, 63. Publica-se aos domingos. Ano I - Santos, 7 de setembro de 1879 - Número 1.

Abrindo o jornalzinho, o artigo-programa: "Não é com interesse que sempre se estão dando a aparição de jornais livros e periódicos de todos quantos os vêem. O Caixeiro não intervirá nos negócios políticos. É exclusivamente criado para estudar por meio do trabalho relativo à vida dos empregados no novo sistema consentâneo com a vida do homem".

Transcrito ipsis-literis. Circulava com 4 páginas. A Sociedade Humanitária dos Empregados no Comércio de Santos, que os guarda avaramente no cofre, como preciosidade, dispõe dos números 1 a 9 e ainda do 11, faltando, portanto, o 10.

Só saíram 11 números. No número 9, o jornalzinho rejubilava-se com a fundação da Associação Humanitária dos Empregados no Comércio, por cuja instituição pugnou e foi o escopo de seu surgimento. Sua tiragem foi de 1.000 exemplares. Porém, do número 6 por diante, mais 1.000.

Agora que a gloriosa Sociedade Humanitária dos Empregados no Comércio de Santos comemora o centenário de sua fundação, o velho jornal dos caixeiros, como se chamam os empregados no comércio, o velho jornal, repetimos, ganha maior saliência e mérito porque, como acentuamos, muito se bateu pela união da categoria e pela fundação de uma entidade que os amparasse e protegesse os seus elementos.

- Em 1890 surgiu outro jornalzinho com igual nome, dirigido e redigido por Alfredo Ramirez Esquível, curiosamente também diretor, e ativo, da Sociedade Humanitária dos Empregados no Comércio

O Domingo - 1879

Como é de inferir, O Domingo publicava-se aos domingos. Apareceu no dia 24 de novembro de 1879. de acordo com o livro A Imprensa Paulista, de Lafayete de Toledo, volume III. Já o historiador Francisco Martins dos Santos aponta-o como surgido por volta de 1878, dizendo possuir recortes do periódico do ano de 1879. Por sua vez, o pesquisador Durwal Ferreira registra 1877 como o ano do seu aparecimento, embora exatos dia e mês.

Fazia parte de sua redação grupo de jornalistas e literatos santenses, entre os quais José André do Sacramento Macuco, Hipólito da Silva e Cândido de Carvalho. Do primeiro ao último número publicava interessantes trabalhos em prosa e verso.

Vamos dar a prova dos 9:

Em sua edição de 25 de novembro de 1879, Diário de Santos divulgou a seguinte notícia com o título O Domingo: "Apareceu ontem mais este campeão na arena jornalística. Desejamos-lhe lona e próspera vida".

A Formiga - 1879

Jornal oficial de uma sociedade feminina, que se entregava a atividades recreativas, sociais e dançantes, que tinha o mesmo nome. A Formiga lançou o seu primeiro número a 5 de julho de 1879. Redigiam-na senhoras e senhoritas do Clube Recreativo As Formigas.

Jornalzinho exclusivamente associativista, com distribuição interna, seu diretor-responsável era o negociante Antônio Seixas. Em sua edição de 6 de julho de 1879, Diário de Santos deu esta nota: "Publicou-se ontem nesta Cidade o primeiro número do periódico A Formiga. Publica-se em dias indeterminados".

Ônibus - 1879

Ônibus começou a circular em Santos durante o ano de 1879. Esse título do jornalzinho tinha a significação de notas, apontamentos e informações, e não veículo de condução de passageiros que, por sinal, ainda não existia na Cidade naquele tempo. Como veículo de transporte de massa, o vocábulo também quer dizer para todos (grifo). Ônibus, assim como chegou, desapareceu.

Gazeta Comercial - 1880

No dia 9 de maio de 1880 principiou a publicar-se Gazeta Comercial. A única fonte que registra esse periódico, além do nosso arquivo, é Imprensa Paulista, de Lafayete de Toledo, III volume,que se acha na hemeroteca do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo.

Por sinal, foi o único órgão de publicidade editado em 1880, quando ainda nem havia começado o movimento abolicionista.

Gazeta Comercial, como insinuava seu título, publicava o movimento de exportação e importação do Porto de Santos, muito mal aparelhado, servido por trapiches e pontões de madeira, alguns deles em péssimo estado de conservação.

O Porvir, O Embrião e O Pirata - 1881-1883

Consoante Francisco Martins dos Santos, em sua preciosa obra História de Santos, editada em 1937, "a verdadeira fase de ação dos abolicionistas de Santos e São Paulo teve início entre os anos de 1881 e 1883, com a fundação da Bohêmia Abolicionista, a extraordinária agremiação santista, cujo título explicava os fins, organizada por Guilherme e Pedro de Melo, Francisco Bastos, Antônio Augusto Bastos, Antônio Couto, Artur Andrade Cintra, Luciano Pupo e Eugênio Wansuit, aos quais se juntaram depois Paulo Eduardo, José Vaz Pinto de Melo Júnior, Brasílio Monteiro, Joaquim Montenegro e outros".

Naquele período apareceram três jornaizinhos manuscritos que pugnavam pelos ideais abolicionistas: O Porvir, O Embrião e O Pirata. Logo depois surgiram jornais impressos como O Alvor, O Piratiny, Idéia Nova, O Patriota e O Popular, este fundado por Antônio Manuel Fernandes.

A Comédia - 1881

Tudo que provinha de Silva Jardim era bom. Seus discursos, suas conferências, suas polêmicas, seus livros, suas escolas, seus jornais, suas idéias e seus ideais.

Desse modo, o pequeno jornal A Comédia, por ele fundado a 1º de março de 1881, de sentido artístico, cívico, político, literário e social, teria sido bem acolhido em todo o ambiente cultural santense.

Entre a matéria publicada incluíam-se episódios reais e nus da grande "comédia da vida".

A Semana - 1881

Embora Lafaiete de Toledo, em Imprensa Paulista, editada em 1898, assevere que A Semana circulou a 18 de setembro de 1881, foi publicado anúncio em Diário de Santos, que lemos e anotamos, segundo o qual o periódico saíra a 18 de novembro de 1881 e com o seguinte texto:

"A SEMANA

"Jornal para Todos

'Tiragem 2.000 exemplares - Venda avulsa 80 réis

"Além da venda pelas ruas da Cidade, encontra-se nos seguintes locais: José Xavier de Morais Júnior, Rua Marquês do Herval, 42; Cabral Júnior, Praça dos Andradas, 2; Nicolau Pocci, Rua 25 de Março, 69 (alfaiataria); Antônio Correia dos Santos, Visconde do Rio Branco, 22; José Luís dos Santos, Rua do Rosário, 72; em São Vicente, com José Inácio da Glória, Rua Direita,na farmácia.

"Semanário imparcial, noticioso, crítico e literário".

Arco da Velha, Revista dos Mercados e Processo da Galinha - 1882

O Carnaval de 1882 foi dos mais animados do outro século. Realizado nos dias 19, 20 e 21 de fevereiro. Desfilaram pelas ruas centrais Galopins Carnavalescos, Meteoros, Dissidentes, Os Benquistos, Os Democratas e Tipos de Arribação. Os congressos - desfiles de nossos tempos - entusiasmaram o povo, pela alegoria, crítica e apuro das fantasias.

Pois nesse Carnaval foi distribuído o jornalzinho faceto Arco da Velha, do Democráticos, Revista dos Mercados, do Galopins, e Processo da Galinha, do Meteoros, dizendo o Diário de Santos, na edição de quarta-feira de Cinzas: "todos eles com graça ou sem ela".

- Nesse ano de 1882, embora não se tratasse de jornal carnavalesco, mas artístico, especialmente consagrado à arte cênica, foi lançado O Entre-Ato, de pouca duração.

O Guarani, O Periquito, O Papagaio e O Pirata - 1882-1883

Já dissemos, neste livro, que o movimento pela eliminação do braço servil teve em Santos um dos maiores redutos na Província.

E como a melhor, mais fácil e segura posição de se fazer a propaganda da Abolição era a imprensa, alguns recorriam a esse veículo de divulgação, mandando compor e imprimir a matéria que o desejassem. Outros, comungando as mesmas idéias e ideais, mas sem recursos, faziam o jornal de outro modo, isto é, escrito à mão.

Conta Francisco Martins dos Santos, em sua obra História de Santos, que havia, na época, um especialista na matéria. Era um jovem de 16 anos, um meninote de Santa Catarina, de letra segura e bonita, além de prosélito do movimento.

O Embrião, O Porvir e O Pirata foram por ele escritos. Aliás, houve outras folhas manuscritas naquele período que marcou o início da campanha da Abolição. Vamos citá-los: O Guarani, O Pirata, O Periquito e O Papagaio.

Não vamos com isso dizer que Santos contou com a imprensa manuscrita. Não! Imprensa manuscrita é aquele em que o jornal é escrito à mão por não haver ainda tipografia. Os jornais em Santos eram manuscritos por conveniência de se tornarem anônimos - ou clandestinos - devido ao risco do tema.  E por outro motivo mais ponderável: economia! Porque já havia tipografia naquela época!

A Notícia - 1882

Semanário humorístico que fruía o interesse público, sempre glosando os pequenos e grandes problemas da Cidade tanto na política como nas ruas.

Redigido pelo popular homem de imprensa Artur Bastos e pelo implacável João Florindo, pagador do Tesouro do Estado em 1898. Deve-se ao periódico o epíteto que, na época, ficou popularizado: Santos, terra dos sapos. João Florindo foi o autor da jocosa e ridicularizante denominação.

A Notícia circulou a 30 de novembro de 1882. Suspendeu provisoriamente a publicação, mas reapareceu.

Noticiando o aparecimento de A Notícia, o jornal Diário de Santos, em sua edição de 1º de dezembro de 1882, publicou:

"Com esse título, começou a circular ontem nesta Cidade um pequeno jornal digno da atenção do público pela espontaneidade do espírito de que vem repleto. A redação oculta-se modestamente, mas dá-nos nesse primeiro número de como se empunha uma pena com todo denodo do verdadeiro humorista. Felicitamos o colega e desejamos-lhe muita vida e sempre a boa disposição para a pilhéria".

Quando saiu o terceiro número, Diário de Santos, de 10 de dezembro de 1882, registrando-o, fez esta exclamação:

- Espirituoso?

- Pois então já se havia secado a verve...

Diário de Santos, edição de 2 de fevereiro de 1884, noticiando o reaparecimento de A Notícia, escreveu: "Apareceu ontem o número 1 da segunda série (fase) deste espirituoso jornalzinho. Em nada desdiz dos números anteriores; sempre a mesma verve, sempre o mesmo humor".

A Evolução - 1882

Sob a orientação do sr. Francisco Martins dos Santos Júnior, apareceu no dia 9 de novembro de 1882, um domingo, o primeiro número de A Evolução, de cujo corpo de colaboradores faziam parte Garcia Redondo, Sóter de Araújo, Silvério Fontes, Paula e Silva, Manoel Maria Tourinho e Heliogábalo Fontes.

Além do artigo de apresentação,havia mais os seguintes: Vacinação, por R. S. A.; a Morféia no Brasil, juízo crítico da obra do dr. Lourenço Magalhães, O dinamismo físico-químico, pelo dr. Silvério Fontes; Crônica da Semana, por A. Troll e Saneamento das Terras.

O Diário de Santos, acusando o recebimento do número inicial do órgão de publicidade nascente, em sua edição de 11 de novembro de 1882, opôs reparos ao artigo de apresentação, aditando que um jornal que tinha como colaboradores Garcia Redondo, Manoel Maria Tourinho e Paula Silva, "não deveria atirar pedrinhas em nosso caminho". E, concluindo, assinalou que "aqueles colaboradores de A Evolução lamentavelmente julguem tão mal a quem tão bem conhecem..."

Em seu segundo número, que circulou a 20 de novembro de 1882, A Evolução esclareceu e justificou o tal artigo de fundo, sublinhando que de modo algum fez crítica ao veterano jornal, nem o citando, tratando-se, no caso, de melindre.

Mesmo assim o Diário replicou e, considerando-se magoado, foi para cima do novel órgão, que tomou a parada e eis formada a polêmica, tão do agrado do velho matutino...

Gazeta de Santos - 1883

Folha conservadora, apareceu no dia 23 ou 25 de janeiro de 1883. Seus redatores foram Tiburtino Mondim Pestana e dr. Serafim Pestana, sergipano (N. E.: existiu uma versão homônima anterior, de 1876).

Segundo Carlos Vitorino, em seu livro Reminiscências, Gazeta de Santos pertencia a uma associação, da qual fazia parte Francisco de Paula Coelho. Acrescentando que na redação também figurava Elias Pimenta, conta ainda que, quando começou a trabalhar nos caixotins tipográficos na própria Gazeta, esse jornal deu o último número, despedindo todo o pessoal.

Tiburtino Mondim foi homem de destaque na imprensa do outro século. No dia 14 de junho de 1883, ele deixou a Gazeta de Santos, onde ocupava posto de direção, ficando Horácio Martins dos Santos como gerente interino da empresa, já sob a razão social de Andrade & Cia.

Francisco de Paula Coelho convocou os acionistas para uma reunião importante ou para decidir sobre o destino da sociedade anônima. Não tendo comparecido os acionistas, ele decidiu vender a tipografia e dissolver a sociedade anônima. Elias Pimenta comprou-a.

A Propaganda - 1883

Durante o longínquo ano de 1883 integrou-se na ainda precária Imprensa de Santos o jornalzinho A Propaganda. Nasceu com muita esperança. E certo de vencer, como afirmava seu artigo-apresentação. Na verdade, fazia muita propaganda de sua atividade. Todavia, teve a mesma sorte dos outros pasquins. Durou pouco.

Aliás, como diz Eduardo Vaughan Filho, todo jornal nasce com uma cruz, que é a publicidade. Se a propaganda aparece, muito bem, o jornal sai sempre. Se não aparece a propaganda, o jornal crucifica-se...!


[...]

O jornal O Popular foi lançado em 1879 (Olao Rodrigues registra apenas a existência de uma versão homônima, lançada em 1895):

 


Capa da edição 4 O Popular, de 26 de junho de 1879 (ano 1)

Imagem: arquivo Edgard Leuenroth, da Unicamp (Campinas/SP)

Reproduzido de A imprensa e a cidade de Santos, de Alexandre Alves, Santos-SP, 2008

O jornal Gazeta de Santos foi lançado em 19 de agosto de 1876 por Andrade & Cia. publicando-se às quartas-feiras e aos sábados e com escritório na Rua Septentrional, 7, parte da atual Praça da República (Olao Rodrigues registra apenas a existência de uma versão homônima posterior, lançada em 1883):

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Capa da primeira edição da Gazeta de Santos, de 19 de agosto de 1876 (ano 1)

Imagem: acervo do Arquivo Público do Estado de São Paulo (acesso: 31/3/2018)
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