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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - MEDICINA
No tempo das epidemias (1)

Noticiário das pestes só foi interrompido por um "crime da mala", em 1908
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Na sua edição especial de 26 de janeiro de 1939, comemorativa do centenário da elevação de Santos à categoria de cidade - exemplar no acervo do historiador Waldir Rueda -, o jornal santista A Tribuna publicou esta matéria (ortografia atualizada nesta transcrição):
 


Reprodução de trecho da matéria original

Reminiscências de um Inspetor Sanitário

Guedes Coelho (*)

Ao alvorecer do século XX, o das realizações fantásticas, extraordinário evento, portentoso fruto da tenacidade férrea e da praticidade científica características do povo "yankee", e conjugadas em fértil conúbio, deu-se, para delinear novos rumos à defesa humana contra o tredo inimigo que tarjava de funéreos nimbus os horizontes da livre América.

Os nossos ciclópicos irmãos do setentrião americano, propiciando a perfuração do istmo panamense, vinham de esclarecer e positivar o processo disseminatório da febre amarela, com a proclamação em Havana, pelo sábio dr. William Gorgas, da teoria cubana, que imputava ao stegomya fasciata, ao mosquito rajado, o papel de intermediário único e exclusivo vetor do germen amarílico, ignoto e cruel, do doente para o são.

Ecoada aqui a esplêndida conquista da ciência norte-americana, logo, aproveitando-lhe os ensinamentos, Oswaldo Cruz, cujo nome devemos pronunciar reverentemente, iniciou a profilaxia amarílica numa denodada pugna, seguida de brilhante vitória, após um dispêndio de energia tanto que se lhe combaliu o organismo.

Completava-a, assim, a grande obra da abertura dos portos brasileiros, em 1808, porque se o Visconde de Cayru franqueou-os ao intercâmbio e comércio mundiais, ele entregou-os, saneados, acolhedores, hospitaleiros, à visitação, ao turismo, à amistosidade internacionais.

Qual muralha chinesa, a febre amarela segregava-nos do convívio internacional, pois universalmente sabia-se das hecatombes, verdadeiras tragédias por ela causadas, como a ocorrida a bordo do cruzador italiano Lombardia, cuja tripulação, até o último grumete, morreu, substituindo-a, para a viagem de volta, outra nova, toda brasileira. Assinala-se esse lutuoso fato no Rio, com suntuoso mausoléu, ereto no cemitério do Caju.

A Oswaldo Cruz devemos a radical transformação da deprimente apreciação do estrangeiro, quando lá, além-Atlântico, se dizia: "Le Brésil c'est un pays de sauvages, oú si on echappe des serpents venimeuses, on meurt empoisonné par les fleches indiens ou assailli pour la fievre jaune".

E simultaneamente ele conseguiu a limpeza sanitária da pátria e o polimento da nossa testada internacional, que radicalmente varreu.

Em São Paulo, o grande Emílio Ribas, nas suas memoráveis experimentações anima vili, graças ao heróico desprendimento de alguns abnegados, conseguiu provar a veracidade da teoria havanesa, da veiculação mórbida pelo stegomya, e imediatamente iniciou o serviço de prevenção em Santos.

E dest'arte, inteira e proficuamente, ao albor do século XX, era definitivamente expulso do território paulista o hóspede exótico e execrando.

Poucos anos antes, em 1899, já Emílio Ribas se coroara de glória, na pronta vitória sobre a primeira incursão de peste, no Brasil, importada da Europa pelo "Rei de Portugal", mas o que ele não conseguira era a eliminação da varíola, que de vez em quando surgia, em extensas, generalizadas epidemias.

Esse repugnante mal, de que hoje só existe a triste reminiscência, assolava-nos devastadoramente, em rápida disseminação, porque o povo repudiava a vacinação jenneriana, cuja tentativa de obrigatoriedade, no Rio, causara antipático levante, que, corajosamente, o presidente Rodrigues Alves enfrentara, dizendo, quando sua entourage lhe insinuava a prudente retirada do Catete ameaçado, a célebre frase: "Aqui é o meu lugar".

De muito valeu ao saudoso diretor do Serviço Sanitário, no desempenho de sua árdua tarefa, a sua boa estrela, que o cercou de bons auxiliares, competentes e esforçados, e dedicados ao bem público, até o próprio sacrifício, como, entre outros, os chefes da Comissão Sanitária de Santos, drs. Francisco Cavalcanti, Tolentino Filgueiras e Guilherme Álvaro.

A nossa penúltima grande epidemia de varíola foi em 1904, e de vasta letalidade. Seguindo-se-lhe até 1908 absoluta paz nos arraiais sanitários santistas.

Nesse ano, o meu saudoso amigo senador Cesário Bastos, a cujo partido eu pertencera, como vereador municipal, espontaneamente solicitou para mim, do dr. Manoel Joaquim de Albuquerque Lins, digno presidente do Estado, a vaga de médico da comissão de tracoma, aberta pela morte do dr. Netto Caldeira. A 1º de abril eu iniciava a minha primeira comissão em inspeção do litoral Norte, para Villa Bella, seguindo no vetusto vapor Glória, tendo-me estendido até Ubatuba, em viagem terrestre, com escalas por S. Sebastião, Bairro de S. Francisco, Enseada de Juquery-querê e Caraguatatuba.

Era minha obrigação cadastrar os casos de tracoma lá existentes, dois apenas, não autóctones, mas de recente importação, o que, honestamente relatado, foi-me fonte de elogios pela franqueza usada. Extinta dita comissão daí a um mês, eu fui nomeado inspetor sanitário extra-numerário, para efetivar-me em 1911.

De volta a Santos, poucos dias após, em fins de abril, regressei a Villa Bella a socorrer-lhe a população assolada pelo paludismo, que se estendia por todo litoral Norte, sobretudo na ilha de São Sebastião, em sua porção meridional, da Ponta da Sela até a Ponta do Boi.


Em agosto de 1908, irrompeu, alastrando-se rapidamente, qual fogo em vasto lençol de petróleo, surgente a um tempo nos quatro pontos cardeais do Estado, e sob insólita letalidade, a maior de todas as epidemias de varíola, e também a última, graças à posterior e enérgica ação dos poderes sanitários, com a disseminação vacinal.

Eram tantas as cidades flageladas que o governo teve de nomear dezenas de inspetores interinos enquanto que os preexistentes, do quadro, num constante "choses-croisés", sem preparativos nem avisos prévios, como na guerra, removiam-se para pontos distantes das sedes. E tão devastadora e letal era que se lhe voltava inteira a atenção pública, num absoluto monopólio das principais colunas dos jornais, epigrafadas em largos caracteres, e apenas interrompido quando, assunto geral de dramático interesse, ocorreu o célebre "crime da mala" em setembro de 1908, perpetrado pelo jovem sírio Miguel Trad, de boa família e regular cultura, assassino de um sr. Farah, de cuja esposa se apaixonara.

E assim atenuou-se a geral tensão nervosa determinada pelo medo às bexigas que, quando não matavam, deformavam e afeiavam. Os ilustres colegas, de recente ingresso no serviço, mercê do nosso aperfeiçoamento sanitário, relegam-nas para a história antiga, ou para a nebulosidade da lenda, a tais e tão vergonhosas epidemias, porém nós, que as enfrentamos e debelamos, é que lhes conhecemos a negra realidade.

A 4 de setembro de 1908, pela manhã, recebi ordem de no primeiro trem seguir para São Bento de Sapucaí, localidade remotamente situada no tabuleiro superior da Serra da Mantiqueira, nos confins de S. Paulo e cercanias de Minas, e cujos município e comarca abrangiam os distritos de Santo Antonio do Pinhal e de Campos de Jordão, atual Villa Jaguaribe.


Acabada em novembro a comissão de S. Bento, em princípios de 1909 terminava o meu merecido repouso, com a minha partida para Iguape, onde pouco antes irrompera extensa epidemia de peste bubônica, já enfrentada pelo dr. Ugolino Penteado, como chefe, e o dr. Tertuliano Gonzaga, pai do ex-diretor do Serviço Sanitário, dr. Octavio Gonzaga.

Apesar dos exaustivos esforços despendidos pela comissão, o morbus levantino alastrava-se sempre, auxiliado pelo pasto ótimo que os arcaicos prédios, centenários e em ruínas, ofereciam à proliferação murídea, certo sendo que, sem o auxílio da vacinação em massa, o expurgo dos focos e o isolamento dos doentes tão cedo não extinguiriam o mal.

Regressando o dr. Gonzaga, ficamos, eu e o dr. Penteado, que, vergôntea de nobre e secular família, íntegro nas ações, exato no cumprimento dos deveres, afável no trato, democrático nas atitudes, não lograra, contudo, insinuar-se no ânimo popular o bastante para a sistemática imunização da população, que se lhe opunha.

Cometendo-me o dr. Penteado essa incumbência, possivelmente devido às minhas plebeíssimas feições e atitudes, mais adaptáveis ao meio onde iria atuar, consegui em três semanas de constante labor, casa a casa, do Vale Grande ao Mar Pequeno, do Porto da Ribeira à Fonte do Senhor, vacinar indistintamente Iguape inteira.

E acabou-se a epidemia.


Após três meses de permanência lá, regressei a Santos, onde estive no gozo de dois anos de calma, só perturbada por pequenas incursões a Villa Bella, São Sebastião e Caraguatatuba, flageladas por alastrim ou maleitas.

Em julho de 1911, designaram-me para ir ao distrito de Santo Antonio de Juquiá, onde lavrava extensa e grave epidemia de paludismo, ajudada na sua nefasta ação, por absoluta miséria, que o frígido inverno reinante agravava. Lá não havia memória de outra tão grande, e todos os seus rios, das nascentes às confluências (!) eram um vasto foco de malária, não existindo nas casas ribeirinhas uma que o mal tivesse respeitado.

Para atenuar a miséria geral e a inclemência hibernal, o governo generosamente aparelhara-me de todos os recursos, constantes de feijão, arroz, farinha, às centenas de sacos, de cobertores às centenas, de pano aos milhares de metros, rios afora, naquela original caravana fluvial, e em escalas de todo o instante, para evangelicamente examinar, confortar, tratar, aconselhar, aquecer, vestir, alimentar, a tantos patrícios desgraçados.

Desde o cristalino Assunguy, de águas transparentes, ao já caudaloso Juquiá-Guassu, o Ribeirão das Onças, o Ribeirão Fundo, o São Lourencinho, o Quilombo, o Ypiranga, o São Lourenço, a todos eu sulquei, até as cabeceiras, durante cinco meses, de julho a novembro.


Em 1918, aos horrores da grande guerra, tão extensa que até os pontos mais distantes do globo e jacentes em constante tranqüilidade levou a sua calamitosa ação, veio juntar-se, baixando sobre a humanidade as lutuosas trevas de uma noite polar, a gripe espanhola, a mais cruel e devastadora epidemia registrada no arquivo dos tempos.

Qual polvo de mil tentáculos, a estrangular no mesmo fatal amplexo o mundo, sobre o apocalíptico corcel, ela simultaneamente atingia as densas colméias humanas da Europa e da América e as inóspitas ilhas do Pacífico; e do Saara ardente ao frígido Alasca, a ninguém poupava.

Nos primeiros dias de outubro de 1918, não estando ainda declarada a epidemia aqui, impressionara-me muito a sintomatologia e a evolução absolutamente estranhas de certos processos pulmonares ocorrentes - numa comunidade de sinais peculiares à bronco-pneumonia e à bronquite capilar - que é rara nos moços, mas, no dia dez, oficializada a visita do nefasto hóspede, esclarecia-se aquela anormalidade.

A dezesseis enfermei com uma congestão pulmonar, benigna bastante para não justificar a falsa e insistente notícia de meu trespasse, perversamente espalhada, e que era causa do constante retinir da campainha telefônica da minha casa, por mim, ao leito, percebido.

Melhorado, fui convalescer a Poços de Caldas, donde regressei a 19 de dezembro, para, poucos dias após, determinar-me nova comissão em S. Sebastião, onde, já retardaria, a gripe incursionava. Lá localizado, freqüentemente eu ia a Villa Bella, onde, como no continente, e possivelmente devido à atenuação natural do vírus, o mal não se revestiu do aspecto que lhe conhecemos em Santos, caracterizado pela sua propagação súbita, intensa, a todos em massa atacando e paralisante do trabalho, do movimento e da vida urbana.

Ao cabo de um mês e meio, após o restabelecimento de quase todos os gripados, pois raros óbitos houve, eu me preparava para voltar quando, ao rescaldo da epidemia ainda fumegante, pequena fagulha, logo labareda, surgia para reativar o incêndio na talvez única família indene, de conceituado funcionário federal, fiscal de consumo, e pertencente a importante tronco campineiro.

Em 1931, estive durante três meses em Iguape, tendo voltado quando em setembro, terminou a disponibilidade em que jazia o grande Martins Fontes.

Muitas outras pequenas comissões exerci, indo freqüentemente a Iguape, Cananéia, Juquiá, Prainha, Alecrim, Itanhaém, Pariquera, Jacupiranga, Peruíbe etc.

Do exposto se vê como eram difíceis outrora as comissões extra-sede, tão raras hoje graças ao grande número de postos dirigidos por distintos colegas, e disseminados no vasto território desta delegacia, que se estende por todo o litoral paulista, desde o Ariry, a tangenciar o Paraná, ao Sul, até a serra de Paraty, ao Norte, nas lindas fluminenses.

Dantes, as comissões eram o terror dos inspetores santistas, pois freqüentemente demoravam meses e meses, como aquelas que sumariamente descrevi; e eu, por ser neófito no serviço, mais moço e solteiro, era quem mais as desempenhava.

Em maio de 1934, durante a semana da tuberculose, ao microfone do Rádio Clube de Santos, eu, todas as noites, palestrei sobre a peste branca.

Por várias vezes substituí o dr. Martins Fontes, na Delegacia de Saúde, e a dirigir interinamente após a sua morte, até a investidura do dr. Castro Simões, na Delegacia de Saúde.

E na esfera municipal operou-se a substituição da tração animal pela elétrica, natural ampliadora da área urbana. Mudou-se parcialmente pela elétrica a iluminação a gás. Retificaram-se e embelezaram-se as avenidas. Fez-se a penetração do "Far West" santista, Campo Grande e Marapé, vasto matagal salpicado de raras, distantes choças e rudes casas de madeira, sede de constantes brigas e conflitos e reduto de criminais, bandoleiros e assassinos.

Construiu-se o mercado atual, em substituição ao sórdido mercado da Banca, situado no local onde hoje se ergue o edifício da Western, no antigo porto do Consulado, e cuja demolição a incipiente construção do cais reclamava.

Reformou-se o calçamento geral e regularizou-se esteticamente a Praça Rui Barbosa, o velho Largo do Rosário, com o seu alargamento; e a Rua Frei Gaspar, entre as ruas 15 de Novembro e General Câmara, antigas Direita, Antonina e Áurea; o velho Beco do Inferno, alargado e asfaltado, também perdeu o seu aspecto de permanente feira árabe, de Marrocos ou da Argélia, nas suas centenárias casas de telhados de rabo de pato, todas tendas sírias de baixa mercancia.

Já que inventariamos no passado de Santos a grande obra da sua transformação, assinalamos os artífices da sua atualização urbanística, hoje apreciável e bastante promissora, não podemos silenciar o relevante papel desempenhado pela construção do cais, na conquista, verdadeiramente batava, de terras para a sua faixa, quer arrancando-se ao lodoso fundo oceânico, quer dissecando os paules da orla litorânea, onde anófeles e stegomyas pululavam prolificamente.

Dir-se-ia, pois, que, fundador de Santos e espectador de sua evolução através dos séculos, Braz Cubas, em sua marmórea efígie, viera disciplinar-lhe o rejuvenescimento e o aformoseamento.

E desse grande movimento material, a refletir-se nas muitas obras públicas simultaneamente executadas, e encontradiças aos quatro pontos cardeais da cidade, numa atuação constante, a subdividir-se entre as suas pesadas obrigações e as múltiplas conferências com os dirigentes do Estado e do município, a grande força propulsora era Guilherme Álvaro.

Enquanto que as administrações municipais passavam e sucediam-se, ele era inamovível, na estacada, a pelejar o bom combate sempre, numa continuidade de quase 30 anos, apenas interrompida quando ocupou, com lustre invulgar, o cargo de diretor do Serviço Sanitário, até que, desavindo-se administrativamente com o prefeito da capital, dr. Washington Luís, o depôs nas mãos do presidente do Estado, para não criar embaraços à sua administração, e o dr. Altino Arantes, que era seu verdadeiro amigo e admirador, aceitou-o a contragosto, muito a seu pesar.

Santos deve-lhe tanto que não lhe basta, em saldamento de contas, emplacar-lhe o nome ilustre em remota e ignota rua de Campo Grande, se não creditar-lhe, para próxima e oportuna feitura, a perpetuação de seus traços inconfundíveis, num monumento público.

E quem quiser conhecer os seus feitos sanitários e a sua dedicação pela felicidade da nossa terra, deverá ler a sua "Campanha Sanitária de Santos", despretensiosamente escrita, mas clara bastante para, malgrado a sua esquivança à notoriedade e a elogios, avaliar-se tudo o que ele fez por nós.

Em plano inferior ao do grande chefe da comissão sanitária de Santos, moviam-se os modestos inspetores, tão mal considerados naqueles atrasados tempos, em que se lhes irrogava capacidade e mérito só para a inspeção dos quintais e "dessous" domésticos e para nada mais.

Hoje, os inspetores saem dos quadros sanitários para reger cátedras universitárias, dirigir ministérios, integrar missões científicas, e o povo os considera e respeita; outrora, a massa popular ignara não lhes atribuía valor algum, porque se o eram é por que para outro mister não prestavam.


Por ocasião das grandes e horrorizantes epidemias de varíola, que atacava preferentemente a classe proletária, por menos vacinada, era necessária ousada e estóica envergadura para fazer-se uma remoção, tal a agressiva animosidade com que nos recebiam.

A Suburra Santista, duplamente perigosa por que nela tripudiavam avassaladoras as bexigas e enxameavam os valentes e bambas, constituía-se dos morros, a partir do Fontana, das ruas de S. Leopoldo, para além do Vasco da Gama, e Penha ou Marquês do Herval, das travessas Caiuby e João Cardoso, do Saboó, do Chico de Paula, da Alemoa e cercanias.

Dois distintos colegas, enérgicos, idosos, irmãos, já falecidos, os drs. Benigno e Antonio Emygdio Ribeiro, foram, cada um por sua vez, obrigados a fugir ante a insólita agressão de parentes dos doentes, no ato de sua remoção.

Identicamente também tive como Rabelais o meu quarto de hora amargurado, certa noite, sob iminente desacato, quando, de um cortiço à Rua Visconde de Embaré, removia dois doentes para o Lazareto, a antiga chácara da Filosofia, a cavaleiro sobre pequeno outeiro, situado à direita do cemitério do Saboó.

Servi sob as ordens de cinco delegados de saúde, os drs. Guilherme Álvaro, Martins Fontes, Décio Vieira Palma, Arthur Costa, posteriormente brilhante diretor do Serviço Sanitário, e Castro Simões.

Revolvendo o passado, sinto-me triste ao recordar-me dos colegas mortos, e sobretudo do dr. Messias Fonseca, que bons serviços prestou, tendo desaparecido bem moço, em 1925, deixando imorredoura saudade. Pertencia à primeira turma de médicos diplomados pela Faculdade de Medicina de S. Paulo.


Fui delegado de Saúde interino durante 25 dias, até a posse do dr. Benedicto de Castro Simões.

Durante quase um ano e meio o dr. Castro Simões, aliando à competência de higienista consumado, notável capacidade administrativa, dirigiu superiormente a delegacia de Saúde, que recentemente deixou para agir noutro setor sanitário, onde certamente também se fará distinguir.

Bem recente é a criação do Centro de Saúde de Santos que, englobando os serviços da antiga Delegacia de Saúde e outros novos, evidentemente superiorizará o nosso clima sanitário.

E o dr. Mário Gracho Pinheiro Lima, seu diretor, numa feliz conjugação de sua larga e comprovada competência clínica, de seu patriótico propósito de acertar, de sua envergadura de administrador nato, de sua reputada capacidade de sanitarista, certamente propiciará à nossa terra a máxima perfectibilidade na esfera da higiene, e a que faz jus o segundo entreposto comercial da América do Sul, que também é uma das principais cidades do continente colombiano.

Santos, janeiro de 1939.

(*) Colaboração especial para A Tribuna, na Edição comemorativa do 1º Centenário da Cidade de Santos.

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