Clever Vasconcelos (ao centro) visitou Hies e classificou como lamentável a situação
do hospital
Foto: Alberto Marques, publicada com a matéria
HIES
Promotor ajuiza ação contra Marcelo Senise
Administrador do hospital é acusado de improbidade administrativa
Da Reportagem
O promotor de Justiça da Cidadania, Clever Rodolfo
Carvalho Vasconcelos, ajuizou ontem na 6ª Vara Cível ação civil pública contra o administrador do Hospital Internacional dos Estivadores de Santos (Hies),
Marcelo Senise, por improbidade administrativa. Depois de retomar judicialmente a posse do hospital, a diretoria do Hies negocia a administração da
unidade com entidades particulares e públicas.
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Unifesp e Fundação Zerbini demonstram interesse
Das três entidades que negociam com o Sindicato dos Estivadores para assumir a
administração do Hies, a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e a Fundação Zerbini se mostraram interessadas em implantar projetos no prédio.
O Hospital Ana Costa (HAC), que também estava cotado para gerenciar a unidade, informou que, atualmente, não faz parte dos planos da diretoria
administrar outro hospital.
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Memória
O Hospital Internacional dos Estivadores deixou de funcionar na última
sexta-feira, depois que o juiz substituto da 2ª Vara Cível, Eduardo Hipólito Hadad, acolheu ação do Sindicato dos Estivadores e concedeu liminar
(decisão provisória) retornando a posse do prédio de dez andares para a entidade de classe.
No processo consta que a Vigilância Sanitária da Secretaria Municipal de Saúde e
a fiscalização do Conselho Regional de Medicina concluíram que "o hospital não apresenta condições mínimas de funcionamento". Além disso, descreveu
problemas que teriam desrespeitado o contrato e justificado o seu rompimento, como a cobrança indevida por atendimento prestado a estivadores e
familiares.
O convênio entre a unidade e o Sistema Único de Saúde (SUS) foi suspenso no
final de agosto, principalmente por causa de problemas estruturais detectados pelas vigilâncias sanitárias estadual e municipal. Com isso, o
hospital deixou de oferecer 134 leitos ao SUS.
O Hospital dos Estivadores, em mais uma de suas reformas
Foto publicada no jornal santista A Tribuna em 23 de agosto de 2003
Um histórico de problemas
Pesquisa A Tribuna
Inaugurado em 2 de dezembro de 1970, o Hospital dos
Estivadores de Santos tem uma história marcada por greves, falta de recursos e sucessivas reaberturas seguidas de fechamentos. Uma das crises
ocorreu em 1981 e interrompeu o atendimento ao público durante um mês, devido à greve dos médicos.
A direção recorreu ao Governo Federal e conseguiu recursos para saldar parte das
dívidas, com fornecedores e funcionários. Entre 1982 e 1986, as dívidas foram se acumulando outra vez, a maior parte devida ao Iapas. Nesta época,
os estivadores desvincularam o hospital da administração do sindicato da categoria, dando-lhe total autonomia.
Mas isso também não resolveu a situação pois, em abril de 1987, os 500 funcionários do
hospital entraram em greve, reclamando o pagamento de salários atrasados. No ano seguinte, o Hies passou a ser dirigido por uma junta governativa e,
em julho de 1989, suspendeu os atendimentos do Inamps.
Novas paralisações aconteceram entre 1989 e 1990 e, em diversas oportunidades, o
hospital ficou fechado em virtude de greves demoradas. Uma das reaberturas aconteceu em 6 de agosto de 1991, com a presença do então ministro da
Previdência, Rogério Magri.
Em 1997, o sindicato reassumiu o controle do hospital, que já havia sido fechado duas
vezes neste período. Em 17 de maio, quando um incêndio destruiu o almoxarifado e, em setembro, com a greve dos funcionários por falta de pagamento.
Inijud - Em outubro de 1998, o Instituto Internacional da Juventude para o
Desenvolvimento (Inijud), organização não-governamental dirigida por Marcelo Senise, assumiu o hospital em comodato por 30 anos e, em troca, a
unidade de saúde seria reaberta e atenderia estivadores e dependentes.
Senise foi afastado do Conselho Deliberativo do Instituto Gestor do Hospital (pessoa
jurídica criada pelo Inijud para administrar o Hies) no primeiro semestre, retornando à instituição em 1999, por via judicial.
Ainda naquele ano, o prefeito Beto Mansur e Senise assinaram o convênio que permitia o
hospital atender pelo Sistema Único de Saúde (SUS). No entanto, após espera de três anos para o cumprimento do convênio, o presidente do Hies entrou
na Justiça contra a Secretaria Municipal de Saúde para garantir o recebimento dos repasses.
Em 2001, por conta de dívidas previdenciárias, o Instituto de Seguridade Social (INSS)
recorreu à Justiça pela posse do prédio de dez andares onde funciona o Estivadores.
Dois anos depois, uma dívida trabalhista quase resultou na retirada dos dois
elevadores da instituição. Após negociação, a diretoria do hospital garantiu a permanência dos equipamentos, que saldariam parte do débito.
SUS - No final de agosto deste ano, o convênio entre o hospital e o SUS foi
suspenso, principalmente, por causa de problemas estruturais detectados pelas vigilâncias sanitárias estadual e municipal. Desde então, o
atendimento no Hies estava restrito a estivadores e pacientes segurados por 15 planos de saúde.
No dia 17 de dezembro, o hospital foi fechado, sob respaldo de liminar judicial. O
juiz substituto da 2ª Vara cível, Eduardo Hipólito Hadad, acolheu ação do Sindicato dos Estivadores e concedeu liminar (decisão provisória)
retornando a posse do prédio para a entidade de classe.
No processo consta ainda que a Vigilância Sanitária da Secretaria Municipal de Saúde e
a fiscalização do Conselho Regional de Medicina concluíram que o hospital não apresenta as mínimas condições de funcionamento. |