Página 5 da edição de 13 de julho de 1932 do jornal Folha da Manhã, da capital paulista
A situação na cidade de Santos
A cidade preparada para a eventualidade de um ataque - Navios que desviam a
sua rota - Organização da Milícia Cívica - O policiamento na rodovia Santos-São Paulo
SANTOS, 12 (Da sucursal da Folha da Manhã) - A população continua a manter a mais
absoluta calma, notando-se, porém, bastante agitação em todos os círculos. O comércio em geral funcionou normalmente. Os aviões da Força Pública do
Estado desde as primeiras horas da manhã começaram a voar pelo litoral em reconhecimento.
Logo depois foram vistos dois aparelhos, que pareciam ser da marinha, voando por sobre a cidade e
desaparecendo em direção ao Norte.
Chegada de tropas - Chegou ontem à tarde o 6º Batalhão da Força Pública do Estado, sob o
comando do tenente-coronel Índio do Brasil. Essa milícia foi alojada no edifício onde funcionou a Escola de Aprendizes Marinheiros, tendo, esta
manhã, guarnecido a praia com artilharia.
Parte dessa tropa, com o respectivo material de campanha, seguiu hoje para a
Bertioga, a fim de guarnecer aquele local.
Também chegou a esta cidade, ontem à tarde, um pelotão do 4º B. C., de Sant'Anna, na capital, sob
o comando de um primeiro-tenente.
O governador militar da praça - Foi instalado, ontem, numa das salas da Delegacia Regional
de Polícia, onde funciona a Técnica Policial, o comando da Praça Militar de Santos, sendo governador militar da praça o major Loretti.
A "Falange Acadêmica" - Os acadêmicos desta cidade, congratulando-se em torno da causa de
S. Paulo, organizaram a "Falange Acadêmica", tendo sido nomeado para dirigi-la o seguinte estado-maior: professor Luiz Silva, dr. Murtinho de Souza
e dr. Gervásio Bonavides, comandante-em-chefe professor André Freire; ajudante de ordens, Alfredo Comito.
O comando da Milícia Cívica - Está assim organizado o comando da Milícia Cívica de Santos:
Comandante - major Espíndola Mendes;
Estado-Maior - chefe militar, major Alípio Ferraz; chefes civis, Uriel de Carvalho e Roberto
Caiuby; chefe do abastecimento, dr. Cornélio Mendonça; chefe dos transportes, Álvaro Junqueira;
Intendência - José Galcão Munhoz, Manuel Mattos Dias, Cassio Dias Toledo, Amílcar Gonçalves,
Reginaldo de Carvalho, Guilherme Santos e Antonio Silveira Mello;
Oficialidade - major Emillio Meisner, primeiros-tenentes Benedicto Manuel Pedroso, Antonio
Ferreira Lima, João Rocha de Mello, Germano Fortes e R. X. Vieira, e segundos-tenentes João B. Rodrigues, José Aniceto Rodrigues, Biax Antonio
Rogério e Sebastião da Silva Medeiros;
Inferiores - Crystalino Mesquita, Oscar Rodrigues Marcondes, Benedicto José Barbosa, Joviano
Godoy, Francisco Silva Brasileiro, Harry Muller, José Paulino, Cyro Ruiz, Gilberto Martins e B. Vicente de Carvalho;
Pelotão de engenharia - Joaquim M. Fonseca, João O. Simões, José Sartori Junior, Alfredo Simões e
José S. de Almeida Prado;
Choferes (com automóvel) - Paulo Guimarães, Sylvio Serra, Eduardo Machado, Candido Borba, Marcello
Mendonça, Mario Malta, Samuel Baccarat, Oswaldo Silva Telles, Alfredo Linares, Eduardo Wright e João Carvalhal Filho.
Providências tomadas para o abastecimento da cidade - O prefeito de Santos, sr. dr.
Aristides Bastos Machado, tomou providências para atender ao problema do abastecimento da cidade. As providências de s.
s. e os entendimentos que ontem teve, asseguraram à cidade o abastecimento normal de leite, aves, legumes, verduras, cereais etc., que será feito
por auto-caminhões, pela rodovia da Serra do Mar.
Quanto ao fornecimento de carne verde à população, também ele está absolutamente assegurado, pois
além de haver gado em pé, nos pastos da Cia. Frigorífica, ainda para cinco dias, foi ordenada a ida, pela antiga estrada de rodagem, das boiadas já
adquiridas e, além disso, a carne frigorificada armazenada dará para um consumo longo daquele alimento.
O sr. dr. Aristides Bastos Machado ordenou a mais severa fiscalização por parte dos funcionários
da Prefeitura a fim de que não sofram aumento os preços atuais dos gêneros de primeira necessidade.
Tudo isto comunicou o prefeito municipal ao sr. dr. João Clímaco Pereira, delegado regional, a
quem solicitou providências tendentes a pôr a coberto a população de possíveis explorações de comerciantes inescrupulosos e oportunistas.
O porto está franqueado a todos os vapores estrangeiros - O porto está franco a todos os
navios estrangeiros para entrada e saída.
- Os navios nacionais, porém, só poderão sair mediante ordem superior.
Navios que desviaram a sua rota - Procedente de Buenos Aires, fundeou à entrada da barra de
Santos, anteontem, o cargueiro norueguês Paraguayo, consignado a A. Grieg Cia., desta praça.
O vapor, logo depois, recebia a visita regulamentar da Polícia Marítima, tendo por essa ocasião o
seu comandante declarado que não entrara no porto em virtude de ter recebido o seguinte radiograma:
"Em nome do chefe do governo provisório não podeis entrar no porto de Santos. Deveis mudar de
rota. - Almirante Protógenes Guimarães, ministro da Marinha".
- O vapor americano Delsud, que procedia do Rio, em virtude de ter recebido idêntico
radiograma, desviou a rota prosseguindo viagem para o Sul.
- Os paquetes ingleses Arlanza e
Highland Chieftain e o holandês Orania, que eram ontem esperados no nosso porto, procedentes do
Norte, não mais entrarão, certamente por haverem captado rádios de idêntico teor do Paraguayo.
Um decreto do ditador proibindo a navegação nos portos paulistas... - Pelas autoridades
militares de Santos, foi captado um radiograma do Rio, anunciando que o sr. Getúlio Vargas baixou ontem um
decreto proibindo a navegação aos navios nacionais e estrangeiros em todos os portos de São Paulo.
A iluminação das praias - As autoridades militares de Santos pretendem reduzir, caso assim
julguem necessário, a iluminação em toda a extensão da praia, a exemplo do que já fez há tempos.
Essa medida, se for adotada, visa, como é bem de se ver, proteger a movimentação ou concentração
de forças na praia, para segurança e defesa de Santos.
O policiamento da cidade e da rodovia Santos-S. Paulo - Está estabelecida rigorosa
vigilância em Santos. Além do serviço de ronda, há vigilância especial sobre os estabelecimentos bancários, repartições dos Correios e dos
Telégrafos, Mesa de Rendas e estações da S. P. R. e da Sorocabana, tendo sido montada guarda às
pontes do Casqueiro e Pênsil e aos Pilões,
por destacamentos da Força Pública e do Exército.
As estações de fornecimento de energia elétrica, da Companhia Docas do Cubatão, acham-se,
igualmente, guardadas por forças armadas, estacionando, na raiz da Serra, um numeroso contingente da Força Pública, que mantém severa vigilância na
rodovia Santos-São Paulo. |