HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS -
Hotel
Histórias do antigo Parque Balneário (4)
Local escolhido para casamentos e muitos outros eventos sociais...
O elegante hotel da família Fracarolli,
situado no final da Avenida Ana Costa, no Gonzaga, era usado para festas e recepções da alta
sociedade santista, até ser demolido para reaproveitamento da área num complexo com prédios residenciais, centro comercial e um edifício hoteleiro
moderno. A história do antigo Parque Balneário Hotel foi relembrada pelo jornal A Tribuna em maio de 2010, nas edições
de domingo (dia 9, páginas A-4 e A-5) e segunda-feira (dia 10, página A-3):
MEMÓRIA - Símbolo da época de ouro do café, o antigo Parque Balneário Hotel, demolido em 1973, foi
um marco de luxo e glamour de Santos. Em seus aposentos se hospedaram chefes de estado, artistas e turistas do mundo inteiro. Construído em estilo
eclético, o hotel chegou a manter 140 funcionários
Foto e legenda publicadas com a matéria, na primeira página do jornal, em 9/5/2010
Um hotel com todo o charme de um palácio
O antigo Parque Balneário Hotel, demolido em 1973, foi um arco de luxo e glamour da Cidade.
Símbolo da época de ouro do café, em seus aposentos se hospedaram chefes de estado, artistas e endinheirados do mundo
inteiro, que entravam no Brasil pelo porto de Santos
Ronaldo Abreu Vaio
Da Redação
Fotos: acervos de Waldir Rueda e Laire José
Giraud
Como as pessoas, os lugares também nascem, crescem e morrem. O
antigo Parque Balneário Hotel, por exemplo, nasceu modesto, cresceu suntuoso e morreu controverso. A fase áurea foi dos anos 30 a meados de 60, do
século 20. Mas há registros de que já existia uma hospedaria mais simples, sem nome, no local - esquina das avenidas
Vicente de Carvalho com Ana Costa, no sentido Centro - ainda no distante ano de 1882.
Também há indícios de que o futuro nome do hotel foi inspirado em um "complexo de banhos" na
esquina em frente, onde hoje é o Atlântico Hotel. Nesse complexo, que incluía uma espécie de galpão, uma casinhola e até
um coreto, havia a placa indicando: parque balneário.
Há duas possíveis explicações para o "complexo de banhos". A primeira, a de que se resumisse a um
vestiário, onde os banhistas da época trocavam de roupa, na entrada e na saída do mar; a segunda, de que fosse um local para tratamento de saúde,
através de banhos medicinais.
Mas o hotel, que seria um dos mais luxuosos do Brasil, só começaria a ser delineado a partir de
1914, com a entrada no negócio dos irmãos João e Henrique Fracarolli.
Aos poucos, a pequena hospedaria inicial foi dando lugar aos três edifícios, em estilo eclético,
que formariam o Parque Balneário. Na segunda metade da década de 20, os prédios, com seus 250 aposentos, entre quartos e apartamentos completos, já
faziam parte dos cartões-postais de Santos - o que se perpetuaria até os anos 70.
"O Parque Balneário foi o resultado de anos de pujança. Era um símbolo dessa época, fruto do
dinheiro do café", avalia a historiadora Wilma Therezinha Fernandes de Andrade.
Riqueza |
"O Parque Balneário foi o resultado de anos de pujança. Era um símbolo dessa época,
fruto do dinheiro do café" |
Wilma Therezinha Fernandes de Andrade, historiadora |
Jogo e glamour - Se a euforia do café impulsionara empreendimentos como o Parque Balneário,
a rebordosa viria na crise da Bolsa de Nova Iorque, em 1929. Porém, o hotel, já estabelecido, não sofreria tanto: seu sustentáculo financeiro estava
calcado no jogo.
"Todo mundo vivia através do cassino, que traz o luxo, o dinheiro rápido. O Parque Balneário foi
concebido para a pessoa se sentir em um palácio. E se sentia mesmo", diz o historiador Waldir Rueda.
Se o jogo garantia o dinheiro para manter a estrutura, a posição estratégica da Cidade, por conta
do Porto, contribuía com o glamour. Em uma época em que as viagens intercontinentais eram feitas majoritariamente por navio, Santos era a principal
porta de entrada do País - tanto para mercadorias, quanto para personalidades, chefes de estado e turistas endinheirados.
E, uma vez em Santos, esse público seleto orbitava em torno do luxo do Parque Balneário - que, no
entanto, também servia aos notáveis brasileiros. Assim, a lista das personalidades que desfilaram pelos salões do hotel era extensa. A começar por
presidentes, como Afonso Pena, Washington Luís,
Juscelino Kubitschek, João Goulart e Getúlio Vargas, que se hospedaram
ali.
O rei Alberto, da Bélgica, o escritor espanhol Vicente Blasco Ibañez, os
atores Bibi e Procópio Ferreira também assinaram o livro de registro. Carmem Miranda não se hospedou, mas consta que tenha almoçado no restaurante
do Balneário, quando veio se apresentar no Teatro Coliseu, em 1936.
O suntuoso Parque Balneário Hotel, na quadra das avenidas Ana Costa com Vicente de Carvalho, ainda
inacabado, na década de 20
Foto e legenda publicadas com a matéria
GRANDEZA EM NÚMEROS |
250 |
aposentos entre quartos e apartamentos |
15 |
mil metros quadrados era a área total do terreno do Parque
Balneário Hotel |
140 |
funcionários tinha o hotel, para manter a estrutura, nos tempos áureos |
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O fim de uma época - Mas o Balneário não era inteiro exclusivo dos hóspedes. O cassino, o
luxuoso restaurante, o Grill, um snack bar nos suntuosos jardins, ao ar livre, e a boate - cujas paredes eram estofadas em cetim rosa -
ficavam abertos ao público.
O Salão de Mármore também era palco de bailes e eventos, com música ao vivo, provida por
orquestras e artistas de renome.
O pianista Weser Silva, conhecido por Tico-Tico, era um deles. Apresentou-se no hotel
durante 20 anos, entre 1950 e 1970. Chegou a acompanhar o cantor norte-americano Nat King Cole, nos anos 50.
No livro Memórias da Hotelaria Santista, de Viviane Pereira, Helena Maria Gomes e Laire
José Giraud, Weser recorda esse lugar e essa época que parecem saídos de um sonho. "Era o glamour. Nenhuma outra casa oferecia isso em Santos. As
senhoras iam muito bem vestidas. Um pedaço de mim ficou ali".
Em 1946, com a proibição do jogo no Brasil, e a partir dos anos 50, com a expansão imobiliária, as
cores do glamour lembrado por Weser foram se desbotando. Da família Fracarolli, o Parque Balneário Hotel passou para as mãos do
Santos Futebol Clube. Em seguida, foi vendido para um consórcio de empreiteiras da Cidade. Assim, foi decretado o fim de uma época.
ILUSTRE - Nota fiscal do ainda modesto Parque Balneário Hotel, de 1908, quando era gerido por
Alberto Fomm e Elisa Poli. A nota, paga pela Câmara Municipal de Santos, aponta um visitante ilustre: o italiano Lorenzo Mazza, escultor do
Monumento a Braz Cubas, na Praça da República. Em 34 dias de "pensão e quarto", Lorenzo
consumiu 52 garrafas de vinho e 22 de cerveja. Asseado, tomou 34 banhos - cobrados à parte - ou seja, um por dia
Foto e legenda publicadas com a matéria
PROJETO - Quando os irmãos Fracarolli assumiram, a idéia era de que o Parque Balneário Hotel fosse
ainda mais imponente. O croqui de projeto acima, ainda na década de 10, previa uma torre, na confluência do prédio em L, e mais um edifício, voltado
à Avenida Ana Costa
Foto e legenda publicadas com a matéria
Sempre na memória
"Servi cafezinho para o Getúlio Vargas". A recordação é de José Maria Favas de Oliveira, de 81
anos. "É uma passagem que nunca esqueci". José Maria veio de Portugal e trabalhou no Parque Balneário em dois momentos: meados dos anos 40 e início
dos anos 50.
O café que serviu a Getúlio Vargas era uma cortesia que se estendia a todos os hóspedes. José
Maria servia-o pessoalmente. "Andava com a bandeja (de prata), com o bule (também de prata) e as xícaras pelo terraço, em frente ao mar".
Por terraço, entenda-se o Grill, espaço ao ar livre, nos jardins do hotel. No começo das noites de
sábado, havia música ao vivo. Dançava-se. O bar que atendia o Grill tinha conexão direta coma boate, para onde a música se mudava, a partir
das 23 horas - e a festa continuava até o alvorecer.
No restaurante, comia-se com talheres de prata Wolff. Bebia-se champanhe em taças de cristal. E
Getúlio Vargas deve ter tomado seu cafezinho em xícaras de porcelana Vista Alegre - que, de acordo com José Maria, já chegavam de Portugal com o
sinete do Parque Balneário.
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José Maria: café para Getúlio |
Antônia: cera, parafina e escovão |
Fotos: Alberto Marques, publicadas com a matéria
Queixo caído - As banheiras dos quartos mais caros eram em porcelana colorida; as bordas,
em mármore.
As paredes do Salão Dourado eram decoradas com afrescos, até o teto - bem ao estilo renascentistas
florentino. José Maria conta que havia um pintor italiano no hotel, a postos para dar qualquer retoque que se fizesse necessário na pintura.
"As agências de turismo levavam os passageiros dos navios para ver o salão. Antes de chegarem, me
avisavam, para eu acender as luzes. Aquilo era maravilhoso. Os estrangeiros ficavam de queixo caído. E eu ganhava uma gorjetinha", sorri.
De gorjetinha em gorjetinha, José Maria montou o próprio comércio, no ramo de distribuição de
laticínios, antes de se aposentar. Mas isso foi bem depois de chegar a chefe de vinhos do restaurante. "Usava um paletó com um cacho de uvas e uma
folha de parreira bordados na lapela", sorri.
Aliás, os uniformes renderiam um capítulo à parte no luxo. A mulher de um ex-empregado do cassino,
que não quis se identificar, disse que os ternos do marido eram de linho branco ou casimira inglesa. Além disso, recebia recomendação para aparar o
cabelo toda semana. O Balneário contava com serviço de cabeleireiros e barbearia.
Também havia açougue e padaria próprios; além de uma caldeira, que garantia a água quente em todo
o hotel.
Deveriam ter conservado - A primeira lembrança que Antônia Ramos Thiago, de 84 anos, tem do
Balneário são os tacos de madeira nos quartos, quadrados e bicolores.
"A gente derretia a cera com parafina e passava o escovão. Parecia um espelho", recorda-se a
arrumadeira, que trabalhou no hotel durante 10 anos, a partir de 1956. "Depois que o hóspede ia embora, passava-se palha de aço e se fazia tudo de
novo".
Trabalhava no quarto e quinto andares do prédio principal, voltado para a praia. Já o prédio cm
face para a Rua Carlos Afonseca - o único que restou até hoje - era o mais simples: em suas águas furtadas, ficavam alojados os motoristas e babás
que eventualmente acompanhassem os hóspedes.
Do Parque Balneário, Antônia foi trabalhar no Atlântico Hotel, em frente. E lá estava, na época em
que a demolição começou, em novembro de 1973. "Era meio-dia. Meus colegas me chamaram para ver. Não fui. Senão, ia chorar. Não deveriam ter feito
isso. Deveriam ter conservado".
O MELHOR HOTEL - "Quando foi demolido, eu estava em São Paulo. Era um cartão postal". A lembrança
é de Onésio Rodrigues, de 87 anos. Entre os 22 e os 24 anos de idade, na década de 40, bateu ponto no Grill. Foram muitas noites e muitas danças.
Também não se furtava a uma aposta na roleta do cassino, pouco antes do jogo ser proibido. "Sempre perdi", sorri. Menciona a fundação do
Tênis Clube de Santos, nos salões do Balneário. "A freqüência era da sociedade santista". Em resumo: "Era o melhor hotel de
Santos".
Foto: Nirley Sena, publicada com a matéria
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A morada do luxo
Fotos publicadas com a matéria
Vários ângulos
O Parque Balneário Hotel, visto da fonte 9 de Julho, na Praça das Bandeiras. O edifício está quase
todo encoberto pelas árvores do famoso jardim
Foto publicada com a matéria
Vista do hall de entrada do Parque Balneário, na confluência do L, com a Rua Carlos
Afonseca, atrás
Foto publicada com a matéria
A fachada voltada para a Avenida Ana Costa, nos anos 50. Ao fundo, o então moderno edifício da
atual Galeria Ipiranga
Foto publicada com a matéria |
Sem o jogo, Balneário acaba
Tudo ia bem com o Parque Balneário Hotel até 30 de abril de 1946. Nesse dia, o
Governo Federal proibiu o jogo no País. Sem a receita proveniente dos lucros do cassino que abrigava, e com a expansão imobiliária iniciada nos anos
50, a situação foi se deteriorando. A demolição do imóvel começou em 1973, mas só foi concluída em 1975
LEILÃO - Antes da demolição, as peças de cozinha, os móveis, instrumentos musicais, lustres, de
bronze e de cristal, e até alabastros (peças de mármore translúcidas) foram postos a leilão, nos dias 17, 18 e 19 de agosto de 1973. "Conforme os
objetos iam sendo arrematados, já eram levados na hora. O Balneário foi sendo desmantelado aos poucos", relata Carlos Roberto Teixeira, filho do
leiloeiro oficial do Balneário, Eduardo Victor Teixeira. Na foto, Carlos está com a ata do leilão do Parque Balneário Hotel e com fichas de
madrepérola do cassino
Foto: Luiz Fernando Menezes, publicada com a matéria
Da proibição do jogo à demolição
A partir de 1946, o Parque Balneário Hotel perdeu a receita do cassino. A expansão
imobiliária nos anos 50 ajudou na derrocada
Ronaldo Abreu Vaio
Da Redação
Tudo ia muito bem até 30 de abril de 1946. Nesse dia, o então
presidente da República, Eurico Gaspar Dutra, proibiu o jogo no País. A medida foi um golpe duro para o Parque Balneário Hotel - cuja receita
principal provinha dos lucros do cassino que abrigava.
"O cassino atraía não só a população de Santos, mas de São Paulo e do interior, os fazendeiros",
explica a historiadora Wilma Therezinha Fernandes de Andrade.
Menina na época, Wilma relembra que a esperança da revogação rápida da lei proibindo o jogo era
grande.
"Morei ao lado de um senhor que foi crupiê lá. A mulher dele era costureira. Lembro que ele ficava
juntando as fichas em montes, para não perder a habilidade. Tinha esperança em recuperar o emprego". Crupiê era o funcionário que pagava e recolhia
as apostas.
O outro fator que contribuiu para o início do fim, a partir de meados dos anos 50, foi a expansão
imobiliária na orla. Por conta disso, muitos hóspedes em potencial do Parque Balneário passaram a comprar imóveis de temporada.
Assim, sustentar o luxo e o glamour de outros tempos foi ficando mais difícil. Por exemplo, polir
os pingentes de cristal de um dos quatro grandes lustres do Salão Dourado - cada um com mais de 2 metros de envergadura - era uma operação de
guerra. "Demorava um dia inteiro", recorda a ex-arrumadeira, Antônia Ramos Thiago, hoje com 84 anos.
ACERVO - Peças do Parque Balneário Hotel que foram arrematadas durante o leilão do prédio em 1973.
Havia objetos de cristal, porcelana, cerâmica e prata, entre outros materiais
Foto publicada com a matéria
O Santos entra em cena - Athié Jorge Cury foi presidente do Santos Futebol Clube de 1945 a
1971. Na primeira metade dos anos 60, também foi deputado federal.
Por conta de suas ligações nos corredores do poder, Athié ficou sabendo de uma possível liberação
do jogo no País. Nessa época, o Parque Balneário já andava mal das pernas. De posse da informação e como o Balneário, das fichas à roleta, já
possuía toda a estrutura para receber um cassino, Athié acreditou que seria uma oportunidade de ouro para o Santos.
"O sonho dele era fazer do Santos o maior time do mundo. Com o cassino, ele achava que o clube
teria uma fonte inesgotável de renda", afirma o advogado Ângelo José Vilchez Ramos, filho de Ângelo Vilchez Ramos, secretário de Athié, à época.
Assim, em 8 de junho de 1965, o Parque Balneário Hotel mudava de mãos. Saíam de cena os Fracarolli,
entrava o Santos Futebol Clube. Detalhe: o Santos comprou sem ter dinheiro para honrar o compromisso.
Passando o chapéu - O valor do negócio foi de 6 bilhões e 55 milhões de cruzeiros. No ato
da compra, o clube pagou aos Fracarolli 255 milhões de entrada. O restante foi dividido em 24 parcelas. Mas o Santos não tinha mais dinheiro. A
solução emergencial foi emitir títulos especiais para quitar as primeiras parcelas. Do restante, o cassino se encarregaria.
Só que o tempo passava e nada de jogo liberado. Ainda assim, o Parque viveu alguns bons momentos
nessa época, em bailes de Carnaval e shows, promovidos pelo Santos. Elis Regina, em começo de carreira, foi um dos artistas que se
apresentaram no palco do Salão de Mármore.
Mas não se vive de brisa para sempre. Sem o dinheiro do jogo, o Santos começou a atrasar as
parcelas. A situação foi se deteriorando e não restou alternativa a não ser a venda do imóvel.
Isso aconteceu em 9 de outubro de 1972. O consórcio das empreiteiras Metromar, Elacap, Arena e de
Cláudio Doneux adquiriu o Parque Balneário por 14 milhões de cruzeiros novos (em 1967 houve a troca da moeda, com a supressão de três zeros).
"Considero (a compra do Balneário) como um sonho de uma noite de verão. Não deu em nada. O Santos
perdeu dinheiro", comenta Guilherme Guarche, historiador do Santos F. C. e autor de vários livros sobre o alvinegro.
Dos 14 milhões de cruzeiros novos, 9 foram para a família Fracarolli. Sobraram cinco milhões.
Desses, a metade foi empregada no pagamento de impostos. Considerando-se que parte da dívida já havia sido amortizada, pouco ou nada sobrou para o
Santos.
A demolição do prédio do Parque Balneário Hotel começou em novembro de 1973, mas somente foi
concluída em fevereiro de 1975
Foto: arquivo, publicada com a matéria
Prédio era considerado uma jóia arquitetônica
A comparação é até óbvia. Talvez por isso, muito utilizada: a de que o antigo Parque Balneário
estaria para Santos, como o Copacabana Palace, para o Rio de Janeiro. Mas enquanto o Copacabana Palace continua de pé, o Parque Balneário foi
demolido.
No terreno de cerca de 15 mil m², foram então construídos o novo Parque Balneário Hotel, o
Shopping Parque Balneário e os três prédios na seção do terreno voltada à praia, na Avenida Vicente de Carvalho. Do antigo edifício, restou apenas
um anexo, na esquina das ruas Carlos Afonseca e Fernão Dias.
"A dor é grande ao passar ali. Era um cartão de visita da Cidade. Todo mundo conhecia", resume o
cartonista (N.E.: SIC. Seria: cartofilista)
Laire José Giraud, que na juventude viveu bons momentos no Parque.
À parte a nostalgia de muitos que viveram o Parque Balneário, fato é que a Cidade perdeu uma jóia
histórico-arquitetônica. "A demolição foi muito triste, mas não existia essa consciência de tombamento tão forte, como hoje", explica o historiador
Waldir Rueda.
Para o advogado Ângelo José Vilchez Ramos, a demolição do Balneário foi a vitória de uma conjunção
de interesses imobiliários e do jogo do bicho, contrário à reabertura dos cassinos no Brasil. "Era o que grassava na época", diz ele, que tinha 15
anos em novembro de 1973, quando começou a demolição - encerrada em fevereiro de 1975.
Lamento |
"A demolição foi muito triste, mas não existia essa consciência de tombamento tão forte
como hoje" |
Waldir Rueda, historiador |
Estímulo ao tombamento - Ângelo crê que a perda do Parque Balneário serviu como um sinal de
alerta à preservação do patrimônio na Cidade. "Lembro que, logo depois, a Bolsa do Café foi tombada".
O processo de tombamento da Bolsa Oficial do Café começou em 1974, pelo Conselho de Defesa do
Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat), órgão vinculado ao Estado. Já o Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de
Santos (Condepasa) só seria criado em 1991.
"Se fosse adivinhar o valor desse monumento. Em outros lugares, existem similares, conhecidos no
mundo inteiro. E qual seria a diária de um hotel desses hoje em dia?", completa Ângelo.
Laire José Giraud lembra que na juventude viveu bons momentos no Parque Balneário. Ele conta que
sente uma dor ao passar no trecho do Gonzaga onde funcionava o hotel
Foto: Nirley Sena, publicada com a matéria
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O Copa Ao contrário do Parque
Balneário Hotel, todo ele construído com investimento privado, o Copacabana Palace teve largos incentivos do Governo Federal. Construído entre 1917
e 1923 e inaugurado em 13 de agosto de 1923, nasceu de uma vontade do presidente da República, Epitácio Pessoa,
e do hoteleiro Octavio Guinle.
O objetivo era construir no Rio de Janeiro um hotel luxuoso, para receber com grande pompa autoridades e
celebridades estrangeiras que viriam ao País, para a comemoração do Centenário da Independência, em 1922. Foram concedidos benefícios fiscais e os
Guinle também conseguiram licença para a abertura de um cassino.
Naquela época, a Praia de Copacabana ainda era quase deserta. Depois de anos de glória, tal qual o Balneário, o
Copa entrou em decadência. Até que, em 1985, quando intentaram sua demolição, foi rapidamente tombado pelas três esferas: Iphan (federal), Inepac
(estadual) e DGPC (municipal). Em 1989, a família Guinle vendeu-se ao grupo Orient Express, que o reabilitou, modernizando velhas instalações, sem
descaracterizá-las.
Atualmente, o Hotel Copacabana Palace é um dos mais conhecidos, e emblemáticos, hotéis do Brasil, com modernos 236
aposentos. |
"Meu pai chegou em casa, acordou todo mundo, dizendo que tinha comprado o Parque Balneário antigo.
Eram a Metromar, a Elacap e a Arena (incorporadoras) e o meu pai. A Metromar também era dele. Depois, houve uma cisão, ficaram só a Metromar e o
Cláudio Doneux"
Foto: Fernanda Luz, publicada com a matéria
ENTREVISTA
Cláudio Marsaioli Doneux
Empresário
"O estado dele estava muito precário"
Nesta entrevista, o filho de Cláudio Doneux, cabeça do
pool de empresas que comprou o Parque Balneário Hotel, afirma que a preservação do imóvel original
seria muito dispendiosa, em vista da parca manutenção que vinha recebendo. Também pondera que "talvez, hoje fosse diferente", em relação a um
possível tombamento do edifício. Ele recorda como seu pai anunciou à família a grande aquisição
Como foi a compra do Parque Balneário Hotel?
Lembro do dia da compra. Meu pai chegou em casa, acordou todo mundo, dizendo que tinha comprado o
Parque Balneário antigo. Eram a Metromar, a Elacap e a Arena (incorporadoras) e o meu pai. A Metromar também era dele. Depois, houve uma cisão,
ficaram só a Metromar e o Cláudio Doneux. Na época, era para ser feito outro tipo de empreendimento. Mas, por questões econômicas, foi construído o
que está lá: os três prédios na praia, o shopping e o hotel. Meu pai, como santista, queria que a Cidade tivesse um hotel à altura da Cidade.
O que previa o projeto original para o empreendimento?
Basicamente, previa um conjunto de escritórios, um shopping e um hotel, em uma estrutura
só. Isso acabou parando e ficou nos três prédios em frente ao mar, construídos primeiro. Depois, o hotel e o shopping.
O Parque Balneário era bastante visado. O que se falou na época da compra?
Foi uma coisa bastante comentada. O santista, de um modo geral, não acreditava no empreendimento,
que era uma loucura. Isso me recordo bem. Acho que hoje o Balneário (shopping) é o que o Iguatemi é para São Paulo, em termos de carisma.
E a resistência à demolição do antigo edifício?
Muito grande. Muita gente achava que o Parque deveria ser restaurado. Ocorre que o estado dele
estava muito precário. Foram feitos estudos, mas ele estava muito estragado. Parte do telhado, hidráulica, elétrica. Não tinha mais mão-de-obra para
restaurar, deixando nos moldes originais. Era muito caro.
Compara-se o Balneário antigo ao Copacabana Palace. Um foi demolido, o outro continua de pé...
O Copa continuou como um hotel que teve manutenção. Chegou uma hora que o Balneário ficou parado,
aquilo foi estragando, estragando...
Se fosse hoje, o Balneário seria tombado?
Seria. Mas se tivesse tombado, talvez não houvesse interesse (da iniciativa privada). São épocas
diferentes. No caso do Guarany, o Município entrou, teve dinheiro de fundação, de BNDES. Não acho que as coisas tenham que
ser demolidas, mas, na época, era inviável. Talvez, hoje, fosse diferente. |
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