Imagem: reprodução da primeira página do jornal santista A Tribuna, em 12/10/1920
SS.MM. OS REIS DA BÉLGICA
A cidade de Santos, no entusiasmo sincero do seu povo, recebe hoje a visita dos gloriosos soberanos
belgas - A recepção
O trajeto do cortejo real - Almoço no Parque Balneário - Outras notas
Bem-vindos!
Também Santos tem a honra de hospedar, ao menos por algumas horas, os excelsos monarcas belgas, que
souberam, através de múltiplos rasgos heróicos e de inexcedíveis virtudes morais e cívicas, conquistar a simpatia e o aplauso de quantos, indivíduos
ou nações, cultuam o Direito, a Justiça e a Liberdade.
É-nos grato, agora, de um modo direto, por entre punhados de flores e fragorosas aclamações, dizer
aos soberanos da pequena, estóica e lealíssima Bélgica, o que tantas vezes aqui dissemos desse país, dos seus admiráveis soberanos e do seu povo
exemplar.
A visita, verdadeiramente triunfal, dos reis belgas ao nosso país - a este país de tradições
liberais, de sentimentos elevados, de aspirações superiores, que primeiro levantou o brado de protesto contra o espezinhamento dos direitos da
Bélgica, conculcados pela força armada e pela denegação formal à fé dos tratados - ter-lhes-á dado a impressão profunda da estima que entre nós
conquistaram os augustos soberanos, e da simpatia sincera que goza no Brasil, quiçá entre todos os povos justos e imparciais, a Bélgica mil vezes
heróica.
Em Santos, se é possível, essa estima e essa simpatia se tornaram mais intensas, porque o nosso
porto entretém, há longos anos, relações comerciais e de amizade com os portos belgas, notadamente Antuérpia um dos bons importadores dos
nossos produtos agrícolas, notadamente o café; e muitos de nós, que já houvemos ensejo de visitar a nobre Bélgica, pudemos observar o trabalho
intenso e variado do seu povo, a capacidade das suas indústrias, o desenvolvimento das suas faculdades inventivas, a vitoriosa concorrência dos seus
produtos.
Estas relações podem, com vantagem recíproca, intensificar-se cada vez mais, visto que nenhum dos
dois países se faz concorrência por produção idêntica, e ambos, ao contrário, podem completar-se nas suas necessidades coletivas. Dá-nos a Bélgica o
que ela produz; damos à Bélgica o que nós produzimos. Nesta permuta as duas nações podem auferir resultados magníficos e consolidar, ao mesmo tempo,
os sentimentos afetuosos que já as vinculam.
O Brasil deseja e quer viver bem com todos os países civilizados, com todos os povos cultos; mas,
sobretudo, com aqueles que mais particularmente merecem a sua simpatia e a sua preferência. A Bélgica tem um lugar distinto no coração do Brasil, e
o acolhimento oficial e popular, carinhoso e entusiástico, que aqui tiveram os soberanos daquela, moralmente, gigantesca nação, prova de sobejo que
eles não são para nós, meramente, os supremos representantes de um país amigo, mas os expoentes máximos da defesa da justiça e da liberdade na sua
mais elevada significação. Ora, a justiça e a liberdade constituem o alicerce básico sobre que assenta o vasto edifício do progresso humano.
Sejam, pois, bem-vindos a esta terra de trabalho os magnânimos soberanos belgas - terra familiar à
Bélgica industrial e comercial, e com a qual entretém velhas relações de interesses mútuos relevantes. Não temos, aqui, talvez, o luxo e o esplendor
dos grandes centros oficiais e artísticos, para receber suas majestades, porque pertencemos a um núcleo de atividade fecunda e produtiva; mas,
oferecemos-lhes, de alma franca e coração aberto, a afirmação sincera da nossa estima e o elevado sentimento da nossa admiração.
Rei Alberto I
A sua vida e a sua glória
Autêntica encarnação das virtudes do seu heróico povo, verdadeira personificação da lealdade e da
bravura, poucas figuras, na história da civilização contemporânea, se impuseram, com tão deslumbrante brilho, à admiração universal, como sua
majestade Alberto I, rei dos belgas.
Nascido em Bruxelas a 3 de abril de 1875, o príncipe Alberto Leopoldo Clemente Maria Meinrad, filho
de Filippe Eugenio Fernando Maria Clemente Baudouin Leopoldo Jorge, conde de Flandres, irmão do rei Leopoldo II e de Maria, princesa de Hohenzollern,
recebeu desde os primeiros anos aprimorada educação, confiada a conhecidas notabilidades do magistério, como Goderold, Bosmans, barão Lambermont,
monsenhor Lefevre e Cigogne, sob a tutela do então capitão Jungluth, mais tarde promovido a general. Um dos primeiros atos do jovem soberano foi
chamar para chefe da sua casa militar o seu amigo e ilustre preceptor, a quem estava confiada a direção do estado-maior do exército belga.
Feitos os seus estudos em Bruxelas e no castelo patrimonial dos Avecroix, nas Ardennas, o príncipe
Alberto, por exame, foi admitido, em 1893, na Escola Militar, de onde, dois anos depois, saía com o posto de tenente do regimento de granadeiros,
freqüentando o campo de manobras de Beverloo e os exercícios militares com tanta assiduidade e simplicidade que, em pouco tempo, se tornou querido
de todos os seus companheiros.
Apesar de príncipe, deu serviço de guarnição como qualquer oficial, e dessa convivência íntima -
que ele não desdenhava, mas procurava - nasceu o grande prestígio que teve a sua mais brilhante confirmação nos campos de batalha.
Espírito moderno, educado na escola da bondade e do dever, quis o jovem príncipe aprofundar-se no
estudo das questões sociais, freqüentando o célebre Instituto Solvay, de Bruxelas. Não lhe foi difícil compreender que a oposição sistemática às
reformas sociais poderia causar a desgraça do país, e colocou-se francamente ao lado dos operários. E assim, quando passava pelas ruas de Bruxelas
ou de qualquer outra cidade do seu país, o entusiasmo das demonstrações que recebia do povo e especialmente das classes trabalhadoras bem
patenteavam a estima que lhe votava o seu povo.
A súbita morte do príncipe Balduíno fê-lo herdeiro do trono, pois era o único filho varão do conde
de Flandres, de cujo consórcio com a princesa Maria de Hohenzollern haviam nascido a princesa Henriqueta Maria, casada com Emmanuel, príncipe de
Orleans, duque de Vendome, e Josephina Carolina, casada com Carlos Antonio, príncipe de Hohenzollern.
Teve aí começo a segunda fase brilhante desse príncipe notável pelo seu saber e virtudes. Toda ela,
pode-se dizer, foi consagrada ao estudo, interessando-se particularmente pela vida econômica da Bélgica. Grande parte do seu tempo, o jovem príncipe
passava-a visitando as fábricas, as minas, onde, por muitas e muitas semanas, foi visto entre os operários nos seus árduos misteres, com o uniforme
do trabalho, e dirigindo locomotivas, como um simples maquinista. O rei Alberto é, como se sabe, um excelente mecânico.
Em 1908 empreendeu uma viagem de estudos ao Congo, em que
levou cinco meses, atravessando em toda a sua extensão a África Central. Essa excursão deu mais uma oportunidade ao príncipe para revelar seu
caráter excepcional, tratando de organizar um programa de administração daquela região, baseado no sistema colonial britânico.
Em uma das visitas que constantemente fazia à Alemanha,
onde gozava da estima pessoal do ex-imperador Guilherme, o príncipe Alberto conheceu a princesa Elisabeth Valeria Gabriella Maria, nascida em
Possenhofen, a 25 de julho de 1876, filha do duque Carlos Theodoro, notável oculista e cirurgião, cujo nome é citado nos tratados clássicos de
Medicina, e da infanta Maria José, duquesa de Bragança.
Guilherme II favoreceu a aproximação dos namorados, empenhando-se para que se realizasse o
casamento, o que se consumou em 2 de outubro de 1900, sendo padrinho o ex-imperador da Alemanha.
Em viagem de núpcias, Alberto e sua esposa estiveram no Tirol, visitando, entre outros países, a
França, Inglaterra, Itália
e Suíça.
Preocupado com o problema marítimo, Alberto aproveitou esse tempo para visitar minuciosamente os
grandes estaleiros de construção naval.
Falecido o rei Leopoldo II, com 74 anos, Alberto I, a 17 de dezembro de 1909, subiu ao trono da
Bélgica, prestando o juramento constitucional, em Bruxelas, no dia 23 de dezembro de 1909, tendo 34 anos de idade. A Bélgica, evidentemente, tinha o
rei que ela ambicionava, o que se revelou através das manifestações de regozijo com que o povo recebeu a ascensão do novo soberano.
O reinado de Leopoldo, de 1865 a 1909, assinalara-se por um longo período de lutas internas
produzidas, em parte, pela absorção do governo, inteiramente à mercê dos elementos conservadores. A expedição ao Congo, em 1877, organizada pelo rei
Leopoldo, por sua vez, favorecia poderosamente as crises políticas, criando mesmo certas complicações internacionais. Leopoldo casara-se em 1835 com
a princesa Maria Henriqueta da Áustria, de cujo consórcio teve três filhas: princesa Maria Luiza Amélia,
casada com o príncipe Philippe de Saxe Cobourg e Gotha; Stephania, casada com o ex-arquiduque Rodolpho, príncipe imperial da Áustria; Clementina, e
o príncipe Luiz Philippe, que morreu em criança.
As primeiras declarações oficiais do rei Alberto constituíram, pela observação dos fatos, a base de
toda a sua política futura. Cumpriu o que prometeu, e, respeitando o espírito constitucional da monarquia belga, não deixou, contudo, de chamar a si
os homens de valor, cuja colaboração no governo fora até então sistematicamente recusada.
Surgiram, por inspiração do rei, as reformas sociais que deram à Bélgica essa preciosa organização
industrial, fonte da sua espantosa prosperidade. A administração do Congo Belga, sob uma nova feição, começou a produzir os frutos ambicionados.
tudo isso era obra desse espírito refletido, desse homem possuidor de uma vasta e sólida cultura, cuja aprendizagem de governo se fizera nas
fábricas, nas usinas, nos estaleiros, no seio do povo.
Em junho de 1910, o rei Alberto e a rainha Elisabeth começaram as suas visitas aos chefes de
Estados da Europa, começando por Guilherme II. Em Berlim foram os soberanos recebidos pelo kronprinz Frederico Guilherme. Esta visita tinha
por fim, primeiramente, agradecer ao soberano alemão o ter patrocinado o casamento, em que não entraram conveniências políticas. É sabido que a
união de Alberto e Elisabeth encerra um poema de amor.
Alberto I procurou assentar com o então imperador da Alemanha o cumprimento do tratado de 11 de
agosto de 1910, sobre as fronteiras do Congo Belga com o território alemão na África. Em julho de 1910 os soberanos belgas visitaram o presidente
Falliéres, em Paris, e mais tarde foram à Itália, Inglaterra e outros países.
Chega-se, finalmente, à fase mais gloriosa do grande rei, que temos a honra de hospedar.
O assassinato em Sarajevo do príncipe herdeiro da Áustria, Francisco Ferdinando, e a conseqüente
declaração de guerra da Áustria à Sérvia, incendiaram a Europa. Na noite histórica de 2 para 3 de agosto,
Alberto I, para quem estavam voltadas todas as atenções do mundo, repeliu o ultimatum da Alemanha para consentir a passagem de suas tropas
através do território belga. Era a guerra, que faria aparecer o rei-soldado. Todo o país, formando em torno do soberano, acudiu ao seu apelo. "Um
país que se defende impõe-se ao respeito de todos, é um país que não morre".
Ei-lo entre os seus soldados, que lhe admiravam a coragem, a recusar os insistentes pedidos para
que não se expusesse tão arrojadamente à morte. "Minha pele não vale mais que a vossa. Meu
lugar é na linha de fogo", disse ele, na retirada de Antuérpia.
Inúmeras foram as vezes em que escapou da morte. Em Malines um obus explodiu perto do seu
automóvel, quando lia um comunicado do estado-maior. Certa vez, o chofer - espião a soldo do inimigo - tentou, ao que se diz, desviar o seu
automóvel para as linhas inimigas, sendo morto por um dos ajudantes de ordens.
Está na memória de todos o que foi o papel desse rei durante a guerra. Não houve perigo que o
fizesse recuar, não houve revés, por maior que fosse, que o desanimasse um só instante. Obrigado a retirar-se do seu país, instalando-se com o seu
governo em território estrangeiro, no Havre, Alberto I nunca duvidou do resultado final: "A
Bélgica triunfará".
A 6 de agosto de 1914 assumira o comando das suas tropas, do qual nunca se afastara. Quatro anos
depois, a 15 de novembro de 1918, o rei Alberto, a rainha Elisabeth e os príncipes reais entravam triunfalmente em Bruxelas.
ALBERTO I - O glorioso rei da Bélgica
Foto e legenda publicadas com a matéria
A rainha Elisabeth
A rainha Elisabeth nasceu a 25 de julho de 1876. É filha dos duques de Baviera, Carlos Theodoro,
oculista de grande fama na Europa, e Maria José, descendente do ramo dos Braganças, em Portugal. É, pois,
aparentada, pelo lado materno, com d. Pedro I e II, do Brasil.
A rainha tinha duas irmãs: Sophia, que ela sempre teve ao seu lado, na Bélgica, e Maria Gabriella,
já falecida, casada com o príncipe Ruprecht, herdeiro da Baviera.
Sua avó, Adelaide de Bourbon, ainda é viva, e, desde 13 de junho de 1897, retirou-se ao convento de
Santa Cecília, em Ryde, na ilha de Wight, onde tomou o véu das religiosas.
Fê-la seu pai educar no meio de homens célebres, nos domínios da ciência, das artes e da literatura
e daí o gosto que desde cedo revelou pelas coisas espirituais, sendo hoje, talvez, a soberana mais culta da Europa.
Sendo seu pai médico, habituou-se igualmente, desde a mocidade, com as clínicas e com os hospitais,
não se lhe tornando, pois, difícil o papel, que se impôs, de enfermeira, durante a guerra.
Casou-se a 2 de outubro de 1900 com o rei Alberto, então príncipe herdeiro da coroa. Ambos
obedeceram a uma mútua inclinação de amor e o príncipe muito ganhou no conceito público, por não haver seguido a praxe geralmente adotada nas
famílias reinantes, de se consultar o interesse e não o coração em circunstâncias idênticas.
O seu aparecimento na Bélgica causou geral sensação de agrado pelas suas maneiras simples e
despretensiosas, seu ar sempre alegre e seus raros dotes de inteligência e de coração.
O povo aclamava-a cheio de comoção e entusiasmo, toda vez que a via pelas ruas, a passeio.
Até então nunca se observara ali fenômeno desta natureza: a corte sempre fora fria e vivia
inteiramente isolada do povo. O próprio rei Leopoldo II, cujas faculdades de admiração de há muito se amorteceram, ficou não pouco surpreendido com
o sucesso alcançado pela nora.
Com a vinda da princesa, um sopro de vida nova se fez sentir nos arraiais da literatura, das
ciências e das artes, até então relegados ao desprezo, pois toda a preocupação do rei Leopoldo tendia à realização do projeto, que sempre
acalentara, do imperialismo colonial e da grandeza econômica do reino.
Não lhe sobrava tempo para as cogitações de ordem intelectual e artística e nem se sentia atraído
para esse lado e aqueles que se entregavam à vida do pensamento vegetavam na obscuridade, desamparados de todo o estímulo oficial. Assim ocorreu com
toda aquela geração de escritores notáveis surgida pelos anos de 1880 e dentre os quais se destacam: De Coster, Lemonier, Rodenbach, Verhaeren,
Maeterlinck, Eekhoud, Giraud, Van Lerberghe, Severin, Demolder, Delattre, Krains, Maubel, Courouble, Stiernet, Le Roy, Gilkin, de Wiart, Destrée,
Van den Bossche, Glesener, Virrés, Van Zype, Dumont-Wilden Davignon, Rency e outros mais novos.
A rainha não abandonou os hábitos da casa paterna: em Bruxelas continuou a viver cercada de
intelectuais e a sua residência no palácio italiano da Praça da Indústria, em Bruxelas, constituía o Rombouillet permanente dos artistas,
engenheiros, poetas, críticos etc.
Os jovens príncipes subiram ao trono pelo fim do ano de 1909 e mesmo no exercício das suas funções
reais continuaram a manter relações de intimidade com aqueles sábios, artistas e literatos.
ELISABETH - A santa rainha dos belgas
Foto e legenda publicadas com a matéria
O príncipe Leopoldo
O príncipe Leopoldo Filippe Carlos Alberto Meurad Herbert Maria Miguel, duque de Brabant, é o
primogênito dos reis belgas.
Herdeiro presuntivo do trono, nasceu em 3 de novembro de 1901, em Bruxelas, contando, portanto, 19
anos de idade. Fez os seus estudos a princípio sob a direção de sua mãe, a rainha Elisabeth, e depois do major Mathou, do exército belga.
Em agosto de 1914, quando rebentou a guerra, acompanhando a rainha Elisabeth a Londres, ali
prosseguiu seus estudos no Colégio Etou.
Depois regressou à Bélgica, onde seu pai, o rei Alberto, o alistou no exército, como soldado raso.
Batalhando, no 12º regimento de infantaria, na heróica defesa de Liége, logrou ser condecorado com
a Cruz de Guerra.
Verificando-se a invasão alemã em todo o território belga, seguiu para o front, de onde só
saía para visitar seus pais, então instalados no Havre.
Nas trincheiras sempre foi muito querido pelos soldados, dos quais exigia o tratamento familiar de
"tu" etc.
Segundo afirma o sub-comissário do Pays de Waes, que foi sargento comandante da companhia em
que servia o príncipe Leopoldo, o que mais aborrecia o mesmo era ser tratado por alteza por qualquer dos companheiros. Terminada a guerra, não teve
promoção alguma, como já foi noticiado. Foi elogiado várias vezes após combates renhidos, mas não passou de soldado raso, o que ainda é hoje.
Atualmente estuda para fazer, em dezembro próximo, exame de admissão na Escola Militar.
S. alteza é um esportista fervoroso, dedicando-se a todos os esportes. Conhece-os todos muito bem,
mas os de sua predileção são o futebol e a aviação. Aprecia muito mais a vida do campo do que a da cidade.
Simples no modo de trajar, bastante simpático e procurando sempre palestrar com os que dele se
aproximam, é um tipo querido.
Em viagem no Pays de Waes veio lendo muito sobre coisas do Brasil e se interessando bastante
por tudo quanto viu em Fernando de Noronha, Recife, Olinda, Bahia e entrada do Rio de Janeiro.
É um colecionador cuidadoso de fotografias esportivas, selos, moedas e insetos.
Acompanham-no o tenente barão de Goffinet, que servindo na cavalaria belga durante a guerra, perdeu
um dos olhos, e o comandante major francês Plee, que é seu professor e preceptor.
S. alteza, apesar de viajar incógnito no Pays de Waes, foi alvo de manifestações das
autoridades de Cherburgo, Lisboa, Pernambuco e Bahia.
Após cumprimentar todas essas autoridades, vimo-lo sempre abandonar o salão e procurar os rapazes
sportsmen brasileiros no tombadilho superior.
Gosta muito de tirar fotografias. Durante a viagem bateu inúmeras chapas, inclusive da embaixada
esportiva, de tubarões, jangadas, de um cachorro de propriedade do dr. Soledade etc.
Amigo dos bichos, diariamente dava comida e fazia festas a esse cão.
Sempre vestindo com simplicidade, nunca apareceu com smocking.
Sem enjoar um só dia, andava de terno cáqui, sem colete, durante o dia, e de casimira à noite. Nos
portos, envergava então seu uniforme de soldado do exército belga.
Divertiu-se muito com os nossos rapazes da delegação desportiva, com os quais brincou sempre,
disputando jogos, e presidiu todas as festas realizadas a bordo. Na passagem da linha do Equador deixou-se batizar por um cozinheiro de bordo que
lhe deu um banho na banheira, em presença de todos.
Enfim, é um verdadeiro tipo democrata, despido de vaidades e que se torna querido de todos que com
ele privam.
É senador do reino, porque a lei belga reza que todos os filhos do rei terão esse título ao
atingirem a maioridade, com 18 anos.
PRÍNCIPE LEOPOLDO - O herdeiro presuntivo do trono
Foto e legenda publicadas com a matéria
A condessa de Caraman Chimay
A senhorita condessa Ghislain de Caraman Chimay, dama de honor de sua majestade a rainha Elisabeth,
é filha do falecido príncipe de Chimay, que foi ministro do Exterior da Bélgica, e da falecida princesa de Chimay, descendente da família Montesquio
Fezensac, uma das mais antigas e nobres da França. É irmã do falecido príncipe Pierre de Caraman Chimay, que exerceu o cargo de ministro da Bélgica
na Grécia. Subindo ao trono a atual família real belga, a condessa de Caraman foi chamada para exercer as
nobres funções de dama de honra de s. m. a rainha Elisabeth, posto que tem desempenhado sempre com irrepreensível tato.
A condessa é encantadora pela sua aprimorada educação e notáveis dotes intelectuais, inspirando a
mais respeitosa simpatia.
A família Chimay é portadora do mais antigo título de nobreza da Bélgica.
Em 1486, o condado de Chimay, que existia desde antes do ano mil, foi elevado a principado.
A pequena cidade de Chimay encontra-se ao Sul da Bélgica, próximo da fronteira francesa, na
província de Hainaut. O castelo dos príncipes, situado na mesma cidade, é uma bela propriedade, com cerca de mil hectares de terras cultivadas e com
florestas para a caça privada.
O atual chefe da família reside no próprio castelo, passando sempre o inverno em Paris.
A partida de ss. mm. de S. Paulo e a chegada a Santos
Ss. mm. os reis dos belgas partirão de S. Paulo hoje, às 9 horas, em automóveis, pelo
Caminho do Mar, com destino a Santos, e não às 10 horas, como a princípio foi marcado.
Os augustos hóspedes virão acompanhados, além dos membros de sua comitiva, do sr. dr. Washington
Luís, presidente do Estado, e de sua exma. esposa.
A chegada a esta cidade dar-se-á antes das 11 horas.
A comitiva real
A comitiva real é composta das seguintes pessoas:
Ss. mm. o rei Alberto, a rainha Elisabeth, e s. a. real o príncipe Leopoldo; coronel Tilkens,
ajudante de campo do rei; conde D'Oultremont, major Dujardin, professor dr. Adolpho Lutz, dr. Norif, conde Goffinner, dr. Léo Gerard, secretário do
rei; condessa Caraman Chimay, Jeanne Oghein, dr. Theophil Wandyck, Alexandre Anaer, Joseph Vandare Ecks, dr. Barros Moreira, nosso ministro da
Bélgica; general Tasso Fragoso, chefe do estado maior de s. m.; dr. Washington Luís, presidente do Estado; mme. Washington Luís, tenente-coronel
Eduardo Lejeune, oficial às ordens de s. m.; comandante Plee, professor Saloré, Roberto Schoiedener, ministro da Bélgica no Rio; Charles Le Viennois,
cônsul geral da Bélgica em S. Paulo.
DR. WASHINGTON LUÍS - Presidente do Estado de São Paulo
Foto e legenda publicadas com a matéria
A recepção oficial à entrada da cidade - À hora da chegada, 11 horas, os soberanos belgas e
sua comitiva serão recebidos à entrada da cidade, apenas pelos srs. dr. Benedicto de Moura Ribeiro, presidente da Câmara
Municipal; coronel Joaquim Montenegro, prefeito, e deputado A. Azevedo Júnior, presidente da
Associação Comercial.
Depois de feitas as apresentações e trocados os cumprimentos, ss. mm. e comitiva farão a entrada na
cidade, em direção ao Parque Balneário.
Um piquete de cavalaria, sob o comando do tenente Salvador Pires, prestará aos soberanos as
continências da pragmática.
O trajeto do cortejo real até o Parque Balneário -
Os automóveis conduzindo os reis dos belgas e comitiva obedecerão ao seguinte itinerário: Rua S. Leopoldo, travessa comendador João Cardoso, ruas
Marquês de Herval, S. Bento, Santo Antonio, 15 de Novembro, Praça Barão do Rio Branco, Praça da República, volta pela
mesma praça até a Rua Senador Feijó, Rua Rangel Pestana, Avenida Ana Costa, Parque Balneário Hotel.
***
É conveniente que a população não fique aglomerada, a fim
de não dificultar o trânsito, e mesmo para dar maior realce à passagem do cortejo real.
A população santista, que sempre vibrou de entusiasmo em
festas desta natureza, deve hoje, mais do que as outras vezes, acorrer pressurosa, levando consigo braçadas de flores para serem atiradas à passagem
dos augustos monarcas.
Este ato sintetizará a profunda admiração que nos inspiram
os magnânimos representantes de um povo que se elevou no conceito do mundo civilizado pelo seu alto civismo e pelas suas virtudes.
As bandas de música União Portuguesa e Colonial
Portuguesa associam-se à recepção - Atendendo ao apelo que foi feito às diretorias das bandas de música União Portuguesa e Colonial Portuguesa,
estas filarmônicas tomarão parte na recepção dos reis belgas, abrilhantando, assim, a manifestação.
A apreciada banda Colonial Portuguesa ficará postada na Rua
Santo Antonio, junto à Bolsa Oficial de Café (N. E. - a instituição
foi instituída em 1914, instalada em 1917, e teve seu prédio inaugurado em 1922), e à passagem
dos reais hóspedes executará os hinos nacional e belga.
A excelente banda de música da União Portuguesa ficará
postada no início da Avenida Ana Costa, junto à Praça Belmiro Ribeiro, executando também, à passagem do séquito, os hinos nacional e belga.
As exmas. famílias e povo deverão tomar lugar nesses
pontos, munidos de flores, a fim de atirá-las à carruagem de ss. mm.
É altamente simpático o gesto das respectivas diretorias
dessas duas sociedades, aliando-se a outras instituições, rendendo aos reais hóspedes as suas homenagens.
Guarda de honra será prestada pelo garboso Tiro Naval
- A disciplinada companhia do Tiro Naval formará em homenagem aos soberanos, dando guarda de honra no jardim do Hotel Parque
Balneário, e prestando a ss. mm., à entrada e à saída, as continências de estilo.
Comandará a luzida companhia o 1º tenente da Armada, sr.
Arthur Durão, seu instrutor militar.
Os reservistas e atiradores são convidados a comparecer ao
quartel entre 9,45 e 10 horas, devendo a companhia partir para o Hotel do Parque, impreterivelmente, às 10,30 horas.
Deverão comparecer, também, devidamente uniformizados, os
componentes da banda marcial.
Os reservistas e atiradores encontrarão no quartel, desde
cedo, o material indispensável à limpeza do armamento e instrumental.
A luzida companhia do Tiro n. 11 formará em homenagem a
ss. mm. - A companhia de caçadores do Tiro n. 11 "Nilo Peçanha" formará hoje, em homenagem a ss. mm. os reis da Bélgica, dando assim o seu
apreciável e valioso concurso à recepção que será feita pela população santista aos soberanos belgas.
Tratando-se de homenagear o grande rei Alberto I, que tão
grandes provas de simpatia tem recebido em todo o país, o comando espera que todos os atiradores compareçam à formatura, a fim de por tal forma
prestar o seu concurso à Câmara Municipal, nas festas que está preparando.
A diretoria está certa de que o seu apelo será atendido por
todos os bravos rapazes que representarão, na chegada dos reis, a mocidade de Santos, e que em seu nome prestarão a ss. mm. a homenagem de que são
merecedores.
A solenidade que estava marcada para hoje fica transferida,
por esse motivo, para o próximo domingo.
O Tiro n. 11, devidamente armado, deverá prestar
continências a ss. mm. na Praça da República, por onde deverão passar os soberanos, e na gare, no seu embarque de regresso à capital.
A diretoria pede o comparecimento de todos os reservistas e
atiradores às 9,30 horas, no quartel, impreterivelmente.
A companhia da Escola de Comércio "José Bonifácio" -
Os alunos atiradores que formam a companhia de guerra da Escola de Comércio "José Bonifácio" aderiram também à recepção.
O dr. Adolpho Porchat de Assis, diretor da Escola de
Comércio, pede o comparecimento de todos os alunos, no quartel, pouco antes das 10 horas, para formatura geral.
- A fim de, incorporados, receberem os reis da Bélgica,
devem comparecer, hoje, na Escola, às 10 horas, todos os alunos, tanto do curso secundário como do curso primário, sendo que as alunas devem levar
flores para ofertarem a s. m. a rainha.
- O dr. Adolpho Porchat de Assis, diretor da Escola de
Comércio "José Bonifácio", nomeou os professores srs. Manuel Augusto de Oliveira Alfaya, dr. Valdomiro Silveira e Alexandre Cardoso, para, em
comissão, apresentarem as saudações de boas vindas aos reis da Bélgica, em nome da congregação.
O almoço no Hotel Parque Balneário a ss. mm. - Os
convidados devem comparecer às 11 horas no hotel - No salão de banquetes do Parque Balneário Hotel, realiza-se o almoço que será oferecido a ss.
mm. os reis dos belgas.
Em virtude da antecipação da viagem de suas majestades, o
sr. coronel Joaquim Montenegro, prefeito municipal, roga o comparecimento das autoridades para o almoço, às 11 horas, no Parque Balneário.
O diretor desta folha, sr. M. Nascimento Júnior, recebeu um
convite pessoal para o almoço.
A chegada dos régios visitantes ao Parque Balneário
- A chegada dos soberanos belgas ao Parque Balneário revestir-se-á de todo o brilhantismo.
À entrada de ss. mm., o Tiro Naval dará guarda de honra. A
banda do Corpo de Bombeiros executará o Hino Nacional, acompanhando, depois, os alunos da Escola de Comércio "José Bonifácio", que cantarão a
"Brabançonne".
Deverão achar-se aí todas as autoridades convidadas para o
almoço, a fim de receberem ss. mm.
O traje para a recepção e para o almoço - O traje
recomendável para as autoridades que receberão os augustos hóspedes é o fraque e cartola, o qual será também para o almoço.
A primeira comissão de senhoritas - A primeira
comissão de senhoritas, organizada sob os auspícios da distinta senhorita Cypriana Lodeiro, pede o comparecimento de todas as subscritoras, às 10
horas, na Praça dos Andradas n. 27, para, incorporadas, se dirigirem para a recepção aos soberanos.
A comissão é constituída pelas seguintes senhoritas:
Rosa Caruso, Christina Bombace, Helena Gouvea, Carmen
Caruso, Branca Martins Lima, Doralice Cabral Guedes, Aracelis Franco, Izaura Argelis, Eduarda Santos, Francisca Gouvea, Iracema Nascimento, Iraci
Nascimento, Paulina de Lima, Lucilia Ferreira, Candinha Feio, Eugenia de Carvalho, Zizi Schammas, Carmen Soares, Leocádia Rocha, Edith Santos,
Lauricy Schammas, Alice Vasconcellos, Eduarda Malavazi, Henriqueta Vasconcellos, Eliza Malavazi, Beatriz Alves, Ruth Alngrust, Thereza Tomé,
Deolinda Pinto de Barros, Eetelvino Vasconcellos, Zoraide Giancotti, Arminda Vasconcellos, Annunciata Giaconti, Olivia Firmino, Indiana Mundel,
Maria Theodozio, Mimi Araújo, Abigail Cabral, Maria do Carmo Araújo, Maria Rosa d'Avilla, Ermelinda Rodrigues, Eliza Brandão, Flora Brito Lopes,
Alzira Pinto Barros, Hermínia Ferro, Laura Costa, Helena Franco, Cleópatra Garcia, Maria Amélia França, Ruth Lodeiro, Alzira Ferreira, Maria do
Carmo Soares, Olívia Feio, Hermínia Martins, Maria do Carmo Novaes, Modesta Martins, Maria de Lourdes Novaes, Laura O. Motta, Eulália Rodrigues,
Luzia Alves, Albertina Fernandes, Luzia Caruso, Lifi Schammass, Eliza Lapetina, Alzira Hervelha, Eulógia Nascimento, Eugênia Santiago, Marina
Caldeira, Ignez Rodrigues, Lili Teixeira, Júlia Paulo, Juleta Cruz, Ignez Sollé, Zilda Mattos, Mercedes Azevedo, Philomenina Sposito, Celisa Pereira
Guimarães, Lucília Soares, Sophia Soares, Celeste Azevedo, Stella Figueiredo, Judith da Silva Pinto, Julieta Figueiredo, Slvia Figueiredo, Nina
Lodeiro, Edith Santiago, Irene Baptista, Laura Baptista, Iza Santiago, Odilla Lodeiro e Yollanda Mundel.
A segunda comissão de senhoritas - A segunda
comissão é composta pelas distintas senhoritas: Leonor Doneux, Júlia de Toledo Aguiar, Anna Baccarat, Lili Mendonça e Carminha Novaes.
Aderiram aos propósitos da comissão as seguintes stas.:
Albertina Pinto Novaes, Edenia Mendes, Esther Machado, Baby
Alfaya, Marina Caldeira, Olga Pessoa de Mesquita, Eugenia Santiago, Mercedes Salles, Orayda Salles, Elvira Mendonça, Haydée Pinheiro, Vicentina
Souza, Leonor Mendonça, Maria Rosina Costa, Maria Luíza Cunha, Lucília Graça, Alayde Werner, Zizinha Motta, Mimi Werner, Maria Firmina Costa, Amélia
Cunha, Maria José Costa, Aurora Mendonça, Carmem Aguiar Teixeira, Hilda Cunha, Noêmia Taufério,Hilda Teixeira, Hermínia Cunha, Alice Salles, Doracy
Bellegarde, Ambrosina Salles, Aracy Pinheiro, Elvira de Freitas, Merea Andrade, Adélia Aranha, Sarah Rezende, Alzira Salles, Arylia Barbosa, Ayda
Barbosa, Zuleika Cunha, Anna Cunha, Aurora Mendonça, Maria Assumpção Pessoa, Maria Antonieta Alvim, Zayda Rocha, Enoe Telles de Aguiar, Odette
Amaral, Marinha Bandeira, Maria Francisca Romano, Jesuína Silveira, Lucinda Azevedo, Cilica Azevedo e Evarista Aguiar.
Conforme publicamos, a comissão chefiada pela senhorita
Carminha Novaes, gentilíssima madrinha do Tiro Naval, saudará, em ligeiras palavras, os soberanos belgas.
A entrega do artístico mimo a s. m., a rainha Elisabeth,
será feita pela sta. Jesuína Silveira, graciosa filha do sr. dr. Valdomiro Silveira, a qual saudará os reis, em nome da mulher santista.
Fazem, ainda, parte da comissão, as seguintes senhoras da
nossa elite:
Dd. Zeny de Sá Goulart, Téca de Moraes, Isabel Silveira e
Roma Aguiar.
Um apelo das autoridades municipais - Os srs.
presidente da Câmara e prefeito municipal mandaram imprimir e distribuir profusamente boletins, concitando o povo a receber condignamente os
soberanos.
Esses panfletos estão concebidos nos seguintes termos:
"AO
POVO
"O presidente da Câmara Municipal e o prefeito municipal
convidam a população desta cidade a receber condignamente, como sempre fez, ss. mm., os reis dos belgas, que nos honrarão, amanhã, com sua visita.
Ss. mm. deverão sair de S. Paulo em automóveis amanhã às 10 horas, pelo Caminho do Mar, e devendo ser acompanhadas pelo exmo. sr. presidente do
Estado.
"Santos, 11 de outubro de 1920 - B. de Moura Ribeiro,
presidente da Câmara Municipal; Joaquim Montenegro, prefeito municipal".
As saudações durante a visita de ss. mm. - Por
absoluta falta de tempo, ss. mm. deixam de visitar o Guarujá, por isso que o almoço se realiza no Parque
Balneário Hotel.
A sua permanência nesta cidade é de horas apenas, visto a
imprescindível necessidade que têm de regressar á capital.
Por conseguinte, sabemos que será muito agradável a ss. mm.
abster-se qualquer pessoa de proferir alocuções à sua passagem ou durante a sua parada em algum lugar, de maneira que os régios visitantes se não
vejam forçados a prolongar a sua permanência entre nós.
Haverá, apenas, duas saudações, que serão do sr. prefeito
municipal, oferecendo o almoço, e de s. m., agradecendo.
Um apelo ao comércio de Santos - Em virtude do
grande acontecimento da visita dos soberanos belgas, fazemos um apelo ao honrado comércio de Santos, em geral, para que cerre as portas de seus
estabelecimentos, embandeirando as fachadas.
Assim procedendo, o nosso comércio, que manteve, no período
da guerra, a mais absoluta solidariedade com a Bélgica heróica, cuja causa também esposamos, rende hoje, aos representantes daquele povo sublime e
herói, a sua homenagem de apreço e veneração, facultando, ainda, aos seus empregados, que fazem parte das nossas corporações militares, o
associarem-se à condigna recepção.
Não nos enganamos na aquiescência que terá este apelo, e
estamos absolutamente convictos de que o generoso comércio de Santos virá, coeso e solícito, ao encontro do mesmo.
O sr. Leon Israel oferece à Câmara uma rica limusine
- O sr. Leon Israel, importante negociante nesta praça, num gesto de requintada cortesia, ofereceu à nossa municipalidade, gentilmente,
uma belíssima limusine, completamente nova, tipo moderno e aperfeiçoado, para conduzir os soberanos belgas durante a
sua permanência em Santos.
O sr. coronel Joaquim Montenegro, prefeito municipal,
aceitando o gentil oferecimento, agradeceu ao sr. Leon Israel o seu elevado gesto.
A mulher santista deve cobrir de flores a carruagem de
ss. mm. - A disposição das bandas de música e dos Tiros - Concitamos a mulher santista a comparecer à recepção, realçando, com a sua presença, a
brilhantíssima recepção que está sendo preparada pela população aos reis heróis, levando braçadas de flores para atirá-las à passagem daqueles que,
pelas suas virtudes e pelo seu grande heroísmo, se impuseram ao respeito e à veneração dos seus semelhantes em todo o mundo.
Haja vista a estupenda manifestação que a população carioca
lhes prestou à sua chegada, vibrando de entusiasmo e acotovelando-se nas ruas do seu trajeto até o palácio Guanabara, num frêmito de indizível
júbilo.
É conveniente, não só para facilidade de todos, como para o
realce da recepção, que as nossas famílias não fiquem aglomeradas, procurando um só ponto. Elas devem permanecer em vários lugares, de preferência
onde estejam postadas as bandas de música e as linhas de tiro, para cobrirem de flores, ao som dos hinos nacional e belga, os régios hóspedes.
Damos um resumo das disposições das bandas de música e
linhas de tiro:
- Na Bolsa Oficial de Café ficará postada a Banda Colonial
Portuguesa.
- Na Praça da República, logo após a Praça Barão do Rio
Branco, o Tiro n. 11.
- Na Praça Belmiro Ribeiro (Vila Mathias), a banda União
Portuguesa.
- No Parque Balneário, o Tiro Naval e a Banda do Corpo de
Bombeiros.
- Na estação da Inglesa
(regresso), o Tiro n. 11.
Depois do almoço, no Parque, o itinerário régio -
Depois de findo o almoço, que será oferecido a ss. mm., o real cortejo sairá do Parque, em direção à praia. Daí, seguirão os automóveis pela Avenida
Conselheiro Nébias, até a Rua do Rosário, descendo por essa rua até o cais da Companhia Docas, volta pela Rua General Câmara, até Rua D. Pedro II;
daí sobe até a Rua Amador Bueno, Frei Gaspar, Largo do Rosário, Rua Santo Antonio, Largo Monte Alegre e Estação da Inglesa.
O regresso de ss. mm. - Os reis dos belgas deverão
regressar à capital em trem especial, que partirá da plataforma da Inglesa entre 15 e 16 horas.
Não está definitivamente marcada a hora, mas a partida não
passará das 16 horas, visto como ss. mm. devem estar em S. Paulo o quanto antes, a fim de regressarem ao Rio de Janeiro.
O serviço de policiamento - O serviço de
policiamento, bastante reforçado, será feito por praças de infantaria da Força Pública, as quais se estenderão desde o
Cubatão, obedecendo às ruas itinerantes até o Hotel Parque Balneário.
Dirigirá pessoalmente o serviço o sr. dr. Ibrahim Nobre,
delegado regional, que será auxiliado pelas autoridades e funcionários da Central.
O serviço de veículos, que não poderão trafegar à chegada
dos soberanos pelas ruas do trajeto, será feito pelos inspetores da Polícia Municipal.
O Tiro n. 598 - A disciplinada companhia do Tiro n.
598, "Docas de Santos", salvo resolução de última hora, não tomará parte na recepção, por lhe faltar, segundo informações que obtivemos, a
necessária autorização do general Celestino Bastos, inspetor da região militar.
A respectiva companhia seguirá hoje para S. Paulo, com um
efetivo de 250 homens, conforme temos publicado, realizando na capital uma passeata militar.
Formarão apenas os garbosos Tiro n. 11 e Naval, tão
apreciados pela nossa população.
O Instituto D. Escolástica Rosa
presenteia ss. mm. - Os alunos deste benemérito estabelecimento de ensino profissional, mantido pela Santa Casa de
Misericórdia, oferecerão a ss. mm. um riquíssimo álbum ilustrado com vistas de Santos, composto de pelúcia com cantoneiras de prata. Acompanha
esse álbum um belíssimo estojo forrado de cetim verde.
Esse admirável presente, cujo trabalho foi executado pelos
respectivos alunos, contém dois cartões de prata nos quais se lê:
"Ao
rei dos heróis belgas, s. m. Alberto I
"- Oferece o Instituto D. Escolástica Rosa (Escola
profissional) - Santos, Estado de S. Paulo, Brasil, 1920".
Telegrama expedido pelas igrejas evangélicas - Os
revmos. Bernardino Pereira e Isaac do Valle, das Igrejas Santista e Presbiteriana, expediram ao sr. dr. Max Léo Gerard, secretário de s. m., o
seguinte telegrama:
"Dr.
Léo Gerard - Chácara Carvalho - S. Paulo - Apresentando, em nome das Igrejas Evangélica Santista e Presbiteriana de Santos, sinceras homenagens à
insigne família real, formulamos os votos mais fervorosos para que Deus cubra de bênção ss. mm., o príncipe herdeiro e a gloriosa Bélgica. -
Bernardino Pereira e Isaac do Valle".
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A CONDESSA DE CARAMAN CHIMAY,
dama de honor de s. m. a rainha |
DR. BARROS MOREIRA,
ministro do Brasil em Bruxelas |
Fotos e legendas publicadas com a matéria
Uma jabuticabeira reservada aos soberanos belgas -
RIBEIRÃO PRETO, 11 - Na fazenda Guatapará, dias antes da chegada dos soberanos belgas, reservou-se para ss. mm. e comitiva uma belíssima
jabuticabeira, carregada de deliciosos frutos.
No dia seguinte ao da chegada dos reis, ss. mm., em
companhia dos membros de sua comitiva, saborearam, satisfeitos, a gostosa fruta, elogiando a flora brasileira.
A partida de Guatapará - GUATAPARÁ, 11 - O trem
especial, em que viajam os soberanos belgas e sua comitiva, partiu da estação da fazenda Guatapará às 7,30 horas.
A estação estava repleta, tendo o povo, à hora da partida
do comboio, erguido muitos vivas a suas majestades, à Bélgica e ao Brasil, ao som da "Brabançonne", executada pela charanga da fazenda.
Seguiram em companhia dos soberanos belgas, além de sua
comitiva, os srs. drs. Alves Lima, diretor-presidente da Companhia Guatapará; Fábio Prado e senhora Cícero Prado, e os representantes da Companhia
Paulista.
RINCÃO, 11 - O comboio especial em que viajam os soberanos
belgas e sua comitiva chegou a esta estação às 9.15, tendo saído às 9.22, com destino a S. Carlos, onde chegará às 11 horas.
Por não ser conhecida a passagem de suas majestades, a
estação tinha pouco movimento.
SANTA LUCIA, 11 - O comboio real passou por esta estação
cerca de 8.15 horas, não tendo havido parada aqui.
S. m. o rei Alberto, a rainha e outros membros da comitiva
viajam na frente da máquina, que, ao chegar nas proximidades desta localidade, diminuiu a marcha, recebendo os soberanos, nessa ocasião, uma
entusiástica manifestação das pessoas que os aguardavam na plataforma.
Muitas flores foram atiradas sobre os soberanos belgas.
ARARAQUARA, 11 - O comboio real chegou a esta cidade cerca
de 9.35 horas, sendo os régios visitantes recebidos na gare da Paulista debaixo das maiores manifestações de alegria que se podem imaginar.
Bandas de músicas colocadas na plataforma executaram a "Brabançonne" e o Hino Nacional, enquanto o povo, num entusiasmo delirante, aclamava
ss. mm., a Bélgica e o Brasil.
Aos soberanos, ao príncipe Leopoldo e outros membros da
comitiva foram ofertados, pelas famílias e senhoritas araraquarenses, numerosos ramos de flores naturais.
O trem real deixou a cidade de Araraquara, sob delirantes
vivas, às 9.39, seguindo para a cidade de S. Carlos.
A chegada a S. Paulo - S. PAULO, 11 - De volta de
sua excursão à fazenda Guatapará, para onde seguiram há dias, chegaram hoje, pouco antes das 18 horas, a esta capital, ss. mm. os soberanos belgas,
príncipe Leopoldo e comitiva.
Na estação da Luz, os soberanos foram recebidos por todas
as altas autoridades do Estado e municipais, além de grande massa popular, que há muito tempo se comprimia nas ruas próximas à estação.
- O sr. presidente do Estado recebeu um telegrama do
tenente-coronel Eduardo Lejeune, oficial às ordens de s. m., comunicando que hoje, pela manhã, os soberanos belgas e o príncipe Leopoldo plantaram,
cada um, uma mangueira nas terras da fazenda Guatapará, embarcando, em seguida, com destino a esta capital.
S. PAULO, 11 - De regresso de sua excursão a Guatapará,
chegaram hoje a esta capital ss. mm. os reis belgas e s. a. o príncipe Leopoldo.
Em frente à estação da Luz achavam-se formados o 4º
batalhão de caçadores, sob o comando do major Martim Cruz; tropas da Força Pública, compostas dos 1º e 2º batalhões de infantaria, corpo escola,
cavalaria, etc.; e 3ª bateria do 4º regimento de artilharia montada e muitas comissões regionais de escoteiros.
Aguardavam a chegada do comboio real representantes do
governo e da municipalidade, srs. presidente do Estado e prefeito municipal, além de muitíssimas famílias e pessoas de alto destaque.
O comboio deu entrada na estação da Luz às 17,38 horas,
debaixo de calorosa salva de palmas, tendo a banda da Força Pública executado a "Brabançonne" e o Hino Nacional.
Ao subirem os soberanos belgas as escadarias da estação,
uma pequenita ofereceu à rainha um lindo buquê de flores. A rainha, depois de beijar enternecida a gentil criança, cumprimentou o seu avô, o general
Francisco Pinto.
As bandas militares, à saída do rei, executaram hinos e os
batalhões deram as salvas do estilo. O cortejo obedeceu à seguinte ordem: 1º carro, s. m. o rei, o príncipe e dr. Washington Luís; 27 carro, s. m. a
rainha, sra. Washington Luís e conde D'Outremont. Nos outros carros viajavam os membros da comitiva real e secretários do governo.
O cortejo seguiu diretamente para a Chácara Carvalho. Logo
depois de lá chegados, s. m. a rainha acompanhada da condessa Caraman Chimay e dr. Nols saiu de automóvel, indo pela Avenida Angélica e Avenida
Paulista, até o fim.
Voltando, s. m. e seus companheiros pararam no Belvedere,
onde estiveram por algum tempo admirando a cidade.
Tomando depois novamente o automóvel, s. m. voltou à
Chácara Carvalho, às 18,30 horas. O jantar de ss. mm. realizou-se às 20 horas.
A orquestra Tziganos executou lindas músicas. A rainha
recebeu depois a superiora do Colégio Des Oiseaux.
S. M. a rainha, desejando ouvir o grande violinista Vasa
Prihoda, fê-lo convidar para um concerto que se realizou, às 20 horas, na Chácara Carvalho, sob os maiores aplausos.
- À chegada dos soberanos, muito se sobressaíram os
escoteiros que se acham nesta capital, incorporados aos da cidade. |