O navio-presídio Raul Soares permaneceu no porto por sete meses para abrigar
presos políticos
Foto: Arquivo A Tribuna, publicada com a matéria
HISTÓRIA
Mais de um século de lutas contra ditadurasPortuários fizeram oposição a Getúlio Vargas e aos militares
Da Reportagem
A presença do maior porto do País na cidade também levou
os moradores da região a participar dos principais episódios da história do Brasil e até do mundo. Esse desempenho pode ser comprovado em movimentos
como a Revolução Constitucionalista de 32, quando os paulistas se revoltaram contra o então ditador Getúlio Vargas, lutando pela promulgação de uma
nova constituição, ou durante os protestos durante o regime militar, entre os anos 60 e 80 do
século passado.
Wilma: tudo tem relação
Foto: Ricardo Nogueira, publicada com a matéria
Segundo a historiadora Wilma Therezinha de Andrade, em 1932, o porto ficou bloqueado durante os cerca de 90 dias da Revolução
Constitucionalista. "A Alfândega não funcionou durante três meses". Militantes contrários a Vargas colocavam no cais
minas de explosivos, para evitar que as embarcações governistas chegassem ao porto. "Santos, do ponto de vista portuário, ficou parada, bloqueada.
Toda a Cidade se envolveu".
Outro exemplo ligando o Município com o porto ocorreu em 1946, quando, mais uma vez
criticando governos ditatoriais, os estivadores se recusaram a operar em navios espanhóis. O protesto foi direcionado
contra o regime do General Francisco Franco, que governou a Espanha de 1939 (após chegar ao poder através da Guerra Civil Espanhola) até sua morte,
em 1975.
Ditadura - Porém, a importância da região, pela presença do complexo portuário,
nunca ficou tão evidente como durante a ditadura militar, iniciada com o Golpe de Estado de 31 de março de 1964 e mantida até a abertura política de
1985. Considerada área de segurança nacional, Santos perdeu sua autonomia política (em 1969, quando passou a ter o prefeito indicado pelo Governo
Federal) e teve várias autoridades, sindicalistas e profissionais que ocupavam cargos de destaque em órgãos públicos
encarcerados no próprio cais.
Por não haver espaço suficiente nas cadeias locais para abrigar os presos políticos,
acusados de subversão pela oposição ao Regime Militar que havia deposto o então presidente
João Goulart, foi mandado à região o navio-presídio Raul Soares. Durante sete meses (de 24 de abril a 23 de
outubro de 1969), centenas de pessoas foram assassinadas, torturadas e humilhadas dentro dos porões da embarcação.[ver N.E.]
"Na época da ditadura, Santos tinha já uma tradição de
contestação política. Com a construção do cais, aumenta o número de trabalhadores braçais. Não havia as leis trabalhistas que protegessem os
operários, então eles perceberam que tinham que se unir para defender seus interesses e fazer suas reivindicações. Aqui teve um núcleo muito forte
anarquista e então o Governo passou a considerar a questão operária uma questão de polícia", conta Wilma.
A historiadora lembra que Santos, já conhecida como Cidade
Vermelha, ficou sem autonomia política por 15 anos, durante o regime ditatorial, por conta dos movimentos operários que surgiram no porto. "Tudo
está sempre relacionado com o porto", comentou a professora da Universidade Católica de Santos.
Comprovando as palavras da pesquisadora, foi durante uma visita presidencial ao porto
quando foi anunciada a retomada da autonomia política da Cidade. O episódio ocorreu em 30 de agosto de 1981, quando o então
presidente da República João Baptista Figueiredo, o último do período militar, veio inaugurar o
Terminal de Contêineres (Tecon), na margem esquerda do complexo portuário (em
Guarujá).
Militantes instalaram explosivos no cais para barrar getulistas
Foto: Arquivo A Tribuna, publicada com a matéria
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