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Isto era Santos quando o Clube XV foi fundado -
A fotografia mostra uma visão parcial do centro da cidade e um aspecto do porto
Foto publicada com a matéria
Santos, em 1869, não oferecia muitas comodidades. O abastecimento de água e luz era bem
deficiente. A população servia-se das nascentes dos morros circunvizinhos e dos poucos chafarizes. Os melhoramentos exigidos pela população eram
feitos lentamente, devido às politicalhas da época. Melhoramentos tais como água, luz e gás, apesar de contratados em 1868, ainda esperariam algum
tempo para serem realizados.
Seus limites, recém-demarcados, iam do riacho Caldeirino, conhecido por
rio dos Soldados, à ponta do morro da Penha, fronteando o morro de uma extremidade à outra, até o
mar, ficando compreendidos o mosteiro de São Bento e Santa Casa da Misericórdia e chácara de
d. Angélica Martins Rodrigues e estabelecimento de curtume de Henrique Porchat.
Entretanto, a cidade, pelo seu porto e seu comércio, progredia a olhos vistos. Começava a se
fazer sentir a influência benéfica do funcionamento da estrada de ferro Santos-Jundiaí, servindo de fácil escoadouro a
todas as riquezas da Província.
A perspectiva da breve instalação de uma linha internacional a vapor, com escala em nosso
porto, quando Santos ficaria classificado como uma das principais praças comerciais da América, prognosticava um futuro alvissareiro.
A vida social do pequeno burgo de 9.000 habitantes era doce e mansa. Uma regata na placidez
das águas do estuário, de longe em longe; com menor espaço, alguns bailes e concertos musicais; também as visitas demoradas de companhias dramáticas
ao nosso teatrinho do Largo da Coroação (hoje Praça Mauá). Somente a infernal torridez do
Noroeste e as ameaças de terríveis epidemias perturbavam sobremaneira a pacatez do lugar.
O princípio do ano de 1869 foi marcado por auspicioso fato. A guerra do Paraguai, que há 4
anos sugava a seiva da Nação, chegava praticamente ao seu termo. As notícias da entrada triunfal das tropas aliadas, marchando ao lado de Caxias, em
Assunção, capital paraguaia, foi recebida com imenso júbilo na cidade de Santos, berço de inúmeros combatentes que esbanjaram bravura nos feitos de
Humaitá, Tuiuti, Lomas Valentinas e outros, proporcionando a realização de inúmeros festejos populares e comícios, onde novas idéias eram insinuadas
pelos intelectuais, em meio à vibração patriótica do momento.
Os tempos heróicos
Ao início da vida do XV, chamaremos "Tempos Heróicos", porque realmente o foram..
Atirando-se em luta renhida, procurou conquistar uma posição de relevo dentro das batalhas carnavalescas e nos programas sociais.
O ano de 1870, primeiro do Clube XV, parece não ter registrado qualquer comemoração
carnavalesca. A arrancada final da guerra do Paraguai causava, entre nós, enorme comoção, e dramatizando mais os acontecimentos, Santos é atingida
por nova epidemia de febre amarela, que, de janeiro a agosto, fez 55 vítimas, pondo em sobressalto a população.
O despertar do ano seguinte trouxe, nas proximidades do carnaval, uma incontida ansiedade
popular pela primeira disputa entre a Sociedade Carnavalesca Santista, "dos velhos", e o Clube XV, "dos moços", no qual havia "o entusiasmo do
rapazio, o espírito dos moços, a ideação juvenil".
Era presidente do Clube em 1871 o Vitorino Porchat, santista extremoso e figura querida nas
reuniões festivas. E, sob seu impulso, o Clube XV explodiu finalmente, ao romper da aurora do dia 19 de fevereiro, com a banda de música da
Sociedade executando na sala da sede (Rua Áurea, n. 152) o hino carnavalesco do XV, composto e oferecido pelo maestro Wanckegine. Às 4 horas da
tarde, saiu do mesmo local o préstito carnavalesco. O congresso quinzista postou-se da seguinte forma: 1º - banda de música marcial; 2º - carro com
o estandarte e 4 cavaleiros de guarda; 3º - grupo de máscaras a cavalo; 4º - máscaras em carro; 5º - carro triunfal.
Um fabuloso baile à fantasia, das 9 horas da noite à 1 da manhã, encerrou essa primeira
manifestação.
Da sede provisória da Rua Áurea (General Câmara) lançava-se o XV a uma vida magistral!
Junto do Clube XV, a cidade preparava-se para crescer. Era patente o desenvolvimento da
praça de Santos já em 1871. O mercado de Santos adquiria rapidamente extraordinário movimento, acompanhando assim o desenvolvimento e prosperidade
agrícola e industrial da Província.
A praça de Santos, estabelecendo relações diretas com os grandes mercados consumidores, ia
pouco a pouco saindo da dependência em que se achava para com a praça do Rio de Janeiro.
O despertar de novas idéias e da opinião em muito pôde explicar esse movimento progressista.
Todas as transformações e melhoramentos reais da cidade de Santos ocorreram mais ou menos da época da formação do XV, até o dia de hoje.
O carnaval de 1873 já encontra o Clube XV instalado na sua segunda sede, sala do
palacete de Manoel Joaquim Ferreira Netto, defronte da estação da estrada de ferro. Esse
casarão, que até os nossos tempos serviu de Câmara e Prefeitura, ainda existe, bem ali, no Largo Monte Alegre.
Veio solenizar os festejos desse ano a banda do 1º Batalhão de São Paulo, dirigida pelo
distinto professor Pinto Tavares, que, entre várias peças, executou uma quadrilha dedicada à aurora desse dia, intitulada "Aurora do Clube XV".
Segundo o programa inserto no jornal, as portas do palacete estariam abertas, prontas para
receber o grande número de sócios que viriam revestidos de todo o entusiasmo. Às 4 horas da tarde, tal como fora programado, o estampido produzido
por uma girândola de foguetes anunciou a partida de uma "falange de máscaras com tipos exóticos, caóticos e
estrambóticos, críticos, risonhos e medonhos", para percorrer as ruas da cidade, excitando a curiosidade e provocando
sonoras gargalhadas.
A crônica, deslumbrada, suspirou em folhetim: "Um dia de
carnaval em Santos é digno de ser apreciado!"
Não só ao carnaval se restringia o Clube XV. Senão vejamos: em
setembro do ano que percorremos, foi inaugurada a linha de bondes de burro para a praia da Barra. O
Embaré santista, poético recreio pintado de belas e sombreadas chácaras, com a instalação dessa linha regular, veio a tornar-se local de fácil
acesso àqueles que buscavam a pureza da solidão praiana. Dias depois da inauguração, os sócios do XV, agrupados em 3 bondinhos decorados com as
insígnias da sociedade, e acompanhados da banda da Sociedade Recreio Musical, seguem o melhoramento, deslocando-se para o
Boqueirão, em alegre piquenique.
Noticiando o fato, diz o Diário de Santos: "O Clube XV
se manifesta finalmente. Depois do Les Bavards, o XV promove passeio ao Boqueirão da Barra. O Ferreira, na realidade ajudado pela Companhia
Melhoramentos, foram os que deram o valor à Barra, hoje chamada Recreio Santista.
"É uma lindeza: aprecia-se aquele magnífico passeio ao longo da praia, faz-se meia volta à
direita e entra-se no hotel do Ferreira, joga-se a bola ou as damas, toma-se um grog, ou um refresco, saboreia-se um bom café, pois que o
Ferreira o faz que é mesmo um gostinho, e como nenhum pasteleiro se lembrou ainda de fazer, quem sabe se por esquecimento, mas que o Ferreira a
remediar tudo, se presta, e não raro, não senhores, pois que com 2$000 e pouco mais vai-se à Barra, passeia-se, brinca-se, bebe-se, come-se, toma-se
a excelente moca e distraem-se as paixões; enfim, é uma pândega... Lá encontra-se os animais em que por 3$000 do meio dia à noite, pode-se
estender as gâmbias em galope rasgado..."
Coisas do progresso, que o XV viu e viveu...
Em 1874, ainda não satisfatoriamente instalado, o Clube XV anuncia um encamisado, na noite
de 18 de janeiro, saindo da casa do presidente, o sr. Henrique Ablas, na Rua Áurea.
Os encamisados eram uma espécie de patuscada pré-carnavalesca; uma diversão popular,
mascarada e grotesca, em que os homens se disfarçavam em grande camisa (tipo de albornoz).
Não registra a imprensa a saída real desse encamisado, nem de festanças nos três dias
costumeiros, no ano de 74. A única explicação plausível é a terrível epidemia de bexiga (varíola) que se alastrou pela cidade, carregando
sinistramente para a morte, tantos e bons santistas. Entre as perdas lamentadas estavam o magnífico Xavier da Silveira e o jovem Vitorino Porchat.
A par disso, dois acontecimentos vieram marcar a vida do clube: a formação da Communa XV (Communa
- Bras. Grupo de Indivíduos que habitualmente se congregam para pândegas), reforçando suas hostes, e a organização, por moços do XV, de um grupo
dramático - Bohemia Santista - para o aprimoramento da cultura.
Em 1875, a rivalidade entre o XV e a velha Carnavalesca volta de forma mais acirrada. O
encamisado da noite de 19 de janeiro, quando tipos cômicos armados de archotes desfilaram pela cidade, alcançou estrepitoso sucesso. O XV prometia
uma luta homérica pela primazia, no carnaval que se aproximava.
Servindo de testemunho, e tão pitoresco como o próprio jornalismo da época, é este versinho
saído no Diário de Santos de 27 de janeiro de 1875, endereçado ao XV:
Que bom! Ouço dizer,
Que a cousa há de ser boa,
Que o CLUB tomou fumaça
E bem alto mostra a proa
A luta vai ser ferida...
Oh! Que luta gigantesca!
Com força provoca o CLUB
A altiva CARNAVALESCA.
A luva não jaz no chão...
Oh! quem foi que a levantou!
Coragem! a luta é nobre
Veremos quem triunphou.
O Bavard.
A resposta a esta ironia não tarda. Vem no dia seguinte:
Ao poetaço Bavard:
Do que ri-se grão-pateta?
De que pretende zombar?
Quer pagode e faz fosquinha?
Ora bolas, vá bugiar!
O CLUB tem seu programa
E por certo há de brilhar
Não precisa que - beócios
Lhe venham hoje atiçar
Promete que há de vencer
Com glória cavalheiresca
Não teme qualquer rival
Nem mesmo a CARNAVALESCA.
Um do Club (XV)
E veio o Carnaval. O Clube XV saiu armado de frutos, confeitos, estalos e bisnagas. Da
direção do Congresso estavam encarregados os srs. João da Luz Pimenta e Henrique Ablas.
À frente do desfile seguia um carro com estandarte, acompanhado de uma luzida guarda de
honra composta de 15 fifers. Dando seqüência, rompiam em alarde diversos grupos de máscaras, em carro e a cavalo, e mais um grupo de 15
atiradores franceses. Encerrando o congresso, desfilou o majestoso carro triunfal, representando com vivas cores O Sonho de Mahomet.
Todas as sociedades capricharam, mas o XV recebeu a palma da vitória. Seu congresso teve o
maior número de figurantes, todos luxuosamente fantasiados. Segundo a crônica, foi o "Rei do Carnaval de 1875".
À noite, no palacete da nova sede, à Rua Itororó n. 25, onde ficariam instalados por alguns
anos, com a presença da Sociedade Musical Lyra Paulistana, deram início ao grandioso baile. O salão nadava em luz, embriagador...
Os festejos carnavalescos eram qualquer coisa de especial. Em Santos, como em bem poucos
lugares, era solenizado com fino gosto e riqueza - coretos, bandeiras, arcos triunfais iluminados a gás e outros encantamentos: uma folia
aristocratizada!
Os estandartes das sociedades - os estandartes auriflamantes, os altivos pendões guerreiros
engrinaldados de coroas de louros, inflavam de orgulho à frente dos congressos. Os carros triunfais, ricamente preparados, e maravilhosamente
concebidos, passavam entre ovações frementes, as críticas finas e caprichosamente arranjadas - as críticas brincalhonas e inofensivas davam um
tic especial às festas de Momo.
Outras sociedades surgiram para digladiar com o XV, ajuntando-se à Carnavalesca e ao Bavards.
Assim, organizam-se os Parasitas de Luneta, em 1875, e os Tenentes do Diabo, em 1876. Mas, a sorte do XV já estava selada: o porvir
era risonho...
Os encamisados e os festins de Momo do Clube XV, para 1876, deixaram marcas na vida social
santista. Mais do que as nossas palavras, para documentarmos o fato, são as do folhetinista Mário (dr. José Emílio Ribeiro de Campos), nas
Prosas Domingueiras do Diário de Santos:
"CARNAVAL - O XV - ...Os espíritos ardentes que há tempos que
não se lembram mais, impelidos por hercúlea força, arredando-se dos seus, em número de 15, constituíram-se com autonomia própria, e desde este
tempo, não toleram que outros adiante penetrassem na arena do progresso... O Club XV não respira nobreza; o elemento popular, se bem que em volta de
alguns contrários, predomina, e a união e fraternidade que ultimamente liga aos sócios, faz com que haja recursos para tudo e não se deixe vencer a
caprichosa sociedade...
XV e Carnavalesca - "as duas rivais de hoje, irmãs queridas de outrora".
Presidia o Clube XV, em 1876, o cidadão Henrique Porchat, depois ardente chefe republicano.
Para se dar uma idéia completa das lutas carnavalescas de outrora, recorremos ainda às velhas memórias deixadas na imprensa citadina. Esta é de
1886:
"Noutros tempos, o sábado, véspera do 1º dia da loucura, era um
dia em que poucos se incomodavam com seus afazeres para só tratarem de carnaval. Via-se sujeitos a andarem apressados pela Rua Direita (hoje XV de
Novembro), chapéu na coroa da cabeça, esbaforidos, a entrarem e sair das lojas do Constantino Aguiar, mme. Camille Barrière, Flor de Maio, a
comprarem os cetins, as sedas, as plumas, as lantejoulas, para dar a última demão na fantasia que devia no dia seguinte fazer furor, embasbacar a
meio mundo...
"- Ora você já viu o diabo? dizia um da Carnavalesca, encontrando-se com outro - aquele
figurino -, o da minha fantasia me desapareceu, sem que eu saiba onde para. E o mais bonito é que a roupa não está acabada, e a costureira está em
papos de aranha, sem saber o que fazer! Estou muito desconfiado que aqui anda coisa, e que o meu figurino a esta hora está nas mãos de algum XV, que
o apresentará amanhã na rua. Ah, mas se isso aconteceu!...
"- Ó Porchat, diz um do XV ao seu presidente, o Behn manda-te dizer que é preciso telegrafar
para São Paulo pedindo aquilo que falta para o carro triunfal.
"Estamos no domingo gordo, principiam as festas. As ruas Direita e de Santo Antônio (hoje do
Comércio) ostentam garbosas os seus arcos de gás, nos quais balouçam com a aragem uns galhardetes de cores variadas. Na frente do palacete da
Carnavalesca o dr. Cunha Moreira acha-se a arranjar o carro triunfal.
"De repente ouve-se lá para os lados do Itororó uma foguetaria enorme, atacada pelo seu
Benedito fogueteiro. É o grupo da Communa do CLUB XV que sai a cavalo de um armazém e dirige-se ao seu palacete..."
O ponto escolhido para o encontro das sociedades era o Largo do Carmo,
e aí, entre entusiásticos vivas, cruzavam-se os estandartes em sinal de união e concórdia.
E terminava o redator...
"Não temos mais estes carnavais... É pena".
Em 1877, o XV já se firmara definitivamente como a grande sociedade carnavalesca, pondo o
povo em delírio durante o tríduo momístico. Terminando os festejos desse ano, por razões que desconhecemos, ocorre dentro do XV uma dissidência, que
ocasiona a formação de um Club XV Carnavalesco, que a 24 de maio anuncia reunião em casa de um diretor na Rua Septentrional n. 21. No mesmo jornal -
Diário de Santos - vem uma ressalva do autêntico Clube XV. Até 1879 ainda subsistiu funcionando na Rua Septentrional essa ala rebelde, quando
desapareceu dentro da sua inconsistência.
Cumpre registrar que o ano de 1877 foi o canto-do-cisne da velha "Carnavalesca Santista", a
pioneira, de onde se originou o XV. Talvez o seu desaparecimento tenha levado também o entusiasmo e o interesse dos quinzistas, que se colocaram à
margem das lutas carnavalescas por longos anos, a partir desta data.
Começa então o XV a firmar-se como sociedade recreativa e dançante. No seu décimo ano de
vida já possuía uma pequena biblioteca, uma sociedade de música e também princípios de um teatrinho. Os bailes de aniversário do Clube XV, páginas
de ouro do calendário social de Santos, de ontem e de hoje, tiveram seu marco inicial e oficial a partir de 1879. Sempre disputadas foram também as
partidas (reuniões de pessoas para se divertirem) mensais oferecidas aos sócios.
O XV, abandonando os congressos carnavalescos, limitou-se a dar durante o reinado de Momo
esplêndidos e suntuosos bailes. Neles, os pares rodopiando ao som das valsas e quadrilhas, que obedeciam à batuta do maestro Luiz Arlindo da
Trindade, transformavam o salão num fascinante quadro, encharcado de cores e sons.
Outra reunião de muito agrado aos quinzistas era o "assustado". Essa palavra "assustado"
(gíria aqui da terra) queria dizer uma soirée arranjada às pressas, sem convite com os quinze dias convencionais de antecedência, de repente.
No carnaval de 1883, prometera o Clube XV voltar ao campo da folia. Tal não se deu. E,
durante a algazarra momesca, a Sociedade Carnavalesca Meteoros desfilou, entre seus carros, um que aludia ironicamente à ausência do XV.
A imprensa justificou a velha sociedade, noticiando: "O XV deu
um baile no sábado e um assustado na segunda. Os sócios do XV resolveram aplicar uma quantia destinada aos folguedos momescos à libertação de
2 escravos, e na noite do assustado fez-se a entrega das respectivas cartas de alforria. E aqui está como o XV respondeu à piada dos
Meteoros. Sejamos francos, lavraram um tento; quem está morto não faz ações daquelas".
Realmente, o Clube XV reunia em seu seio uma plêiade de sinceros e abnegados liberais, as
idéias abolicionistas e republicanas encontravam eco entre os jovens e velhos que no Clube se reuniam. Nas salas do XV os homens discutiam
longamente esses assuntos políticos que traziam a opinião pública apaixonada.
A cidade de Santos, a terra da liberdade, tem nessas duas esplêndidas páginas cívicas
nacionais uma portentosa participação. Os grandes vultos santistas nestas campanhas, muitos deles sócios ou da direção do Clube XV, ligaram,
portanto, a tradicional sociedade a estes acontecimentos.
Em março de 1886, a famosa Sociedade Emancipadora 27 de Fevereiro promove a libertação final
dos escravos da comarca de Santos, aliás, dos poucos que ainda restavam. A notícia corria entre as grandes fazendas do interior paulista, e até de
outros Estados, provocando fugas em massa de escravizados que se dirigiam para o "pavilhão livre da cidade de Santos", a nova terra da promissão.
Tudo isso provocou a intervenção de forças policiais, que encontraram a população sempre pronta a combatê-las.
Alguns escravocratas, contudo, voltaram a adquirir escravos, o que provocou nova reação. E,
a 30 de março de 1887, o articulista do Diário de Santos exultava:
"EMANCIPAÇÃO EM SANTOS - A comissão nomeada pelo Clube XV,
composta dos cidadãos Francisco Martins dos Santos Jr., Júlio Conceição e Affonso Aguiar, para atender o apelo da Sociedade Abolicionista 27 de
Fevereiro, em prol da libertação dos escravos deste município, saiu-se galharda e patrioticamente do empenho que lhe foi confiado, segundo se vê do
ofício infra-transcrito.
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"Não há o que duvidar: Santos é o coração da Província. Amanhã poderemos afirmar, sem que por
isso ninguém pretenda ser barão ou comendador, a vaidade mais consoladora e incitativa dos mais nobres entusiasmos: - em Santos todos são livres.
Parabéns ao Clube XV!"
Personagens como Francisco Martins dos Santos, Fernandes Pacheco, Júlio Conceição, Affonso
Aguiar, major Xavier Pinheiro, Henrique Porchat, Ricardo Pinto de Oliveira, e outros, estão enquadrados na galeria dos fastos santistas e nos do
Clube XV.
Desde agosto de 1883, o XV tinha residência no sobrado n. 68 da Rua General Câmara, mais ou
menos entre as ruas Senador Feijó e Martim Afonso. Um magnífico salão de baile; sala de bilhar; salas para jogos; uma para leitura e biblioteca,
além de outras dependências necessárias, melhor colocavam o Clube para acolher os seus aficcionados. Aos sábados realizavam-se ensaios de danças
para meninas.
Nunca é demais lembrar um baile, e outro, e mais outro. Principalmente os do Clube XV. É
sonhar em colorido!
O do 15º aniversário, esperado e ansiado, como todos, foi de um brilhantismo inexcedível. Às
10 horas da noite rompeu o baile com a orquestra de Luiz Arlindo executando a quadrilha "Aurora do XV", que muito realce deu à festa pelas
suas velhas tradições. Do inspirado músico, Avelino Braziliense, foi tocada e aplaudida a polca comemorativa denominada "O 15º Aniversário".
E, como quase sempre acontecia, foi impressa e distribuída uma poliantéia especial com o nome do Clube. Às 4 da madrugada, a fervilhança da festa
cessava; ao apagar a profusão de luzes, um suave e delicioso cansaço levava embora os dançarinos que saíam desejando ardentemente... outra!
De tal importância eram revestidos estes acontecimentos que a Companhia da atriz Apollonia,
recém-chegada da Corte, e com espetáculo marcado para o dia do aniversário, viu-se na obrigação de anunciar pela imprensa a antecipação do drama "A
Filha Única" para o dia anterior, dedicando a representação em honra e glória do velho XV.
A fama do XV ultrapassava os limites da Santópolis. Forasteiros afluíam às festas do
XV a constatarem o dito. Olavo Bilac, aquele que "ouvia estrelas", então redator da Vida Semanária, em São Paulo, deslocou-se para Santos, no
dia 12 de junho de 1887, especialmente para assistir ao baile. A imprensa desta terra registrou o fato, e o poeta marcou esta passagem em sua
irrequieta vida.
O Clube XV assiste em 1888 à realização de um ideal que abraçara - a
Abolição. No ano que se segue, sente-se no ar a breve derrocada da monarquia. E o engraçado é que, em pleno delírio republicano de que todos
participavam, estava na presidência do Clube o Antônio Carlos da Silva, que viveu e morreu como o mais ferrenho monarquista.
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