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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - Clubes
Clube XV (2-c)

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Ao completar seu centenário, o Clube XV teve sua história publicada em quatro páginas do primeiro caderno do jornal santista A Tribuna, em 12 de junho de 1969:
 
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Os fundadores

1) Adolfo Millon - Adolfo Augusto Millon nasceu na velha Ubatuba, em 29 de junho de 1851. Foram seus pais os súditos franceses Pierre Millon e Aimée Louise Millon, que na segunda metade do século passado (N.E.: século XIX) fixaram residência em Santos, onde estabeleceram um hotel, na Rua Septentrional da matriz. O Hotel Millon encerrou seu funcionamento em 1871. Esse hotel dirigido com esmero por mme. Millon, que enviuvara em 1865, ficou fixado em livro, pela memória do visconde de Taunay, que nesse ano aí se hospedara.

Dez anos depois, a viúva Millon adquire o Hotel da Europa, à Rua de Santo Antônio, esquina da de José Ricardo, que manteve até quase o final do século, justificando sempre a fama de excelente estabelecimento, no gênero.

Adolfo Millon trabalhou muito jovem ainda na casa comercial de João José Barbosa Júnior, entrando depois para o funcionalismo público. Rapaz alegre e de boas relações, em 1868 secretariava a Sociedade de Dança Juventude Santista, e pertenceu ao grupo da S. Dramática "Os Valetes de Copas", como sócio e ator, e que reunia a boa rapaziada dos idos de 1870.

Casou-se com d. Serafina Eugênia Pinto Millon.

Subdelegado em 1894, e no mesmo ano nomeado capitão da Guarda Nacional; juiz de paz em 1899; e, por último, funcionário da Recebedoria de Rendas, cargo que exercia quando faleceu em 1922, e ao qual honrou, como em tudo quanto esteve, com seu labor e firmeza de caráter.

Não se esquecerá por fim da sua dedicação à Associação Feminina Santista - o Lyceu - da qual foi benemérito.


Cap. Adolfo Millon - fundador
Foto publicada com a matéria

2) Alferes Alberto Otávio Bittencourt - Nascido cerca de 1850, era filho do comendador tenente-coronel Manoel Antônio Bittencourt, personagem de nome na política paulista, em meios do século passado (N.E.: século XIX), e dono de importante casa comissária, em Santos.

Moço nascido em berço de ouro, aos 30 anos ainda se encontrava solteiro, trabalhando no comércio. Mesmo à custa de meticulosa pesquisa, não mais o pudemos localizar a partir de certa data.

3) Antônio Alves da Silva - Santista, nascido em 1849, sendo seus pais o capitão Francisco Alves da Silva e d. Francisca Bárbara Ferreira da Silva, irmão portanto do famoso cônego Luís Alves e do venerando inspetor da Alfândega, o major Francisco Alves da Silva, e cunhado de Bernardino Bernardes Pereira, outro fundador, de quem trataremos.

Casado com d. Rita Amália Ferreira Alves. Foi negociante por muitos anos, ocupando-se, nas horas de folgança, do seu Clube XV, do qual foi conselheiro na primeira diretoria; e exercendo cargos na Sociedade Dramática "Fraternidade Santista", em 1871 e, em 1877, como presidente da carnavalesca "Parasitas de Luneta". A morte cortou-lhe os planos, no começo de uma vida risonha, em 1883.

4) Antônio Freire Henriques - O mais velho do grupo fundador, pois era santista de 1827. Filho do guarda-mor do mesmo nome, e de d. Joaquina Amália Freire. Em 1867 casou-se com dona Ana Carolina Ribeiro. Foi empregado público; depois guarda-livros, e em 1886 já ocupava o cargo de tesoureiro do Banco Mercantil, que exerceu até abril de 1902, quando faleceu.

O tenente Antônio Freire Rodrigues, o Freire do Banco, como era vulgarmente conhecido, era irmão do velho solicitador de auditórios, major Pacífico Freire, e ligou-se a diversas famílias santistas. Pelo casamento de sua irmã Inácia Amália com Francisco Xaviera da Silveira Jr., ligou-se à família do malogrado poeta Joaquim Xavier da Silveira. E pelo consórcio de sua sobrinha Inácia Freire da Silveira com o histórico santista Ricardo Pinto Oliveira, está entre os ascendentes do atual 1º secretário do XV, Ricardo Pinto Jr.


Antônio de Pinho Brandão - fundador
Foto publicada com a matéria

5) Antônio de Pinho Brandão - Nasceu em 1847, em Arouca, distrito de Aveiro, Portugal. Aqui foi negociante com armazém de secos e molhados na Rua 25 de Março, hoje Quinze de Novembro. Estabeleceu-se mais tarde no comércio de atacado.

Cidadão prestante, tornou-se membro de projeção na sociedade santense, e na colônia portuguesa. Em 1883 era presidente da Beneficência Portuguesa. Casou-se com dona Emília Pereira dos Santos, irmã do capitão João Antônio, 1º presidente do Clube XV.

Em 27 de fevereiro de 1907, na sua casa da Rua General Câmara, dormiu a morte, o Antônio de Pinho Brandão.

6) Benedito Aires da Silva - Era natural desta cidade, onde nasceu em 1842. Filho do capitão João Aires da Silva e de d. Francisca de Paula. Aos 23 anos contraiu matrimônio com dona Eulália Avelino Ferreira, sua dedicada companheira até a morte. Benedito Aires da Silva faleceu em abril de 1900.

Empregado público; homem de gênio retraído e modesto, entre o carnaval e a vida religiosa das confrarias, das quais era irmão, dividia seu tempo disposto.

Na época da fundação do XV era agente da Mesa de Rendas. Em 1868, fundou com Antônio Martins Fontes e outros, uma sociedade de moços de diferentes profissões, com o fim de socorrerem-se mutuamente, em caso de necessidade, de nome Sociedade Esperança e Igualdade - que pouco durou. Foi, enfim, da diretoria de 1878 "Carnavalesca Santista", pouco antes dessa se extinguir.

7) Bernardino Bernardes Pereira - Outro santista, filho de Antônio Bernardes Pereira e de d. Ana Maria da Encarnação, nascido em 30 de dezembro de 1848.

Casou-se em 1873 com dona Maria Angélica Alves da Silva, ligando-se à família de Antônio Alves da Silva, também do grupo fundador. Secretário interino do XV em 1871, pouco pôde dar de si a muitos. A existência lhe foi cortada aos 27 anos de idade.

8) Bernardo Martins dos Santos - Filho do respeitável comendador Martins e de sua mulher dona Carolina Mariana dos Santos, aqui nasceu em 8 de novembro de 1847. Era irmão de Américo Martins e do tenente-coronel Francisco Martins dos Santos, gente de peso na vida política e social da cidade. Faleceu em 1879.

9) Eugênio de Oliveira - Aqui nasceu em 22 de novembro de 1846, filho de dona Maria Bárbara, esse pitoresco personagem de antanho. Na Rua XV de Novembro, marcou época o seu finíssimo estabelecimento, onde se encontravam os melhores e mais variados artigos da última moda. De tempos em tempos, o excêntrico Eugênio, de malas em punho, largava-se para a Europa, trazendo na volta profusas novidades.

Foi ele quem introduziu em Santos, para pasmo geral, um produto que na Europa começava a ser consumido em larga escala. Aqui vai reproduzida, como curiosidade, essa inovação do Eugênio, "o homem que no seu armarinho vende amas de leite".

Desse tipo esquisitão, pernóstico, mas popular, vem falar por nós um cronista do Diário de Santos, que lhe traçou em 1898 um perfil relâmpago:

"É santista mas tem hábito de europeu. Paris é seu fraco. Negociante de fina têmpera, no gosto e na música, porque diante do freguês canta e entoa. Quando não está no seu elegante estabelecimento, está em Paris, para onde vai e volta com a mesma facilidade com que o diabo esfrega os olhos. Desconfio que foi mais vezes à capital francesa do que a São Vicente, no que aliás, a ser exata a presunção, não procedeu mal. Santos deve-lhe - além da introdução de muitos objetos de arte - a derrama d'uma praga muito suportável: os confetti.

"E o homem da moda e tão da moda que agora a sua casa parece um velódromo, em dia de carnaval - Bicyclettes em penca, com todos os seus acessórios, de mistura com confetti, serpentinas etc. Ainda não vi o meu biografado jogar confetti, mas se o fizer com a mesma graça com que anda de Bicyclette, desconfio que pode limpar as mãos à parede! Enganei-me: é um ciclysta muito garboso, d'um talento enorme para sair sobre suas barbas diante das moças da Rua 7 de Setembro.

"Nota histórica: foi a alma viva dos Parasitas de Luneta e a alma danada da Alfândega em São Paulo. Nota da Atualidade: estando na porta o Carnaval, é certo que o negociante está em casa. Também, sem ele, eu não sei o que seria a Rua 15 por este tempo. Momo que o abençoe!"

Eugênio Francisco de Oliveira faleceu solteiro, em 5 de agosto de 1916.


Isaías Mariano de Andrade - fundador
Foto publicada com a matéria

10) Isaías Marinho de Andrade - Era natural de Itanhaém, onde nasceu em 1849. Filho de Manoel Bento de Andrade e sua mulher d. Mariana Augusta de Andrade. Contava entre seus irmãos as figuras do cel. Narciso de Andrade, personalidade da política e do jornalismo santista, e Sérgio Belmiro de Andrade, co-fundador do Clube XV.

Foi durante muitos anos conceituado negociante nesta praça, com a loja de fazendas "Primeiro de Maio", na rua Visconde do Rio Branco n. 45, em frente à antiga igreja matriz.

Casado com d. Benedita de Menezes Forjaz, filha do comendador Teodoro de Menezes Forjaz, a ventura ao lado da companheira e dos pequenos filhos pouco durou a Isaías, que faleceu moço, aos 30 de dezembro de 1884.

11) João da Luz Pimenta - Santista. Filho de Manoel José Pimenta e de d. Bárbara Angélica da Costa Aguiar, nasceu em 1836. Casou-se em 1868 com d. Cândida Maria Botelho. Pelo casamento de sua irmã Carlota, com o comendador Manoel José Martins Patusca, ligou-se a essa tradicional família.

Em 1868 era tesoureiro da "Carnavalesca Santista", o tronco do Clube XV. Vice-presidente em 1877. Quando da fundação do XV era negociante estabelecido com tipografia à Rua Septentrional n. 21. Nomeado despachante geral da Alfândega, veio a falecer neste cargo aos 30 de março de 1880.

12) João Moreira de Sampaio - Santista. Filho de Antônio Moreira de Sampaio e de dona Maria Teodora das Dores Sampaio. Nascido em 29 de outubro de 1948 (N.E.: SIC - deve ser 1848), veio a constituir matrimônio em 1874 com dona Filipina Corrêa de Vasconcelos.

Na Alfândega de Santos, ocupou o cargo de conferente nas capatazias. Do Clube XV foi tesoureiro, na diretoria eleita em 1873. Curiosamente, esse cargo é hoje ocupado com proficiência pelo seu neto, do mesmo nome.

Cioso do direito de liberdade dos homens, abraçou a causa abolicionista, dedicando-se a ela por intermédio da "Sociedade Dramática Particular Libertadora", agremiação fundada em 1870. Sua vida, breve, findou-se em 6 de julho de 1877.

13) Joaquim Otaviano da Silva -  Santista da gema, nasceu em julho de 1842. Filho do capitão José Joaquim da Silva e de dona Maria Leodora da Silva. Descendia de antiga família de músicos santistas, pois era neto do velho maestro Manoel Joaquim da Trindade, pelo lado paterno. Foi negociante nesta praça, com loja de armarinho.

Retirando-se de Santos, veio a falecer em fevereiro de 1895, na cidade de Taubaté. Sua ausência nas lides quinzistas foi contudo preenchida pelo amor que dedicaram ao XV, o seu irmão Geraldino Silva, o conhecido "Quebradinho", e seus primos Antônio Carlos da Silva, o "pai do Clube XV", e Amaro, Henrique Paulo e Jeremias Profeta da Trindade, que regeram sua vida musical.

14) José Marques de Carvalho - Nasceu nesta cidade a 2 de setembro de 1840. Foram seus pais Manoel Marques de Carvalho e dona Delfina Maria da Costa. Exerceu o cargo de despachante da Alfândega e, mais tarde, intermediário de negócios, nesta praça.

Solteirão, de espírito alegre e boêmio, o Juca Marques serviu à direção de diversas sociedades. Afora o Clube XV, do qual foi secretário da diretoria de 1874 e de 1880, pertenceu novamente à "Carnavalesca Santista"; aos "Parasitas de Luneta" e aos "Galopins Carnavalescos". Outra faceta de sua personalidade era a prática da caridade, sem alarde, satisfeito no silêncio de si mesmo. Faleceu aos 60 anos, em dezembro de 1900.


Raimundo Corvello - fundador
Foto publicada com a matéria

15) Raimundo Gonçalves Corvello - Nasceu em Angra do Heroísmo, Ilha Terceira, arquipélago dos Açores, no ano de 1849. Era filho de João Gonçalves Corvello e Luzia Corvello. A família Corvello veio para Santos por volta de 1855, estabelecendo-se com loja de fazendas e armarinho.

A casa Corvello & Filho ficava inicialmente na Rua Septentrional n. 20. Sucedendo ao pai e, depois, liquidando a firma, estabeleceu-se no Largo do Carmo com um armazém, negociando também com bilhetes lotéricos. No mesmo largo, montou depois o chalé denominado "Casa da Fortuna", especializado em loterias.

A "Casa da Fortuna" rivalizava com o "Chalet Goitacaz", de boa fama, na época. Em seus anúncios, o Corvello chamava a atenção do povo para a sorte do seu negócio, que também vendia prêmios:

Não pense o Goitacaz,
que é o único feliz:
quem tem cara, tem nariz...
Não pense o Goitacaz!
E se a conta pouco faz
segundo o que o povo diz,
Não pense o Goitacaz
que é o único feliz.

Em 1887 fechou a casa lotérica, voltando ao ramo de secos e molhados. Nesse vaivém, Raimundo Corvello novamente estabeleceria um "chalet" - "Chalet Natal" - de loterias, e por último, uma charutaria na Rua XV.

Dentro de sua agitação, foi ainda do Conselho de Intendência, e, entre muitas outras obras, beneficiou a biquinha do Itororó; foi empreiteiro da arborização das ruas e praças da Cidade; pertenceu à sociedade que fundou o Teatro Guarani, à antiga S. Musical Luso-Brasileira, e outras.

De gosto aprimorado e culto, Raimundo sempre incentivou o teatro e as letras. Representante de várias editoras e de livrarias da corte, abriu em 1882 o Gabinete de Leitura Luso-Brasileiro, que passou depois para as mãos de seu pai, João Corvello, que em pouco tempo viu-se forçado a cerrar as portas, dado o escasso número de sócios.

Foi em 1883 arrendatário do Teatro Guarani, o qual dispunha gratuitamente para a realização de espetáculos e concertos destinados a alforriar escravos. Era o Corvello um abolicionista de truz, e entusiasmado membro da "Emancipadora 27 de Fevereiro".

Casou-se em janeiro de 1874 com dona Clementina Amélia Airam Martins, filha de José Joaquim de Souza Airam Martins, vice-cônsul português e um dos fundadores da nossa Beneficência Portuguesa.

Tornou-se cidadão brasileiro por ocasião da chamada "Grande Naturalização", em 1891. Raimundo Corvello veio a falecer em 3 de junho de 1909.

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Além do grupo inicial - "os XV" -, são considerados como instaladores do clube mais estes cidadãos: Antônio José da Silva Campelo, Benedito Narciso do Amparo Sobrinho, Domingos Ferreira de Paiva, João Antônio Pereira dos Santos, João Carlos Behn, José Evaristo Bittencourt, José Rodrigues Machado, José Martins dos Santos Serra Jr., José Moreira de Sampaio, José Teixeira da Silva Braga Jr., Júlio Backheuser, Luís José Ferreira, Manoel Antônio Machado Neto, Manoel de Mesquita Barros, Sebastião Lorena, Sérgio Belmiro de Andrade e Zeferino Barbosa.

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O quadro da fundação, cena perdida na voragem do tempo, transporta-nos para a cidade brazcubana de antanho, pequenina e já desfeita... Apraz-nos a tentativa de rabiscar um esboço de saudade.


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