Teatros santistas
Não conseguimos apurar, com absoluta segurança, qual teria sido o primeiro teatro de Santos. Pelos
elementos encontrados, acredita-se que o primeiro teatro tenha sido aquele localizado na Rua do Campos, depois conhecida
como Beco do Teatro, e hoje Rua Riachuelo. O Teatro ficava na esquina com o Largo da Coroação, hoje
Praça Visconde de Mauá. O prédio, onde funcionava o teatro, pertencia à Santa Casa da Misericórdia
de Santos, cujo hospital havia funcionado nesse local anteriormente, e que por isso era conhecido como Hospital Velho.
A 12 de novembro de 1859 a Santa Casa vendeu esse prédio a Domingos Martins de Souza
e, conforme menção feita nessa escritura, no prédio funcionava um teatro. Daí a certeza de que o primeiro teatro de Santos já funcionava na década
de 40 do século XIX. O novo proprietário - Domingos Martins de Souza - fez seu primeiro contrato de locação com a Companhia Diamantina de Teatro.
O Largo da Coroação, na época, não chegava até o Beco do Teatro. Entretanto, foi
reformado e ampliado, ficando as dimensões atuais da Praça Visconde de Mauá (incluindo a área hoje ocupada pela Prefeitura)
e então, por volta de 1870, o Teatro passou a ter frente para o Largo da Coroação.
Em 1875 os jornais de Santos reclamavam do mau estado do teatro e no ano seguinte eram
intensivos os rumores de risco de desabamento. A vistoria da Prefeitura garantiu a solidez do prédio, mas a insegurança permaneceu na opinião
pública e a 1870 esse teatro era fechado definitivamente.
Nesse teatro se apresentaram muitos espetáculos com companhias nacionais e
estrangeiras, e nele também foi realizada a primeira Temporada Lírica de Santos, em 1875, pela Companhia Lírica Italiana.
O Teatro era iluminado com velas de cera e candeias de azeite. Não tinha cadeiras, as
quais eram levadas pelos próprios espectadores. Muitas famílias faziam seus escravos transportar as cadeiras, colocando-as na platéia ou nos
camarotes, marcando-as com papel, com o nome de seus respectivos donos. Também era costume marcá-las através de fitas, laceando as várias cadeiras
de cada família. No término dos espetáculos as famílias eram acompanhadas, de volta às suas casas, por seus escravos, providos de cacetes e
lanternas acesas, para iluminar as ruas.
Durante a quaresma e nas noites de chuva, não se realizavam espetáculos.
Teatro Guarany, já desfigurado pela Santa Casa para locação a estabelecimentos
comerciais
Foto publicada em 22/5/1977 no jornal Cidade de Santos
Teatro Guarani
Em 1880 foi formada uma comissão, objetivando a construção de um novo teatro em
Santos, constituída pelos cidadãos Antônio José Viana, Major Francisco Martins dos Santos, Roberto Maria de Azevedo Marques, Major Joaquim Xavier
Pinheiro e Raimundo Gonçalves Corvelo, que logo depois se transformava numa sociedade por cotas, juridicamente constituída. Com apoio de toda a
população e da imprensa, foram subscritas 512 ações e com os recursos financeiros obtidos foi adquirido o terreno que pertencia a Vitorino José
Gomes Carmilo, localizado (hoje) na esquina da Rua Amador Bueno com a Praça dos Andradas, cuja escritura foi lavrada a 5 de janeiro de 1881.
A seguir foi aberta concorrência para a apresentação do projeto e construção do teatro
- que passaria a se chamar "Guarani". A proposta vencedora foi de Manuel Garcia Redondo, que já se encontrava em Santos desde 1878, como engenheiro
fiscal das obras da Alfândega. O Teatro Guarani foi inaugurado a 7 de dezembro de 1882, com a peça
Mário, de Eduardo Cadendu, e a peça Lucrécia, apresentadas pela Empresa de Recreio Dramático da Corte. Durante os intervalos, uma
orquestra regida pelo Maestro Luiz Arlindo da Trindade executou peças de Carlos Gomes, abrindo a apresentação com a
sinfonia da ópera Guarani. Na ocasião foram chamados ao palco, sendo homenageados, o engenheiro Garcia Redondo, como construtor, e o artista
plástico Benedito Calixto de Jesus, como decorador.
O Teatro Guarani participou grandemente da vida artística, cultural, política e social
de Santos, especialmente da campanha abolicionista, que nele realizou inúmeras concentrações.
Com o advento do novo Teatro Colyseu, em 1924, o Teatro
Guarani, que já se tornara pequeno e superado pelos magníficos recursos técnicos do Colyseu, foi entrando em rápida decadência e pouco depois era
incorporado ao patrimônio da Santa Casa da Misericórdia de Santos, e arrendado a M. Freixo & Cia. Ltda., que o transformou em cinema.
Como casa de projeção, nunca chegou a ser de primeira categoria e aos poucos sua
freqüência foi-se deteriorando, formada, ao final, quase que exclusivamente por prostitutas e por freqüentadores da zona do meretrício santista, que
se situava em suas imediações. Na década de 40, a Santa Casa vendeu parte de sua área, nos fundos, com frente para a Rua Amador Bueno, inutilizando,
definitivamente, o seu palco. Na mesma ocasião o seu hall de entrada foi retalhado com a adaptação de lojas com frente para a
Praça dos Andradas.
A 13 de fevereiro de 1981 encerrou, definitivamente, suas atividades. Um incêndio
acabou com o velho prédio, do qual só restou a fachada, não mais com a beleza de suas linhas arquitetônicas originais. Hoje, discute-se a
restauração. O Condephaat entende que nada mais resta em condições de ser preservado. A Santa Casa, como proprietária do imóvel, leiloou o que
restava do velho Guarani, do qual ficará apenas a história...
Bombeiros apagam o incêndio no Teatro Guarany, em
1981
Foto publicada em A Tribuna em 15/5/2004
Teatro Colyseu
O Colyseu Santista teve três fases bem distintas. A primeira, na sua inauguração, em
1896, quando se denominava Companhia Colyseu Santista, fundada por José Luiz de Almeida Nogueira, Heitor Peixoto, Ricardo Travessedo e Henrique
Porchat de Assis, e cujas atividades eram de velódromo e frontão. Desapareceu por volta de 1903.
O segundo Colyseu Santista foi inaugurado a 23 de julho de 1909, como propriedade de
Francisco Serrador, e era dedicado a espetáculos artísticos e culturais. Pelo seu palco passaram renomados artistas,
nacionais e internacionais. Sempre funcionou no mesmo local onde se encontra, ainda hoje.
Em 1923 adentrou a sua terceira fase, ao ser adquirido pelo sr. Manuel Fins Freixo,
que mandou reconstruí-lo e ampliá-lo, inaugurando-o a 21 de junho de 1924. Com excelente acústica, ricos lustres de cristais, finíssima pintura
filetada, escadarias de mármore, cortinas de veludo, platéia em aclive, amplo hall com colunas de granito e imponente fachada, o novo Colyseu
era um majestoso teatro, classificado entre os melhores do Brasil. Por ele desfilaram todas as grandes companhias de teatro, de ópera e de operetas,
tanto brasileiras, como as estrangeiras que vinham a São Paulo.
Foi inaugurado com a representação de A Bela Adormecida, de autoria de Carlos
de Campos, então Presidente do Estado de São Paulo, que esteve presente ao ato inaugural. Na década de 50, quando o Colyseu já vinha funcionando
mais como cinema do que como teatro, a Empresa Cine-Teatral, de Manuel Fins Freixo, vendeu a parte dos fundos do teatro, com frente para a Rua João
Pessoa, para a construção de um posto de gasolina, cuja área atingiu parte dos camarins e outros anexos do palco, reduzindo sua capacidade cênica.
Na mesma ocasião retalhou o belo hall de entrada do teatro, construindo lojas comerciais com frente para a Rua Amador Bueno e para a Rua Braz
Cubas. O Teatro Colyseu, ainda pertencente a Freixo-Empresa Cine-Teatral Ltda., esteve em vias de ser vendido, para demolição, alguns anos trás, mas
foi tombado pelo Condephaat, e assim passou a ser um monumento à memória artística e cultural de Santos.
Interior do Teatro Coliseu, durante os trabalhos
de restauração, em 1998
Foto: Prefeitura Municipal de Santos/Decom
Outros teatros
No final do século, Marcolino de Andrade construiu o Teatro
Carlos Gomes, na Rua Lucas Fortunato, na Vila Matias, de efêmera duração como casa de espetáculos teatrais e, por volta de 1930, com o advento
do cinema falado, definitivamente transformado em cinema.
Depois surgiu o Teatro Cassino, pertencente ao
Atlântico Hotel, de Domingos Fernandes Alonso, no Gonzaga, instalado no próprio prédio, na segunda década do século, com
requintes de modernismo e conforto, inclusive com seu teto móvel, para ser mantido aberto nas noites de grande calor. Como teatro também funcionou
muito pouco tempo, pois logo passou a cinema e como tal foi o melhor de Santos, até a construção do Cine Roxy. Encerrou
suas atividades, definitivamente, na década de 40, pois sua área foi ocupada com a construção do novo Cassino, sede do Clube
Sírio-Libanês e, hoje, Cine Studio-Atlântico I e II, sempre no mesmo corpo do prédio do Atlântico Hotel.
Na década de 50 foi inaugurado o Teatro Independência, na Av. Ana Costa, no Gonzaga,
no prédio da Galeria Ipiranga. Funcionou cerca de trinta anos, pois, no início da década de 80, foi transformado em shopping(N.E.:
centro comercial, em inglês shopping center). Também suas atividades foram mais como cinema, do que como teatro.
Em 1956, o Centro Português de Santos inaugurou o
Teatro Júlio Dantas, de fina montagem, com capacidade para apenas 20 espectadores, à rua Martim Afonso nº 137.
Na década de 1970, o Sindicato dos Metalúrgicos de Santos construiu um teatro em sua
sede, na Av. Ana Costa, na Vila Matias. Mesmo com recursos cênicos limitados, nunca deixou de ser utilizado como teatro ou como auditório de suas
assembléias e de suas programações.
Em 1978 foi inaugurado o Teatro Fugitivo, na Travessa Dona Adelina nº 31, em plena
área portuária, cuja casa de espetáculos só promove shows eróticos, em programas, quase sempre, intercalados com filmes da mesma natureza.
Finalmente, em março de 1979, foi inaugurado o Teatro Municipal
Braz Cubas, instalado no complexo arquitetônico da cultura santista, pertencente à Municipalidade, localizado na Av. Senador Pinheiro Machado,
na Vila Matias. O teatro, com capacidade para 544 pessoas, é moderno, mas seu palco não oferece muita amplitude, nem os grandes recursos cênicos do
Colyseu Santista, na sua grande fase teatral.
O último teatro construído em Santos, inaugurado a 4 de julho de 1983, na av.
Conselheiro Nébias, 248, com capacidade para 733 pessoas e razoáveis recursos cênicos, pertence ao Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de
Destilação e Refinaria de Petróleo de Cubatão, Santos e São Sebastião.
Centro de Cultura abriga os teatros municipais
Braz Cubas e Rosinha Mastrângelo
Fotos: Prefeitura Municipal de Santos/Decom
1986 a 1996
Em 1993, pelo decreto-lei nº 1734, de 2 de setembro de 1992, o Teatro Colyseu foi
desapropriado pela Prefeitura Municipal de Santos, sendo desativado a 1º de fevereiro de 1993. O teatro, que é patrimônio cultural da Cidade, esteve
a risco de desaparecer. O tombamento, pelo Condephaat, em 1982, impediu a sua demolição, mas, lamentavelmente, não impediu o seu abandono, que só
foi revertido a partir de 1994 quando o prefeito David Capistrano Filho determinou os processos formais para a recuperação do velho teatro, cujas
obras já foram contratadas com a Akyo Construtora, de Salvador (BA). O projeto total de restauração está orçado em R$ 6.666.659,75 e deve ser
concluído em 30 meses, sendo provável que o Colyseu volte a funcionar, com todo o seu fastígio, em janeiro de 1998.
Na última década, Santos ganhou mais duas casas para espetáculos cênicos e musicais:
Teatro do Sesc, com capacidade para 750 espectadores, situado na av. Conselheiro Ribas, nº 136; e Teatro de Arena Rosinha Mastrângelo, com
capacidade para 233 espectadores, situado na Av. Pinheiro Machado, 48.
Dispõe, ainda, dos teatros anteriormente inaugurados: Teatro do Sindipetro com
capacidade para 736 espectadores, situado na av. Conselheiro Nébias nº 248; Teatro do Sindicato dos Metalúrgicos, com capacidade para 760
espectadores, situado na av. Ana Costa nº 55; Teatro Municipal Brás Cubas, com capacidade para 544 espectadores, situado na av. Senador Pinheiro
Machado nº 48; Teatro de Bolso do Instituto Histórico e Geográfico de Santos, com capacidade para 80 espectadores e situado na av. Conselheiro
Nébias, 689, e o Teatro Júlio Dantas, do Centro Português de Santos, com capacidade para 200 espectadores, situado na rua Martim Afonso nº 137. |