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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - Água & esgoto
O caminho das águas... e dos esgotos (3-B)

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Em outubro de 2005, a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) distribuiu em Santos um livrete de 16 páginas em papel reciclado, comemorativo do centenário do primeiro canal de drenagem desta cidade, que continua sendo reproduzido a seguir:
 


Imagem: capas última e primeira do livrete


A evolução do saneamento básico

Doenças epidêmicas e mortes - Entre 1890 e 1904, morreram em Santos 22.588 pessoas, o que representava número superior à metade da população da época (cerca de 45.000 habitantes), dizimadas por doenças epidêmicas como febre amarela, febre tifóide, malária, varíola e peste bubônica.

As tripulações dos navios não queriam desembarcar e preferiam ficar ao largo, tal o medo de contrair doenças.

O porto de Santos estava a ponto de ser fechado.

A falta de saneamento dava a Santos o estigma de "Porto Maldito", o que prejudicava o crescimento da cidade.

Entre 1892 e 1902, muitos planos foram apresentados e debatidos, e nada de efetivo foi realizado. Vários estudos foram apresentados, como os da Comissão Cochrane, da Comissão Lisboa, o anteprojeto de Saturnino de Brito em 1898 e o Projeto Rebouças.

Em 1903, o Governo do Estado de São Paulo organiza a Comissão de Saneamento de Santos, sob a direção do engenheiro José Pereira Rebouças.


Construção de coletor de esgotos, no início do século XX
Foto publicada no livrete

O projeto de Saturnino de Brito - Em 1905, após muitos anos de polêmica, o governo resolve executar a nova rede de esgotos, sendo o projeto desenvolvido por Saturnino de Brito, que ingressa na história do saneamento básico de Santos.

Nessa época, Saturnino assume o cargo de engenheiro-chefe da Comissão de Saneamento de Santos, depois de participar de vários projetos de abastecimento de água e de saneamento no Rio de Janeiro, São Paulo e outras localidades, apresentando à Câmara Municipal santista um esboço da planta para esgotos sanitários e pluviais.

Coube a ele também a elaboração do projeto para a construção de nove canais de drenagem e captação das águas de chuvas, tendo como traçado básico os rios que cortavam a Ilha de São Vicente.

Seu sistema previa 66 km de redes, 12 km de emissários, 10 estações elevatórias, uma usina terminal e uma ponte pênsil.


Rio dos Soldados antes da canalização
Foto publicada no livrete

Canal 1 - Avenida Pinheiro Machado, início das obras do saneamento na Baixada - Em 19 de outubro de 1905 são iniciadas as obras de construção do primeiro canal da cidade. Foi o começo do saneamento de Santos pela retificação do curso do muito poluído ribeirão dos Soldados (nas avenidas Rangel Pestana e Campos Salles), que teve seu traçado revestido em concreto armado, o que era uma novidade na época.

Conforme descrição contida no livro Projetos e Relatórios - Saneamento de Santos (volume VII das Obras Completas de Saturnino de Brito, publicação da Imprensa Nacional/Instituto Nacional do Livro, Rio de Janeiro, 1943):

"A retificação do Rio dos Soldados, conforme está executada, continua o seu curso pela Rua Rangel Pestana, e atravessa a Avenida Ana Costa; pouco adiante recebe o canal que drenará a planície Jabaquara, vindo do ocidente. O canal grande continuará para o Sudoeste, passando entre o Morro das Vigárias e a ponta de Jabaquara; aí mudará de declividade e se bifurcará. Um ramo, com a mesma seção, se aproximará da montanha, se curvará e seguirá para a Praia José Menino, saindo em terrenos do sr. dr. Paulo de Queiroz; o outro ramo, atravessando e saneando os terrenos Marapé, correrá paralelamente à Avenida Ana Costa, na distância de cerca de 600 m, direção Sul, saindo na mesma praia e já está sendo executado".

Rio dos Soldados (ou Rio do Soldado, ex-Rio Guaranchin): nascendo no sopé do Morro do Jabaquara/Nova Cintra, seguia o curso das avenidas Rangel Pestana, Campos Sales e Ulrico Mursa, desaguando na Bacia do Mercado. Com águas salobras, recebia as águas de toda a pequena vertente formada pela encosta Sul dos morros de "São Jerônimo" (depois Monte Serrat), "do Bufo" (depois Fontana), "do Desterro" (depois São Bento) e "do Saboó-Mirim". Com as obras de saneamento, foi eliminado pelo canal da Avenida Francisco Manoel, que deságua no Canal 1 (da Avenida Pinheiro Machado). O canal 1 tem ligação subterrânea com o canal da Avenida Rangel Pestana (que começou a ser coberto, a partir de 8/1/1914, no trecho entre as avenidas Pinheiro Machado e Campos Salles).

Em 27 de agosto de 1907 foram inaugurados 1.360 metros do Canal Ribeirão dos Soldados, atual Canal 1 - Avenida Senador Pinheiro Machado.


Escritório central e depósito, na encosta do Monte Serrate. Em segundo plano, o Colégio Barnabé e o prédio do Edifício do Rádio, tendo à esquerda a Avenida São Francisco
Foto publicada no livrete

Em 25 de abril de 1912 era inaugurado o Sistema de Esgotos e de Águas Pluviais de Santos, criando condições necessárias para a implantação definitiva do porto e o fortalecimento econômico do município.

O sistema foi inaugurado quando a população de Santos era de 44.500 habitantes.

Ao seu projeto foi incorporada a parte central de São Vicente com a Estação Elevatória Tomé de Souza.

O projeto se mostrou perfeito a tal ponto que, mais de noventa anos depois, sua essência em nada mudou.


Estação Elevatória 2, na Rua Tuiuti, tendo à esquerda o cais do porto e uma usina de vapor que gerava energia para movimentar os guindastes do cais
Foto publicada no livrete

Em 21 de maio de 1914 - Com o objetivo de facilitar o escoamento das águas e evitar a propagação de doenças, comuns no início do século passado, o engenheiro sanitarista Saturnino de Brito começou a planejar, em 1910, a construção de uma ligação sobre o Mar Pequeno, que conduziria os dejetos da Ilha de São Vicente até a ponta do Morro do Itaipu, em Praia Grande.

Assim nascia a Ponte Pênsil, a primeira ponte suspensa a ser montada no Brasil, com o objetivo de transportar para Praia Grande, em tubulações presas sob o tabuleiro, os esgotos gerados na Ilha de São Vicente. A inauguração da Ponte Pênsil, em 21 de maio de 1914, marcou a data oficial da inauguração do sistema de saneamento, e se deu em meio a grande festividade, com repercussão internacional.


Subestação Elétrica 2, na confluência das ruas São Vicente de Paula e Barão de Paranapiacaba
Foto publicada no livrete

Ponte Pênsil (Avenida Saturnino de Brito, ligando São Vicente a Praia Grande) - A Ponte Pênsil, ligando São Vicente a Praia Grande, parte do projeto de saneamento de Saturnino de Brito, ainda conserva vários materiais originais, trazidos de Dortmund, na Alemanha, como os cabos de aço que sustentam sua gigantesca estrutura.

Tombada em 1982 pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico e Arquitetônico (Condephaat), ela suporta até 60 toneladas.

Ao completar 80 anos, a ponte ganhou um moderno sistema de iluminação que a destaca à noite na paisagem da orla. Por ocasião das comemorações dos 500 anos do Descobrimento do Brasil, a iluminação foi reforçada, tornando-se igual à de outras pontes famosas, como a Golden Gate, em São Francisco, nos Estados Unidos, e a Ercílio Luz, em Florianópolis (SC).

A Ponte Pênsil é hoje um marco do desenvolvimento do Litoral Paulista e o principal cartão postal de São Vicente.

A obra é do tipo ponte suspensa por cabos de aço, com vão livre de 180 metros por 5 metros de largura. O piso de madeira está distante 6,5 metros da maré mínima e a 4 metros da maré máxima. Suas torres atingem 20 metros, sustentando cada uma quatro cabos de aço. Nas laterais do piso encontra-se o leito para a travessia de pedestres, com 1,40 metro de largura.


Estação Elevatória Tomé de Souza
Foto publicada no livrete

Estação Elevatória Tomé de Souza (Praça Tomé de Souza, na praia do Gonzaguinha, São Vicente) - Uma das dez estações elevatórias projetadas por Saturnino de Brito. Por atender cidades planas, como Santos e São Vicente, o afastamento de esgotos não poderia ser conduzido por gravidade, através de simples tubulações, necessitando assim de bombeamento. Daí a construção das estações elevatórias, projetadas desde a época de Saturnino de Brito.


Usina Terminal de Esgotos da Praça Washington, no José Menino
Foto publicada no livrete

Usina Terminal de Esgotos (Praça Washington, José Menino, Santos) - Os esgotos foram canalizados para a Usina Terminal do José Menino (na Praça Washington), de onde seriam bombeados até a Ponta de Itaipu, em São Vicente, para serem lançados ao mar. A Usina compreende um conjunto arquitetônico, sendo que parte dele foi sede da Repartição do Saneamento e mais recentemente abrigou a garagem da Sabesp em Santos.

Os canais de drenagem - Os canais de Santos, considerados patrimônio histórico e cultural da cidade, foram tombados pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico e Arquitetônico  e Turístico do Estado (Condephaat) em 2002.

A preservação está restrita à rede de canais, abrangendo a Rua Barão de Penedo e as avenidas Pinheiro Machado, Moura Ribeiro, Francisco Manoel, Campos Sales, Bernardino de Campos, Washington Luís, Siqueira Campos, Almirante Cochrane, Coronel Joaquim Montenegro e General San Martin, além dos passeios que as ladeiam e os demais elementos do projeto original, como pontes, amuradas e grades.

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