Imagem: capas última e primeira do livrete
100 anos do Canal 1, marco inicial do Projeto Saturnino de
Brito - O saneamento na Baixada Santista e seu legado cultural
"No século 19, o país passou a viver outras demandas e Saturnino de Brito é o
nome mais relevante da história do urbanismo sanitarista do Brasil. Ao enfrentar os problemas urbanos da cidade de Santos, concebeu o
primeiro projeto moderno no país de intervenção numa cidade. Entre 1886 e 1900, Santos, em função das suas atividades portuárias, viu
triplicar a sua população. A desordem urbana atingiu uma escala preocupante. Inundações e doenças endêmicas ameaçavam o desenvolvimento
econômico e social local. O projeto concebido por Saturnino de Brito, em 1894, é basicamente saneador: criação de duas redes separadas, uma
para escoar as águas pluviais e outra para esgotos. A grande qualidade do pensamento de Saturnino de Brito residiu no fato de ele utilizar
um princípio técnico para definir o principal elemento formal do traçado urbanístico, os canais de drenagens a céu aberto e que ligaram o
estuário à baía".
Regina Maria Prosperi Meyer - O Urbanismo Moderno.
|
Tradição e Modernidade
A história do saneamento básico na região da Baixada
Santista tem mais de um século. Em 24 de maio de 1897, o Governo do Estado de São Paulo outorgou à The City of Santos
Improvements Co. Ltd., empresa canadense, a concessão dos serviços de abastecimento de água à cidade de Santos e seus arredores. Aí tem início o
ciclo de concessões que muitas décadas depois resultaria na empresa atual, a Sabesp.
Mas, entre a City e a Sabesp tivemos o engenheiro sanitarista
Francisco Saturnino Rodrigues de Brito, que projetou o sistema de saneamento e construiu o principal sistema de rede pluvial, com quatro
galerias e 9,5 km de canais de drenagem superficial de Santos e arredores.
Com a intervenção do Governo do Estado foi criada, em 1903, a Comissão de Saneamento
de Santos e, em 1905, a condução dos trabalhos passou para as mãos do engenheiro Saturnino de Brito, que se preocupou não só em projetar uma rede de
esgotos que atendesse as necessidades da época, como também pudesse atender a demanda futura, decorrente do crescimento da região.
O sistema de coleta e disposição final do esgoto de Santos, por ele projetado, entrou
em funcionamento em 1912 e criou as condições necessárias para a implantação definitiva do porto e o
fortalecimento econômico do município.
Usina Terminal e oficinas, no bairro do José Menino
Foto publicada no livrete
De 1905 a 1912, Saturnino de Brito desenvolveu o programa de saneamento, baseado no
princípio de separar as águas de rios e córregos das do esgoto. O Canal 1 foi o primeiro a ser inaugurado em 1907, tendo apenas um pequeno trecho no
bairro do Paquetá. Em 1910, ele foi completado e foi aberto também o 2. O 6 veio em 1919, o 3 e o 4 em 1923 e o 5 em
1927.
Na verdade, o projeto de Saturnino de Brito incluiu a construção de um total de nove
canais superficiais (os seis da orla, aquele próximo ao Orquidário, o da Rua Moura Ribeiro, no Marapé, e outro da Rua
Francisco Manoel, no Jabaquara). Ainda tem os subterrâneos, entre eles um na Rua Braz Cubas, no
Centro. A Prefeitura completou o sistema de drenagem com os canais 7 (1968), o do final da Avenida Afonso Pena e o da Jovino de Melo, na
Zona Noroeste. O que quer dizer que só de Saturnino de Brito herdamos nove canais superficiais e do Poder Público Municipal
ganhamos três. A olhos vistos são 12 em toda a cidade.
Com margens dois metros acima do maior preamar da região, os canais tinham como função
retificar rios e drenar áreas encharcadas, sujeitas a inundações, evitando a estagnação das águas e o risco de epidemias. Também eram navegados por
barcos que levavam as famílias a passeio.
Ao ser inaugurado, o sistema era composto de 66 km de coletores, 15 km de emissários,
602 poços de visita, 10 estações elevatórias, uma usina terminal e uma ponte suspensa, a
Ponte Pênsil, projetada para a travessia do emissário da ilha de São Vicente à sua área continental. A execução do sistema custou aos cofres
públicos quase 10 mil contos de réis.
Com a instalação das redes de esgoto e águas pluviais, foram extintos os focos que
provocaram diversos surtos epidêmicos em Santos, no fim do século 19 e começo do século 20. Santos tornou-se salubre. Moradores de São Paulo
passaram a visitá-la para conhecer suas praias. O comércio deu um salto de desenvolvimento.
De lá para cá muita coisa foi modificada, ampliada, melhorada, mas as peças principais
do sistema ainda estão em uso, atendendo à população.
Estação Elevatória de São Vicente, situada na praia de Gonzaguinha
Foto publicada no livrete
|