A primeira composição da Fepasa saiu do porto de Santos rumo a Presidente Epitácio,
inovando o sistema de transporte
Foto: Rafael Herrera - publicada com o texto
Novo transporte multimodal é inaugurado
Até agora, os contêineres recebidos pela Codesp, semanalmente, eram
transportados apenas por rodovia até o vizinho Paraguai.
Da Editoria Local
Uma composição da Fepasa, com
15 vagões, partiu do Porto de Santos, às 11h30 de ontem, rumo à cidade paulistana de Presidente Epitácio,
primeira parada da carga de 15 contêineres (cada um de 40 pés e abastecidos de produtos manufaturados e
eletrônicos) com destino a Assunção, no Paraguai. O restante da viagem será feito por hidrovia (de Presidente Epitácio a Porto La Paz, em Hernandés,
no Lago Itaipu, já em solo estrangeiro) e rodovia (até o destino final).
São 650 quilômetros de ferrovia, 650 quilômetros por rio e 200 quilômetros de estrada,
viagem que terá a duração de cinco dias. É o transporte multimodal, inaugurado ontem, ligando os dois países da América do Sul (e pertencentes ao
Mercosul).
A Codesp recebe, por semana, uma média de 500 contêineres. Até então, eles eram
transportados (duas vezes por semana) apenas por rodovia até o Paraguai.
A solenidade de implantação do trem de integração Brasil-Paraguai foi no Armazém
36-Externo. Participaram Marcelo de Azeredo, presidente da Codesp; Renato Casali Pavan, presidente da Ferrovia Paulista S.A. (Fepasa) e
representantes da empresa Navegação Meca S.A. e da Rede Ferroviária Federal S.A. (RFFSA),
parceiros na empreitada. Plínio Assmann, secretário de Transportes do Estado, apesar do comunicado confirmando a presença, não compareceu.
Vantagens - Apesar de o transporte multimodal ser mais demorado (cinco dias
contra dois por rodovia), Renato Pavan aponta duas vantagens primordiais do novo sistema para o importador: é cerca de 30% menor do que o custo do
transporte rodoviário e oferece maior segurança, uma vez que é comum, pelas rodovias, o roubo de caminhões e o sumiço de motoristas (tanto que os
veículos com contêineres rumo ao Paraguai vão em sistema de comboio).
"A nossa meta é a de, com o tempo, chegarmos a 65% de economia para o importador. Não
importa se o produto vai chegar com dois dias de atraso em relação à rodovia. O importante é que chegue em segurança e com menor custo", reforça
Pavan.
O presidente da Fepasa revela que, dentro de 30 dias, deverá ser inaugurado um trem
ligando Santos-São Paulo e Buenos Aires, e outros trajetos também para os demais países sul-americanos. "O que estamos oferecendo hoje é o primeiro
sistema multimodal do País, a integração física entre os países do Mercosul".
Além do multimodal, a Fepasa (com parceria da iniciativa privada) dará início, em
breve, à construção do acesso ferroviário entre o Grande ABC e o Porto de São Sebastião, com vistas também a atingir os portos de Sepetiba e Rio de
Janeiro. Para Pavan, o empreendimento em nada vai prejudicar o porto da Cidade.
"Santos, São Sebastião, Sepetiba e Rio de Janeiro são portos com características
diferentes. Santos se caracteriza por cargas em geral. Mas não tem como atender cargas a granel, por exemplo, de navios de grande calado, já que
aqui não podem atracar".
Azeredo (à esq.) e Pavan apontam vantagens para
importador
Foto: Rafael Herrera - publicada com a matéria
Azeredo elogia iniciativa
A implantação do trem de integração Brasil-Paraguai é considerada, por Marcelo de
Azeredo, presidente da Codesp, o início de uma profunda integração e parceria entre o Estado e a iniciativa privada, em benefício do comércio.
Questionado sobre quando o sistema multimodal poderá ser colocado em prática para o
escoamento da produção agrícola, diminuindo também os custos do transporte, Azeredo revelou que a Codesp e a Fepasa estão realizando contatos e
estudos de viabilização para a implantação.
Via satélite - O diferencial do sistema multimodal é o transporte hidroviário.
De acordo com Francisco José Catarina, diretor de operação da Navegação Meca, os 650 quilômetros entre Presidente Epitácio, no Estado de São Paulo,
e Porto La Paz, em Hernandés, no Lago Itaipu, são completados em 36 horas.
"A economia do multimodal (30%) não é o principal, mas a segurança. Nossa empresa
monitora a carga, por satélite, desde quando sai de Santos e chega a Assunção".
O gerente operacional revela que a Meca possui 70 embarcações, cada uma com capacidade
de 12 a 18 contêineres. Há, ainda, vários empurradores; portanto, estrutura para absorver os 500 contêineres (que a Codesp recebe semanalmente) com
destino ao Paraguai por rodovia.
"Começamos com 15 contêineres (de 40 pés), mas, de acordo com a necessidade, e isso
vai depender do importador, temos condições de ampliar nossa participação no mercado de transporte", afirma Francisco Catarina.
A Fepasa, por sua vez, igualmente tem condições de aumentar o número de vagões de sua
composição. Pode, ainda adaptar cada um para carregar dois contêineres de 20 pés.
A implantação do trem de integração foi realizada no Armazém 36 Externo da Codesp
Foto: Rafael Herrera - publicada com a matéria
Área será vendida pela Fepasa
A área pertencente à Fepasa, onde estão localizados os armazéns da estatal,
na Rua Pedro Américo, próxima à Estação Ana Costa, será vendida para custear o término da
implantação do terceiro trilho de bitola métrica junto à rede federal. Embora as datas para execução dos projetos ainda não estejam definidas, o
presidente da estatal, Renato Casali Pavan, ressaltou que a Cidade não pode mais suportar o tráfego de trens pelas suas principais avenidas.
Com a execução do projeto, o transporte de cargas para o porto não passará mais pela
área urbana. A construção do terceiro trilho foi proposta em 1990, quando a Fepasa, RFFSA e Codesp firmaram um convênio para a implantação da linha
Perequê/Valongo, com aproximadamente 16 quilômetros de extensão.
Através desse acordo, os trens da Fepasa chegarão à área portuária através do trilho
de bitola larga da RFFSA, na confluência do sistema ferroviário próximo à região continental de São Vicente, seguindo até a
Estação do Valongo.
O edital de licitação para o prosseguimento das obras de implantação do terceiro
trilho será apresentado ao Conselho de Administração da Fepasa na próxima reunião, marcada ainda para este mês.
Custos - O projeto foi avaliado em US$ 8,5 milhões, sendo US$ 4,5 milhões de
estrutura e o restante destinado à sinalização. Pavan explicou que a proposta apresentada à RFFSA implica na disposição de verbas inclusive pelo
Governo Federal, que teria que destinar US$ 4 milhões para a sinalização.
"Ao mesmo tempo que a população de Santos não suporta mais as interrupções no trânsito
pelo transporte ferroviário de cargas, o escoamento das importações e exportações do porto também será mais dinâmico", reiterou o presidente da
estatal.
Com a interrupção do projeto nos últimos quatro anos, o material que serviria para a
construção do terceiro trilho foi utilizado na manutenção da malha ferroviária de 5 mil quilômetros.
Gráfico publicado com a matéria
Ferrovia chega à modernidade
Os usuários do trem intrametropolitano, que liga Santos à área continental de São
Vicente, têm a garantia do presidente da Fepasa, Renato Casali Pavan, de que o transporte ferroviário será modernizado no próximo ano. A intenção da
estatal é substituir os vagões, que estão em péssimo estado de conservação, por uma espécie de bonde sobre trilhos.
Além do conforto para os passageiros, Pavan explicou que este sistema, que é utilizado
em vários países do mundo, poderá ser implantado em 1996, após a transferência dos serviços de transporte ferroviário para a Companhia Paulista de
Transporte Metropolitano (CPTM), que deverá acontecer até o final do ano.
Os investimentos, que foram orçados em US$ 12 milhões, serão obtidos pela CPTM junto à
iniciativa privada. A modernização do transporte ferroviário de passageiros é, segundo ele, uma das prioridades da Fepasa. "O que nós queremos é
adequar o TIM, de forma decente, às necessidades dos usuários. Nós estamos incentivando o transporte via ferrovia não só a nível metropolitano, mas
para itinerários de longa distância".
Até que não sejam levantados recursos para a instalação do moderno sistema de
transporte ferroviário, que além de eficiente poderá funcionar em harmonia com a sinalização de trânsito das avenidas da Cidade cortada pela linha
férrea, a Fepasa deverá promover melhorias nas estações de passageiros. Hoje, os usuários sofrem com a falta de infra-estrutura, enquanto a empresa
amarga grandes prejuízos pelo não pagamento integral das tarifas pelos passageiros.
RFFSA - O superintendente regional da Rede Ferroviária Federal, Airton Franco
Santiago, informou que a empresa também tem interesse em ampliar o transporte intermunicipal entre Santos e São Paulo. A retomada do serviço pela
RFFSA estaria relacionada à grande demanda de usuários. "Em Santos, a gente mantém um serviço de nível não muito bom, com poucas freqüências, mas
são as condições que nós temos no momento".
A Fepasa está inaugurando o Expresso Azul, que ligará a Capital a Rio Preto, e o
Expresso Bandeirantes, uma composição ferroviária de oito trens, que levará passageiros para o Interior do Estado. |