Imagem: reprodução da página 5 do álbum de
2000
Breve apresentação
O que vocês vão ver é um álbum com fotografias editado em 1904 e que foi encontrado em
Paris por um marchand brasileiro que lá reside e numa das suas vindas ao Brasil, em 1995, entregou o álbum ao colecionador santista Laire José
Giraud. Não poderia haver melhor destino, pois esse Laire é uma criatura de muita sensibilidade, principalmente para as coisas relacionadas com a
vida marítima e o passado santista.
Com uma especialização: é um dos maiores colecionadores de cartões postais do Brasil.
E como é um homem generoso, costuma oferecê-los como lembranças aos amigos. Este álbum, por exemplo, ele poderia guardar ciosamente trancado à chave
em seu bureau de despachante aduaneiro. Mas não, põe mãos à obra, edita e nos propicia esse encontro raro com Guilherme Weinchenk, construtor do
cais de Santos, todo enfatiotado, de chapéu coco e guarda-chuva, numa das fotografias estampadas, às folhas tantas.
Todo cais é uma saudade de pedra, disse em verso lapidar Fernando
Pessoa; neste álbum, os blocos de pedra utilizados para a formação da barreira imprescindível de cais são apresentados desde a origem na Pedreira de
Jabaquara até a forma definitiva consolidada no paredão do cais.
Sem receio de estar utilizando uma imagem já bastante desgastada, podemos dizer que,
ao virar as páginas deste álbum, estaremos realizando uma inesperada e inesquecível viagem ao passado. Ou um passeio tranquilo por uma Santos toda
aberta em espaços convidativos. Que é o que a gente vê quando surgem ao fundo fotos trechos da paisagem local - e observem bem na foto das
Oficinas Novas quando o nosso olhar devassa amplo trecho da cidade a partir de laborioso bairro do Macuco.
Como não podia deixar de ser, ei-la! A famosa fileira
de ensacadores em seu duro labor de encher os porões dos navios com o café que o resto do mundo beberia. Não há dúvida que o Porto de Santos
representou e representa papel fundamental no texto e contexto de nossa história econômica. Essa é uma verdade irrefutável, mas é bom, de vez em
quando, repeti-la. E não esquecer aqueles que, de paletó e gravata ou simples camiseta, enfrentaram o duro batente na construção da muralha do cais.
Sem nenhuma agressividade na palavra muralha.
Todo cais é uma saudade de pedra.
Narciso de Andrade
Advogado, poeta e colaborador do jornal A
Tribuna
Imagem: reprodução da página 6 do álbum de
2000
Homenagens
Este livro comemorativo aos 500 anos do Descobrimento do Brasil homenageia a Cidade de
Santos, seu porto e os homens que o construíram: Eduardo Palassim Guinle, Cândido Gaffrée e Guilherme Weinschenck.
À minha sobra, Henriqueta Mendes do Rêgo, viúva do despachante aduaneiro Joaquim
Francisco do Rêgo, que muito em breve completará 100 anos, foi professora primária, lecionou na Bocaina e no
Grupo Escolar Barnabé. Quando nasceu, no ano de 1902, o cais de pedra estava a caminho dos
Outeirinhos.
Ao veículo mor de comunicação na Baixada Santista, o jornal A Tribuna, que há
mais de um século divulga e defende os aspectos portuários e da Cidade de Santos.
Aos companheiros do Rotary Club, que com seus ideais ajudam a
promover o crescimento da nossa Cidade.
Às autoridades de Santos e todas as categorias de trabalho.
Imagem: reprodução da página 7 do álbum de
2000
Agradecimentos
À minha esposa Creusa e aos meus filhos Gustavo e Roberta,
Abel Joaquim Marques, Abel dos Santos, Alexandre de Carvalho Kaneko, dr. Alfeu Praça
Fonseca, Ana Kalassa El Banat, Ana Maria Barbosa, Antônio Takao Amano, Arlindo Carlos Prates, Armando Akio, Arminda Augusto, Arthur Cavalotti, Ary
Fernandes Leal Filho, Aura Silvia da Costa Giraud, Ayrton Aparecido Gonzaga, Barbara Arruda, Bernardino de Vitta Jr., Carlos Alberto Piffer, Carlos
Alberto Praça, César Muniz, Cinthya Baroni, Cordovil Manno Prieto, David Anthony Walton, Delmiro Iglesias, Edson Lucas, Eduardo Carvalhaes Jr.,
Elcira Nuñez y Nuñez, Emanuel Leon, Enzo Poggiani, Ezio Begotti, Fábio de Mello Fontes, Fausto José, Fernando Perez Jr., Fernando Lichti, Flávio
Borges Brancato, dr. Francisco Vilardo Neto, cte. Gabriel Lobo Fialho, Gastão Lelis Leite Jr., Gerson da Costa Fonseca, Gerson Luiz da Silva, Gilson
Cláudio do Nascimento, Guilherme de M. Mauger, Gustavo Brigagão, dr. Helson Parada Giraud, Hugo Ferreira Paiva, Humberto Pierry, mons. Jamil Assif
Abib, João A. da Silveira, João Acioly Nogueira, João Carlos Moraes Camargo, dr. José Augusto Malta Ferrari, José Bento Silvares, José Dias Herrera,
José Dias Trigo, José Luiz de Oliveira Martins, José das Neves Barreto, Júlio Paes, Kátia Ferreira Pires, dr. Kepler Alves Borges, Lena Penteado
Caldas, Luis Dias Guimarães, Luis Roberto H. O. Martins, Luiz A. Paula Nunes, Luiz Fernando Miller Mello, Luiz Podboy, Luiz Roberto Câmara
Fernandes, Luiz da Silva, Mantovani Calejon, Marcos Roberto Santos, Maria Cecília F. M. da Silva, Maria Teresa de Oliveira Costa, Mário Alonso,
Marjorie C. F. Medeiros, Marli M. S. Benicasa, Marly Rodrigues, dr. Milton Teixeira, Miriam Guedes de Azevedo, Naoyuki Suzuki, Omar Laino, dr.
Oswaldo Paulino, Rapahel Dias Herrera, Raul Dick, Ricardo José Schmidt Felippe, Roberto Alves Borges, Ronaldo Guedes, Rosana Carnielli, Rubens Santo
Marini, Sérgio Aparecido Gonçalves, Shigueru Taniguti, dra. Silvia Alves Borges, Thereza Bueno Wolf, Waldemar Capela, Waldir Chaves Seabra, dr.
Wagner Rossi,
À CODESP - Cia. Docas do Estado de São Paulo e aos funcionários do Complexo Cultural
do Porto de Santos.
In Memoriam
Aos meus pais Layre e Aura Maria, dr. Candido B. Vallejo,
Elza Mesquita Guimarães, Fédro Correa de Mesquita Guimarães, Francisco de Azevedo, Francisco Passanante, Giusfredo Santini, dr. João Paulino, José
Giraud Filho, José Joaquim Alves da Costa, José Mário de Oliveira Martins, dr. José Sanches Ferrari, José Roberto Monteiro, Mário Graccho, Mário
Fernandes, Mário Flores do Prado, Modesto Roma, Ruy Seabra, Sebastião de Oliveira Martins.
Imagem: reprodução da página 9 do álbum de
2000
Santos e a Companhia das Docas
- 1904
É realmente gratificante poder apresentar a presente edição,
ou melhor, a reedição deste livro pictórico, que é um passeio no tempo. As 40 imagens da edição original, a maioria mostrando as obras de construção
do cais do início do século XX, traduzem a importância que o Porto de Santos havia assumido economicamente já naquela época - o 1º trecho construído
que ia do Valongo ao Paquetá e o 2º trecho em construção, do Paquetá aos Outeirinhos.
Desconheço quem teria ordenado esta obra. Presumo, porém, ser
fruto da própria Companhia Docas de Santos. É desconhecido também o nome do fotógrafo realizador destas imagens. Resta a certeza de que esta obra
consegue espelhar toda a realidade do cotidiano do cais da época.
Foi no período de minha infância, quando passeava ao longo
das praias, que iniciou-se esta longa admiração pelas coisas do mar, pelos navios, por este porto e pela nossa Cidade.
Deriva deste princípio a decisão de colocar esta obra, feita
há quase 100 anos, à disposição de todos.
A intenção é de emocionar, trazer de longe o mais puro
sentimento saudosista existente dentro de cada um de nós, de poder compartilhar estas fascinantes fotografias que o passar do tempo não apagou.
Desejei manter a ortografia original das legendas para que o
aspecto histórico ficasse intacto. A maioria das imagens retratadas ainda hoje sã inéditas, isto é, praticamente nunca vistas pelas pessoas. Entre
elas, a de navios atracados ao cais, o avanço da construção da muralha do novo cais, as edificações portuárias da época, assim como outros
panoramas.
Assim, Narciso de Andrade, José Carlos Silvares, Hélio
Schiavon, José Carlos Rossini, João Emilio Gerodetti, Antonio Ernesto Papa, Nelson Salasar Marques, Jaime Caldas, Helena Maria Gomes e Viviane
Pereira completaram com seus escritos tudo o mais que poderia se dizer sobre esta magnífica publicação comemorativa aos 500 anos do Descobrimento do
Brasil, por Pedro Álvares Cabral.
Obrigado de coração a todos os que me apoiaram no sentido de
que este livro fosse dado, em forma de presente, à Cidade de Santos e aos apreciadores das imagens do passado.
Laire José Giraud
Imagem: reprodução da página 10 do álbum de
2000
O Álbum
Com meu amigo Laire, há tempos trocávamos figurinhas. Explico: postais de navios iam e
vinham de Santos para São Paulo e vice-versa. Além desses, volta e meia, também postais de Santos, que ambos curtimos.
Eu, particularmente, coleciono também São Paulo e não poucas vezes o Laire me forneceu
algum material relativo a essa cidade.
Não é que um belo dia me aparece um marchand de postais e livros, com muito
material de São Paulo e Santos. Coisa espetacular, que atiçou minha ganância de colecionador, a ponto de eu fazer uma loucura financeira e comprar
tudo. No momento, a gente fica inseguro, ante o estrago em nossa conta bancária, mas algum tempo depois, a gente fica feliz em ter feito a compra,
pois, geralmente, o material nunca mais aparece no mercado.
Naquele dia, entretanto, eu tive um arrependimento de última hora e voltei atrás,
deixando de comprar o belíssimo álbum Santos e a Companhia Docas - 1904. Mas recomendei ao marchand que oferecesse o mesmo ao Laire,
afirmando com convicção que o meu amigo iria sem dúvida adquiri-lo.
Não sei porque, mas naquele momento algo me dizia que o Laire ia comprar o livro e que
eu jamais me arrependeria de não tê-lo feito.
E foi assim que aconteceu. Dias depois, o Laire me liga, feliz pela aquisição.
O tempo passou e volta e meia eu me lembrava do álbum, com alguma saudade. Mas algo me
soprava no ouvido: você não vai se arrepender!
Dito e feito: eis que o Laire anuncia: vou fazer um fac-símile do álbum!
Isso é uma coisa que eu acho altamente meritória: divulgar nossos objetos de coleção
para o público, compartilhá-los com os outros. Senão, qual o sentido da coleção? É o que me levou a publicar o meu livro Lembranças de São Paulo.
No fundo, é o mesmo prazer que a gente tinha, quando criança, de mostrar o nosso álbum de figurinhas para os amigos!
Laire, parabéns pelas suas diversas publicações, sejam livros, sejam artigos, em
alguns dos quais tive a satisfação de colaborar. Definitivamente, a voz que me soprava no ouvido estava certa: o álbum, em melhores mãos não poderia
estar!
João Emílio Gerodetti
Engenheiro químico, cartofilista e autor do
livro Lembranças de São Paulo
Imagem: reprodução da página 11 do álbum de
2000
Santos, Porto e Cidade unidos desde o começo
Com a chegada do navio inglês Nasmyth, a 2 de
fevereiro de 1892, o Porto de Santos teve inaugurado o primeiro trecho de cais acostável, com 260 metros, tornando-se notícia mundial. Já no início
do novo século, 1909, o Times, de Londres, informava aos importadores europeus, especialmente de café, que o cais santista tinha 4.800 metros
de extensão, permitindo a atracação de mais navios simultaneamente.
Foi a partir daí que o porto iniciou seu desenvolvimento, com a oferta de cargas e a
construção dos primeiros armazéns. Nas próximas décadas, porto e cidade andariam de mãos juntas, causando o enriquecimento da região e, em paralelo,
de todo o País.
Mas o porto e a cidade encontraram-se mesmo na época do Descobrimento, quando os
portugueses procuravam locais mais abrigados para se instalarem e para que seus navios estivessem a salvo de piratas e de tempestades. Foi assim com
a região de Santos e de São Vicente. Porto e cidade se confundiram entre si desde os primórdios da vila fundada por Braz Cubas,
que logo no início do século ganhou uma estátua junto ao porto e ao prédio da Alfândega e onde
existiu a Igreja Matriz e se estabeleceram todas as casas comerciais de então.
Foi a partir das velhas pontes de madeira, bem retratadas pelo pintor
Benedito Calixto, e pelos trapiches que estocavam a carga que ia e vinha dos portos europeus,
que Santos pôde desenvolver-se no entorno desse início de porto e vila. Aos poucos, ambos foram se estendendo, crescendo, primeiro rumo ao planalto,
com a construção da estrada de ferro São Paulo Railway, depois ao interior e a outros estados, com a implantação das
autoestradas.
Dos trapiches e das pontes, o porto passou aos 14 quilômetros
de cais acostável, grande parte hoje privatizada, tornando-se cidade em 1839, com o saneamento e a inauguração de praças e
logradouros, imortalizados em fotos de rara beleza que ainda hoje agradam aos olhos de todos.
José Carlos Silvares
Editor geral do jornal A Tribuna de
Santos
Imagem: reprodução da página 28 do álbum de
2000
Cais
- 1 -
Com tanto navio para partir
minha saudade não sabe onde
embarcar...
- 2 -
A água comove a pedra
que parece fremir levemente
Na oscilação breve das
marolas
há homens malogrando olhares
vagos, indecisos, alongados.
(Completa ausência de tempo.
O calendário se desfaz
nas sombras, na brisa e na
anatomia
recordada do estuário...)
- 3 -
Cambia todos os tons
esta angústia à flor da água.
- 4 -
Não há gaivotas nem quaisquer
outros pássaros oceânicos.
Todavia aquela espuma
brilhante
sugere o roçar logo de algum.
- 5 -
Vem do passado a romântica
sugestão de velas pandas
Itinerários de descobertas,
roteiros de constelações,
ilhas remotas habitadas
por estranhos povos inocentes
- pele morena, olhos ariscos,
porte severo, movimentos
puros
de corpos ao vento e ao sol
- 6 -
Sirene arrepiando
a epiderme do meio-dia.
- 7 -
Silenciosamente pesados
firmam-se nas horas os
navios,
fortuitos donos do porto,
transitórios proprietários
de metros de alvenaria
que fazem maior a tristeza
da imensa nostalgia
portuária.
Ah! receber todos os adeuses,
todos os abraços, todos os
olhares
de ida e volta e permanecer
ancorado na paisagem
imutável!
- 8 -
Passarinho no topo daquele
mastro
partirá ou há de voltar para
terra?
Narciso de Andrade Neto
Imagem: capa final do álbum de 2000 -
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