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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - PERSONAGENS
Tipos curiosos (14)

Dividida entre civilistas e hermistas (os partidários de Ruy Barbosa e Hermes da Fonseca, nas eleições de 15 de novembro de 1910 para presidente da República, Santos teve um curioso cabo eleitoral, o Ricócó, que pedia votos para ambos. A história consta do livro Santos (Reminiscências) 1905-1915, de Carlos Victorino (Typ. d'A Tarde – Rua Martim Afonso n. 21, Santos/SP, 1915, volume II, páginas 36 a 38 - ortografia atualizada nesta transcrição):


Ricócó e sua inseparável flauta ornada com fitas e flores
Foto e legenda publicadas com o texto

Em fase política não me recordo de outra tão agitada como foi a da eleição para presidente da República e que eram candidatos Ruy Barbosa e Hermes da Fonseca. Foi uma luta titânica entre os civilistas e hermistas.

Dias antes da eleição as propagandas e as cabalas de ambos os partidos davam já o aspecto de diversão pública. O Largo do Rosário era o ponto da pescaria de eleitores em cujos anzóis feitos com verbosidade fluente e melíflua, os pescadores punham iscas de diversos modos: de dinheiro, de ternos de roupa, de sapatos novos, de chapéu, de empregos garantidos, de promoções e de tudo quanto o grande estoque do armazém das arábias possuía a granel.

Apareceram nessa lufa-lufa os retratos em esmalte dos dois candidatos ao poder.

A mocidade e mesmo a velhice partidárias de um e outro candidato manifestavam a sua opinião, a sua simpatia, exibido nas lapelas os retratos de Ruy e Hermes. As moças também entraram na luta e a maior parte era civilista.

Para que não faltasse uma nota cômica na séria agitação de se eleger o presidente da nossa República, o Ricócó, o tipo mais popular daquela época, tomava parte nas reuniões, trajando à pastorinha, tocando numa flauta de cana do reino, fazendo discursos, dando vivas a Rui - se os civilistas punham-lhe nas mãos uma moeda; e vivas ao Hermes - se os hermistas faziam a mesma coisa.

Era tão incolor nessa questão eleitoral o nosso pobre Ricocó que usava na fita do chapéu os pequenos retratos dos dois candidatos em disputa.

Dias depois teria-se o pleito, saindo vencedor o marechal Hermes da Fonseca.


Capa do livro de Carlos Victorino
Exemplar no acervo da Sociedade Humanitária dos Empregados no Comércio de Santos