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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - PERSONAGENS
Tipos curiosos (15)

A história a seguir, o falecido jornalista Olao Rodrigues informou ter recolhido de outro colega de jornal, Carlos Victorino Ferreira, e do livro por este publicado, Reminiscências, já aqui citado. Como as demais histórias desse livro, passou-se no último quarto do século XIX em Santos. As referências de Carlos Victorino foram por Olao complementadas em consultas aos jornais da época e livros publicados sobre esse período. O material resultante, com o título geral Episódios evocadores de Santos noutro século, foi publicado por Olao no Almanaque de Santos - 1970, por ele editado (edição de Roteiros Turísticos de Santos, nesse ano, páginas 19 e 20):

João das Ostras

Nessa época recuada (N.E.: final do século XIX), havia indivíduos que se tornaram populares pela excentricidade de atitudes, como o 30 quilos, alvo de chacotas da garotada. Espírito fraco, ignorante presumido, o nosso 30 quilos achou de se candidatar às eleições para senador. E concorreu ao pleito.

Não alcançou nenhum voto em Santos, nem o dele, pois deixara de votar, mas obteve 2 votos em Taubaté, fato que o encheu de orgulho, enquanto os gozadores o convenceram de que fora eleito e deveria embarcar para o Rio de Janeiro, a fim de assumir a cadeira.

Fizeram mais: entregaram-lhe algumas moedas de cobre da Argentina, persuadindo-o de que eram condecorações que o governo desse país lhe concedera. E ela acreditava, como acreditou num pergaminho que também lhe deram, homenagem por "bons serviços prestados à causa pública", que orgulhosamente exibia a tiracolo pelas ruas da Cidade.

O 30 quilos, maníaco, abandonou seu comércio de frutas e, em dificuldades, experimentou sérias privações, chegando a passar a noite em qualquer pouso ou na parte exterior do telhado do Mercado Velho. Assim, nessa triste lida, nesse doloroso equívoco, morreu o nosso 30 quilos, mas deixou um substituto, o João das Ostras, como o apelidaram, pois a sua atividade era extrair ostras e remetê-las ao Interior.

Pois o João das Ostras cismou que uma jovem bonita, de família importante, por ele se apaixonara, e passava horas e horas postado na cabeceira de uma ponte com os olhos fitos na casa onde residia a moça. A molecada não o poupava. Os trocistas dele se acercavam e o convenciam do amor que por ele nutria a jovem, embora o pai não visse com bons olhos o namoro, motivo por que a moça não saía de casa e não o procurava.

- Você não tira mais ostras, ó João?

- Eu, não! Mando-as tirar. Tenho dinheiro para pagar empregados.

- Mas, com essa roupa tão bruta, não pode você agradar muito à pequena.

- Ah - respondia ele - a roupa não faz o homem! O que faz o homem são os patacos que lá tenho na arca!

- Então você já está rico?

- Muito, muito, não. Mas para o casamento e tratá-la bem tenho alguma coisa.

- Qual, você não casa - dizia um dos contumazes trocistas.

- Casa! - respondia outro - Deixem o João, que ele casa.

- Não casa!

- Casa!

E a troça ia longe. João das Ostras tornou-se tipo popular na Cidade por sua mania de gostar da moça prendada e ser por ela correspondido.

Mas tudo tem fim. Desiludido e decepcionado, o nosso João das Ostras admitiu que o namoro não passava de produto da própria imaginação.

E retornou às ostras...