HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS -
CIDADE FESTIVA
A vida noturna de Santos (2)
Bandeira Jr. (*)
Colaborador
Em 7 de fevereiro de 1944 era aberto ao público o
Samba-Danças - primeiro (e único) taxi-girl da Baixada Santista, pela empresa J. Andrade & Filhos, que, em 1968, inauguraria, também, no sobrado
vizinho, o Lanterna Vermelha, com comunicação interna entre os dois dancings, que viriam a fechar em 1969.
O Samba-Danças, primeiro taxi-dancing, lotava todas as noites
Os cabarets Broadway e El Dorado funcionaram por alguns anos defronte aos armazéns 5 e 6 da Cia. Docas.
Fora do centro da cidade, conseguimos anotar: a loja térrea do Edifício Paulistânea (Boqueirão)
foi, sucessivamente, Ciro's (do Toto), Arlequim, Bier Stube, Nicanor praiano e Nicaneca atual; Boite Banzu, no 44 da Rua Jorge Tibiriçá, decorada
pelo famoso Denner e muito badalada nas crônicas sociais de Cecília Dulce, de A Tribuna; boates de inverno e de verão (jardim) do
Parque Balneário Hotel; Palma de Ouro e Hi-Fi, na Avenida Floriano Peixoto; Lobo Mau, na Avenida Ana Costa; Pilequinho, no
José Menino; Chão de Estrelas, no Embaré, inaugurado em 26/1/1971 pelo idealista Galvão; Chope Canal 4 (esquina da praia);
Leny's Samba (ex-Dom Peixito) e Oceania, na Ponta da Praia.
No primeiro andar do Edifício Universo Palace, na Praia do José Menino, está, desde
1973, o erótico Pink Panther e, no térreo, o recém-inaugurado Granfinalle, moderno e muito confortável.
O Sambatuque Noel & Gardel, da Rua Marcílio Dias, foi aventura que não deu certo, bem como o Canecão e o
Restô-Dançante Xicote, no Boqueirão; e os dancings Papillon e Clube da Saudade, ambos em dependências do
Atlântico Hotel.
Nas quadras finais da Rua General Câmara e vias adjacentes, surgiram (e desapareceram) dezenas de casas noturnas
como o Old Copenhagen que, rebatizado de Casablanca, teve seu apogeu em 1968, com a presença dos andróginos de Les Girls, liderados pelo artista Carlos
Gil, hoje costureiro da TV Globo; Vagalume; Las Vegas (da dupla Abel-Julinho); Ile de France, que Mr. Rudolph de Montmorency transferiu do Gonzaguinha (São
Vicente) para a Travessa Dona Adelina, civilizando essa via pública, antes depósito de lixo; Flamingo (ex-El Moroco), sem favor a mais
quente da Boca, com a música de Elvira and His Golden Girls - o melhor conjunto feminino do Brasil -; Texas Night Club; Cassino Night Club
(do Walter Moreira); Bonito, que só fervia quando as outras boates fechavam, isto é, nas primeiras horas da manhã...; Bataan; La Barca; Sweden;
os gregos Hellas, Patsa, Akrópolis e Zorba; Night Club Bamako; Papa Jimmy; Seaman's House; Suomi e os bares served by girls: Porto Rico,
Universal, A Tasca, Scandinávia, Hamburg, Bergen, Zanzi-Bar, Pan-American, Oslo, Tivoli, Reeperbahn, El Congo, Braço de Ouro, Lucky Strick, Charm,
Pombal, Corujão, Santa Madalena, o chinês Tai Pin, Drink's 490, Amsterdan, Espeto de Ouro, o popular Restaurante Galo de Ouro e seu páteo das
Messalinas. E bares musicados na primeira quadra da Rua João Guerra.
Os endereços noturnos Flórida, Simphony, Bar de Paris, A Boneca, Tropicália, Cha-Cha-Chá e Marron Glacê
sobreviveram poucos meses e The Fugitive logo virou cine-pornô...
Na década de 1960, tal concentração de boates e bares (por meio quilômetro) na chamada Boca, ponto de
convergência de marujos dos sete mares, de gente em busca de emoções exóticas, de boêmios cultores de Baco, Afrodite e Terpsícore, com iluminação
feérica e o footing dos quatro sexos (ambiência felliniana), tornaram essa zona da topografia santense atração turística por excelência, pouco
aproveitada pelos órgãos oficiais.
O A.B.C. House é hoje o mais atuante da chamada Boca
Hoje, a Boca está reduzida a alguns bares simplórios, hotelecos e aos dois complexos notívagos: Love
Story, na última quadra da Rua General Câmara, e A.B.C. House Night Club, na esquina da Rua João Octávio e Travessa Dona Adelina, sem dúvida o mais
atuante, talvez por possuir no mesmo plano bar, boate e pequeno restô, em ambiente super-refrigerado.
Dessa pletora de casas noturnas, vale a pena destacar algumas: o Night and Day, da Rua João Octávio, com o
bailarino Sérgio Maia e depois com o metteur-en-scène Carlan, considerado o nosso Carlos Machado, era típico cabaret parisiense.
A abertura do primeiro taxi-dancing, o inesquecível Samba-Danças, também na Rua General Câmara, com a
novidade de que "nenhuma dançarina dava tábua", absorveu todo o interesse da moçada estróina e passou a ser o must da noite praiana. Mantinha
sempre boa e ininterrupta música das orquestras de Bonfim, J. Pinto, Brasil Silva e do sempre lembrado Luiz César, além de escolhido elenco de
excelentes dançarinas.
(*) Bandeira Jr. é historiador e escritor em Santos. Este artigo foi
publicado em cinco partes, nas edições de 12, 19, 26 de outubro, 2 e 9 de novembro de 1992, no jornal santista
A Tribuna. As imagens são reproduções do arquivo do autor.
Veja as partes [1], [3], [4]
e [5] desta série
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